Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Professor, modo de vida e profissão

16/10/2014

professor

Frei Claudino Gilz

A celebração do Dia do Professor, neste dia 15, instiga-nos à reflexão, à gratidão e ao reconhecimento. Saberíamos ainda citar pelo menos o nome de todos aqueles professores que nos acolheram com amor na escola, no colégio ou universidade? E se ousássemos reunir numa única palavra o que desses professores chegamos a conhecer enquanto modo de vida, o que diríamos? Diríamos que eram amáveis, simples, felizes, acessíveis, sábios, competentes, compreensíveis, pesquisadores ou profissionais?

Sim, diríamos! Diríamos tudo isso e talvez muitos outros qualificativos mais que justos aos professores que, na escola e na universidade, conhecemos e nos desafiaram a palmilhar o caminho do conhecimento. Porque foram eles muito mais do que professores a privilegiar a adaptação gradativa dos alunos ao espaço escolar, a desenvolver a contextualização dos conteúdos a serem investigados, a propor de forma criativa e instigante os mais diversos desafios cognitivos (ler, escrever, interpretar, contar, identificar hipóteses, decifrar problemas, estabelecer associações etc.). Foram, no exercício da docência, mestres em humanidade. Não prescindiram do amor à educação, do diálogo, da troca de saberes, do respeito aos seus alunos, do esmero na preparação de suas aulas, do uso dos melhores recursos didáticos que tinham à disposição. Promoveram crescimento intelectual e sensibilidade cívica.

A compreensão de professor – seja vinculada a um modo de vida, seja como um modo de vida vinculado a uma profissão – faz memória à ousadia de Sócrates na Grécia Antiga, a fazer instigantes perguntas aos seus interlocutores. Um modo de vida que desinstalava seus interlocutores a refletir, a reexaminar e a questionar saberes que supostamente afirmavam ter sobre os mais diversos assuntos, não para menosprezá-los, mas para ajudá-los a viver cientes de seu “não saber” e de sua “não sabedoria”. Mais que inibir seus interlocutores com ousadas ou irônicas indagações, Sócrates os persuadia a perceberem a necessidade de se responsabilizar pelo que presumiam saber de si e da vida. Responsabilizarem-se não como imposição, mas como escolha, visto que, segundo Sócrates, não se podia atribuir credibilidade a saberes sem aferição de seus pressupostos.

Tal como a Sócrates e aos professores da atualidade, é em meio a interrogações, análises e aferições que o saber se instaura. E, por assim viver e ensinar, a docência é um modo de vida. É um modo de vida capaz de incitar o próprio conhecedor a tomar consciência de seu não saber, a examinar os pressupostos dos valores que estão a embasar a vida sua e a de tantos outros. Modo de vida que, por sua vez, está para além de uma cultura geral ou científica que se possa atingir. Modo de vida que transforma as relações. Faz escola e prepara para as adversidades do cotidiano. Modo de vida que dispõe o aluno para a arte de bem viver e de bem dizer isso ou aquilo. Modo de vida, enfim, que mobiliza para a estreita simbiose entre discurso e prática, em que cada um passa a ser o que fala e a praticar o que ensina.

“Professor, modo de vida e profissão” não é, por essas e tantas razões, mais um tema aqui proposto. É uma forma de reconhecer o que hoje somos graças à contribuição de inúmeros e inesquecíveis professores que escolheram a docência como modo de vida e profissão.

Frei Claudino Gilz, coordenador de Ensino Religioso da Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus, é professor do curso de Pedagogia da FAE Centro Universitário.

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