4º Domingo da Páscoa
- Quarto domingo da Páscoa
- Leituras bíblicas deste domingo
- Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus
- Morre o pastor para que vivam as ovelhas
- O bom pastor dá a vida pelas ovelhas
- A necessidade de um guia
- O pastor, os pastores e a pastoral
- Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella
Quarto domingo da Páscoa
O conhecimento como base do amor
Frei Gustavo Medella
“Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem” (Jo 10,14).
O bom pastoreio pressupõe o conhecimento mútuo. Conhecer-se é uma das formas mais consistentes de cultivo do amor. Quando o Bom Pastor declara conhecer as ovelhas, trata-se de um conhecimento profundo, dos limites e das possibilidades, dos vícios e pecados, das sombras e das luzes. É um cuidado que abraça a integralidade do outro, celebrando suas vitórias e qualidades e relevando as derrotas e dificuldades.
Exercer um pastoreio – ou uma pastoral – ao modo do Bom Pastor pressupõe esta flexibilidade paciente de quem, com maturidade, resolve abraçar suas ovelhas não como posse, mas com espírito de parceria. Na linguagem corporativa, o bom pastor pode ser denominado como um líder autêntico, que não espezinha seus liderados, mas faz de tudo para que aqueles que estão sob sua responsabilidade desenvolvam ao máximo o potencial que possuem.
O Bom Pastor domina a arte de fazer do limão uma limonada e, da pedra que à primeira vista poderia ser rejeitada, consegue, com trabalho e paciência, extrair a verdadeira pedra angular (Cf. Sl 117) que faz a diferença na construção do Reino de Deus. Na impetuosidade instável de Pedro, o Bom Pastor enxerga a coragem e a generosidade de quem apaixonadamente se entrega a um ideal. Na aparente incredulidade de Tomé, uma chance de provocá-lo a um amadurecimento no discipulado. Na sede de poder manifestada por Tiago e João, Jesus encontra uma brecha para orientá-los no desenvolvimento do poder como serviço.
Amor e conhecimento. Eis dois importantes pilares que norteiam a prática de Jesus, o Bom Pastor. Que a Igreja, como continuadora deste divino pastoreio, se deixe guiar sem medo por estas atitudes que o Mestre ensina com a própria prática.
FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.
Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos
Leituras bíblicas deste domingo
Primeira Leitura: At 4,8-12
Naqueles dias, 8Pedro, cheio do Espírito Santo, disse: “Chefes do povo e anciãos: 9hoje estamos sendo interrogados por termos feito o bem a um enfermo e pelo modo como foi curado. 10Ficai, pois, sabendo todos vós e todo o povo de Israel: é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré, — aquele que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos — que este homem está curado, diante de vós.
11Jesus é a pedra que vós, os construtores, desprezastes, e que se tornou a pedra angular. 12Em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos”.
– Palavra do Senhor.
Responsório: Sl 117
— A pedra que os pedreiros rejeitaram/ tornou-se agora a pedra angular.
— A pedra que os pedreiros rejeitaram/ tornou-se agora a pedra angular.
— Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! / “Eterna é a sua misericórdia!”/ É melhor buscar refúgio no Senhor,/ do que pôr no ser humano a esperança;/ é melhor buscar refúgio no Senhor,/ do que contar com os poderosos deste mundo!
— Dou-vos graças, ó Senhor, porque me ouvistes/ e vos tornastes para mim o salvador!/ A pedra que os pedreiros rejeitaram/ tornou-se agora a pedra angular./ Pelo Senhor é que foi feito tudo isso;/ que maravilhas ele fez a nossos olhos!
— Bendito seja, em nome do Senhor,/ aquele que em seus átrios vai entrando!/ Vós sois meu Deus, eu vos bendigo e agradeço!/ Vós sois meu Deus, eu vos exalto com louvores!/ Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!/ “Eterna é a sua misericórdia!”
Segunda Leitura: 1Jo 3,1-2
Caríssimos: 1Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai.
2Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é.
– Palavra do Senhor.
Jesus é o único caminho
Evangelho: Jo 10,11-18
11 Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12 O mercenário, que não é pastor a quem pertencem, e as ovelhas não são suas, quando vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e sai correndo. Então o lobo ataca e dispersa as ovelhas. 13 O mercenário foge porque trabalha só por dinheiro, e não se importa com as ovelhas.
14 Eu sou o bom pastor: conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15 assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a vida pelas ovelhas. 16 Tenho também outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17 O Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la de novo. 18 Ninguém tira a minha vida; eu a dou livremente. Tenho poder de dar a vida e tenho poder de retomá-la. Esse é o mandamento que recebi do meu Pai.»
* 7-21: O único meio de libertar-se de opressores ou de uma instituição opressora é comprometer-se com Jesus, pois ele é a única alternativa (a porta). Jesus é o modelo de pastor: ele não busca seus próprios interesses; ao contrário, ele dá a sua própria vida a todos aqueles que aceitam sua proposta. Jesus provoca divisão: para uns, suas palavras são loucura; para outros, sua ação é sinal de libertação.
Bíblia Sagrada – Edição Pastoral
Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus
4º Domingo da Páscoa
Oração: “Deus eterno e todo-poderoso, conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Pastor”.
- Primeira leitura: At 4,8-12
Em nenhum outro há salvação.
Domingo passado ouvimos a narrativa sobre o paralítico, curado em nome de Jesus Cristo por intermédio dos apóstolos Pedro e João. Pedro, em seu discurso, acusava o povo e as autoridades em geral, dizendo: “Vós matastes o Autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos”. Pedia, então, a conversão e anunciava o perdão dos pecados. Em consequência destes acontecimentos aumentava o número de cristãos; por isso, Pedro e João são conduzidos ao Sinédrio para serem interrogados pelos sumos sacerdotes: “Com que poder ou em nome de quem fizestes isso?” Pedro explica que foi em nome de Jesus que o paralítico foi curado e renova a acusação – “aquele que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos”. Ele o faz diante do Sinédrio, o supremo tribunal dos judeus que condenou Jesus à morte. E citando o Sl 118,22 afirma que, ao ressuscitar Jesus dentro os mortos, Deus o transformou em pedra de salvação para toda a humanidade. Não é mais a Lei, mas Jesus é que salva.
Salmo responsorial: Sl 117
A pedra que os pedreiros rejeitaram,
tornou-se agora a pedra angular.
- Segunda leitura: 1Jo 3,1-2
Veremos a Deus tal como ele é.
O autor desta Carta aprofunda o que se diz no evangelho de hoje: Ao entregar sua vida por nossa salvação, o Filho de Deus nos comunica a vida do próprio Deus. Deus não apenas nos criou à sua imagem e semelhança, mas assumindo nossa humanidade e dando sua vida por nós, nos introduz no mistério da vida divina. O autor da Carta fica maravilhado somente ao pensar no inaudito presente do amor de Deus: Não somos apenas chamados filhos de Deus, mas o somos de fato. Essa dignidade ainda não se manifestou. Mas quando Jesus se manifestar no fim dos tempos, “seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”. Seremos plenamente o que Deus planejou ao criar a humanidade à sua imagem e semelhança: seremos filhos e filhas de Deus, no seu Filho Unigênito. É como diz S. Paulo: “Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais penetrou no coração humano o que Deus preparou para os que o amam” (1Cor 2,9).
Aclamação ao Evangelho
Eu sou o bom pastor, diz o Senhor;
eu conheço minhas ovelhas e elas me conhecem a mim.
- Evangelho: Jo 10,11-18
O bom pastor dá a vida por suas ovelhas.
Cada ano do ciclo litúrgico (anos A, B, C) medita-se uma parte da alegoria do Bom Pastor de Jo 10. No ano A meditamos a primeira parte (v. 1-10), onde apareciam duas imagens: a) a porta do curral pela qual entra o verdadeiro pastor, enquanto o falso pastor pula o muro para roubar as ovelhas; b) Jesus é identificado com a porta, isto é, a única entrada que dá acesso ao Pai (salvação). A porta significa liberdade para as ovelhas, guiadas pelo seu pastor, saírem em busca de água e pastagens. Significa também segurança e vida plena quando o pastor as recolhe ao curral. O evangelho do 4º domingo da Páscoa do ano A concluía-se com a frase: “Eu vim para tenham vida e a tenham em abundância” (v. 10).
No evangelho de hoje Jesus se identifica com o bom pastor. Ao contrário do mercenário, que na hora do perigo procura salvar sua vida sem se importar com as ovelhas que não são suas, Jesus dá sua própria vida pelas suas ovelhas para que todos (v. 16) a tenham em abundância. Esta vida em abundância é o próprio Jesus. De fato, ele deu sua vida por nós na cruz. Ele não entrega apenas sua vida física; mas, ao perder a sua vida por nós, comunica-nos a vida do próprio Deus. Essa doação da vida, por nós e para nós, é fruto da livre decisão do amor de Deus: “Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho o poder de entregá-la e (…) de recebê-la novamente” (10,17).
O que Jesus diz de si mesmo, vale também para o discípulo: “Quem ama sua vida vai perdê-la; mas quem não se apega à sua vida neste mundo vai guardá-la para a vida eterna” (Jo 12,25; cf. Mc 8,35). Esse amor de Deus recebido por nós, “derramado em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5,5), é que nos introduz no mistério do amor do próprio Deus: “Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai” (Jo 10,14-15).
FREI LUDOVICO GARMUS, OFM, é professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.
Morre o pastor para que vivam as ovelhas
Frei Clarêncio Neotti
No trecho que lemos hoje, Jesus faz uma distinção entre empregado (mercenário) e dono no pastoreio das ovelhas. Não é preciso nenhuma explicação. O povo tem um provérbio que diz bem: “Olho de patrão engorda cavalo”. Jesus terá pelas criaturas humanas o cuidado de quem trata delas com muito amor e como ‘coisa sua’ (Jo 18,9).
A profissão de pastor ocorre na Bíblia desde as primeiras páginas (Abel era pastor: Gn 4,2). Todos os Patriarcas antigos (Abraão, Isaac e Jacó) eram nômades, criadores de cabras e ovelhas. Numa terra ingrata, semidesértica, não era fácil encontrar pasto e água em todas as estações do ano. Por isso os pastores saíam para longe, como lemos dos filhos de Jacó (Gn 37,12-17). À noite procuravam juntar vários rebanhos, e os pastores revezavam-se na guarda contra ladrões e lobos famintos (Lc 2,8). Era nessa guarda noturna, sobretudo, que se provava a honestidade e o bom pastoreio (1 Sm 17,34-36). O empregado, que trabalhava assalariado, muitas vezes, preferia fugir a enfrentar os ladrões ou os animais ferozes.
Jesus declara-se bom pastor; com coragem lutará por suas ovelhas, para que nenhuma seja roubada ou se perca ou morra. Pelas ovelhas de todos os tempos e de todos os lugares enfrentará a morte. Morrerá por elas, mas retomará a vida para que todas possam retornar sãs e salvas à Casa do Pai. Perder-se-ão as que forem surdas à sua voz. De novo os verbos escutar, ouvir, que em João significam vivenciar, pôr em prática.
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.
O bom pastor dá a vida pelas ovelhas
Frei Almir Guimarães
Domingo do bom pastor. Jesus ressuscitado é o pastor bom que dá a vida pelas ovelhas. Ele não era como os pastores de antigamente que, segundo Ezequiel, se aproveitavam e se serviam das ovelhas. Jesus, com sua fala, seus gestos, suas posturas anda sempre reunindo os dispersos e de todos cuidando. O importante e fundamental: gastar-se pelas ovelhas. Somos convidados a refletir sobre o tema pastor, pastoreio e pastoral.
Pastor bom
♦ O bom pastor dá a vida pelas ovelhas, o mercenário quando vê o lobo chegar foge com medo e cheio de covardia. Elas são devoradas pelos lobos. Tal pastor não ama as ovelhas.
♦ O Pastor busca as ovelhas frágeis, feridas e as mais abandonadas.
♦ Jesus conhece o Pai e o Pai o conhece e ele conhece as ovelhas e as trata com amor. Há uma sintonia amorosa, uma verdadeira cumplicidade entre o Mestre e Pastor e cada um de nós. Há empatia entre as ovelhas e o pastor que é bom.
♦ Jesus não quer atuar como chefe ou governante: quer reunir as dispersas na base de um imenso bem-querer.
♦ “No ofício de pastor, uma tarefa importantíssima é conduzir as ovelhas por caminhos seguros, protege-las de todo possível dano, liberta-las de qualquer perigo, tirá-las do atoleiro e curar as feridas que possam ter sofrido. Em Jesus encontramos tudo isso. Ele foi a misericórdia e a compaixão em pessoa; foi transparência da misericórdia divina, o rosto misericordioso do Pai. É o Bom Pastor que procura a ovelha perdida e não descansa até encontra-la. E ao encontra-la enche-se de felicidade. Nele, a ovelha ferida, cansada e oprimida pode encontrar segurança e descanso, como ele mesmo prometeu: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos e eu vos darei descanso”(Salvador Valadez Fuentes, Espiritualidade Pastoral, Paulinas, p. 86).
Pastoral e outros pastores
♦ Bispos, padres e leigos, cada um situado em seu lugar na Igreja, somos convidados a sermos pastores, cuidadores de vidas e de histórias. Por nosso testemunho e pela nossa ação desejamos alimentar vidas e orientar para o Evangelho as histórias humanas. Para tanto são necessárias algumas condições:
♦ Não se trata apenas de “azeitar” estruturas pastorais cansadas e obsoletas. “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem uma canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual do que à autopreservação. A reforma das estruturas, exigida pela conversão pastoral, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em toda as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de “saída” e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece sua amizade” (Evangelii Gaudium, 27).
♦ Importante que se renove a figura do padre, do sacerdote, do pároco e de seus vigários. O padre é homem da intimidade com Deus, frequenta os noticiários da atualidade e as páginas do Evangelho, é pessoa que toma distância de toda burocracia e carreirismo, faz constantes leituras dos sinais dos tempos. Está à serviço. Inventa o novo. Arde de desejo missionário. Não visa lucro com sua missão. É alguém que busca com toda clareza a santidade. Nem sempre terá sua segunda-feira de folga.
♦ Seguem-se atitudes pastorais: desejar o bem maior para as pessoas, interessar-se por elas, pelos de perto, pelos mais necessitados, pelos de longe, pelos certinhos e pelos erradinhos.
♦ O pastor deseja que as pessoas vivam, não quer que vegetem, mas que sejam seres que realizem aquilo de mais belo e de mais profundo que existe dentro delas. Há centelhas divinas no interior de cada pessoa.
♦ Uma das características mais importantes da pastoral e do pastoreio é a acolhida: simpáticos e antipáticos, certos e errados, jovens e velhos, os que que chegam.
♦ Pastoral não é atividade banal. Trata-se de apresentar a estes e aqueles a ventura e o esplendor do Evangelho. Não se trata apenas de fazer com que as pessoas coloquem ritos religiosos e “conservem” estruturas gastas.
♦ Há os que chegam e que precisam ser compreendidos como são. Nada de precipitar com a proposta de uma mera sacramentalização. O Senhor trabalha as pessoas por dentro. Haver-se-á de respeitar a liberdade de cada um e suas lentidões. O tempo de Deus não é nosso tempo. As pessoas que se aproximam da paróquia precisam, com liberdade, expor seus desejos, exprimir suas dúvidas e receber uma orientação séria não para serem membros de uma instituição, mas pessoas ávidas de um encontro com Cristo. Não se trata simplesmente de encaminhar as pessoas a fazerem cursos em apostilas… sem vida.
♦ Pastoral é acompanhamento. O sacerdote, cercado de leigos maduros e não festivos, cria estruturas de acompanhamento e de crescimento. A graça não costuma dar saltos. Não esquecer: é a graça de Deus que atua e o resultado não depende de expedientes pastorais coercitivos e tidos como “imbatíveis”.
♦ A pastoral reúne pessoas em torno da Palavra que precisa cair no coração de sedentos e não de ouvintes cansados que se abanam com o folheto da missa quando são feitas as leituras.
♦ Uma pastoral de verdade ensina as pessoas a darem sua vida a Deus como Cristo faz na celebração da Eucaristia. A pastoral reúne as pessoas em encontros fora da liturgia, reúne os que estão dispostos a ir, a sair, a serem uma igreja em saída, interessando-se pelos que se enchafurdam na mediocridade e são sufocados por uma vida vazia. Reúne para encontros de trocas de ideia. Reúne para que todos tomem juntos uma xícara de café com leite.
♦ Não se trata apenas de ter a preocupação de conservar, mas de descobrir e alimentar o novo que respeitando os caminhos de cada um. O Papa fala e fala: uma Igreja em saída…
Concluindo
Os homens não podem ficar buscando uma pequena felicidade. “Nós cristãos cremos que só Jesus pode ser o guia definitivo do ser humano. Só com ele podemos aprender a viver. O cristão é precisamente aquele que, a partir de Jesus, vai descobrindo dia a dia qual é a maneira mais humana de viver. Seguir a Jesus como Bom Pastor é interiorizar as atitudes fundamentais que ele viveu e esforçar-nos para vive-las hoje a partir de nossa própria originalidade, prosseguindo a tarefa de continuar a construir o Reino de Deus que ele começou. Mas enquanto a meditação for substituída pela televisão, o silêncio interior pelo ruído e o seguimento da própria consciência pela submissão cega à moda, será difícil escutarmos a voz do Bom Pastor que pode ajudar-nos a vida no meio desta sociedade de consumo que consome seus consumidores” (Pagola, João, p. 153)
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.
A necessidade de um guia
José Antonio Pagola
Para os primeiros cristãos, Jesus não é só um pastor, mas o verdadeiro e autêntico pastor. O único líder capaz de orientar e dar verdadeira vida ao ser humano. Esta fé em Jesus como verdadeiro pastor e guia adquire ma atualidade nova numa sociedade massificada como a nossa, onde as pessoas correm o risco de perder sua própria identidade e ficar aturdidas diante de tantas vozes e reclamos.
A publicidade e os meios de comunicação social impõem ao indivíduo não só a roupa que deve vestir, a bebida que deve tomar ou a música que deve ouvir. Impõem também os hábitos, os costumes, as ideias, os valores, o estilo de vida e a conduta que deve adotar.
Os resultados são palpáveis. São muitas as vítimas desta “sociedadearanha”. Pessoas que vivem “segundo a moda”. Pessoas que já não agem por própria iniciativa. Homens e mulheres que buscam sua pequena felicidade, esforçando-se para adquirir aqueles objetos, ideias e comportamentos que lhes são ditados de fora.
Expostos a tantos chamarizes e reclamos, corremos o risco de não escutar mais a voz do próprio interior. É triste ver as pessoas esforçando-se para viver um estilo de vida “imposto” de fora, que simboliza para elas o bem-estar e a verdadeira felicidade.
Nós cristãos cremos que só Jesus pode ser guia definitivo do ser humano. Só com Ele podemos aprender a viver. O cristão é precisamente aquele que, a partir de Jesus, vai descobrindo dia a dia qual é a maneira mais humana de viver.
Seguir a Jesus como Bom Pastor é interiorizar as atitudes fundamentais que Ele viveu, e esforçar-nos para vivê-las hoje a partir de nossa própria originalidade, prosseguindo a tarefa de construir o reino de Deus que Ele começou.
Mas, enquanto a meditação for substituída pela televisão, o silêncio interior pelo ruído e o seguimento da própria consciência pela submissão cega à moda, será difícil escutarmos a voz do Bom Pastor que pode ajudar-nos a viver no meio desta “sociedade do consumo” que consome seus consumidores.
JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
O pastor, os pastores e a pastoral
Pe. Johan Konings
O evangelho traz as palavras de Jesus sobre o “bom pastor” (Jo 10,11-18) e a 1ª leitura (At 4,8-12) nos mostra o primeiro pastor da jovem comunidade cristã, Pedro, defendendo o rebanho perante o supremo conselho dos judeus em Jerusalém. Dois exemplos de pastores que põem em jogo sua vida em prol de suas ovelhas. Por isso, também, este domingo é o domingo das vocações “pastorais”.
Antes, porém, de assimilar a mensagem destas leituras é preciso deslocarmo-nos para as estepes da Judéia, para imaginar o que significa a imagem do “pastor”. O povo de Judá era, tradicionalmente, um povo de pastores de ovelhas e cabras. Assim, por exemplo, o rei Davi foi chamado de detrás do rebanho para ser rei de Judá e Israel. Ora, havia pastores proprietários, para quem o rebanho era seu sustento, e assalariados, que não se importavam muito com o rebanho…. Todo judeu conhecia a história de Davi, que, para salvar o rebanho de seu pai Jessé, correu risco de vida enfrentando um leão (1 Sm 17,34-37). E conheciam-se também as advertências proféticas contra os maus pastores de Israel (os reis e chefes) que se engordavam às custas das ovelhas em vez e de conduzi-las à pastagem (Ez 34,2 etc.).
O pastor “certo” é Jesus, diz Jo 10,11. Ele conduz as ovelhas com segurança, dando a vida por elas, pois são pedaços de seu coração, à diferença dos assalariados, que fogem quando se apresenta um perigo: um leão, um lobo… Jesus é o pastor de verdade, o Messias, o novo Davi e muito mais! Ele dá a vida pelas ovelhas. O caminho pelo qual conduziu as ovelhas foi o do amor até o fim. Ele deu o exemplo. Sua vida certamente não esteve em contradição com sua “pastoral”, como acontece com outros.
O que é pastoral? Não é chefia e organização. É conduzir, no amor demonstrado por Jesus, aqueles que viram nele resplandecer a vida e a salvação. Os que escutam sua voz. Pastoral é evangelização continuada, é fidelidade à boa-nova proclamada. Assim como a “pastoral” de Jesus, talvez exija fidelidade até a morte (desde Tiago e Pedro até Dom Oscar Romero e os demais mártires de hoje). Os pastores têm de identificar-se com Jesus, que dá a vida pelos seus.
Quem são as ovelhas? São os que seguem a voz do pastor. Mas não só os que participam da Igreja de modo organizado. A organização da comunidade não é o último critério para a missão pastoral. Diante dos discípulos que eram de origem judaica, Jesus declarou: “Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste rebanho” (Jo 10,16). A pastoral tem uma dimensão missionária que ultrapassa os integrados e organizados!
E quem são os pastores? Há pastores constituídos, os que participam do sacramento da Ordem (bispos, presbíteros, diáconos). Mas, como o Espírito sopra onde quer, a vocação pastoral pode estender-se além desses limites. Cada um pode ser um pouco “pastor” de seu irmão. Até os serviços que a Igreja anima para a transformação da sociedade são chamados de pastorais (“pastoral da terra”, “da mulher marginalizada”, “dos direitos humanos” etc.). O que importa é que os agentes pastorais assumam o empenho da própria vida na linha de Jesus e de seu testemunho de amor. Que sejam “bons pastores”, amando a Cristo e a seus irmãos de modo radical, dando a vida por eles. Que não usem as ovelhas para ambições eclesiásticas ou políticas. Que não sejam traiçoeiros. Que transmitam a seus irmãos o carinho de Deus mesmo.
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.
Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella