Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

35ª Viagem Apostólica a Chipre e Grécia

Papa: pedir a graça da esperança para superar os desertos do mundo

   Imagem: Vatican Media

Os fiéis de Atenas se uniram a seu pastor na celebração eucarística esta tarde no “Megaron Concert Hall” – a única missa pública presidida pelo Papa na Grécia. Na homilia, Francisco comentou o Evangelho deste II Domingo do Advento, que apresenta a figura de São João Batista.

Desertos existenciais
O Pontífice ressaltou dois aspectos desta mensagem: deserto e conversão. O evangelista Lucas fala de circunstâncias solenes e de grandes personagens da época e se esperava que a Palavra de Deus se dirigisse a um deles, mas não. Passa-se inesperadamente para o deserto, para um homem desconhecido e solitário. De fato, acrescentou o Papa, ter autoridade, ser cultos e famosos não constituem garantias para agradar a Deus. Ao invés, João prega no deserto, o que constitui para nós uma mensagem encorajadora: “Agora como então, Deus volta o seu olhar para onde dominam tristeza e solidão. Podemos experimentá-lo na vida: com frequência Ele não consegue tocar-nos enquanto estamos no meio dos aplausos e só pensamos em nós mesmos; alcança-nos sobretudo nas horas da provação.”

É nos nossos desertos existenciais que Ele nos visita, quando as situações parecem irresgatáveis, sem saída. “Assim, não há lugar que Deus não queira visitar.”

“Portanto, caríssimos, não temais a pequenez, porque a questão não é ser pequenos e poucos, mas abrir-se a Deus e aos outros.”

Ir além, porque Deus é maior
O segundo aspecto é a conversão. Falar de conversão, disse Francisco, pode parecer difícil e gerar tristeza, como se fosse fruto somente do nosso empenho. Pode-se sentir frustrado em querer mudar, mas não conseguir. Mas em grego, o verbo converter tem outro significado, que é precisamente “pensar além”.
Isto é, ir além do nosso eu e da nossa pretensão de autossuficiência. “Deus é maior”, recordou o Papa: “Então converter-se significa não dar ouvidos ao que enterra a esperança, a quem repete que nada mudará jamais na vida; é recusar-se a acreditar que estamos destinados a afundar nas areias movediças da mediocridade.”

Pelo contrário, é preciso confiar Nele, porque é Deus o nosso além, a nossa força. Tudo muda se deixarmos a Ele o primeiro lugar. “Eis a conversão: ao Senhor, basta a nossa porta aberta para entrar e fazer maravilhas, assim como Lhe bastaram um deserto e as palavras de João para vir ao mundo.”

O Pontífice conclui convidando os fiéis a pedirem a graça da esperança, a graça de acreditar que, com Deus, as coisas mudam. “Peçamos a graça da esperança, porque é a esperança que reanima a fé e reacende a caridade; porque é de esperança que hoje estão sequiosos os desertos do mundo.”

Deixo a Grécia, mas não os gregos!
No final da celebração, o Papa quis manifestar sua gratidão a todos os que prepararam a visita, pois na segunda-feira, o Pontífice volta ao Vaticano. “Amanhã deixarei a Grécia”, disse o Papa, mas não os gregos. “Levar-vos-ei comigo na memória e na oração.”


Fonte: Vatican News (texto de Bianca Fraccalvieri)

Francisco em Lesbos: migração, paremos este naufrágio de civilização

    Imagem: Vatican Media

Na manhã deste domingo (05/11), o Papa Francisco visitou os refugiados no “Centro de Recepção e Identificação” de Mitilene, capital da ilha grega de Lesbos.

O Santo Padre retorna pela segunda vez a Lesbos. A primeira, foi em 16 de abril de 2016, quando o Pontífice falou sobre o horror das mortes no mar, sobre as “vítimas de viagens desumanas e sujeitas à opressão de torturadores”. Recordou também a generosidade do povo grego, com sua capacidade de responder ao sofrimento dos outros “apesar das graves dificuldades a serem enfrentadas”.

Agora, Francisco se encontra novamente em Lesbos para encontrar novamente os refugiados, para contemplar os seus rostos, para guardá-los “olhos nos olhos”. “Olhos cheios de medo e ansiedade, olhos que viram violência e pobreza, olhos sulcados por demasiadas lágrimas”, disse o Papa, recordando a visita de cinco anos atrás à ilha de Lesbos junto com o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, e o Arcebispo Ortodoxo de Atenas e toda a Grécia, Ieronymos. Naquela ocasião, Bartolomeu I recordou “que a migração não é um problema do Oriente Médio e do norte da África, da Europa e da Grécia. É um problema do mundo inteiro”.

Sim, é um problema mundial, uma crise humanitária que diz respeito a todos. A pandemia atingiu-nos globalmente, fez com que todos nos sentíssemos no mesmo barco, fez-nos experimentar o que significa ter os mesmos temores. Compreendemos que as grandes questões devem ser enfrentadas em conjunto, porque, no mundo atual, são inadequadas as soluções fragmentadas.

A seguir, o Papa falou sobre as vacinações que no âmbito planetário estão se efetuando lentamente e que algo parece se mover, “embora por entre inúmeros atrasos e incertezas, na luta contra as mudanças climáticas”, mas “tudo parece estar terrivelmente faltando no que diz respeito às migrações. E, no entanto, há pessoas, vidas humanas em jogo”.

Está em jogo o futuro de todos, que, só poderá ser sereno, se for integrador. Somente se reconciliado com os mais frágeis é que o futuro será próspero. Pois quando os pobres são repelidos, repele-se a paz. A história nos ensina que fechamentos e nacionalismos levam a consequências desastrosas. A história, repito, nos ensina, mas ainda não aprendemos.

Francisco pede a Deus “que nos acorde da indiferença por quem sofre”, e pede ao ser humano para superar “a paralisia do medo, a indiferença que mata, o desinteresse cínico que, com luvas de pelica, condena à morte quem está colocado à margem”.

“Passaram-se cinco anos desde a visita que aqui fiz com os queridos Irmãos Bartolomeu e Ieronymos. Depois de todo este tempo, constatamos que pouca coisa mudou na questão migratória”, ressaltou Francisco. “Muitos, sem dúvida, se empenharam no acolhimento e na integração, e quero agradecer aos numerosos voluntários e a quantos nos vários níveis, institucional, social, caritativo, arcaram com grandes fadigas ocupando-se das pessoas e da questão migratória. Reconheço o esforço realizado para financiar e construir estruturas de acolhimento dignas e de coração agradeço à população local pelo grande bem que fizeram e os inúmeros sacrifícios que suportaram”.

Com amargura, porém, temos de admitir que este país, à semelhança de outros, continua sob pressão e que, na Europa, há quem persista em tratar o problema como um assunto que não lhe diz respeito. E quantas condições indignas do homem! Quantos pontos de triagem onde migrantes e refugiados vivem em condições que estão no limite da suportação, sem se vislumbrar no horizonte qualquer solução! Todavia, o respeito pelas pessoas e pelos direitos humanos, especialmente no continente que não deixa de os promover no mundo, deveria ser sempre salvaguardado e a dignidade de cada um deveria ter prioridade sobre tudo.

Segundo o Papa, “é triste ouvir propor, como solução, o uso de fundos comuns para construir muros. Claro, compreendem-se os medos e inseguranças, as dificuldades e perigos. Fazem-se sentir o cansaço e a frustração, agravados pelas crises econômica e pandêmica, mas não é erguendo barreiras que se resolvem os problemas e melhora a convivência. Antes pelo contrário, é unindo as forças para cuidar dos outros segundo as possibilidades reais de cada um e no respeito da legalidade, colocando sempre em primeiro lugar o valor incancelável da vida de cada homem”. A seguir, o Francisco acrescentou:

É fácil arrastar a opinião pública incutindo o medo do outro; mas por que motivo não se fala, com o mesmo brio, da exploração dos pobres, das guerras esquecidas e muitas vezes lautamente financiadas, dos acordos econômicos feitos na pele do povo, das manobras ocultas para contrabandar armas e fazer proliferar o seu comércio? Há que enfrentar as causas remotas, não as pessoas pobres que pagam as suas consequências, acabando até por ser usadas para propaganda política.

Francisco destaca que “para remover as causas profundas, não basta apenas resolver as emergências. São necessárias ações concordadas. É preciso abordar as mudanças de época com grandeza de visão, porque não há respostas fáceis para problemas complexos”. Segundo o Papa, é preciso “acompanhar os processos a partir do seu interior para superar os guetos e favorecer uma integração lenta e indispensável, para acolher de modo fraterno e responsável as culturas e as tradições alheias”.

“Se queremos recomeçar, olhemos sobretudo os rostos das crianças. Tenhamos a coragem de nos envergonhar à vista delas, que são inocentes e constituem o futuro”, frisou o Pontífice. “O Mediterrâneo, que uniu durante milênios povos diferentes e terras distantes, está se tornando um cemitério frio sem lápides. Esta grande bacia hidrográfica, berço de tantas civilizações, agora parece um espelho de morte. Não deixemos que o mare nostrum se transforme num desolador mare mortuum, que este lugar de encontros se transforme no palco de confrontos. Não permitamos que este «mar das memórias» se transforme no «mar do esquecimento». Por favor, paremos este naufrágio de civilização!”, pediu o Papa.

Francisco recordou que “nas margens deste mar, Deus se fez homem. Ele nos ama como filhos e nos quer irmãos”. Disse ainda que “ofende-se Deus, desprezando o homem criado à sua imagem, deixando-o à mercê das ondas, num vaivém de indiferença, às vezes justificada até em nome de pretensos valores cristãos”. “A fé pede compaixão e misericórdia”, disse o Papa, “exorta à hospitalidade” que encontrou “em Jesus a sua manifestação definitiva”. “Não é ideologia religiosa, são raízes cristãs concretas. Jesus afirma solenemente que está ali no estrangeiro, no refugiado, no nu e no faminto”, sublinhou Francisco, recordando que “o programa cristão é encontrar-se onde Jesus está. Sim, porque «o programa do cristão, escreveu o Papa Bento XVI, é “um coração que vê”».”


Fonte: Vatican News (texto de Mariangela Jaguraba)

Papa: Igreja vive de confiança e humildade, não de triunfos. É a lógica do grão de mostarda.

   Imagem: Vatican Media

O Papa Francisco encerrou seus compromissos públicos em Atenas reunindo-se com a comunidade católica na Catedral de São Dionísio.

Antes de se dirigir a Bispos, Sacerdotes, Religiosos e Religiosas, Seminaristas e Catequistas, o Pontífice ouviu a saudação do presidente da Conferência Episcopal Grega, Dom Sevastianos Rossolatos, e os testemunhos de uma freira e de um leigo.

Paulo e o “laboratório de fé”
Enquanto em Chipre o apóstolo Barnabé guiou as reflexões do Papa, na Grécia o Pontífice se inspirou em Paulo, que inaugurou um “laboratório de fé” para a inculturação do Verbo.

Francisco ressaltou de modo especial duas características de sua missão: a confiança e o acolhimento. Em Atenas, Paulo estava só, em minoria e com escassa probabilidade de sucesso. Mas não se deixou vencer pelo desânimo: “Eis a atitude do verdadeiro apóstolo: prosseguir com confiança, preferindo mais o incômodo das situações inesperadas que a rotina e a repetição.”

Esta coragem de Paulo, acrescentou o Papa, vem de Deus, que gosta de atuar na nossa pequenez.

“A nós, como Igreja, não é pedido o espírito da conquista e da vitória, a magnificência dos grandes números, o esplendor mundano. Tudo isto é perigoso. É a tentação do triunfalismo. A nós, é-nos pedido para aprender com o grão de mostarda, que, apesar de ínfimo, humilde e lentamente cresce.”

O segredo do Reino de Deus está contido nas pequenas coisas, naquilo que frequentemente não se vê nem faz rumor. Ser minoria – e, no mundo inteiro, a Igreja é minoria – não quer dizer ser insignificante, disse ainda Francisco. Portanto, “coragem”!

Não impor, mas propor
Já o segundo aspecto – o acolhimento – está ligado à evangelização. Paulo respeita seus interlocutores, reconhece neles uma sensibilidade religiosa, estão em busca do “Deus desconhecido”. De fato, disse o Papa, evangelizar não é encher um recipiente vazio, mas reconhecer as sementes que Deus já plantou antes da nossa chegada.

“Paulo acolhe o desejo de Deus escondido no coração daquelas pessoas e, com gentileza, quer comunicar-lhes o assombro da fé. O seu estilo não é impositivo, mas propositivo. Não se baseia no proselitismo, mas na mansidão de Jesus.”

Assim também devem atuar os católicos hoje, com este espírito de acolhimento: “De coração, desejo que possam continuar o trabalho no seu histórico laboratório da fé e que o façam com estes dois ingredientes, a confiança e o acolhimento, para saborear o Evangelho como experiência de alegria e fraternidade.”


Fonte: Vatican News (texto de Bianca Fraccalvieri)

Papa na Grécia neste sábado

“Sem Atenas e sem a Grécia, a Europa e o mundo não seriam o que são”, afirma o Papa

                                                                           Imagem: Vatican Media

História, religião, política, ciência e filosofia: um denso discurso marcou a chegada do Papa Francisco à Grécia, na presença da presidente do país, Katerina Sakellaropoulou.

Depois da cerimônia de boas-vindas no Palácio Presidencial de Atenas, o Pontífice se dirigiu às Autoridades para manifestar sua alegria de visitar “estes lugares que superabundam de espiritualidade, cultura e civilização”.

“Sem Atenas e sem a Grécia, a Europa e o mundo não seriam o que são”, disse Francisco, citando autores clássicos, como Aristóteles, Sócrates e Homero.

Rumo ao Alto

Da Grécia, afirmou o Papa, dilataram-se os horizontes da humanidade rumo ao Alto: do Monte Olimpo à Acrópole e ao Monte Athos, partiu o convite ao ser humano de cada tempo a orientar a viagem da vida para Deus. Por ali passaram as vias do Evangelho, que foi escrito em grego, língua imortal usada pela Palavra – pelo Logos – para se expressar.

Do Alto, o homem foi impelido a olhar para o outro, nascendo ali o conceito de democracia, que hoje vive um retrocesso. Enquanto os populismos ganham terreno, Francisco exorta a passar do tomar partido ao participar; do empenho em apoiar apenas a própria parte ao envolvimento ativo em prol da promoção de todos. “Penso no clima, na pandemia, no mercado comum e, sobretudo, nas pobrezas generalizadas.”

Mudanças climáticas: que os compromissos não sejam de fechada

O Papa citou um dos símbolos do país, a oliveira, para falar dos incêndios que devastaram a ilha, consequência das mudanças climáticas. A mesma oliveira representa, todavia, a vontade de resgate, como simbolizava a pomba depois do dilúvio universal, que voltou para Noé trazendo no bico uma folha verde de oliveira. “Neste sentido, espero que os compromissos assumidos na luta contra as alterações climáticas apareçam cada vez mais compartilhados e não sejam de fachada.”

Na Escritura, a oliveira constitui também um convite à solidariedade, especialmente para com aqueles que não pertencem ao próprio povo. A este ponto, o Pontífice renovou seu apelo em favor dos migrantes, “protagonistas duma terrível odisseia moderna”.

“Transformemos em ousada oportunidade o que parece ser apenas uma infeliz adversidade”, acrescentou o Papa, pedindo o fim da morosidade na comunidade europeia, “dilacerada por egoísmos nacionalistas”.

Grécia, memória da Europa

Para Francisco, a grande adversidade é constituída pela pandemia e ressaltou a atualidade do juramento de Hipócrates e o direito à saúde e o compromisso a salvaguardar a vida em todos os momentos, particularmente no ventre materno.

“Queridos amigos, alguns exemplares de oliveira mediterrânica testemunham uma vida tão longa que antecede o aparecimento de Cristo. (…) Este país pode ser definido a memória da Europa.”

O Papa concluiu reiterando sua felicidade por visitar a Grécia 20 anos depois de São João Paulo II e no bicentenário da sua independência. E gratidão pelo reconhecimento público da comunidade católica.

“Desta cidade, deste berço da civilização, elevou-se e oxalá nunca cesse de se elevar uma mensagem que encaminha para o Alto e para o outro; que às seduções do autoritarismo responda com a democracia; que à indiferença individualista oponha a solicitude pelo outro, pelo pobre e pela criação.”


Fonte: Vatican News (texto de Bianca Fraccalvieri)

Papa Francisco, juntos no caminho da unidade

   Imagem: Vatican Media

O segundo dia de Francisco na ilha começa com uma visita de cortesia a Sua Beatitude Chrysostomo II, no Palácio do Arcebispado Ortodoxo de Chipre. Um dia, marcado pelo ecumenismo.

Testemunho vivo de esperança

Sorrisos e cordialidade marcam o encontro realizado em uma dimensão privada. De fato, após as primeiras imagens com as saudações entre os dois líderes religiosos, as lentes das câmaras deslocam o foco para o lado externo do prédio. Após o colóquio privado, os dois assinam o Livro de Honra, onde Francisco deixa a seguinte mensagem:

“Peregrino em Chipre, pérola de história e de fé, invoco de Deus a humildade e a coragem para caminharmos juntos rumo à plena unidade e dar ao mundo, a exemplo dos Apóstolos, uma mensagem fraterna de consolação e um testemunho vivo de esperança”

“Beatitude, obrigado por ter falado da Igreja Mãe, em meio ao povo. Esta – escreve o Papa no Livro de Honra – é o caminho que nos unge como pastores. Avancemos juntos por este caminho. E muito obrigado por ter falado do diálogo. Devemos seguir sempre pelo caminho do diálogo, um caminho difícil, paciente e seguro, um caminho de coragem. Paresia e paciência”.

O arcebispo Chrysostomos II

Após a assinatura do Livro de Honra, o Papa Francisco dirige-se à Catedral ortodoxa para se encontrar com o Santo Sínodo junto com Sua Beatitude Chrysostomos II (no século Irodotos Dimitriou), arcebispo de Nova Justiniana e de todo o Chipre.

A mais alta autoridade ortodoxa de Chipre nasceu em Tala (Paphos) em 10 de abril de 1941. Ordenado diácono em 3 de novembro de 1963, estudou na Escola Teológica da Universidade de Atenas de 1968 a 1972. Foi ordenado sacerdote em 12 de novembro de 1972 pelo então arcebispo de Chipre Makarios III. De 1972 a 1978 exerceu o ministério de Hegumen do Mosteiro de São Neófitos em Paphos. Em 26 de fevereiro de 1978, foi eleito metropolita de Paphos, função que ocupou até sua eleição como arcebispo de Nuova Justiniana e de todo o Chipre em outubro de 2006.

Ele havia representado o Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa de Chipre no funeral de São João Paulo II, em 8 de abril de 2005, e na Missa de início de Pontificado de Bento XVI, no dia 24 de abril seguinte. Em resposta a este gesto fraterno, Bento XVI enviou uma delegação à cerimônia de entronização de Chrysostomos II na Catedral de Lefkosia. Posteriormente, Sua Beatitude se encontrou com Bento XVI em três ocasiões: em 16 de junho de 2007, quando foi recebido em audiência no Vaticano e assinou com o Pontífice uma Declaração conjunta; em 5 de junho de 2010, por ocasião da Viagem Apostólica do Papa a Chipre, que lhe entregou o Instrumentum laboris da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio, realizada em outubro daquele ano, e por fim em 28 de março de 2011, novamente no Vaticano.


Fone: Vatican News (texto de  Benedetta Capelli)

Papa: caminhar na história atraídos pelo sonho de Deus

A oração ecumênica com os migrantes na Igreja paroquial de Santa Cruz, em Nicósia, nesta sexta-feira (03/12), foi o último compromisso público do Papa Francisco em terras cipriotas.

“Sinto uma grande alegria por estar aqui com vocês e concluir a minha visita a Chipre com este encontro de oração”, disse Francisco, agradecendo especialmente aos jovens migrantes pelos seus testemunhos.

Uma comunidade que encarna o sonho de Deus
Depois de ouvi-los, compreende-se melhor “a força profética da Palavra de Deus, que diz através do apóstolo Paulo: «Já não são estrangeiros nem migrantes, mas concidadãos dos santos e membros da casa de Deus»”, disse o Papa.

Esta é a profecia da Igreja: uma comunidade que – com todas as suas limitações humanas – encarna o sonho de Deus. Pois Deus também sonha, como você, Mariamie, que vem da República Democrática do Congo e se define «cheia de sonhos». Como você, Deus sonha um mundo de paz, onde os seus filhos vivam como irmãos e irmãs.

O ódio poluiu as nossas relações entre cristãos
A seguir, Francisco disse que os testemunhos dos irmãos e irmãs migrantes “são como um «espelho» para nós, comunidades cristãs”. Thamara, que vem de Sri Lanka, disse que os migrantes não são “números, indivíduos a catalogar”, mas “irmãos, amigos, fiéis, próximos uns dos outros”. Maccolins, que vem dos Camarões, disse que durante sua vida, foi «ferido pelo ódio». “Ele nos lembra que o ódio poluiu também as nossas relações entre cristãos. E isto deixa marcas, marcas profundas que perduram por muito tempo. Trata-se de um veneno, do qual é difícil desintoxicar-se. É uma mentalidade distorcida que, em vez de nos fazer reconhecer como irmãos, faz-nos ver como adversários, como rivais”, frisou o Papa.

Caminhar do conflito para a comunhão
Rohz, proveniente do Iraque, disse que é “uma pessoa em viagem”. Segundo o Papa, ele nos lembra “que também nós somos comunidade a caminho, caminhamos do conflito para a comunhão.

Neste caminho, que é longo e feito de subidas e descidas, as diferenças entre nós não nos devem causar medo, mas sim os nossos fechamentos e preconceitos, que impedem de nos encontrarmos verdadeiramente e de caminharmos juntos. Os fechamentos e os preconceitos reconstroem entre nós aquele muro de separação que Cristo derrubou, ou seja, a inimizade.

“Jesus vem ao nosso encontro com o rosto do irmão marginalizado e descartado; com o rosto do migrante desprezado, repelido, engaiolado, mas também do migrante que está em viagem rumo a algo, rumo a uma esperança, rumo a uma convivência mais humana”, disse ainda Francisco.

Uma humanidade sem muros de separação
Segundo o Papa, Deus “nos chama também a não nos resignarmos com um mundo dividido, com comunidades cristãs divididas, mas a caminhar na história atraídos pelo sonho de Deus: uma humanidade sem muros de separação, libertada da inimizade, sem mais estrangeiros, mas apenas concidadãos”.

Francisco concluiu, desejando que esta ilha, “marcada por uma dolorosa divisão”, possa “se tornar com a graça de Deus um laboratório de fraternidade”, onde o sonho de Deus “se traduza numa viagem diária, feita de passos concretos, do conflito à comunhão, do ódio ao amor”.


Fonte: Vatican News (texto de Mariangela Jaguraba)

O abraço do Papa aos fiéis cipriotas: sejam cristãos luminosos!

               Imagem: Vatican Media

Na manhã desta sexta-feira, o Papa Francisco celebrou a primeira missa desta sua 35ª Viagem Apostólica.

No estádio GSP de Nicósia, cerca de 10 mil fiéis se reuniram para participar da celebração.

Em sua homilia, o Pontífice comentou o Evangelho proposto pela liturgia do dia, que narra a cura de Jesus a dois cegos. Deste encontro, o Papa destacou três passos significativos neste caminho de Advento.

Jesus é o médico
O primeiro passo: ir ter com Jesus para ser curado. Os cegos perceberam que Ele, na escuridão da história, é a luz que ilumina as noites do coração e do mundo, derrota as trevas e vence toda a cegueira.

“Como sabemos, também nós trazemos a cegueira no coração. Também nós, como os dois cegos, somos caminhantes muitas vezes imersos nas trevas da vida.”
Mas Jesus é o médico, recordou Francisco: só Ele nos dá em abundância luz, calor, amor. Só Ele liberta o coração do mal.

Sair do individualismo
Já o segundo passo é suportar, juntos, as feridas. Nesta narração evangélica, os cegos são dois. E juntos dizem a Cristo: “tem misericórdia de nós”.
“Eis o sinal eloquente da vida cristã, eis o traço distintivo do espírito eclesial: pensar, falar, agir como um «nós», saindo do individualismo e da pretensão de autossuficiência que fazem adoecer o coração.”

O pecado desvirtua a realidade: faz-nos ver Deus como patrão e os outros como problemas. Mas Francisco convidou a renovar a fraternidade: “A cura verifica-se quando carregamos juntos as feridas, quando enfrentamos juntos os problemas, quando nos ouvimos e conversamos. É a graça de viver em comunidade”.

Cristãos iluminados e luminosos
E eis o terceiro passo: anunciar o Evangelho com alegria. Jesus recomenda aos dois cegos curados que não digam nada a ninguém, mas eles não conseguem conter o entusiasmo.

“E aqui está outro sinal distintivo do cristão: a alegria do Evangelho, que é irreprimível”, afirmou Francisco, que acrescentou: “Não se trata de proselitismo, mas de testemunho; nem dum moralismo que condena, mas de misericórdia que abraça; nem de culto exterior, mas de amor vivido”.
Para o Papa, há necessidade de cristãos iluminados, mas sobretudo luminosos, que toquem com ternura a cegueira dos irmãos: “Cristãos que plantem rebentos de Evangelho nos campos áridos da vida quotidiana, levem carícias às solidões do sofrimento e da pobreza”.

Que neste Advento, concluiu o Pontífice, possamos renovar a confiança Nele, que passa também pelas estradas de Chipre; que possamos invocar: Vem, Senhor Jesus!


Fonte: Vatican News (texto de Bianca Fraccalvieri )

35ª Viagem Apostólica a Chipre e Grécia

A Igreja é mãe, não há espaço para muros: o primeiro discurso do Papa em Chipre

Uma Igreja paciente e fraterna, sempre de braços abertos: estes são os votos do Pontífice para a comunidade católica de Chipre, que se reuniu na Catedral maronita minutos depois da chegada de Francisco à ilha. O pronunciamento do Papa foi precedido por testemunhos de religiosos.

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

À comunidade católica o Papa Francisco dirigiu seus primeiro discurso em Chipre.

Ouça e compartilhe

Reunido na catedral maronita de Nossa Senhora das Graças de Nicósia com bispos, sacerdotes, religiosos e catequistas, o Pontífice arriscou algumas palavras em grego para manifestar sua alegria e gratidão ao visitar a ilha do apóstolo Barnabé, filho daquela terra.

De modo especial, saudou as comunidades maronita e latina e, ao fazê-lo, manifestou novamente seu carinho e preocupação pelo Líbano:

“Quando penso no Líbano, sinto tanta preocupação com a crise em que o país se encontra e dou-me conta da grande tribulação dum povo cansado e provado pela violência e o sofrimento.”

Não há muros na Igreja

Já ao falar da rica composição da população local, o Papa mencionou o papel de Chipre no continente europeu: “Uma terra com os campos dourados, uma ilha acariciada pelas ondas do mar, mas sobretudo uma história que é entrelaçamento de povos e mosaico de encontros”.

Assim é também entre os católicos: “Não há – e oxalá nunca existam – muros na Igreja Católica: é uma casa comum, é o lugar das relações, é a convivência das diversidades”.

“E não esqueçam disto! Nenhum de nós foi chamado aqui para proselitismo de pregador, jamais. O proselitismo é estéril. Não dá vida. Todos nós fomos chamados pela misericórdia de Deus, que não se cansa de chamar, não se cansa de estar próximo, não se cansa de perdoar.”

Igreja de braços abertos

Mas foi inspirado em São Barnabé que Francisco dedicou grande parte do seu discurso, realçando dois aspectos de sua vida e missão.

O primeiro é paciência. Barnabé foi escolhido pela Igreja de Jerusalém como a pessoa mais idônea para visitar uma nova comunidade, a de Antioquia, formada por recém-convertidos do paganismo. Foi enviado quase como um “explorador”, encontrando pessoas de várias origens.

Em toda esta situação, o comportamento de Barnabé foi de grande paciência: “Queridos irmãos e irmãs, precisamos duma Igreja paciente: uma Igreja que não se deixa abalar e perturbar pelas mudanças, mas serenamente acolhe a novidade e discerne as situações à luz do Evangelho”.

“A Igreja não quer uniformizar, mas integrar todas as culturas, todas as psicologias das pessoas com paciência maternal, porque a Igreja é mãe.”

O Pontífice agradeceu a paciência dos membros da Igreja no acolhimento dos migrantes: “A Igreja em Chipre vive de braços abertos: acolhe, integra, acompanha. É uma mensagem importante também para a Igreja em toda a Europa, marcada pela crise da fé”.

Igreja, instrumento de fraternidade

O segundo aspecto é marcado pela amizade fraterna, como foi entre Barnabé e Paulo de Tarso. Depois da conversão de Paulo, ‘Barnabé tomou-o consigo’. “Isto chama-se fraternidade”, ressaltou Francisco.

Como irmãos, Barnabé e Paulo viajam juntos para anunciar o Evangelho, mesmo no meio das perseguições. Entre os dois houve discussões não por motivos pessoais, mas por uma divergência sobre como realizar a missão.

“Isto é a fraternidade na Igreja”, explicou o Papa. Pode-se discutir sobre as perspetivas, sensibilidades e ideias diferentes. Mas se discute não para se fazer guerra nem para se impor, mas para expressar e viver a vitalidade do Espírito.

“Queridos irmãos e irmãs, temos necessidade duma Igreja fraterna, que seja instrumento de fraternidade para o mundo.”

Que a fraternidade vivida em Chipre – este foi o augúrio do Santo Padre – possa recordar a todos, à Europa inteira que, para construir um futuro digno da humanidade, é preciso trabalhar juntos, superar as divisões, derrubar os muros e cultivar o sonho da unidade.

“Temos necessidade de nos acolhermos e integrarmos, de caminharmos juntos, de sermos todos irmãs e irmãos!”, conclui Francisco agradecendo em grego: Efcharistó [obrigado]!


Fonte: Vatican News

Papa chega a Chipre,

“Uma viagem em que tocaremos nas chagas”

Teve início a 35ª viagem apostólica a Chipre e à Grécia. Pela manhã os encontros do Papa com dois grupos de migrantes de várias nacionalidades, o primeiro acompanhado à Casa Santa Marta pela Comunidade de Santo Egídio e o segundo da Paróquia de Santa Maria dos Anjos perto do Aeroporto de Fiumicino.

O voo com o Papa Francisco a bordo aterrou no aeroporto de Larnaca, em Chipre. O Santo Padre foi acolhido por um lindo sol, visto que aqui em Roma a chuva não dá trégua, e pelo sorriso de muitos que aguardam suas palavras de encorajamento e consolo. As crianças cantaram com alegria para o Papa a música “Francesco, nós te amamos”. O Santo Padre agradeceu aos jornalistas que o acompanharam durante a viagem.

Uma viagem bonita e também tocaremos algumas chagas. Espero que possamos acolher todas as mensagens que encontraremos. Muito obrigado por sua companhia.

No final das boas-vindas oficiais no Aeroporto de Larnaca, o Papa Francisco foi de carro à capital Nicósia onde, na Catedral Maronita de Nossa Senhora das Graças, encontra com o clero e os movimentos eclesiais de Chipre.

Crianças cipriotas cantam para o Papa

Esta manhã, às 11h05, o Papa partiu do Aeroporto de Roma Fiumicino. “Pela manhã, depois de deixar o Vaticano, o Papa fez uma parada na Paróquia de Santa Maria dos Anjos, perto do Aeroporto de Fiumicino, onde rezou diante da imagem de Nossa Senhora de Loreto e encontrou cerca de 15 refugiados hospedados na paróquia”, ressalta uma nota da Sala de Imprensa da Santa Sé.

O Papa encontra os imigrantes na paróquia romana
O Papa encontra os imigrantes na paróquia romana

Ainda pela manhã, “antes de deixar a Casa Santa Marta, o Pontífice saudou um grupo de 12 refugiados acompanhados pelo Esmoleiro do Papa, cardeal Konrad Krajewski. Os imigrantes, agora residentes na Itália, vêm da Síria, Congo, Somália e Afeganistão. Eles passaram pelo campo de Lesbos nos últimos anos e foram recebidos em sua chegada pela Comunidade de Santo Egídio. Dentre eles, alguns vieram com Francisco no avião papal em 2016”, ressalta outra nota da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Maria Quinto, da Comunidade de Santo Egídio envolvida no projeto dos corredores humanitários, sublinha que o Pontífice pediu a eles para rezar pela viagem e disse que voltará a Lesbos para estar perto dos que ainda estão ali.

Antes de deixar a Casa Santa Marta, o Papa se encontrou com um grupo de refugiados acompanhados pelo cardeal Konrad Krajewski. Como aconteceu esse encontro?

Maria Quinto: Foi um encontro muito familiar e simples. Estiveram presentes algumas famílias. Havia uma família somali com uma mãe deficiente acompanhada por três filhos. Todas as famílias vinham de Lesbos, como esta mulher deficiente que fez a perigosa viagem de barco carregada nos braços por seus filhos. Todos chegaram à Itália pelos corredores humanitários. O Papa ficou muito emocionado ao ouvir suas histórias. Ele se encontrou novamente com a família de um jovem que chegou de Lesbos no vôo papal de 2016. Ele agora está casado, tem um filho e espera o segundo. Trabalha regularmente. O Papa ouviu com satisfação o caminho de integração desta família. Todos ficaram muito felizes com este encontro. Após a chegada do pai de família no voo papal em 2016 de Lesbos para a Itália, também chegou sua esposa, que morava no Líbano. Eles se reuniram e nos últimos anos foi trilhado um caminho muito positivo com o acompanhamento da Comunidade de Santo Egídio.

O que o Papa disse aos imigrantes?

Maria Quinto: O Papa pediu-lhes que rezassem pela viagem e acrescentou que voltava a Lesbos para estar perto dos que ainda estão ali. Os refugiados foram muito atingidos. A experiência de ter vivido no campo de refugiados de Lesbos os marcou.

O que os imigrantes disseram a Francisco?

Maria Quinto: Eles contaram suas histórias. Havia pessoas que chegaram à Itália há 5 meses, outros dois anos e uma família há um ano. Cada um falou alguma coisa sobre seu percurso. Uma mulher do Congo expressou sua alegria por seus filhos poderem ir à escola na Itália. São três crianças que frequentam o Ensino Fundamental. Uma família afegã expressou sua preocupação com este momento particular que seu país está vivendo.

Um encontro em que se reviram as feridas e as cicatrizes de Lesbos, mas também um olhar de esperança voltado, também através da oração, para a viagem do Papa Francisco à Grécia…

Maria Quinto: Sim, através da oração e este caminho acompanhado, como também várias vezes Francisco sublinhou, pela integração, porque é importante viver juntos de forma construtiva nas comunidades que os acolhem.

Telegramas dos países sobrevoados

O Papa faz uma visita pastoral a Chipre e à Grécia “como um peregrino que anseia por fontes antigas”, lê-se no telegrama pontifício enviado ao Presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, ao deixar a Itália, “com o desejo sincero de encontrar os irmãos na fé e as populações locais”. Em seguida, Francisco saúda todo o povo italiano com a esperança de “serenidade e cooperação mútua para o bem comum”.

Em sua mensagem de resposta, Mattarella sublinhou que a viagem do Papa é “uma viagem apostólica no coração do Mediterrâneo, em cujas margens povos e culturas se encontraram e se confrontaram ao longo dos séculos num processo de enriquecimento recíproco”. É “uma encruzilhada de importância fundamental”, acrescentou o Chefe de Estado, na qual todos devem se comprometer a fim de fazer “prevalecer as razões da paz, do acolhimento e da compreensão mútua” sobre a “lógica que alimenta as violações da dignidade da pessoa e de seus direitos fundamentais”.

Na viagem de ida para Chipre, o avião papal também sobrevoou o espaço aéreo da Grécia, país que receberá Francisco nos próximos dias. Num telegrama ao presidente da República Helênica, Katerina Sakellaropoulou, o Pontífice fez seus “melhores votos de oração” aos cidadãos, invocando “a bênção de Deus sobre todos” e aguardando “com grande alegria” a “iminente visita” ao país.


Imagem: Reprodução Vatican Media