Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Era 13 de maio de 2007. No Santuário Nacional – casa da Mãe Aparecida -, iniciava-se a 5ª Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe. Quase três semanas de espiritualidade e reflexões fecundas. Ungido o ambiente pela singular, amorosa e sincera presença de milhares de peregrinos. Dias de bênçãos e de iluminação para o horizonte missionário da Igreja. O povo orante e confiante na intercessão materna e discipular da Mãe Maria, por força espiritual invisível e imensurável, inspirava os pastores e seus assessores ali congregados a dimensões essenciais da vivência autêntica da fé cristã católica: todos discípulos e discípulas missionários no seguimento de Jesus Cristo, Mestre e Senhor, Crucificado e Ressuscitado. Na riqueza da participação dos congregados na Conferência Geral, há de se destacar a presença amorosa do Papa Bento XVI – hoje Papa emérito -, que inaugurou a Conferência de Aparecida, e a singular dedicação do então Arcebispo de Buenos Aires, Argentina, hoje o Papa Francisco. Na atualidade, o Santo Padre reafirma a importância e o potencial evangelizador do Documento de Aparecida, fruto da Conferência, publicado no dia 29 de junho de 2007.
O Documento de Aparecida, na festa de seus 15 anos, é um tesouro para impulsionar as forças missionárias da Igreja Católica, interpelada a oferecer novas respostas ante desafios do mundo contemporâneo. As linhas mestras de Aparecida são uma resposta atual e essencial dentro dos parâmetros do Concílio Vaticano II, especial acontecimento vivido de 1962 a 1965, e que preparou a Igreja para evangelizar na contemporaneidade. Assim, o Documento, fruto da Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, reúne entendimentos e indicações concretas para o caminho desafiador deste terceiro milênio. Diferentemente das vozes que alardeavam interpretações equivocadas, difundindo que o evento de Aparecida correria o risco de ser um retrocesso no caminho eclesial e missionário, indicações da Conferência permanecem como um desafio pastoral, urgindo efetivações assertivas de respostas na vivência do discipulado e nas exigências evangélicas do seguimento de Jesus Cristo.
Incontestável é a afirmação que vem do coração do próprio Papa Francisco: a Igreja é desafiada a oferecer novas respostas a partir do horizonte da Conferência de Aparecida, neste tempo de grandes mudanças. Muito atual, o Documento de Aparecida afirma que o caminho da Igreja na América Latina e no Caribe tem lugar em meio a luzes e sombras deste tempo, que traz aflições. Sublinhe-se o processo de redação do Documento, que envolveu momentos de impasse, mas foi permeado pela ação do Espírito Santo de Deus, o guia da Igreja. O Espírito Santo gestou caminhos corajosos e inspirações proféticas, trazendo à luz o conjunto de indicações do Documento de Aparecida – interpelação à Igreja Latino-americana e Caribenha, irradiando inspirações para a Igreja em todo o mundo. As contribuições da Conferência de Aparecida fortalecem a Igreja na missão de formar discípulos e discípulas de Cristo, caminho, verdade e vida, para que todos os povos tenham vida. As contribuições são especialmente singulares porque contam com a inspiração e proteção da Mãe Maria, perfeita discípula e pedagoga da evangelização, ensinando sempre a fazer o que Ele, Cristo Jesus, indica.
As indicações do Mestre são essenciais para cultivar as grandes riquezas dos povos, a fé no Deus amor, a tradição católica na vida e na cultura – lembrando-se sempre das raízes católicas que inspiram a arte, a linguagem e estilos de vida, tecendo identidades, originalidade e unidade na realidade histórico-cultural latino-americana e caribenha. Uma realidade marcada pelo Evangelho de Cristo, que não pode abandonar Deus por comportamentos viciosos, opressão, violência, ingratidões e misérias. Esses cenários de desolação precisam ser debelados pela graça da vitória pascal. O atual período da história, marcado por desordem generalizada, crises sistêmicas variadas, turbulências sociais, políticas e ecológicas, urge por indicações preciosas e testemunhos, sublinha o Documento de Aparecida.
A Igreja é chamada a repensar profundamente as suas dinâmicas, a relançar com fidelidade e audácia a sua missão, considerando as novas circunstâncias mundiais, sublinha o Documento. Trata-se da preciosa indicação de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho de Jesus – sempre a partir d’Ele, viver a missão de fazer despertar discípulos missionários. Esse avanço almejado não se efetiva pela dependência de grandes programas ou estruturas, mas pelo encontro com Ele, Cristo. Depende, pois, de homens e mulheres que encarnam essa tradição e novidade, missionários do Reino de Deus, protagonistas de uma vida nova. A celebração dos 15 anos da Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho é convite para revisitar o Documento de Aparecida, com indicações concretas, para efetivar o que é próprio de uma Igreja Sinodal: alicerçada na autenticidade e na formação permanente, na vivência e no testemunho de discípulos e discípulas missionários, para fecundar vidas a caminho do Reino de Deus.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).