Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Ascensão do Senhor: Jesus ressuscitado volta para a casa do Pai, mas permanece vivo na comunidade de fé (At 1,1-11)

12/05/2024

Ascensão de Jesus tem relação direta com a ressurreição e o tempo da Igreja, a comunidade de fé. Jesus volta para a casa do Pai, a morada eterna, onde todos nós esperamos estar, após nossa morte. Jesus viveu no meio de nós como um ser humano e agora volta para Deus. Somos privados de sua presença física e chamados a eternizá-lo na vida da igreja, representada, primeiramente, pela comunidade de Jerusalém. Ao mesmo tempo, nos tornamos participantes da divindade do mestre Jesus de Nazaré. O sentido último de nossa vida é Deus, autor e doador da vida plena. O humano Jesus leva consigo a natureza humana para a glória de Deus. Jesus ressuscitado permanece no meio de nós, na vida de fé da comunidade e no anúncio do reino.

 O texto de At 1,1-11 narra a ascensão de Jesus. Ele não foi embora! Ele está vivo em Jerusalém, na comunidade de fé. Essa passagem tem ligação com o evangelho de Lucas, duas obras que se entrelaçam, pois elas teriam saído da pena do mesmo escritor ou da comunidade que atribui o evangelho a grego, de nome Lucas.

O evangelho não termina, mas continua na vida das comunidades de Jerusalém, de Antioquia e da Samaria etc. Na introdução de toda a obra, Lucas se propõe a escrever uma narração ordenada dos fatos que se cumpririam entre eles. Ele dedica a sua obra a Teófilo (Lc 1,1-4) – nome grego que significa o amigo de Deus. No fim do Evangelho, Jesus promete o Espírito Santo e convoca os seus seguidores a permanecerem em Jerusalém para a realização das promessas (Lc 24, 49). Já no início de Atos, os discípulos perguntam a Jesus: “é agora que vais restabelecer o Reino de Israel?” (At 1,6). Jesus responde, dizendo que eles não devem se preocupar com a data, pois essa compete ao Pai (At 1,7). O Espírito Santo continuará a realização do prometido (1, 8a), o qual não é a restauração de Israel, mas o ser sua testemunha em Jerusalém, Judeia, Samaria e confins do mundo (At 1,8b).

Um acréscimo ao Evangelho de Lucas (24,50-53) narra a ascensão de Jesus e a volta dos discípulos para Jerusalém. Outro acréscimo em Atos resume o evangelho (1,1-2) e a experiência da comunidade com Jesus ressuscitado (1,3-5).

A ascensão em At 1,9-11 é narrada para mostrar que Jesus não foi embora, mas continua vivo entre e dentro de cada apóstolo (a) que testemunha o Ressuscitado. Jesus não foi embora. Só assim podemos falar teológica e historicamente de “Igrejas” de Jerusalém. Tivemos, na origem, como resultado da ação do Espírito Santo, vários núcleos do seguimento de Jesus, embora Lucas tenha, em Atos, idealizado e privilegiado a comunidade de Jerusalém.

A ascensão somente tem sentido a partir de sua relação estreita com a comunidade de Jerusalém, que passará a ser o símbolo da igreja, que se expandirá, na sequência, para os estados da Judeia, Samaria e Galileia e daí, para os confins do mundo, isto é, o centro do mundo daquele então, Roma.

Segundo o relato de Atos, depois da ascensão, os discípulos e discípulas de Jesus voltam do monte das Oliveiras para Jerusalém. O livro dos Atos dos Apóstolos usa dois termos para falar da cidade de Jerusalém: o nome bíblico e sagrado Jerusalém (36 vezes) e o nome grego como designação geográfica Jerosolyma (23 vezes). At 1,12 fala de voltar para Jerusalém, o que significa, então, voltar para o lugar sagrado do judaísmo, para o lugar da missão, da salvação. É como um católico dizer: “vou a Aparecida do Norte”. Na cabeça de quem escreve, aparece o sonho da nova Jerusalém, pois a Jerusalém cidade já tinha sido destruída pelos romanos, quando Atos foi escrito.

A comunidade de Jerusalém é judaica de origem e, por isso, fiel observante da Torá (lei, conduta, caminho, modo de vida baseada no Decálogo); ela celebra a eucaristia como memória do martírio redentor e profético de Jesus (At 2,42-46); partilha os bens (At 2,44-45), como expressão de uma espiritualidade comprometida com a justiça; está em conflito com as autoridades locais (At 3,114,22); está centrada e unida em torno aos doze apóstolos (At 2,42; 4,23-31); tem conflitos (At 5, 1-11); opera prodígios e milagres (At 3,1-10).

Nessas características encontramos o rosto, às vezes, idealizado da comunidade de Jerusalém. Esse modo de viver a fé na comunidade de Jerusalém foi o jeito que os primeiros cristãos encontraram para exprimir a utopia do Reino de Deus anunciado e vivido por Jesus na sua integralidade e com a sua ascensão.  A ascensão de Jesus no monte das Oliveiras teria sido a sua glorificação e a certeza da sua presença definitiva na comunidade de Jerusalém de forma histórica (presente), escatológica (futuro) e pneumática (plena do Espírito Santo). Tendo Jerusalém como referência e origem da comunidade judaico-cristã, os discípulos devem partir em missão até os confins do mundo, anunciando que Jesus ressuscitou e não morreu. Este foi o grande segredo do cristianismo, caso contrário, teria se perdido, como tantas religiões do mundo antigo.

A ação de ascensão, isto é, de movimento de permanência de Jesus, consiste em sete atitudes: 1) anunciar a Boa Nova para toda a humanidade; 2) batizar; 3) salvar; 4) condenar; 5) expulsar demônios em nome de Jesus; 6) falar novas línguas; 7) impor as mãos para curar doentes. Essas atitudes vêm acompanhadas da certeza de que nem serpentes e venenos serão causas de morte para os discípulos. Anunciar, crer e salvar se interagem num crescente na ação ascensional ou ascendente, a elevação dos discípulos. É a nova língua, não se trata de um novo idioma, mas de um modo de comunicar a libertação, a vida nova do reino. Trata-se da linguagem da evangelização, não obstante as tantas línguas (idiomas) presentes.

A ascensão é um movimento de ação transformadora do mundo a partir de nossa fé em Jesus ressuscitado e na ação libertadora da Igreja. Viver a ascensão significa não ficar olhando para o alto, esperando Jesus partir, mas colocar-se a caminho, no anúncio do reino, na evangelização. É tornar-se um bem-aventurado.

Evangelizar é falar a mesma linguagem, o mesmo modo de conceber o reino, e não a mesma língua (idioma). É expulsar demônios e não ter medo de serpentes e venenos, que nos impedem de caminhar.

Quem caminha visando ao alto, isto é, às coisas do reino, vai se deparar com venenos e serpentes, e deles não deverá ter medo. Assim como Jesus venceu a morte, os seus discípulos serão amparados pela vida que não morre mais, a de Jesus ressuscitado, quem os acompanharia por todo o sempre. Amém!


Frei Jacir de Freitas Faria, OFM

 

Download Premium WordPress Themes Free
Download WordPress Themes
Premium WordPress Themes Download
Download WordPress Themes Free
udemy paid course free download
download lenevo firmware
Premium WordPress Themes Download
download udemy paid course for free