Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Fé: o que de mais íntimo temos com Deus

02/12/2013

feFrei Volney J. Berkenbrock

A palavra fé faz parte daquele tipo de vocábulo sobre o qual temos uma certa clareza até tentarmos defini-lo. Na tentativa de buscar uma definição, ligamos a palavra com diversas coisas, entre elas religião, sistema de crenças ou determinados conteúdos nos quais se acredita; mas também ligamos a palavra com um tipo de sentimento humano, o sentimento a respeito do sagrado, do transcendente, do divino. Igualmente é possível ligar o termo a determinadas atitudes, como a devoção ou a piedade. Tudo isto nos vem à mente quando pensamos fé. E há, certamente, um bocado de razão em todos estes pensamentos, mas é provável que também concordemos com a afirmação de que as formas de pensar apontadas não têm a capacidade de definir ou abarcar o que significa fé, não pelo menos de uma vez por todas.

O que será que queria dizer com a palavra fé quem inventou o termo? Infelizmente, não temos mais tanta clareza sobre o nascimento do vocábulo, mas recuperar algumas coisas da origem da palavra poderia ser interessante, no sentido de contribuir para a reflexão. Em nossa língua portuguesa, a palavra fé é derivada do termo latino fides, cuja origem não é necessariamente religiosa. Os romanos – assim pelo menos nos escritos de Tito Lívio e Tácito – utilizavam o vocábulo para designar algo das relações; seja as relações do império romano com os povos conquistados, seja as relações entre os próprios cidadãos do império, de condições diversas entre si. Aos povos conquistados que quisessem fazer parte da pax romana, o império oferecia a possibilidade de se unirem através de um pacto, em latim foedus, e se tornarem assim confederados (confoederatus). O lado mais forte do pacto era o seu garante, nele se depositava a confiança de que seria fiel ao pacto; dado que era o mais forte, não precisava – necessariamente – se ater ao mesmo e não havia acima dele qualquer instância a quem se pudesse recorrer. E esta garantia do mais forte no pacto se chamava fides, de onde nos vem também a palavra fidelidade. O lado mais fraco tinha que aquiescer e ficar na atitude de total confiança, de total entrega. Este termo fides utilizava-se também para a relação de pactos entre as pessoas, sobretudo envolvendo pessoas de poder: a relação entre o imperador e seus generais era uma relação de fides. Para os cidadãos romanos, que se consideravam os mais fortes na relação com os outros, a palavra fides passou a ter um quê de identidade ou cidadania.

Deste contexto é que parece ter saído o vocábulo para já num contexto religioso passar a designar a relação entre o ser humano e o divino: o de um pacto, mais precisamente de um pacto de confiança. Neste pacto, o lado forte é o divino, por isso ele é o garante da relação (fides). Ao lado mais fraco, o humano, cabia confiar na fidelidade do divino para com ele. O ser humano não era o garante desta relação, o garante era o divino. Na relação com o divino, cabia ao humano confiar, confiar totalmente, entregar-se na certeza da fidelidade do divino. Da origem romana do termo – aqui descrita rápida e superficialmente – poderíamos tirar algumas inspirações para refletir sobre significados do termo fé. Quero destacar quatro aspectos:

a) Fé como uma relação de pacto com o divino. Como os povos vizinhos, para participarem do império romano, precisavam com ele confederar-se, colocar-se numa relação de confiança e entrega, assim a relação do humano com o divino, o que chamamos fé, pode também ser interpretada como uma relação de pacto, de entrega em confiança. Ter fé não seria pois fazer parte de um sistema de crenças, nem de um sentimento religioso ou realizar alguma devoção. Ter fé seria primeiramente colocar-se numa relação de entrega, de confiança, de pacto com Deus. E nesta relação, Deus é quem garante o pacto, ele é fiel.

b) Fé como o sentimento (a certeza) da fortaleza divina no ser humano. O ser humano que se coloca em relação de fé (de pacto) com Deus, na confiante entrega, tem o sentimento, ou melhor, a certeza de que por fazer parte deste pacto, ele faz agora parte da fortaleza divina. O ser humano com fé é um confederado com a força divina. A fé não seria, pois, do ser humano, mas justamente a força divina no humano como garantia de sua pertença, de sua confederação.

c) O humano como o lado fraco: a consciência de sua limitação. Numa relação de fé, de pacto com o divino, a força do humano está na entrega, na sua participação na fides divina. Se isto lhe é certeza de força, é também consciência de sua pequenez, de sua limitação, de sua debilidade frente ao divino. O ser humano não é possuidor de fé, ele a tem – ou nela permanece – somente à medida que se mantém na entrega, na confiança da relação pactual.

d) Pela fé, o humano está no divino, esta é sua maior força interior. Em se mantendo nesta relação de confiança, de entrega, o ser humano se mantém no divino e é desta relação que temos a certeza de termos parte (de participarmos) com uma força maior que nós. Nossa maior força interior é, pois a fides, a fidelidade do divino para com este pacto, o pacto que nos dá intimidade com o divino.

O que acabamos de explanar acima, em nossa tradição cristã chamamos de Natal. Pela encarnação do filho de Deus em Jesus, o humano torna-se confederado em seu mais íntimo grau: o de ser uma só pessoa com o divino. O natal é assim a ocasião na qual celebramos a realidade da fides divina: o garante do pacto, a fortaleza divina quis tomar lugar definitivo em nossa história, mostrando-se assim que o ser humano e tudo o que diz respeito à sua história não está ligado com Deus de maneira ocasional ou temporária. A encarnação nos mostra, com toda a clareza possível, que Deus é a garantia do pacto e de um pacto definitivo: ele veio à nossa história, à nossa realidade. E por isto há fé!

Natal é, pois, a festa da fé! Ela celebra o que de mais íntimo temos com Deus!

 

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