Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Irmão Fogo

24/09/2025

O louvor do Senhor pelo Irmão Fogo

“Louvado sejas meu Senhor, pelo irmão fogo, pelo qual iluminas a noite. E ele é belo e jucundo e vigoroso e forte”. (São Francisco de Assis)

Cântico do Irmão Sol

Para lembrar…

Para as pessoas que viveram na Idade Média, a vida era impensável sem o fogo, bem como para nós sem as nossas, hoje diversas, fontes de energia. O domínio do fogo representou na história da humanidade uma grande revolução.

Nos tempos de São Francisco de Assis o fogo exercia papel fundamental em diversas áreas e circunstâncias do cotidiano de sua sociedade. Essencial para a sobrevivência: no rigoroso inverno as lareiras aqueciam as casas abastadas e as fogueiras os casebres dos pobres, bem como iluminava casas, castelos, ruas e praças; o fogo cozinhava e assava alimentos deixando-os mais seguros para o consumo. Também era usado para ressecar, defumar alimentos (carnes e embutidos).

Coisas que praticamos até os nossos dias

Nos rituais e cultos religiosos, lá estava o fogo a queimar velas e incensos para solenidade das celebrações nas igrejas e catedrais.

Pelo fogo se fundia metais usados para tudo, desde arados, instrumentos para o cultivo da terra; ferramentas para artesanatos; instrumentos cirúrgicos… o fogo fundia metais para os sinos e outros artesanatos ligados à liturgia e outros cultos sagrados.

Espadas e outras armas de guerra surgiam das forjas igualmente alimentadas pelo fogo. E quem nunca assistiu a algum filme onde se mostra o quanto o fogo foi utilizado em larga escala tanto para o ataque quanto para a defesa de muros, fortalezas, castelos e cidades?!…

O fogo foi também instrumentalizado como expressão de poder no âmbito religioso e profano, basta lembrar as fogueiras onde ardiam bruxas e hereges nas praças públicas.

As florestas desde o início da dominação do fogo tem sido a fonte do combustível para seu uso tão intenso.

São Francisco e o Irmão Fogo

Ao mencionar o Irmão Fogo em seu “Cântico do Irmão Sol”, São Francisco não o faz apenas por compor os quatro elementos constitutivos de toda a matéria, mas por cultivar por este irmão uma especial afeição.

“De manhã, quando nasce o sol, todos os homens deveriam louvar a Deus que o criou para nossa utilidade, porque é por ele que nossos olhos são iluminados durante o dia. À tarde, quando a noite cai, todos os homens deveriam louvar a Deus pelo Irmão Fogo, pelo qual nossos olhos se iluminam de noite. Pois todos somos como cegos e, por estes nossos dois irmãos, o Senhor ilumina nossos olhos” (1EP 119).

Ao lado do sol, o fogo é para São Francisco o irmão pelo qual o Senhor ilumina os olhos. O irmão fogo é essencial para o santo cuja personalidade transbordava em sentidos e percepções. Iluminar os olhos para ver, contemplar e amar aquilo que se vê.

O fogo tornou-se para São Francisco o superlativo ideal para descrever o que há de melhor ou de pior. Seu poder de arder e consumir se aplica ao máximo da graça como também da perdição: “Ai daqueles que não morrerem na penitência, porque serão filhos do demônio, cujas obras realizam, e irão para o fogo eterno” (RnB 21,8).

“Ó Santíssimo Pai Nosso: criador, redentor, consolador e salvador nosso. Que estais nos céus; nos anjos e nos santos, iluminando-os para o conhecimento, porque vós Senhor, sois luz; abrasando-os para o amor, porque vós, Senhor, sois o sumo e eterno bem, do qual procede todo bem, sem o qual não há nenhum bem” (PN 1-2).

Reza dizendo: “Te rogo, Senhor, que a força abrasadora e melíflua de seu amor absorva de tal modo minha mente, separando-a de todas as coisas, que eu morra por amor do teu amor, já que por amor do meu amor te dignaste morrer”.

Também seus biógrafos se apropriam da imagem do fogo para referir-se a ele: “Estava unido aos espíritos angélicos, abrasados de um fogo sagrado com o qual se alegram em Deus e procuram inflamar as almas dos escolhidos” (1Cel); “Abrasado no incêndio da caridade, ambicionava alcançar o glorioso triunfo dos mártires” (1 Cel); “A palavra dele era como fogo ardente que penetrava o mais íntimo do coração e enchia as mentes de todos de admiração” (1Cel).

“De tal modo crescido no santo incêndio do amor divino, que parecia estar abrasado em chamas de grande atividade” (Fior).

A vida de São Francisco e seus irmãos estava profundamente ligada ao fogo. As fontes nos recordam alguns episódios que nos dão a medida de sua relação com este irmão:

Nos Fioretti se encontra o episódio em que o santo se serve de sua afinidade ao irmão fogo para converter à fé cristã o “sultão da Babilônia” e uma tal “mulher belíssima de corpo, mas vil de alma, a qual mulher maldita” o convidou a pecar. O irmão fogo foi a testemunha fiel e incontestável da santidade de São Francisco e da veracidade de sua fé.

Fioretti nos conta ainda, de um grande incêndio em Santa Maria visto pelo povo de Assis que corre aflito na esperança de conter as imensas chamas. Tal incêndio era nada mais do que a imagem ideal para descrever o amor entre os santos Francisco, Clara e seus irmãos e irmãs reunidos em uma santa e pobrezinha refeição.

Boaventura em sua Legenda Maior reporta o episódio da penitência imposta a um frade “que fizera algo contra a lei da obediência”.

São Francisco lhe retira o capuz e o atira ao fogo que mesmo agindo por algum tempo não o consumiu e em nada sofreu pela ação das chamas. O capuz foi retirado do fogo e devolvido ao frade sinceramente arrependido de sua desobediência.

Boaventura conclui: “E assim aconteceu que Deus, com este único milagre, mostrava tanto a virtude do santo homem, quanto a humanidade da penitência”.

O apreço de São Francisco pelo Irmão Fogo era tanto, que sequer admitia que o apagassem, nem suas brasas fossem extintas.

Certa ocasião, estando no Monte Alverne, um irmão acendeu o fogo na cela onde o santo comia. Enquanto foi a uma outra cela, o fogo subiu até a cobertura da cela e já quase a tomava por completo, ao que os frades acorreram para conter as chamas.

Nos diz o Espelho da Perfeição que São Francisco não queria apagar o incêndio, mas tratou apenas de salvar uma pele que usava para se cobrir à noite e saiu para a floresta. Depois de apagado o fogo, “São Francisco voltou para comer: após a refeição disse ao seu companheiro: Não quero mais ter essa pele sobre mim, porque por causa de minha avareza, não quis que o irmão fogo a devorasse”.

Já tendo composto a primeira e segunda parte do Cântico do Irmão Sol, São Francisco aceita se submeter ao procedimento de cauterização na esperança de ao menos aliviar as dores dos olhos já praticamente cegos.

Antes do dolorosíssimo procedimento feito com ferro incandescente, ele se dirige com humildade e fraternidade ao fogo: “Meu irmão fogo, nobre e útil entre outras criaturas que o altíssimo criou, sê cortes comigo nessa hora, porque outrora te amei e ainda te amarei por amor daquele Senhor que te criou: Peço também ao nosso criador, que te criou, que de tal modo tempere o teu calor que eu possa suportar. E terminada a oração, fez o sinal da cruz sobre o fogo” (CA).

Terminado o procedimento São Francisco testemunhou que nada sentiu, dor alguma e que se fosse necessário queimar ainda mais a carne, não teria problema algum, pois o irmão fogo havia sido gentil para com ele, para espanto do médico e dos irmãos.

Já perto de sua partida para o Pai, São Francisco pede aos frades que levem a uma grande amiga (Fra Jacoba) uma carta para que lhe traga pano para uma túnica mortuária; os doces (mostacciolli) que tanto gostava e cera para as velas, pelas quais estaria presente em sua despedida, seu querido irmão fogo.

Para terminar…

Desde criança, como todas as pessoas de seu tempo, São Francisco conviveu e se serviu do fogo, mas não há dúvidas de que por ele desenvolveu e cultivou estreita relação de admiração, respeito e amor.

Certamente muito do que viveu ensinou a seus irmãos, ele o fez se aquecendo e iluminado ao redor do Irmão Fogo. As primeiras “formações franciscanas” se deram ao calor e luz do Irmão Fogo.

O fogo com seu calor e luz tornou-se o irmão necessário, imprescindível para o surgimento e evolução da experiência única que se chamou fraternidade franciscana.

Para refletir:

Convidado ao Louvor do Senhor por Nosso Pai Seráfico Francisco, o Irmão Fogo e suas características por ele exaltadas nos oferece possibilidades de reflexão, como por exemplo:

O Irmão Fogo trazia luz e calor a São Francisco e os primeiros irmãos favorecendo a fraternidade em torno de si. Em que medida podemos também ser elementos agregadores em nossas fraternidades? Nos momentos de penumbra ou até de escuridão temos feito algum esforço para ser luz? Não faltam também em nossa vida diária momentos de frieza. Nós mesmos praticamos a frieza. Com seu calor, o Irmão Fogo nos recorda que somos chamados a aquecer e derreter o gelo que muitas vezes se instala dentro de nós e transbordando, esfria nossas relações fraternas.

São Francisco canta a alegria do Irmão Fogo. Alegria autentica, transparente e verdadeira. O Irmão Fogo nos inspire a cultivar a “perfeita alegria” e a afastar de nós aquela alegria midiática, panfletária…

Por fim, São Francisco descreve o Irmão Fogo como vigoroso e forte. Que nosso vigor e força não se converta em rigidez e dureza de coração.

Que o vigor e força que buscamos não nos faça “perder a ternura jamais”.

Que o fogo do Espírito Santo (Ministro geral da Ordem) nos aqueça, ilumine e inspire em nosso caminhar como irmãos e menores.


Frei Benedito Geraldo Gomes Gonçalves

Download Best WordPress Themes Free Download
Download WordPress Themes Free
Download Premium WordPress Themes Free
Free Download WordPress Themes
udemy paid course free download
download coolpad firmware
Download Nulled WordPress Themes
online free course

Conteúdo Relacionado