5º Domingo da Quaresma
- 5º Domingo da Quaresma
- Leituras bíblicas deste domingo
- Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus
- Ensinava com autoridade
- Enquanto eles falavam, Jesus escrevia com o dedo no chão
- Deus joga longe o pecado!
- Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella
5º Domingo da Quaresma
Mudar
José Antonio Pagola
Todos esperam que Jesus se some à rejeição geral daquela mulher surpreendida em adultério, humilhada publicamente, condenada por escribas respeitáveis e sem defesa possível diante da sociedade e da religião. Mas Ele desmascara a hipocrisia daquela sociedade, defende a mulher da perseguição injusta dos varões e a ajuda a iniciar uma vida mais digna.
A atitude de Jesus diante da mulher foi tão “revolucionária” que, depois de vinte séculos, continuamos em boa parte sem querer entendê-la nem assumi-la. O que podemos fazer em nossas comunidades cristãs?
Em primeiro lugar, atuar com vontade de transformar a Igreja. A mudança é possível. Temos que sonhar com uma Igreja diferente, comprometida como ninguém em promover uma vida digna, justa e igualitária entre homens e mulheres.
Temos que tomar consciência de que nossa maneira de entender, viver e imaginar as relações entre homem e mulher nem sempre provém do Evangelho. Somos prisioneiros de costumes, esquemas e tradições que não têm sua origem em Jesus, pois levam ao domínio do homem e à subordinação da mulher.
Temos de eliminar já da Igreja visões negativas da mulher como “ocasião de pecado”, “origem do mal”, ou “tentadora do homem”. Desmascarar teologias, pregações e atitudes que favorecem a discriminação ou desqualificação da mulher. Tudo isto simplesmente não contém “Evangelho”.
Temos de romper o inexplicável silêncio que há em não poucas comunidades cristãs diante da violência doméstica que fere os corpos e a dignidade de tantas mulheres. Nós cristãos não podemos viver de costas a uma realidade tão dolorosa e frequente. O que não gritaria Jesus hoje?
É preciso reagir contra a “cegueira” generalizada dos homens, incapazes de captar o sofrimento injusto a que se vê sujeita a mulher, só pelo fato de ser mulher. Em muitos setores é um sofrimento “invisível” que não se conhece ou não se quer reconhecer. No Evangelho de Jesus há uma mensagem particular, dirigida aos homens que ainda não escutamos nem anunciamos com fidelidade.
JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos
Leituras bíblicas deste domingo
Primeira Leitura: Is 43,16-21
16Isto diz o Senhor, que abriu uma passagem no mar e um caminho entre águas impetuosas; 17que pôs a perder carros e cavalos, tropas e homens corajosos; pois estão todos mortos e não ressuscitarão, foram abafados como mecha de pano e apagaram-se: 18’Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. 19Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca. 20Hão de glorificar-me os animais selvagens, os dragões e os avestruzes, porque fiz brotar água no deserto e rios na terra seca para dar de beber a meu povo, a meus escolhidos. 21Este povo, eu o criei para mim e ele cantará meus louvores.
Responsório (Sl 125)
— Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!
— Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!
— Quando o Senhor reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar; encheu-se de sorriso nossa boca, nossos lábios, de canções.
— Entre os gentios se dizia: ‘Maravilhas fez com eles o Senhor!’ Sim, maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!
— Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como torrentes no deserto. Os que lançam as sementes entre lágrimas, ceifarão com alegria.
— Chorando de tristeza sairão, espalhando suas sementes; cantando de alegria voltarão, carregando os seus feixes!
Segunda Leitura: Fl 3,8-14
Irmãos: 8Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele, 9não com minha justiça provindo da Lei, mas com a justiça por meio da fé em Cristo, a justiça que vem de Deus, na base da fé.
10Esta consiste em conhecer a Cristo, experimentar a força da sua ressurreição, ficar em comunhão com os seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na sua morte, 11para ver se alcanço a ressurreição dentre os mortos. 12Não que já tenha recebido tudo isso, ou que já seja perfeito. Mas corro para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus. 13Irmãos, eu não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. 14Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus.
Evangelho: Jo 8,1-11
Naquele tempo, 1Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. 3Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando a no meio deles, 4disseram a Jesus: ‘Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?’ 6Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. 7Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: ‘Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.’ 8E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 9E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo. 10Então Jesus se levantou e disse: ‘Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou ?’ 11Ela respondeu: ‘Ninguém, Senhor.’ Então Jesus lhe disse: ‘Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais’.
Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus
5º Domingo da Quaresma, ano C
Oração: “Senhor nosso Deus, dai-nos por vossa graça caminhar com alegria na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo”.
- Primeira leitura: Is 43,16-21
Eis que eu farei coisas novas, e as darei ao meu povo.
A Palavra de Deus que ouvimos na 1ª leitura coloca-se no final do exílio. Inaugura-se uma nova fase da história, com Ciro, rei dos persas, que põe fim ao domínio babilônico. As tropas persas já avançavam sobre Babilônia (Is 43,14-15). Neste contexto, o profeta infunde confiança em Deus e novo ânimo aos exilados. O povo, cansado de esperar pela libertação, dizia: “O Senhor me abandonou, meu Deus me esqueceu” (Is 49,14). Nosso texto convida o povo a relembrar a ação de Deus na história passada (êxodo do Egito). Não com saudosismo (cf. Jz 6,12-13), mas para perceberem a presença contínua de Deus na história do povo. Pede que prestem atenção à ação de Deus no momento presente: “Eis que estão acontecendo coisas novas… já estão surgindo, não as reconheceis”? De fato, Ciro já dominava boa parte do império neobabilônico e estava prestes a conquistar a capital Babilônia. Para o profeta são as coisas novas acontecendo, prenúncio da libertação que está próxima. Olhando para o futuro, o profeta anuncia um novo êxodo, usando imagens da natureza. Se no passado Deus abriu o mar Vermelho e o rio Jordão para seu povo passar, agora abrirá “uma estrada no deserto” e fará “correr rios na terra seca”. A natureza toda participará deste mundo novo que Deus está preparando. Os animais selvagens do deserto vão glorificar o Senhor por causa da água que vai brotar no deserto e pelos rios que ali vão correr. Tudo isso Deus fará para “este povo que criou para si e que cantará seus louvores”. Nosso país e o mundo estão passando por graves crises. A Palavra de Deus nos convida a percebermos, com um olhar de fé, a presença e a ação de Deus vivo e misericordioso. Como podemos colaborar na construção do mundo novo, querido por Deus? Que sinais nos enchem de esperança?
Salmo responsorial: Sl 125
Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria.
- Segunda leitura: Fl 3,8-14
Por causa de Cristo eu perdi tudo,
tornando-me semelhante a ele na sua morte.
Paulo apresenta-se como modelo de vida cristã para a comunidade de Filipos. Como fariseu, considerava que a salvação/justificação era uma recompensa pelas obras praticadas segundo a Lei de Moisés. Agora, convertido à fé em Cristo Jesus é uma criatura nova. Considera desprezíveis as coisas passadas (as obras da Lei). Considera seu maior ganho o conhecimento (experiência do amor misericordioso) de Jesus Cristo e a união com Ele. Conhecer Jesus Cristo, diz Paulo, é “experimentar a força de sua ressurreição, participar de seus sofrimentos e alcançar a ressurreição dos mortos”. Esta busca da união com Cristo Ressuscitado é uma corrida, cuja meta não foi ainda atingida. Considera, porém, a vitória segura porque já foi alcançado por Cristo. Paulo, portanto, não corre sozinho. Corre junto com Cristo Ressuscitado, com quem procura estar sempre unido. Paulo, modelo para todos nós, tem a garantia da fé na força do Cristo, que morreu por nossos pecados e ressuscito dos mortos.
Aclamação ao Evangelho:
Rs. – Glória a vós, ó Cristo, Verbo de Deus
Agora, eis o que diz o Senhor:
De coração convertei-vos a mim.
pois sou bom, compassivo e clemente.
- Evangelho: Jo 8,1-11
Quem dentre vós não tiver pecado,
seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.
No Evangelho de hoje temos um confronto entre a justiça da lei de Moisés e a misericórdia divina revelada por Jesus. Depois de ter passado a noite no monte das Oliveiras, onde costumava rezar e dormir, bem de madrugada Jesus se dirige ao Templo. Imediatamente é cercado pelo povo, desejoso de ouvir seus ensinamentos. Enquanto Jesus ensinava o povo, os fariseus e mestres da Lei trouxeram uma mulher acusada de adultério. Colocaram a mulher no meio do povo, diante de Jesus, e disseram: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu”? Jesus nada respondeu. Sentado como estava, inclinou-se e começou a escrever com o dedo no chão. Como continuavam perguntando, Jesus levantou-se e disse: “Quem dentre de vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Inclinou-se novamente e continuou escrevendo. Os fariseus apenas liam a letra da lei escrita, não a viam pessoa humana. Deveriam examinar também o próprio coração. Induzidos a consultar a própria consciência, “foram saindo, um a um, a começar pelos mais velhos”. Não sabemos o que Jesus escreveu porque o vento logo apagou. Jesus não estava lendo a Lei escrita. Estava diante de uma mulher que se sentia humilhada, arrasada, miserável, exposta à execração pública. Então, Jesus se levanta e diz: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou. Os acusadores sumiram, e com eles, a justiça da Lei: “Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo”. É como diz S. Agostinho: “A mísera com a Misericórdia”. A Misericórdia divina que vem ao encontro da miséria humana (cf. 4º Domingo da Quaresma). E Jesus diz: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”. Jesus é a Misericórdia divina encarnada (cf. Fl 2,5-11). Devolve à mulher a dignidade de filha de Deus, faz dela uma nova criatura (1ª leitura). Jesus nos dá tempo para a conversão (cf. evangelho do 3º domingo da Quaresma: Lc 13,6-9). Ensina-nos a pedir perdão: “a Deus Todo-Poderoso e a vós irmãos e irmãs…”. Sua maior alegria consiste em perdoar (Lc 15: evangelho do 4º Domingo). “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).
FREI LUDOVICO GARMUS, OFM, é professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.
Ensinava com autoridade
Frei Clarêncio Neotti
Entre o Monte das Oliveiras e o templo não havia mais de um quilômetro. O Monte das Oliveiras e o Monte Sion (onde estava Jerusalém, com o templo) olhavam-se frente a frente, eram apenas separados pelo Vale do Cedron, um riacho que só tinha água em época de chuva. Na última semana antes da Paixão, Jesus passou as noites no Monte das Oliveiras (ou em Betânia, na casa de Lázaro, ou no Jardim do Getsêmani) e os dias no átrio do templo (Lc 21,37-38). Também João, no evangelho de hoje, deixa entrever que Jesus passara a noite no Monte das Oliveiras (v. 1).
Jesus ensinava no átrio do templo. Era de manhã, a hora em que muitos iam ao templo fazer o que hoje chamaríamos de ‘Oração da manhã’. Pouco adiante, João diz que ele ensinava “perto dos cofres de esmola” (Jo 8,20), lugar por onde todos passavam necessariamente. Hoje pararam para ouvi-lo (v. 2). João diz que ensinava “sentado” (v. 2). O ensinar sentado significava ‘ensinar com autoridade’. A presença de Jesus no templo irritava os escribas e os fariseus, que chegaram a chamar os ouvintes de Jesus de “corja amaldiçoada que ignora a Lei” (Jo 7,49).
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.
Enquanto eles falavam, Jesus escrevia com o dedo no chão
Frei Almir Guimarães
♦ Em nossa caminhada quaresmal somos levados a contemplar uma das cenas mais tocantes dos Evangelhos: uma pecadora se vê na iminência de ser apedrejada e é salva pelas providências amorosas do coração do Mestre. As palavras que Jesus a ela dirigiu ressoam nosso hoje de nossa vida: “Não te condeno. Vai e não peques mais. Mas vai em paz”. Temos a impressão que é a nós que estão sendo dirigidas aqui e agora.
♦ Estamos no pátio do templo. Jesus estava de volta do Monte das Oliveiras. Tinha ido procurar um momento de santa ociosidade. No silêncio e no recolhimento vivera mais um dos belos momentos de intimidade com seu Pai. Agora ensinava. Era sua “mania”. Ensinar, falar do Pai, exortar a que as pessoas não deixassem o coração endurecer, que prestassem atenção aos caídos à beira da estrada e os levassem para uma hospedaria para serem tratados e, ao sair, deixassem as contas pagas.
♦ A tranquilidade da “aula” de Jesus, porém, é quebrada por um grupo barulhento que se apodera do espaço inteiro. Mestres da lei e fariseus trazem uma mulher surpreendida em adultério. Uma pecadora pública, roupa rasgada, cabelos desgrenhados, olhos arregalados, expressão de pavor. Vinte ou trinta e tantos anos? Tivera filhos? Há uma acusação. Segundo a lei deveria morrer. O delito é sumariamente descrito. Não são necessárias provas. Fora surpreendida em adultério.
♦ Os acusadores esperam a reação de Jesus. Tratava-se, é bem verdade, de uma armadilha. Qualquer que fosse a resposta de Jesus ele entraria num beco sem saída. Se dissesse que ela podia ser perdoada, iria contra a lei. Se a condenasse os interlocutores haveriam de dizer o Mestre não era tão clemente quanto andavam dizendo e agora mostrava inesperada dureza.
♦ Não há resposta por parte de Jesus. Ele começa a escrever com o dedo no chão. Podemos bem imaginar a irritação que Jesus causou com esse gesto. Houve silêncio. Um silêncio incômodo. Deve ter durado certo tempo. O tempo necessário para as pessoas se acalmassem e entrassem em seu interior. O silêncio era quebrado por insistências na acusação. Houve uma pergunta que gelou o auditório: “Quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra”.
♦ Jesus coloca-se novamente a escrever. Foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos. Resolvida a questão. Não havia mais gritos da oposição. Permaneceu a mulher no meio do povo. Agora mais aliviada, ajeitando os cabelos, tendo a certeza de que não iria sentir pedras cavando sua carne. Sensação de alívio.
♦ E Jesus: “Onde estão os que te acusavam? Eles gritavam tanto. Não podia deixar que a fúria legalista e fria desses senhores irrompesse sobre ti. Espero que a partir de agora tua vida seja diferente. Ninguém te condenou. Eu também não te condeno. Apruma-te. Tudo começa de novo. A tragédia do passado não existe mais. Tu és uma mulher nova. Não peques mais”.
♦ Bem perto da Semana Santa, o evangelho da mulher pecadora coloca esperança dentro de cada um de nós. Conhecemos nossa história. Por vezes somos como que instados a lembrar de nossas infidelidades, do passado recente e do passado mais distante: uma vida tíbia, momentos de indiferença para com a voz do Senhor, indelicadezas sérias para com os outros. A contemplação do Senhor a caminho de sua Paixão nos faz pessoas agradecidas por seu amor, pelo sacramento da reconciliação, pelo amor do Senhor derramado aqui e agora no seio da comunidade da Igreja.
♦ Há o convite a que resistamos à tentação de julgar os outros. Deixamos o julgamento para quem de direito. Como comunidade de santos e pecadores acolhemos a fala de Jesus como bênçãos de esperança: “Eu não te condeno. Vai em paz e não peques mais!”
♦ Mas antes houve um tempo em que Jesus escrevia com o dedo no chão. Meu Deus, o que ele poderia estar escrevendo?
Oração
Senhor, reina em mim a escuridão,
mas em ti está a luz.
Estou só,
mas tu não me abandonas.
Estou desanimado,
mas em ti está a ajuda.
Estou intranquilo,
mas em ti está paz,
A amargura me domina,
mas em ti está a paciência.
Não compreendo teus caminhos, mas tu sabes o caminho para mim.
Dietrich Bonhoefer
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.
Deus joga longe o pecado!
Pe. Johan Konings
Domingo passado presenciamos a volta do filho pródigo e sua acolhida pelo Pai misericordioso. Hoje, aparece com mais força ainda o quanto Deus está acima do pecado. Eis a base do que se chama “conversão”. Mas, quando se fala em conversão, os céticos objetam: “Que adianta querer ser melhor do que sou?”, e os acomodados: “Melhorar a sociedade, para quê?”
Deus, porém, não é limitado que fique imobilizado por nosso pecado. Ele passa por cima, escreve-o na areia, como Jesus, no episódio da mulher adúltera (evangelho). A magnanimidade de Deus, que se manifesta em Jesus, está em forte contraste com a mesquinhez dos justiceiros que queriam apedrejar a mulher. Estes, sim, estavam presos no seu pecado; por isso, nenhum deles ousou jogar a primeira pedra. Decerto, importa combater o pecado; mas é preciso estar com Deus para salvar o pecador.
Pois Deus é um libertador. Ele quer apagar nosso passado e renovar nossa vida, assim como renovou o povo de Israel no fim do exílio babilônico (1ª leitura). Paulo diz que devemos deixar nosso passado para trás e esticar-nos para apanhar o que está na nossa frente: Cristo, que é a nossa vida (2ª leitura). Como dissemos domingo passado, o pecado é o que fica atrás, enquanto o futuro que está à nossa frente é o amor de Deus em Jesus Cristo.
“Não peques mais”. Perdoar não é ser conivente com o pecado, mas é salvar o pecador – termo que não está na moda hoje, mas é o que melhor exprime a realidade … Deus perdoa, para dar ao pecador uma “plataforma” a partir da qual possa iniciar uma vida nova. Ora, o perdão é do tamanho da grandeza de Deus; só Ele é grande que chega para perdoar definitivamente. Por isso, para fazer jus ao perdão, não devemos desejá-lo levianamente. Devemos querer eficazmente mudar a nossa vida, ainda que saibamos que “Roma não foi construída num só dia”.
Devemos desejar não mais pecar, e para que este desejo seja eficaz, escolher e utilizar os meios adequados. Quem peca por má índole, procure amigos que o tornem melhor. Quem peca por fraqueza ou vício, evite as ocasiões de tentação. E quem peca por depender de uma estrutura ou laço que conduz à injustiça, procure transformar essa situação, no nível pessoal e no da coletividade. Tratando-se de estruturas sociais injustas, o meio adequado de combater o pecado consiste em unir as forças para lutar pela transformação política e social. Devemos transformar as estruturas de pecado fora e dentro de nós. Mas faremos tudo isso com mais empenho se estivermos convencidos de que Deus nos perdoa e joga longe de si o nosso pecado. Quando se trata de problemas pessoais (embora sempre com alguma dimensão social), a certeza de que Deus é maior que o pecado é um estímulo forte para acreditar numa renovação da vida – com a ajuda dos meios psicológicos adequados, pois a graça não suprime a natureza.
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.
Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella