Para falar a respeito das minhas inspirações como artista, é impossível não apontar o mais constante fator que pessoalmente é também o que mais me fascina e provoca o meu fazer artístico; mas este não é apenas um priviléio meu, já que Francisco é o tema mais abordado em toda a história das artes no mundo.
Seja no teatro, na música, no cinema, na dança, na literatura mas principalmente nas artes visuais foi e continua sendo, o tema de inspiração por excelência para todos os artistas visuais; desde Cimabue que o retratou assim como Giotto que descreveu cronologicamente sua vida, no afresco e no mosaico. Francisco também foi tema para o pintor flamengo Rembrandt que teve seu jovem filho como modelo do Poverello. Também são incontáveis os mestres das artes no Brasil que fizeram de Francisco a temática para suas obras, por exemplo os mestres do expressionismo brasileiro, Candido Portinari e Marina Caran, na escultura, o genial Vitor Brecheret ou também Ceschiatti e afinal Alfredo Volpi, para citar bem poucos.
Tão importantes como esses artistas geniais são os artistas populares que abordam, nas mais variadas técnicas e formas a figura deste homem da idade média, também considerado atualmente em pesquisa mundial como ser humano do milênio.
Uma das mais conhecidas abordagens é a do Santo com passarinhos ou pequenas criaturas, para traduzir o amor que ele nutria pelos seres vivos, de modo especial por aqueles que enfeitam a natureza com suas cores e que mesmo sendo frágeis e vulneráveis lhe revelavam com que poder amoroso Deus criador fez surgirem tantas expressões de beleza e significados para a nossa contemplação.
Desse modo, há 800 anos Francisco produziu então a primeira representação artística do presépio em Greccio/ Itália, revelando toda a sua sensibilidade criativa ao refletir sobre o imenso amor de Deus pela humanidade ao enviar seu próprio filho, o Verbo Encarnado, nascido numa manjedoura para servir como modelo e exemplo para a humanidade; fazendo-se um de nós, frágil, pequeno e humano.
Francisco de maneira incomum se identifica com essa manifestação do próprio Deus e conscientemente deseja seguir essa forma dimensional de vida como proposta de ser o menor entre toda a criatura, uma vez que Deus em sua incomensurável grandeza se tornou um de nós.
Francisco, portanto, é alguém de significativo valor estético por saber ver e absorver a beleza, como necessidade pessoal de transformação.
Mas ele não se limita aos padrões meramente decorativos por que o belo pelo qual ele se enamora é também revestido do amor, atingindo desta maneira o ideal que já os antigos gregos acreditavam que onde residem valores estéticos (a beleza), também coexiste a ética (o amor).
Hoje, Francisco é uma referencia utópica para a nossa sociedade humana distópica de tão admiráveis progressos tecnológicos, mas também de consequências incontroláveis de exigentes proporções, desde a destruição sistemática do planeta chamado pelo Papa Francisco como a nossa casa comum, com suas fontes e mananciais de vida, até a caótica promoção de desiquilíbrio social onde a maioria empobrecida sucumbe diante da indiferença de uma minoria privilegiada que detém os controles dos poderes.
Francisco de Assis é a UTOPIA, reflexo dos valores contidos no Evangelho de Jesus; portanto, cada um de nós é desafiado a ser a realização em nosso cotidiano, desse sonho franciscano, a partir da nossa própria transformação e na promoção de mudanças da realidade ao nosso redor.
Paz e Bem!
Frei Pedro da Silva Pinheiro