Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Congressos compõem a engenharia do conhecimento, a oportunidade da troca de experiências com possibilidades de inovações nos serviços e nas soluções que abrem caminhos. Podem ajudar, assim, instituições no cumprimento de sua missão. Por isso mesmo, a Igreja também promove congressos, de muitos modos, com variados alcances, a partir de suas muitas instituições, particularmente aquelas dos campos educativo e científico. Desde o dia 11 de novembro até o próximo dia 15, a Igreja Católica, no Brasil, sob o patrocínio mais direto da Arquidiocese de Olinda e Recife, Pernambuco, com envolvimentos significativos e de diferentes alcances, realiza o 18º Congresso Eucarístico Nacional. Uma tradição que remonta ao ano de 1933, quando aconteceu a primeira edição, em São Salvador da Bahia. O segundo Congresso, já em 1936, foi acolhido em Belo Horizonte, seguido de outras importantes edições, em diferentes regiões do Brasil. Cada encontro, configurado por densa programação espiritual, artística, cultural, precedido de longo tempo de preparação, oferece oportunidade para revisitar o centro e o ápice da vida cristã católica, explicitação de incontestável verdade da fé: a Igreja nasce e vive da Eucaristia. Verdade intocável, que reconhece a centralidade do sacrifício redentor de Cristo, Senhor e Salvador, alicerce da identidade e missão da Igreja.
Assim, cada edição do Congresso Eucarístico é oportunidade de novos encontros que revitalizam e fecundam a missão da Igreja, a partir de sua tradição bimilenar. Ao revisitar suas fontes, a Igreja contribui para fazer emergir aquilo que é novo e inovador, particularmente, no tecido experiencial e espiritual dos participantes de cada Congresso, de suas comunidades de fé, revigorando a missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. Fundamental é compreender, celebrar e vivenciar, sempre e cada vez mais, a Eucaristia – realidade salvífica da doação que Jesus faz de si mesmo, revelando o amor infinito de Deus por homens e mulheres, seus filhos e filhas. A entrega de Cristo na cruz, sua morte e ressureição, devem se desdobrar, com fortes incidências no compromisso de cada pessoa com a fraternidade.
A Eucaristia – celebrada e professada – se alicerça no amor ininterrupto de Jesus, que constitui parâmetros para a vida do mundo, a organização da sociedade, a partir de gestos concretos de fraternidade universal, capazes de consolidar um mundo de mais justiça e paz. Contracena no Congresso Eucarístico Nacional o mesmo enlevo que deve ter se apoderado do coração dos discípulos nos primórdios da Igreja, há mais de dois mil anos: o compromisso com uma vida mais fraterna. Assim, o horizonte do Congresso Eucarístico Nacional no Recife está emoldurado pelo tema “Pão em todas as mesas”. A vivência do mistério da Eucaristia, com autenticidade, impulsiona na direção corajosa e profética de lutar para que haja pão em todas as mesas. Meta concreta e muito pertinente quando se considera o grave momento atual da sociedade brasileira, com milhões de pessoas submetidas à fome ou à insegurança alimentar.
O enlevo eucarístico, indispensável e insubstituível, incomparável a qualquer outra experiência humana e espiritual, é caminho para efetivar verdadeiro e duradouro sentido de solidariedade, que conduz o mundo em direção ao amor fraterno. A Eucaristia, pois, na beleza do seu ritual, é a experiência de um encontro transformador, que renova o coração humano, ao alimentá-lo com a verdade.
A Igreja testemunha que na Eucaristia está o seu centro vital, a partir também da realização de um Congresso Eucarístico, para anunciar a todos que Deus é amor. Cada dia, sempre e de novo, a Igreja se alimenta de Cristo, anunciando que o Mestre se fez alimento, de verdade, para todos, um dom de Deus. A fé da Igreja é essencialmente eucarística. E o mistério da Eucaristia tem inesgotável fecundidade, remetendo a um caminho experiencial que se desdobra em mudanças profundas, corajosas posturas, alicerçadas na generosidade e na solidariedade. Corajosas posturas pedidas pela sociedade, para que seja garantido pão em todas as mesas, desafio de instâncias governamentais que exige, ainda, corajosa lucidez das instituições. A falta de pão a muitas pessoas revela a fragilidade da atual organização social. Expõe a necessidade de uma lógica espiritual capaz de mudar cenários, de resgatar a dignidade de cada ser humano.
Em um momento delicado da sociedade, o Congresso Eucarístico Nacional pode contribuir para a abertura de um novo ciclo nos entendimentos sociais e políticos, pela iluminação de motivações que ultrapassam as estreitezas de certas discussões, para fazer valer lógicas enraizadas na espiritualidade eucarística. “Pão em todas as mesas”, tema do 18º Congresso Eucarístico Nacional, convoca cristãos católicos a caminharem de mãos dadas com as pessoas de boa vontade. Todos se iluminarem pelo mistério inigualável do amor de Deus. Assim, podem ser superados estreitamentos preconceituosos e prejudiciais, para a construção de um novo modo de se viver na casa comum, alicerçado no amor. A convocação “pão em todas as mesas” remeta a gestos fraternos e solidários, dando novo vigor missionário à Igreja, novo rumo à sociedade brasileira, pela força do amor de Deus.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil