Ceia do Senhor – Quinta-feira Santa
- Ceia do Senhor - Quinta-feira Santa
- Textos bíblicos para esta Quinta-feira Santa
- Da cabeça aos pés
- Era a noite do adeus...
- A Ceia Pascal
Ceia do Senhor - Quinta-feira Santa
A múltiplas dimensões do Lava-Pés
Frei Gustavo Medella
Água, jarra, bacia, toalha e mãos, todos unidos em função do cuidado dos pés. Estes, por sua vez, se deixam lavar e cuidar. O gesto de Jesus aponta para uma eclesiologia que coloca no centro aqueles que estão abaixo, os humildes, desprezados, explorados e invisíveis. Os que silenciosamente e à custa de grande esforço, carregam sobre sim o peso das contradições que ainda não conseguimos superar enquanto Igreja, enquanto humanidade. Uma Igreja que se abaixa para acudir aqueles que mais sofrem. Se os pés representam os últimos, cada um dos elementos envolvidos na cena do Lava-pés pode também ser associado a diferentes dimensões do ministério da Igreja.
Água – esta, por si só é sacramento eloquente da graça de Deus na qual cada batizado e batizada foi mergulhado (a) no Batismo. É sinal da vitalidade que vem do alto e que é capaz de lavar, purificar, renovar, reabilitar e restaurar as forças. É o ministério do culto, da liturgia, a vida de oração e contemplação, a capacidade de transcendência. Dada sua liquidez e dinamismo, a água, no Batismo ou no Lava-Pés, não se estaciona em uma cômoda posição, mas se derrama, sai do alto e penetra o humilde chão da realidade, levando vida e renovação por onde passa e onde penetra.
Jarra – É o reservatório, são as estruturas e organizações que possibilitam a lida humana com o dom da Graça. Existe para conter a água, mas não é sua proprietária exclusiva e nem se esgota em abrigá-la. Não existe jarra, por imensa que seja, capaz de conter toda água do mundo. A jarra é funcional e, se não se presta a distribuir a água que contém, perde seu sentido e sua razão de ser. É quando a instituição se torna autorreferencial, se fecha em si mesma. É a Igreja adoentada porque reclusa nos próprios e pequenos interesses, conforme descreve o Papa Francisco.
Bacia – A bacia é o recipiente que possibilita a realização do Lava-Pés. É o vínculo com os apelos da realidade sedenta da água viva do amor e da solidariedade. É a ação pastoral que se compromete atentamente em marcar presença nas periferias sociais e existenciais. Se a jarra não direciona a água para os pés e para a bacia, o serviço não acontece e a graça é desperdiçada. Uma Igreja desconectada com os clamores da realidade desperdiça o dom da Graça que não lhe pertence.
Toalha – É a dimensão do alento, da acolhida e do abraço. É a disposição de ir ao encontro de maneira desarmada e terna para enxugar o suor e as lágrimas daqueles que passam por toda sorte de dificuldade. É a Igreja Samaritana capaz de improvisar, de mudar os próprios rumos para ir ao encontro dos apelos inesperados de Deus no voz dos sofredores.
Mãos – Representam a operosidade e a disposição de cada cristão. É o compromisso individual que cada um assume diante do convite que o Senhor insistentemente realiza. Devem sempre estar livres e abertas para auxiliar o reerguimento de quem caiu, romper as correntes de quem está aprisionado, levar água e comida à boca do sedento e do faminto. A lição do Lava-pés, com seus símbolos e elementos, sejam sempre inspiração para buscarmos, juntos, o modo mais efetivo e eficaz de sermos Igreja.
FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.
Imagem: Catholic Pictures (https://www.cathopic.com)
Textos bíblicos para esta Quinta-feira Santa
Primeira Leitura: Êx 12,1-8.11-14
Naqueles dias: 1 O Senhor disse a Moisés e a Aarão no Egito: 2”Este mês será para vós o começo dos meses; será o primeiro mês do ano. 3 Falai a toda a comunidade dos filhos de Israel, dizendo: No décimo dia deste mês, cada um tome um cordeiro por família, um cordeiro para cada casa.
4 Se a família não for bastante numerosa para comer um cordeiro, convidará também o vizinho mais próximo, de acordo com o número de pessoas. Deveis calcular o número de comensais, conforme o tamanho do cordeiro. 5 O cordeiro será sem defeito, macho, de um ano. Podereis escolher tanto um cordeiro, como um cabrito: 6 e devereis guardá-lo preso até ao dia catorze deste mês. Então toda a comunidade de Israel reunida o imolará ao cair da tarde.
7 Tomareis um pouco do seu sangue e untareis os marcos e a travessa da porta, nas casas em que o comerem. 8 Comereis a carne nessa mesma noite, assada ao fogo, com pães ázimos e ervas amargas.
11 Assim devereis comê-lo: com os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. E comereis às pressas, pois é a Páscoa, isto é, a ‘Passagem’ do Senhor!
12 E naquela noite passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até os animais; e infligirei castigos contra todos os deuses do Egito, eu, o Senhor.
13 O sangue servirá de sinal nas casas onde estiverdes. Ao ver o sangue, passarei adiante, e não vos atingirá a praga exterminadora, quando eu ferir a terra do Egito. 14 Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua.
Responsório: Sl 115
— O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor.
— O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor.
— Que poderei retribuir ao Senhor Deus / por tudo aquilo que ele fez em meu favor? / Elevo o cálice da minha salvação, / invocando o nome santo do Senhor.
— É sentida por demais pelo Senhor / a morte de seus santos, seus amigos. / Eis que sou o vosso servo, ó Senhor, / mas me quebrastes os grilhões da escravidão!
— Por isso oferto um sacrifício de louvor, / invocando o nome santo do Senhor. / Vou cumprir minhas promessas ao Senhor / na presença de seu povo reunido.
Segunda Leitura: 1Cor 11,23-26
Irmãos: 23 O que eu recebi do Senhor foi isso que eu vos transmiti: Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão 24 e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”.
25 Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança, em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória”. 26 Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha.
Jesus veio para servir
Evangelho: Jo 13, 1-15
* 1 Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. 2 Durante a ceia, o diabo já tinha posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de trair Jesus. 3 Jesus sabia que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos. Sabia também que tinha saído de junto de Deus e que estava voltando para Deus.
4 Então Jesus se levantou da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. 5 Colocou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando com a toalha que tinha na cintura.6 Chegou a vez de Simão Pedro. Este disse: «Senhor, tu vais lavar os meus pés?» 7 Jesus respondeu: «Você agora não sabe o que estou fazendo. Ficará sabendo mais tarde.» 8 Pedro disse: «Tu não vais lavar os meus pés nunca!» Jesus respondeu: «Se eu não o lavar, você não terá parte comigo.» 9 Simão Pedro disse: «Senhor, então podes lavar não só os meus pés, mas até as mãos e a cabeça.» 10 Jesus falou: «Quem já tomou banho, só precisa lavar os pés, porque está todo limpo. Vocês também estão limpos, mas nem todos.» 11 Jesus sabia quem o iria trair; por isso é que ele falou: «Nem todos vocês estão limpos.»
Quem segue Jesus deve servir – 12 Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto, sentou-se de novo e perguntou: «Vocês compreenderam o que acabei de fazer? 13 Vocês dizem que eu sou o Mestre e o Senhor. E vocês têm razão; eu sou mesmo. 14 Pois bem: eu, que sou o Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros. 15 Eu lhes dei um exemplo:vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz.
* 13,1-17: A morte de Jesus abre a passagem para o Pai, e testemunha o amor supremo que mostra o sentido de toda a sua vida. O gesto de Jesus é ensinamento: a autoridade só pode ser entendida como função de serviço aos outros. Pedro resiste, porque ainda acredita que a desigualdade é legítima e necessária, e não entende que o amor produz igualdade e fraternidade. Na comunidade cristã existe diferença de funções, mas todas elas devem concorrer para que o amor mútuo seja eficaz. Já não se justifica nenhum tipo de superioridade, mas somente a relação pessoal de irmãos e amigos.
Bíblia Sagrada – Edição Pastoral
Da cabeça aos pés
Frei Clarêncio Neotti
A Eucaristia foi feita para o povo de Deus. O Padre foi feito para fazer e distribuir esse alimento divino. A Eucaristia é um Deus-amor, que se dá. O sacerdote, como a própria palavra o diz, é um dom de Deus para o povo. E, para marcar essa doação de Deus e do padre, Jesus, nesta noite de Quinta-feira Santa, quebra novamente o ritual da ceia pascaljudaica. Cinge uma toalha e põe-se a lavar os pés dos Apóstolos. Gesto proibido aos mestres e aos senhores. Gesto proibido até mesmo aos escravos. O Evangelista João, que encheu, de forma muito densa, todo o capítulo sexto do seu Evangelho com o mistério eucarístico, na Última Ceia, destaca o exemplo do Lava-pés.
Pedro resiste. Jesus lhe diz: “Se não te lavar os pés, não terás parte comigo” (v. 8). Pedro, talvez sem medir o alcance da frase, exclama: “Não só os pés, mas também as mãos e a cabeça” (v. 9). O Filho de Deus lavou os pés de todos eles, acrescentando: “Também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros” (v. 15). Em outras palavras: vós vos deveis compreender da cabeça aos pés, isto é, inteiramente; vós vos deveis perdoar da cabeça aos pés, isto é, inteiramente; vós vos deveis bem-querer da cabeça aos pés, até o extremo, para formar, na vida prática, a comunhão que na Ceia fazeis comigo.
A comunhão fraterna está intimamente ligada à comunhão eucarística, como o sacerdócio está ligado à Eucaristia. Exigem-se e são, ao mesmo tempo, nascente e foz uma da outra. “Fazei isto em memória de mim!” (Lc 22,19). Celebremos a Eucaristia! Refaçamos e vivamos os laços do amor fraterno que nos unem em comunhão entre nós e, por meio de Cristo, com Deus! “Fazei isto em memória de mim!” Bendito o sacerdote, Cristo vivo no meio do povo!
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.
Era a noite do adeus...
e o Mestre se colocava aos pés dos discípulos
Frei Almir Guimarães
Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.
♦ A quinta-feira da semana santa é um dos belos dias da vida dos cristãos. A missa do entardecer, missa da ceia do Senhor, é das mais densas e belas celebrações de todo o ano litúrgico. Ela comemora a primeira “missa”, a ceia-refeição” ao longo da qual instituiu a Eucaristia, memorial de sua vida, paixão, morte e ressurreição. “Fazei isto, em minha memória”. Tudo estreitamente vinculado ao gesto da lavação dos pés dos apóstolos.
♦ A refeição pascal judaica, familiar e festiva era o memorial da libertação do Egito: comia-se ritualmente o cordeiro pascal como na noite em que outrora, Deus tinha livrado os hebreus das mãos do faraó. Jesus, por sua vez, faz desta celebração, antecipadamente, memorial de sua paixão, morte e ressurreição. Páscoa nova, passagem nova em que a salvação é oferta a todos. O cordeiro é o próprio Jesus. O banquete é a refeição anunciada pelos profetas, núpcias de Deus com seu povo.
♦ Trata-se de um dia festivo. O templo está enfeitado. Os oficiantes se vestem de paramentos brancos. Há o canto do glória. Bimbalham os sinos. Há festa no ar.
♦ Ceia do Senhor! Refeição parecida com nossas refeições e, ao mesmo tempo, uma ceia tão diferente. O pão do trabalho, das penas, do suor do corpo. O vinho da dor e da alegria. Pão e vinho se tornam Corpo e Sangue do Senhor cuja memória celebramos carinhosa e respeitosamente. Os que participam desta ceia vivem com os irmãos as ceias de todos os dias. Os Padres da Igreja sempre afirmaram que respeitar a Eucaristia supõe que respeito o corpo do Senhor no corpo do irmão.
♦ Quinta-feira santa é dia da caridade e do serviço. O lava-pés, conservado apenas por João, não deveria ser omitido neste dia. Quinta-feira que insiste no servir, na partilha, a alegria do serviço. Isso se dará na medida em que formos pessoas dispostas e disponíveis: serviço no trabalho, serviço em casa, serviço na vizinhança, serviço aos doentes e presidiários, serviço às grandes necessidades da comunidade de fé. Antes de sentar-se à mesa o Senhor lava os pés dos seus. Tal serviço já é anuncio da cruz.
♦ Depondo as vestes, Jesus despoja-se de si. Depõe sua vida para os seus e curvando-se diante deles mostra até onde vai o seu amor. Lavar os pés é gesto que os escravos realizam. Agora, no entanto é o Senhor que o cumpre. Quando Jesus pede que os seus façam sua memória com o pão e o vinho pede também que tornemos sua figura visível no meio do mundo a partir do serviço, desse exemplo que ele havia dado. Quando tudo termina Jesus vai para um jardim…suará sangue… entrará na noite da solidão.
♦ Terminada a celebração da missa vespertina está prevista procissão com o Santíssimo até a capela da reposição. Faz-se, depois, a desnudação dos altares. Desolação. Tudo é abandono. O Esposo foi arrancado do meio dos seus. O sacrário está escancarado. Vazio. A vigília diante do Santíssimo lembra os momentos doloridos da oração de Jesus em Getsêmani. Os fiéis cristãos desejam estar com o Senhor, sem dormir, como aconteceu com os apóstolos, cheios de sono. Esta é a noite da entrega e da desolação. Tudo acontece depois dos esplendores da quinta-feira da Ceia do Senhor.
Para reflexão
A ARTE DE SERVIR
O evangelho de João não oferece um relato explícito da instituição da Eucaristia. O lava-pés ocupa o seu lugar. Ele é ilustração viva desse Jesus morto e ressuscitado que dá a vida por amor ao homem. A vida é dada em abundância. O Reino está em construção.
Eucaristia, ceia de um lado. Mas também Batismo, água, água do lava-pés, água do lado aberto de Cristo.
Não é de admirar que Jesus, naquele momento, convive os seus a lavar os pés uns dos outros. Serviço, atenções fraternas, saída de si mesmo, morte ao homem velho.
À nossa volta quanto serviço é prestado no dia a dia. Aqui é uma pessoa que cuida de um doente, mais adiante há prestadores de serviço de maneira completamente desinteressada na vizinhança, sem visar qualquer tipo de recompensa. São numerosos os gestos de coragem, ternura, desafio, luta, respeito e atenção. O “cuidar” é da ordem do cotidiano, do banal. O bem precisa ser desvelado. Cristo continua lavando os pés dos seus através do serviço efetuado pelos discípulos.
Há esse serviço simples, fiel, amoroso, que se realiza no seio da família: cuidados pelo corpo, pelo interior das pessoas, pela vida de uns e de outros. Canseira com os trabalhos, cuidados com os doentes, os mais indefesos que são as crianças, os doentes e os avançados em idade.
Há o serviço de proteção à vida: a vida antes de seu nascimento, das crianças que nascem sem proteção, que crescem e que precisam de adultos que lhes mostrem belos horizontes de existir. Há serviço da catequese e da evangelização urgente para que a mensagem de Cristo, sua paixão, morte e ressurreição não venham a cair no vazio. Serviço dos pastores, dos catequistas, dos evangelizadores e dos pais.
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.
A Ceia Pascal
Pe. Johan Konings
Se a Última Ceia de Jesus foi a ceia da Páscoa, como dizem os três primeiros evangelistas, por que a Igreja a celebra antes da Páscoa? É que a páscoa judaica não cai no mesmo dia que a nossa. A páscoa judaica pode cair em qualquer dia da semana, conforme a posição da lua. Assim, na Quinta-Feira Santa, Jesus consumiu, com os discípulos, a páscoa judaica (descrita na 1ª leitura). Nesta ocasião, instituiu a Ceia Eucarística, em memória de sua morte (2ª leitura); e, no início dessa refeição, lavou os pés de seus discípulos, em sinal e exemplo do dom da própria vida (evangelho de hoje). Aliás, o evangelista João nem menciona o momento da Eucaristia, porque a Eucaristia significa comunhão com Jesus, e esta comunhão se expressa maravilhosamente pelo gesto do lava-pés: deixar-se lavar por Jesus, aceitar que Jesus seja nosso servo, que não só lava nossos pés, mas dá sua vida por nós. Por isso, queremos servir os nossos irmãos…
O lava-pés é a Eucaristia na vida! Segundo os primeiros evangelistas, a Última Ceia foi a ceia da páscoa judaica, que comemorava o êxodo dos hebreus do Egito, terra de escravidão. Jesus quis celebrar essa ceia, mas ao mesmo tempo a transformou, colocando-se livremente como escravo dos seus irmãos! E fez disso a sua “passagem” para junto de Deus! Ora, esta passagem de Jesus se manifesta na ressurreição, no terceiro dia a partir de hoje, que vai ser para nós, cristãos, a data de nova Páscoa, em que celebramos a nossa libertação. Hoje celebramos Jesus na imagem do cordeiro pascal do A.T., cujo sangue preservou os hebreus do castigo que Deus fez descer sobre os egípcios para que deixassem ir os israelitas. Já não celebramos a páscoa na data judaica, pois Jesus transformou-lhe o sentido. Mas continuamos celebrando o nosso Cordeiro pascal, cujo sangue nos salva; este, porém, não foi sacrificado como um animal sem inteligência, mas porque quis livremente servir-nos no amor até o fim.
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.