
Sombra e luz
Onde cai luz, surge sombra; quando há sombra, há também uma fonte de luz: claro e escuro determinam um ao outro, um faz parte do outro. O que vale na natureza vale também para a personalidade: nós iluminamos determinados aspectos nossos para que eles sejam vistos e, assim, outros aspectos nossos passam ficar na sombra. Ou tentamos, desde o início, esconder alguns lados nossos na sombra – ou na escuridão. Essa metáfora de luz e sombra aponta para dois conceitos de C.G. Jung, e ambos determinam um ao outro: persona e sombra. Entendemos como sombra de uma pessoa aqueles traços da personalidade que jamais devem ser revelados ao mundo nem devem ser vistos por outros. Pois quando isso acontece, a pessoa afetada perde sua reputação, o que, para a maioria das pessoas, significa sentir vergonha e medo. A sombra pessoal de um ser humano pode ser um atributo individual da personalidade vinculado a um comportamento específico e que esse ser humano não consegue aceitar, por exemplo, inveja ou avareza; mas ela pode se referir também a todas as qualidades e modos de comportamento conscientes em determinado momento que não conseguimos aceitar em nós mesmos e que, por isso, reprimimos. Existe, porém, sempre também uma sombra que se esconde de nós mesmos.
Verena Kast, “A sombra em nós”. Editora Vozes