Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“Abrir-se ao mundo”

21/08/2021

                                                             Imagem ilustrativa: Canva (www.canva.com/pt_br/modelos)

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Esta é uma interpelante expressão evocada na Carta Encíclica Fratelli Tutti – sobre a fraternidade e a amizade social, do Papa Francisco, em referência à busca por dinâmicas que superem os sombrios sinais de um “mundo fechado”. Não é exagero e nem pessimismo: os fechamentos da civilização contemporânea mostram que a humanidade está na contramão de progressos alcançados no campo tecnológico-científico. Torna-se difícil encontrar razões para a atual configuração política, social, econômica e cultural do planeta, com a história dando sinais de regressão. Conflitos anacrônicos – com o surgimento de nacionalismos fechados, ressentidos e agressivos – ressurgem em diferentes lugares. Medidas que buscam superar determinadas ideologias fazem surgir outras igualmente perigosas. Diante desses e de tantos outros problemas, os cidadãos estão desafiados: é necessária lucidez mínima para ir além de interesses político-partidários enraizados em determinadas ideologias. Vencer, assim, os limites de fechamentos obscurantistas e os interesses mercadológicos egoístas – que levam poucos ao enriquecimento enquanto alimentam a exclusão social de muitos, com cenários de desolação agravados pela pandemia da Covid-19. Torna-se inadiável um esforço de todos para que a sociedade adote o paradigma da fraternidade social, por um permanente e fecundo investimento na amizade social.

O Papa Francisco lembra que o bem deve ser conquistado a cada dia. Não é possível, pois, contentar-se com o que já se obteve no passado – “muitos dos nossos irmãos ainda sofrem situações de injustiça que nos interpelam a todos”. Acatar a interpelação que vem dos cenários de injustiças, violências e desigualdades sociais é contribuir na indispensável e urgente dinâmica de “abrir-se ao mundo”, mas de modo bem diferente da atual concepção de um modelo econômico questionável. No âmbito da economia e das finanças, há uma equivocada compreensão a respeito do que significa “abrir-se ao mundo”. Essa expressão, no contexto dos interesses econômicos, muitas vezes se restringe à busca por novos mercados globalizados, visando acúmulo de poder. Esse exclusivo compromisso com o lucro forma um tipo de cultura que acentua divisões entre nações e pessoas. Prejudica avanços indispensáveis na promoção da amizade social, sem a qual não se alcançará a paz no mundo.

Cada pessoa deve buscar superar a lógica do mercado que reduz o ser humano à condição de consumidor ou espectador. A humanidade precisa reagir a esse “globalismo” que tenta estabelecer uma cultura dominante, com a valorização da identidade dos mais fortes e a dissolução da identidade dos mais frágeis – um genocídio cultural. Lamentável é a incapacidade da política para promover essa reação, pois, cada vez mais, se submete aos poderes econômicos transnacionais. Sob o controle desses poderes, a política torna-se instrumento de interesses que propiciam a negociação de tudo, sem escrúpulos. Essa falta de escrúpulos não raramente tem sido camuflada pela defesa de alguns valores, sacrificando tantos outros que são inegociáveis – determinantes para reequilibrar a civilização contemporânea.

“Abrir-se ao mundo” na busca pela consolidação da amizade social é tarefa que exige amadurecimento nos campos antropológico-cultural e da espiritualidade. O momento atual, consideradas as escaladas de retrocessos, precisa de líderes e do envolvimento cidadão para que se torne possível encontrar novas respostas e configurar novos cenários. Nesse processo, uma situação merece urgente tratamento: os direitos humanos não são suficientemente universais, não são iguais para todos, e o respeito a esses direitos é condição básica para o progresso socioeconômico da humanidade. O Papa Francisco sublinha que o respeito à dignidade e aos direitos humanos fortalece a criatividade e a audácia, possibilitando que mais pessoas se tornem, efetivamente, protagonistas na promoção do bem comum. Assim, a cidadania está desafiada a se fortalecer construindo um mundo que seja para todos. Deve ir além de paixões, alimentadas por diferentes ideologias, para efetivar uma agenda de diálogo, reflexões e entendimentos. Ao invés de antecipar discussões partidárias ou idolatrar determinados nomes, o caminho deveria ser o investimento nas práticas culturais e sociopolíticas capazes de superar o atual “mundo fechado”, isto é, injusto e desigual.

É hora de inaugurar, indicar e trilhar percursos de esperança – a esperança que está enraizada profundamente no coração humano. Seja alimentada a sede por um tempo novo, alicerçado na grandeza imbatível da amizade social, fecundada pela vitalidade única da fé. Um caminho para deixar o coração repleto de alegria fraterna e emoldurar os sonhos da humanidade a partir do compromisso com o bem comum – cada pessoa vivendo e trabalhando não somente para si, mas para o bem de todos os irmãos e irmãs.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG), é presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Download WordPress Themes Free
Free Download WordPress Themes
Download Best WordPress Themes Free Download
Download Premium WordPress Themes Free
udemy course download free
download lenevo firmware
Premium WordPress Themes Download
udemy paid course free download

Conteúdo Relacionado