Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Jeremias, o Perdão e Nova Aliança: Esperança ou sonho?

08/08/2024

 

“Perdoarei sua maldade, e não mais lembrarei o seu pecado.” (JR 31,31-34)

O texto sobre o qual vamos refletir é Jr 31,31-34. Trata-se da nova aliança entre Deus e Israel. O mais famoso dos Jeremias bíblicos, esse profeta sensível ao sofrimento, homem de profunda piedade e da crise, optou por não se casar para dedicar-se ao profetismo, entre os anos de 626 e 587 a.E.C., na cidade de Jerusalém. A sua atuação foi marcada, sobretudo, pela invasão da Babilônia, que destrói Jerusalém.

Inúmeras são as denúncias feitas por Jeremias, dentre elas: Tribunais com seus juízes corruptos que não têm interesse pela causa do órfão e do pobre (5,28); Comerciantes que se enriquecem às custas dos pobres (5,27); Sacerdotes que usam a religião em proveito próprio (5,31) e colaboram com a injustiça (8,4-9,25); Salário não pago aos trabalhadores (22,23-19); Luxo e riqueza (5,25-28;17,11); Príncipes (34,10.19) e Ministros do rei (22,2) etc. 

Diante dessa situação, Jeremias propõe diversas soluções, dentre elas: Conversão do povo (3); Novo rei suscitado por Deus para impor o direito e a justiça (23,5-69); Justiça nos tribunais (7,5; 21,12; 22,1-5); Libertação dos escravos no fim de cada 7 anos (34, 13-22) etc. 

A passagem que estamos refletindo, propõe uma Nova Aliança de Deus com o povo, escrita no seu coração, com o perdão dos pecados e não mais lembrança deles (31,31-34). Trata-se de um texto emblemático.

Como seria essa Nova Aliança? Seria ruptura com a realizada no Sinai com Moisés ou a sua renovação? Vejamos! Considerando que se a história de Israel, a partir do ponto de vista do Deuteronomista, é um contínuo repetir-se de acordos rompidos e reformulados entre Deus e Israel, chega o momento em que isso não é mais permitido; chega o momento em que a velha estrutura chega ao fim, é o que nos dizem os vv. 31-32, quando afirmam que a Nova Aliança não será como a Aliança feita com o pais. Não se trata, no entanto, de uma ruptura total entre a aliança Sinaítica e a nova apresentada por Jeremias. Haverá, sim, uma nova aliança, diferente da Sinaítica, porém, a diferença entre elas não se encontra na essência, mas no modo como a nova aliança será realizada e no seu significado. Na verdade, Jr 31, 31-34 fala de nova “aliança”, mas não de nova “lei”. Haverá, sim, um futuro diferente do passado. Mas que, necessariamente, não elimina o passado. Como, então será a nova aliança?

O v. 33b diz: “porei a minha aliança no seu seio e a escreverei no seu coração”. Essa metáfora chama atenção para a diversidade da nova aliança ao ressaltar implicitamente que, se a lei sinaítica tinha sido escrita em tábuas de pedra (Dt 9,10) e o pecado de Judá gravado na pedra do seu coração (Jr 17,1), na situação de nova aliança tudo será diferente. Deus alcançará a profundidade do homem, o seu coração. E nesse ficará inscrito para sempre a Sua Lei. Desse modo, ele poderá seguir livre e alegremente ao Senhor.

Com a “Lei” escrita no coração ninguém precisará mais incentivar seu irmão a conhecer Senhor, porque todos O conhecerão (34a). É o que nos mostra a expressão “dos menores aos maiores” 34a. A Nova Aliança de Jeremias é nova porque essa não precisará, como a Sinaítica, ser ensinada (Dt 11,19). Deus mesmo, sem intermediários, estará no coração de cada um. E, mesmo se no passado “eles romperam a minha aliança”, no futuro, na volta do Exílio da Babilônia, “eles serão o meu povo e eu serei o seu Deus” (v.33b). Trata-se de uma nova espiritualidade! Uma relação entre o Senhor como “esposo” e o seu povo. Esse velho princípio da antiga aliança (Ex 6,7) não poderá ser mudado. Um relacionamento, exclusivo e livre, possibilitará a realização de uma nova aliança, onde não será permitido a adoração de outros deuses. E o povo, tendo a Lei escrita no coração, “com todo o seu coração, com todo seu ser e com todo a sua força amará a Deus” (Dt 6,5). 

Para que isso se realize, a atitude de Deus em favor do povo consiste em perdoar a culpa, e de seus pecados não se lembrar mais. A vontade divina de perdoar não representa somente a base para nova aliança, mas é a força motriz e a garantia de estabilidade. O não… ainda reforça a ideia de que o perdão será possível. Os verbos slh (perdoar) e zkr (lembrar) são, na verdade, dois modos diferentes para dizer a mesma coisa: Deus perdoará! 

O v. 31,34c promete o perdão total para a faltas que os cativos de Judá e de Israel tinham cometido contra Ele (33,7). O perdão é um dom, oferecido por Deus, mesmo quando o povo não é capaz de reconhecer o seu pecado e pedir o perdão. As condições para receber o perdão divino foram apresentadas, mas, não sendo o povo capaz de assumi-las, Deus intervém e promete restabelecer uma nova aliança. Promete colocar a Lei no coração e, enfim, perdoá-lo. A nova aliança é, por assim dizer, o perdão de Deus que chega ao seu povo; é um entrar do povo no dom de Deus, que confere o perdão sem perguntar pelo arrependimento. Ao mesmo tempo, nova aliança significa esperança de poder chegar a essa situação. Deus é misericordioso por natureza. Ele conhece a situação perene de pecado em que se encontra o ser humano. Por isso promete numa situação de aliança, um perdão eterno, pois Ele sabe que o seu parceiro de aliança poderá traí-Lo uma, duas ou mais vezes. 

Na nova aliança, Ele vai perdoar a culpa e esquecer os pecados deles. Esse perdão, fundamental para a nova relação entre o povo e Deus, acontecerá, não porque o povo pediu, mas porque Ele lhe oferece. O futuro diferente do povo encontra a sua raiz em Deus. Somente Ele pode dar-lhe uma nova vida, numa nova aliança, por meio do perdão dos seus pecados. E com a Nova Aliança se dá uma ruptura qualitativa na história, e instaura-se o novo. Permanece, entretanto, a tensão do já e ainda-não. Tornada próxima, a nova aliança está ainda por vir. Ela acontecerá quando o mundo for capaz de instaurar um novo tempo, com o fim todo tipo de discriminação, quando os países ricos forem capazes de perdoar as dívidas dos países pobres, quando a terra estiver nas mãos dos que precisam de terra etc. Seria isso um sonho? Sim e não. Eu espero não ter que despertar, como Jeremias, e ver que tudo isso não tenha passado de um mero sonho agradável (Jr 31,26).


Frei Jacir de Freitas Faria

Download Premium WordPress Themes Free
Download WordPress Themes Free
Premium WordPress Themes Download
Premium WordPress Themes Download
free download udemy course
download coolpad firmware
Premium WordPress Themes Download
lynda course free download