Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

A Páscoa dos judeus, de Jesus e de Madalena, sua amada!

02/04/2024

Não existe Páscoa sem morte! (Jo 20,1-9)

O texto sobre o qual vamos refletir é Jo 20,1-9. Trata-se da ida de Maria Madalena, Pedro e João ao túmulo de Jesus. Eles comprovam que Jesus fez a sua Páscoa. O que é isso, Páscoa? Em nossos dias, parece simples e quase banal falar de Páscoa. Basta ofertar um ovo de Páscoa e agradecer ao coelhinho que o trouxe para mim. Você me diria que não tenho razão, pois com esses símbolos celebramos a vida que nasce do ovo e se multiplica velozmente nos coelhos. Verdade! Você tem razão. Precisamos de símbolos para viver, suportar a vida na sua dureza, na sua dor sem fim. Os símbolos nos ligam ao mundo imaginário dos sonhos.

Páscoa é também isso e muito mais. Os judeus celebram a Páscoa relembrando a saída da escravidão do Egito. Nós a celebramos recordando a passagem de Jesus para junto do Pai. Os judeus comem o cordeiro. Para nós, cristãos, o cordeiro é Jesus imolado para nos salvar.

A morte está presente nessas duas experiências pascais. O medo dos judeus de perderem os seus primogênitos para o anjo da morte fez com eles marcassem suas casas com o sangue da morte de um cordeiro, de modo que o anjo da morte pudesse pular as casas marcadas. Isso se explica pelo fato de que Páscoa, Pessach, em hebraico, em sua formar verbal piel é também pular ou mancar.

A dor da morte do cordeiro, um animal de grande doçura, cordialidade e próximo da família judaica que o sacrifica na véspera do Jantar (Séder) de Pessach, é quase um despedir-se daqueles que ele aprendeu a gostar. Ele morre chorando. A dor da morte de Jesus na cruz o levou a soltar um grande grito, mas também a dizer: “Tudo está consumado!” (Jo 19,30).  Há uma diferença entre a morte do cordeiro e a de Jesus. Morto na cruz e abandonado pelos seus amigos, Jesus não foi abandonado por Deus que, na sua passagem, o levou de volta para a sua casa, a casa do Pai, de onde viera.

Casa do Pai, de Deus, em contraste com a casa dos judeus e casa de nossa vida. Ela tem nome, Egito de nossa vida. Egito em hebraico, Mizraim, lugar da prisão, onde passamos a vida sofrendo, procurando amar e ser amado. Egito nunca mais!

Assim fez Jesus, que passou a vida na casa de sua família e de seus amigos. Trabalhou com eles. Conheceu a limitação de um Pedro traidor, a quem ele disse, te amo assim mesmo. Aceitou Judas, o ladrão, no seu seleto grupo de amigos. 

O grande segredo da Páscoa de Jesus foi de viver com sabedoria a dor de viver para fazer a Páscoa. Olha que interessante, na véspera de sua morte, ele exigiu que celebrassem com ele a festa da Páscoa, a sua Páscoa, a sua passagem. Muitas vezes antes, ele já havia preparado os seus amigos para a dor que eles sentiriam com a sua morte. Eles sofreriam porque aprenderam a amá-lo, assim como Jesus os amou. Jesus sabia que quem ama sofre. Ninguém vive sem sofrer. Ao nascer, já sofremos para deixar o útero, a casca do ovo que nos protegia. E aí vem o choro de alegria e de tristeza de ter que viver.

A Páscoa de Madalena tem relação com a proximidade que tinha com Jesus. Madalena nunca foi prostituta, mas recebeu essa alcunha por papa Gregório Magno, em 596, quando ele fez uma interpretação equivocada de Lc 7,37-52, afirmando que a pecadora do texto era Madalena. Com seu discurso, ele converteu os pecadores de Milão, mas alcunhou para sempre aquela que era apóstola e amada de Jesus. Testemunha da ressurreição, Madalena foi uma mulher que esteve à frente de seu tempo. Não foi prostituta, mas liderança na primeira hora do cristianismo. 

 No evangelho de João 20,1-9 é dito que Madalena saiu à noite, na escuridão da morte que nos deixa vazios, sem amor e com o desejo de ter quem amamos de volta ao nosso convívio. A sua pressa pelo caminho expressa o desejo incomensurável de trazer de volta o amado que se foi. O correr é o sinal evidente de quem ama. O amor corre, não para nas dificuldades da vida. Ele é sem medo, não paralisa. Os discípulos ficaram parados, com medo, Madalena, ao contrário, não.

Madalena carrega dentro de si a fé que iria encontrar Jesus. Ela não sabia como, mas o seu desejo era maior que as limitações de um guarda que vigiava o sepulcro. Em Jo 20,11-18, ela se encontra com dois anjos, que são a presença terna e eterna de Deus. Que tem fé ama, não tem medo. O medo não nos deixa ver, nem com os olhos, nem com o coração. Madalena diz aos seus companheiros: “Eu vi o Senhor. Eu vi Jesus ressuscitado.” Essa sua fé é tamanha que tudo transcende. Ver é crer nos evangelhos, diferente do escutar para os judeus. Madalena ama. Ela não tem medo. O amor ressuscita as pessoas. Elas continuam vivas dentro de nós, ainda que ausente. Por isso, sofremos a morte de quem amamos e não fazemos com a morte de quem não era próximo afetivamente.

O túmulo de Jesus é o vazio, o nada, o silêncio. É cada um de nós morto com aquele (a) que jaz eternamente. É o vazio existencial mesclado com o desejo de trazer de volta aquele que amamos. É um amontoado de pedras que guarda o amor de nossas vidas. Perto de um túmulo, um jardim, flores, símbolos da gratidão, do desejo e da saudade do amado que partiu. Nas flores, o fim da saudade, o deixar o amado partir. As lágrimas por alguém que morreu se cristalizam nas flores de um túmulo. Essas flores não murcham nunca, pois elas vivem dentro de quem ficou. A vida é assim. Chega um momento que não é mais possível chorar pelo ente querido. Ai de nós se as flores não existissem para catalisar as relações humanas no momento da partida. As flores expressam o fim das saudades.

Com as flores, a saudade: vontade de ver e encontrar de novo o amado. A saudade é quase como a morte. Ela é tão forte que só quem a experimentou de verdade sabe o quanto ela dói. Ter saudade é o mesmo que buscar no mais profundo de nós as lembranças do amado (a). E essa tarefa parece não terminar. Para alguns é infindável. Ela só termina quando o coração se sente possuído pelo amor eterno, que não morre mais. E saudade deixa de ser a morte, pois o amado passa a viver para sempre e sempre viverá ainda que ausente.

No encontro com amado, o desejo de tocá-lo e agarrá-lo: vontade de possuir para sempre o amado. É corporeidade sem limites. Maria Madalena quer tocar Jesus. Jesus diz para Maria Madalena: ‘vá e diga aos apóstolos, teus companheiros de caminhada, que eu volto para a casa de meu Pai’. Seja você força na caminhada deles. E eles estarão com você no caminho do amor. Maria Madalena, nesse momento, compreende que Jesus vive dentro dela. Não há mais o que procurar a não ser ela mesma. Isso é ressurreição!

Na partida, um adeus: é ficar com Deus, o amado que vive eternamente no eterno mistério da procura. No adeus está sempre um desejo reencontrar e, ao mesmo tempo, a certeza do encontro definitivo da vida em Deus, em Jesus, que não morre mais. Maria Madalena foi dizer aos seus que Jesus vive eternamente. Ele não morreu. O amor é eterno.

No adeus, a eterna ressurreição: Maria Madalena parte para a anunciar a Pedro e aos apóstolos que Jesus ressuscitou. Pedro se encontra com Maria Madalena e dela recebe o anúncio da ressurreição. Nesse encontro, uma surpresa: “A fiel rocha de Pedro se esmigalhou como areia, mas a fé de Maria é verdadeiramente rocha (…). A parte masculina do amor revelou-se em energia, forte é a feminilidade. O sol do amor masculino se põe na morte, o sol do amor feminino levanta-se na ressurreição”. Isso é Páscoa! Isso é ressurreição!

A nossa vida é um caminhar para superar a limitação de ser humano para nos tornarmos um ser divino. Páscoa é a passagem, a volta para Deus, assim como fez Jesus e Maria Madalena.

Da dor da morte, renasce a vida eterna. Da casa do Pai, Ele nos protege, cuida e nos orienta. Na casa de nossa vida, Ele estará para sempre. Não existe Páscoa sem morte! Pascoa é experimentar Deus na vida, mas também na dor e na solidão da ausência. 


Frei Jacir de Freitas Faria

Premium WordPress Themes Download
Premium WordPress Themes Download
Download Nulled WordPress Themes
Free Download WordPress Themes
online free course
download micromax firmware
Download WordPress Themes
free online course