Jornada Mundial da Juventude | Panamá 2019
- Missa abre a JMJ na Cidade do Panamá
- À espera do Papa Francisco
- Papa tem agenda cheia no Panamá
- Realidade Latino-Americana
- “Mantenham vivo este sonho que nos faz irmãos”
- Romero amou a Igreja como mãe que o gerou na fé
- Papa: o direito ao futuro também é um direito humano
- Via-Sacra de Jesus prolonga-se nos jovens absorvidos numa espiral de morte
- Papa a menores infratores: O olhar de Deus não vê rótulos, mas filhos
- Dizer «sim» ao Senhor é ter coragem de abraçar a vida como ela vem
- Papa: “Beber da fonte de água que dá a vida eterna”
- Íntegra da vigília com os jovens
- JMJ: “Jovens, vocês são o ‘agora’ de Deus!” Até Lisboa!
- Abraçar o próximo com gestos simples e diários
Missa abre a JMJ na Cidade do Panamá
Cidade do Panamá – No final da tarde desta terça-feira, 22, uma Missa presidida pelo arcebispo do Panamá, Dom José Domingo Ulloa Mendieta, abriu oficialmente a Jornada Mundial da Juventude 2019. Realizada na “Cinta Costera” da capital panamenha – espaço que acolherá a maior parte dos eventos – foi o primeiro momento de grande encontro dos tantos jovens de todas as partes do mundo presentes no Panamá.
Tendo como fundo os arranha-céus que caracterizam a capital panamenha e ao lado o Oceano Pacífico, o colorido das bandeiras no entardecer e os rostos jovens de todas as cores deram um toque especial ao evento. Grupos musicais no palco com 8 metros de altura, capaz de acolher 2.400 pessoas, animaram a espera do início da celebração. Já a Missa foi animada por um grande coral, com diversos rostos representando as diversas etnias que formam o povo panameno.
O arcebispo do Panamá começou a sua homilia com um agradecimento. “Apesar de todas as dificuldades do caminho, vocês quiseram se juntar a esta JMJ. Nossa mãe hoje nos recebe com o coração e os braços abertos e um coração. Obrigado por aceitar o convite para vir a este pequeno país onde a fé chegou pelas mãos da Virgem por meio da intercessão de Santa María La Antigua. Nós somos a primeira diocese em terra firme continente e daqui em 9 de setembro de 1513, o Evangelho foi levado ao resto do continente, graças a ela”.
“Nós deixamos de ser jovens somente quando deixamos de sonhar”, continuou o Bispo Ulloa, enfatizando que Maria é quem dá as chaves para encontrar o caminho da verdade: “Ela foi proposta pelo Papa como modelo de alegria e coragem. Ela estava disponível para cumprir o plano de Deus, daí o lema desta JMJ: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra”.
O prelado agradeceu também ao Pontífice por “nos dar a oportunidade de fazer uma JMJ para os jovens das periferias existenciais. Especialmente a juventude indígena, e aqueles que são forçados a migrar. Também os que sofrem as consequências da delinquência, a falta de recursos , a violência e tantos outros males”, disse o cardeal, enviando uma mensagem de esperança para todos: “Estamos seguros de que os verdadeiros protagonistas para as mudanças e as transformações que as humanidade e a Igreja esperam são vocês. O futuro está em suas mãos, em suas capacidades e em sua visão de um mundo melhor”.
Panamá: capital da juventude do mundo
No final da celebração eucarística, Dom Ulloa recordou aos peregrinos que no Panamá eles encontrarão “um pedacinho do mundo inteiro”. “Estamos felizes em ser um ponto de encontro e unidade na diversidade. Obrigado pela sua presença, este país é hoje a capital da juventude do mundo. Não tenham medo de compartilhar seus sonhos, porque com a força do Espírito Santo se pode fazer a revolução do amor, que não é fácil, mas é possível com a ajuda de Maria” concluiu, reiterando que depois desta JMJ, ”nenhum pobre, e nenhum pequenino deve ter medo de sonhar grandes coisas, como o pequenino país do Panamá conseguiu realizar o grande sonho desta Jornada Mundial da Juventude “.
Imagem: Site oficial da JMJ do Panamá (https://parrawyd.org)
À espera do Papa Francisco
As atenções, especialmente do mundo católico, voltam-se nestes dias para o Panamá, pequeno país que liga a América do Sul à América Central, escolhido pelo Papa em 2016 para sediar esta Jornada Mundial de Juventude. Assim, Francisco retorna ao continente americano para encontrar novamente a juventude de todo o mundo depois de 2013 no Brasil, naquela que foi sua primeira JMJ.
O pequeno país com pouco mais de quatro milhões de habitantes, 88% dos quais declaram-se católicos, preparou-se para receber o Papa Francisco e os milhares de jovens de várias partes do mundo. Há bandeiras de JMJ, do Panamá e do Vaticano espalhadas pela cidade, e ainda obras em andamento. O evento contou com total apoio do governo panamenho. O assunto domina os noticiários.
O clima que se percebe nas ruas é de alegria e expectativa, com grupos de jovens vestindo a camiseta da JMJ e bandeiras de seus respectivos países e muitos com instrumentos musicais. Muitos destes jovens vieram da Costa Rica onde participaram da Semana Missionária. A escolha do Papa Francisco permitiu que um maior número de centro-americanos e do norte da América do Sul participassem desta Jornada, o que é perceptível pela quantidade de grupos vindos de El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, Venezuela e Colômbia. Se facilitou para os americanos por janeiro ser período de férias, dificultou um pouco para os europeus que estão em pleno período de aulas. Os poloneses são o grupo mais numeroso, com 7.500 jovens, seguidos pelos italianos, com 1.500.
Na capital vivem quase 1 milhão e oitocentos mil habitantes. O trânsito está caótico, fato agravado pelos bloqueios nas áreas por onde o Papa Francisco passará e que acolherão os grandes eventos. Altos prédios com arquitetura moderna e arrojada dominam a paisagem. Mas uma das atrações é o Casco Antiguo, ou Panamá Viejo, onde está o centro histórico declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Nesta “segunda cidade do Panamá” estão igrejas e monumentos históricos que remontam à época colonial. Na segunda-feira, justamente um dos programas dos jovens foi explorar este espaço.
Mas eles também se dirigiram em grande número para outra atração e principal fonte da economia do país – ao lado das atividades internacionais bancárias: o Canal do Panamá, que liga o Oceano Atlântico ao Pacifico, sendo a rota por excelência da navegação comercial.
Para ver a importância estratégica da localização geográfica do Panamá, basta recordar que foi fundado em 1519 como base para as expedições ao Império Inca, tornando-se a rota de passagem do ouro e da prata que os espanhóis extraíam da América do Sul. No ano de 1671, a cidade foi incendiada por piratas, sendo completamente destruída e reconstruída 8 km mais longe da cidade original.
Em 1821 o Panamá ficou independente da Espanha unindo-se à República da Colômbia, da qual declarou-se independente em 13 de novembro de 1903. No mesmo ano, assinou com os Estados Unidos o tratado para a construção de um canal para a navegação transoceânica, que ficou pronto em 1914. Em 1977 foi assinado um novo tratado que previa a retirada dos estadunidenses da administração do canal até o ano 2000. Se por um lado perdeu os 300 milhões de dólares de financiamento anual, por outro com esta transferência, o Panamá pôde ficar com os recursos cobrados pelas travessias dos navios.
A Diocese de Santa Maria de Antigua foi fundada em 9 de setembro de 1513, com a Bula “Pastoralis Officii Debitum” do Papa Leão X. Foi a primeira na área do continente, tendo como primeiro bispo Dom Juan de Quevedo O.F.M. Atualmente o rebanho é de 1.727.000 católicos distribuídos em 94 paroquias. O arcebispo da Cidade do Panamá é Dom José Domingo Ulloa Mendieta.
A recordar, que São João Paulo II visitou o Panamá em março de 1983. O Papa Wojtyla que é um dos padroeiros desta JMJ, ao lado de Santa Rosa de Lima, São Oscar Romero, São João Bosco, São José Sanchez del Río, beata María Romero Meneses, São Juan Diego e São Martin de Porres.
A CAMINHO DO PANAMÁ
O Papa Francisco embarca às 9h35 (horário de Roma) com destino ao Panamá nesta quarta-feira. Ele será acolhido pelas autoridades religiosas e civis às 16h30 e se recolherará na Nunciatura Apostólica em seguida.
Trata-se da 26ª viagem apostólica de Francisco, segundo Papa a ir ao Panamá depois de São João Paulo II que visitou o país em 5 de março de 1983.
No Angelus do último domingo, o Papa Francisco recordou o seu compromisso no Panamá, “evento belo e importante no caminho da Igreja”, junto com os jovens do mundo inteiro.
Papa tem agenda cheia no Panamá
A espera terminou. O Panamá está em festa com a chegada do Papa Francisco. Momento esperado pelos panamenhos e por milhares de jovens provenientes de todas as partes do mundo, reunidos para participar da Jornada Mundial da Juventude. O sorriso é o primeiro presente do Papa Francisco ao Panamá. Depois de quase 13 horas de voo, o Papa desceu do avião acolhido pelo calor de dois mil jovens – a juventude do papa, como gostam de cantar em coro – e um vento quente que acariciou o seu rosto. O abraço do país está nas cores das bandeiras, em numa faixa que sublinha como o Panamá está pronto para receber Francisco com alegria.
O Papa Francisco chegou ao Panamá para a sua 26ª viagem internacional. O avião papal pousou no aeroporto internacional de Tocumen, onde o Pontífice foi acolhido pelo Presidente da República Juan Carlos Varela, por todos os bispos do Panamá. Duas crianças, em hábitos tradicionais, ofereceram flores a Francisco. Um momento de festa sem discursos oficiais, somente os hinos oficiais do Vaticano e do Panamá.
Deixando o aeroporto, o Papa se dirigiu para a Nunciatura Apostólica do Panamá, percorrendo cerca de 28 Km. Nestes dias de permanência em terras panamenhas o Papa será hóspede da Nunciatura. Milhares de pessoas ao longo das avenidas para saudar o Santo Padre. O primeiro compromisso de Francisco nesta quinta-feira será no palácio presidencial, por ocasião da visita de cortesia ao presidente da República, onde fará o seu primeiro discurso. Ainda o encontro com os bispos e a cerimônia oficial de abertura da Jornada Mundial da Juventude.
PROGRAMA HOJE
Quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
9:45 Cerimônia de boas-vindas no Palácio das Garças
Visita de cortesia ao Presidente da República no Palácio das Garças
10:40 Encontro com as Autoridades, com o Corpo diplomático e com os Representantes da Sociedade no Palácio Bolivar – Ministério das Relações Exteriores
11:15 Encontro com os Bispos centro-americanos na igreja de São Francisco de Assis
17:30 Cerimônia de acolhimento e abertura da JMJ no Campo Santa Maria la Antigua – Cinta Costera
Realidade Latino-Americana
Esta JMJ que se realiza logo após o Sínodo dos bispos – que teve por lema o discernimento vocacional – recorda a Virgem Maria como aquela que compreendeu o segredo da vocação: “sair de si mesmo e colocar-se a serviço dos outros”. “A nossa vida só encontra sentido no serviço a Deus e ao próximo” disse o Papa em uma mensagem aos jovens, ressaltando que o desejo que eles tem de ajudar os outros, “de fazer algo pelos que sofrem”, é sua força e esta é a “revolução do serviço”.
“Não existe vocação ao egoísmo” frisou o Papa, que quer cada vez mais despertar não somente nos jovens, mas em todo o mundo, o sentido da solidariedade. E na intenção de oração para este mês de janeiro, o pedido de rezar especialmente pelos jovens da América Latina, para que tenham “forças para sonhar e trabalhar pela paz”.
Bergoglio bem conhece a realidade da América Latina. Apesar das diferenças mesmo culturais entre os países, há problemas crônicos que são comuns a todos. E não por acaso escolheu um país da América Central para sediar a JMJ depois de Cracóvia. O Papa sabe da força da juventude, mas bem conhece seus problemas e desafios, e vem de encontro a eles.
A visita que fará à realidade dos jovens apenados, uma realidade de “periferia existencial”, é plena de significado. O Papa vai de encontro à dura realidade de quem não encontrou um caminho em um continente marcado por contradições, que se refletem também no aumento da delinquência juvenil, do narcotráfico, da violência desenfreada, da falta de esperança que leva os jovens, e não só, a buscar alternativas mais dignas em outros países. Estes temas, junto à questão dos indígenas, deverão estar presentes nos pronunciamentos do Pontífice.
O arcebispo do Panamá, Dom José Domingo Ulloa, afirmou em recente entrevista que Francisco encontrará no Panamá uma “Igreja jovem e alegre, autêntica, multiétnica e multicultural, com uma fé viva, com o compromisso de anunciar o Evangelho”. E é esta fé presente nos corações latino-americanos que Francisco quer fortalecer e apresentar como resposta capaz de vencer a cultura da indiferença. Servir também é uma vocação. Mas muitos panamenhos esperam que o Papa insista no tema da formação dos sacerdotes e na renovação da Igreja do país.
A Missa de abertura presidida ontem pelo arcebispo Domingo Ulloa foi capa dos principais jornais do país, e alguns destacam que o país tem uma estrutura obsoleta para receber um evento deste porte, o que é perceptível. Até o momento ingressaram no país cerca de 50 mil peregrinos. Mas como dizem, a simpatia dos panamenhos pode ajudar a suprir algumas destas situações. Percebe-se um descontentamento da população em relação à classe política, e muitos esperam que a presença do Pontífice inspire uma renovação moral em todos os âmbitos da sociedade.
“Do relacionamento com Deus no silêncio do coração descobrimos a nossa identidade e a vocação a que nos chama o Senhor (…). Todas elas são caminhos para seguir Jesus. O importante é descobrir aquilo que o Senhor espera de nós e ter a audácia de dizer ‘sim’”.
“Mantenham vivo este sonho que nos faz irmãos”
Cidade do Panamá – O primeiro dia do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude se concluiu com o grande encontro com os jovens, no Campo Santa Maria la Antigua, situado na Faixa Costeira da Cidade do Panamá. Francisco foi recebido calorosamente por milhares de jovens numa fetsa de cores e alegria. No seu discurso aos jovens o Papa afirmou: “A Jornada Mundial da Juventude é mais uma vez uma festa de alegria e esperança para toda a Igreja e, para o mundo, um grande testemunho de fé (…) Pedro e a Igreja caminham com vocês e quero dizer a todos que não tenham medo, que prossigam com esta energia renovadora e esta inquietação constante que nos ajuda e impele a ser mais alegres e disponíveis, mais ‘testemunhas do Evangelho’. Prossigam, não para criar uma Igreja paralela, um pouco mais “divertida” e “ousada” numa modalidade para jovens, com alguns elementos decorativos, como se isso pudesse deixar vocês contentes. Pensar assim seria não respeitar vocês e também tudo o que o Espírito, por seu intermédio, nos está dizendo. Ao contrário, queremos redescobrir e despertar, juntos, a novidade incessante e a juventude da Igreja, abrindo-nos a um novo Pentecostes”.
“Um novo Pentecostes só é possível, se, como há pouco vivemos no Sínodo, soubermos caminhar escutando-nos e escutar completando-nos uns aos outros, se soubermos testemunhar anunciando o Senhor no serviço aos nossos irmãos; naturalmente, um serviço concreto”.
Artesãos da cultura do encontro
“Vimos de culturas e povos distintos, falamos línguas diferentes, vestimos roupas diversas. Cada um dos nossos povos viveu histórias e circunstâncias distintas. Quantas coisas podem diferenciar-nos! Mas nada disso impediu que nos pudéssemos encontrar e sentir felizes por estarmos juntos. Isto é possível, porque sabemos que há algo que nos une, há Alguém que nos faz irmãos. Vocês, queridos amigos, fizeram muitos sacrifícios para poder se encontrar, tornando-se assim verdadeiros mestres e artesãos da cultura do encontro. Com seus gestos e atitudes, com as suas perspetivas, desejos e sobretudo a sua sensibilidade, vocês desmentem e recusam certos discursos que se concentram e empenham em semear divisão, em excluir e expulsar os que ‘não são como nós’. Assim é, porque vocês têm um olfato capaz de intuir que ‘o amor verdadeiro não anula as diferenças legítimas, mas harmoniza-as numa unidade superior’. Entretanto sabemos que o pai da mentira prefere o contrário: um povo dividido e litigioso, em vez de um povo que aprenda a trabalhar em conjunto”.
Sonho comum chamado Jesus
“A cultura do encontro é apelo e convite a termos a coragem de manter vivo um sonho comum. Sim, um sonho grande e capaz de envolver a todos. Um sonho chamado Jesus, que convida ao amor verdadeiro”.
Continuando o Papa cita Santo Oscar Romero: “O cristianismo não é um conjunto de verdades para se acreditar, nem de leis para se observar nem de proibições. Visto assim, seria muito repugnante. O cristianismo é uma Pessoa que me amou tanto, que reivindica e pede o meu amor. O cristianismo é Cristo”. E acrescentou o Papa: “É levar adiante o sonho pelo qual Ele deu a vida: amar com o mesmo amor com o qual nos amou”.
Amor silencioso de Jesus
O amor de Jesus, continua Francisco, “é um amor que não se impõe nem esmaga, um amor que não marginaliza nem obriga a estar calado, um amor que não humilha nem subjuga. É o amor do Senhor: amor diário, discreto e respeitador, amor feito de liberdade e para a liberdade, amor que cura e eleva. É o amor do Senhor, que entende mais de subidas que de quedas, de reconciliação que de proibições, de dar nova oportunidade que de condenar, de futuro que de passado. É o amor silencioso da mão estendida no serviço e na doação sem se vangloriar”.
O “sim” de Maria
É o amor com o qual Maria disse o seu sim: “Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra”. “Maria soube dizer ‘sim’. Soube dar vida ao sonho de Deus”.
O Papa conclui convidando os jovens a manter vivo este “sonho que nos faz irmãos e que somos convidados a não deixar congelar no coração do mundo: onde quer que nos encontremos, a fazer seja o que for, sempre poderemos olhar para o alto e dizer: “Senhor, ensina-me a amar como Vós nos amastes”.
Romero amou a Igreja como mãe que o gerou na fé
O Papa Francisco encontrou-se com os Bispos da América Central, nesta quinta-feira (24/01), na Igreja de São Francisco de Assis, em Cidade do Panamá. Em seu discurso, o Pontífice ressaltou que este encontro com os bispos oferece-lhe a oportunidade de poder abraçar e sentir-se mais próximo dos povos centro-americanos. “Obrigado por deixarem-me aproximar desta fé provada mas simples do rosto pobre de seu povo, que sabe que «Deus está presente, não dorme; está ativo, observa e ajuda», disse o Papa citando um trecho da homilia de São Óscar Romero de 16 de dezembro de 1979.
“Este encontro recorda-nos um acontecimento eclesial de grande relevância. Os pastores desta região foram os primeiros a criar na América um organismo de comunhão e participação que deu, e continua dando, frutos abundantes. Refiro-me ao Secretariado Episcopal da América Central (SEDAC): um espaço de comunhão, discernimento e empenho que nutre, revitaliza e enriquece as suas Igrejas. Pastores que souberam progredir, dando um sinal que, longe de ser um elemento apenas programático, indicou como o futuro da América Central – e de qualquer outra região no mundo – passa necessariamente pela lucidez e capacidade que se possui de ampliar a visão, unir esforços num trabalho paciente e generoso de escuta, compreensão, dedicação e empenho, e poder assim discernir os novos horizontes para onde nos está conduzindo o Espírito”.
Segundo o Papa, “nesses setenta e cinco anos passados desde a sua fundação, o SEDAC procurou partilhar as alegrias e tristezas, as lutas e esperanças dos povos da América Central, cuja história se forjou entrelaçando-se com a história do seu povo. Muitos homens e mulheres, sacerdotes, consagrados, consagradas e leigos ofereceram a vida até ao derramamento do próprio sangue, para manter viva a voz profética da Igreja contra a injustiça, o empobrecimento de tantas pessoas e o abuso do poder. Recordam-nos que «quem deseja verdadeiramente dar glória a Deus com a sua vida, quem realmente quer se santificar para que a sua existência glorifique o Santo, é chamado a obstinar-se, doar-se e cansar-se procurando viver as obras de misericórdia». E fazê-lo, não como esmola, mas como vocação.”
“Entre tais frutos proféticos da Igreja na América Central, apraz-me destacar a figura de São Óscar Romero, que tive o privilégio de canonizar recentemente no contexto do Sínodo dos Bispos sobre os jovens. A sua vida e magistério são fonte constante de inspiração para as nossas Igrejas e particularmente para nós, bispos. O lema que escolheu para o brasão episcopal, e campeia na lápide da sua sepultura, expressa claramente o seu princípio inspirador e a realidade da sua vida de pastor: «Sentir com a Igreja». Uma bússola que marcou a sua vida na fidelidade, mesmo nos momentos mais turbulentos.”
Francisco disse que São Óscar “gostava de colocar no centro do sentir com a Igreja, a percepção e a gratidão por tanto bem recebido, sem o merecer. Romero foi capaz de sintonizar e aprender a viver a Igreja, porque amava intimamente quem o gerara na fé. Romero sentiu com a Igreja, porque, antes de mais nada, amou a Igreja como mãe que o gerou na fé, considerando-se membro e parte dela”.
“Este amor, feito de adesão e gratidão, levou-o a abraçar, com paixão mas também com dedicação e estudo, toda a contribuição e renovação propostas pelo magistério do Concílio Vaticano II. Nele encontrava a mão segura para seguir Cristo. Não foi ideólogo nem ideológico; Iluminado por este horizonte eclesial, sentir com a Igreja significa para Romero contemplá-la como Povo de Deus. O pastor, para procurar e encontrar o Senhor, deve aprender e escutar as pulsações do coração do seu povo, sentir «o cheiro» dos homens e mulheres de hoje até ficar impregnado das suas alegrias e esperanças, tristezas e angústias.”
A seguir, o Papa falou sobre a kenosis de Cristo, afirmando que “esta não é apenas a glória da Igreja, mas também uma vocação, um convite a fazermos dela a nossa glória pessoal e caminho de santidade. A kenosis de Cristo não é algo do passado, mas garantia atual para sentir e descobrir a sua presença operante na história; uma presença que não podemos nem queremos silenciar, porque sabemos e experimentamos que só Ele é «Caminho, Verdade e Vida».”
Segundo o Papa, “a kenosis de Cristo nos lembra que Deus salva na história, na vida de cada ser humano, já que a mesma é também a sua história e, nela, vem ao nosso encontro. Irmãos, é importante não ter medo de nos aproximarmos e tocarmos as feridas do nosso povo, que são também as nossas feridas, e fazê-lo segundo o estilo do Senhor”.
Francisco disse ainda que “o pastor não pode estar longe do sofrimento do seu povo. Podemos dizer que o coração do pastor mede-se pela sua capacidade de deixar-se comover à vista de tantas vidas feridas e ameaçadas”.
“A kenosis de Cristo é jovem”, disse ainda o Papa. “Esta Jornada Mundial da Juventude é uma oportunidade única para sair ao encontro e aproximar-se ainda mais da realidade dos nossos jovens, cheia de esperanças e sonhos, mas também profundamente marcada por tantas feridas. Com eles, poderemos ver melhor como tornar o Evangelho mais acessível e crível no mundo em que vivemos; são uma espécie de termômetro para saber a que ponto estamos como comunidade e como sociedade.”
“Os jovens trazem dentro uma inquietude que devemos apreciar, respeitar, acompanhar e que faz muito bem a todos nós, porque nos provoca, lembrando-nos que o pastor nunca deixa de ser discípulo e está a caminho. Exorto-os a promover programas e centros educativos que saibam acompanhar, apoiar e responsabilizar os vossos jovens; «roubai-os» à rua, antes que a cultura de morte, «vendendo-lhes fumo» e soluções mágicas, se apodere e aproveite da sua imaginação. Fazei-o, não com paternalismo como quem olha de cima para baixo, pois não é isso o que o Senhor nos pede, mas como pais, como de irmão para irmão.”
A seguir, Francisco recordou que “há muitos jovens que foram seduzidos por respostas imediatas que hipotecam a vida. Diziam-nos os Padres Sinodais que aqueles, por constrição ou falta de alternativas, se encontram mergulhados em situações altamente conflituosas e sem solução à vista: violência doméstica, feminicídio – uma chaga, que aflige o nosso continente –, bandas armadas e criminosas, tráfico de droga, exploração sexual de menores e de tantos que já não o são, etc”.
“Custa constatar que, na raiz de muitas destas situações, está uma experiência de orfandade, fruto de uma cultura e uma sociedade transviada. Lares desfeitos devido tantas vezes a um sistema económico que deixou de ter como prioridade as pessoas e o bem comum, fazendo da especulação o «seu paraíso» onde continuar a «engordar» sem se importar à custa de quem. Assim, os nossos jovens sem o calor duma casa, nem família, nem comunidade, nem pertença são deixados à mercê do primeiro vigarista que lhes apareça.”
O Papa falou também sobre a questão da migração: “Na última carta pastoral, vocês afirmaram: «Ultimamente a nossa região tem sofrido o impacto da migração realizada de forma nova, por ser maciça e organizada, e que evidenciou os motivos que levam a uma migração forçada e os perigos que cria para a dignidade da pessoa humana».
Francisco recordou que “muitos dos migrantes têm rosto jovem; procuram um bem maior para a própria família, não temendo arriscar e deixar tudo para lhe oferecer o mínimo de condições que garantam um futuro melhor. Aqui não basta a denúncia, mas devemos anunciar concretamente uma «boa nova». Graças à sua universalidade, a Igreja pode oferecer uma hospitalidade fraterna e acolhedora, de modo que as comunidades de origem e destino dialoguem e contribuam para superar medos e difidências e fortalecer os laços que as migrações, no imaginário coletivo, ameaçam romper. «Acolher, proteger, promover e integrar» podem ser os quatro verbos com que a Igreja, nesta situação migratória, conjugue a sua maternidade no momento atual da história.”
A kenosis de Cristo é sacerdotal, frisou o Papa, convidando os bispos a não caírem no funcionalismo e no clericalismo “infelizmente tão difundidos. Não é questão de mudar estilos, hábitos ou linguagem. É questão sobretudo de impacto e capacidade de espaço, nos nossos programas episcopais, para receber, acompanhar e sustentar os nossos sacerdotes: um «espaço real» para nos ocuparmos deles. Isto faz de nós pais fecundos”.
Por fim, “a kenosis de Cristo é pobre”, frisou o Papa. “Sentir com a Igreja é sentir com o povo fiel, o povo de Deus que sofre e espera. Uma Igreja que não deseja que a sua força esteja – como dizia Dom Romero – no apoio dos poderosos ou da política, mas que disso se desprende com nobreza para caminhar sustentada unicamente pelos braços do Crucificado, que é a sua verdadeira força. E isto traduz-se em sinais concretos e evidentes; isto interpela-nos e impele-nos a um exame de consciência a propósito das nossas opções e prioridades no uso dos recursos, influências e posições. A pobreza é mãe e muro, porque guarda o nosso coração para que não escorregue em concessões e comprometimentos que enfraquecem a liberdade e parresia a que nos chama o Senhor.”
Papa: o direito ao futuro também é um direito humano
O Papa Francisco proferiu o primeiro discurso oficial desta quinta-feira (24/01) para cerca de 700 pessoas no Palácio Bolívar, na Cidade do Panamá, entre autoridades políticas e religiosas, representantes da sociedade civil e corpo diplomático. O encontro aconteceu no final da manhã, depois do Pontífice ter visitado o Palácio Presidencial (ou Palácio das Garças), com cerimônia de boas-vindas oferecida pelo presidente Juan Carlos Varela Rodríguez.
O Palácio Bolívar, um ex-convento de capuchinhos, tesouro arquitetônico construído em 1673 e declarado patrimônio histórico da humanidade pela Unesco, abriga o Ministério das Relações Exteriores e o Museu Bolívar. Tanto que o Papa Francisco começou o seu discurso citando o libertador Simón Bolívar, que “convocou os líderes do seu tempo a fim de forjar o sonho da unificação da Pátria Grande”.
O Papa Francisco, então, conduziu o discurso inspirado na história do líder venezuelano que lutou por vários territórios do continente americano para se tornarem independentes: “na esteira dessa inspiração, podemos contemplar o Panamá como uma terra de convocação e de sonho”, disse ele.
Terra de convocação e encontros
A Jornada Mundial da Juventude está sendo realizada num “ponto estratégico” para o mundo, “ponte entre os oceanos e terra natural de encontros”, descreveu o Papa. Junto com “a capacidade de criar vínculos e alianças”, também é necessária a participação ativa do povo com “empenho e trabalho diário”, “contra qualquer tipo de tutela que pretenda limitar a liberdade e subjugue ou transcure a dignidade dos cidadãos, especialmente dos mais pobres.”
O Papa Francisco então saudou e rendeu a sua homenagem aos povos nativos do Panamá (Bribri, Buglé, Emberá, Kuna, Nasoteribe, Ngäbe e Waunana): “Ser terra de convocação requer celebrar, reconhecer e escutar o que é específico de cada um destes povos e de todos os homens e mulheres que compõem a fisionomia panamense e saber tecer um futuro aberto à esperança, porque só se é capaz de defender o bem comum acima dos interesses de poucos ou ao serviço de poucos, quando existe a firme decisão de partilhar com justiça os próprios bens.”
O Pontífice, assim, convidou “todos aqueles que detêm um papel de liderança na vida pública” para dar o exemplo aos milhares de jovens, através da cultura de maior transparência entre os governos, setor privado e população.
“É um convite a viver com austeridade e transparência, na responsabilidade concreta pelos outros e pelo mundo; uma conduta que demonstre que o serviço público é sinônimo de honestidade e justiça contrapondo-se a qualquer forma de corrupção. ”
Panamá: a terra dos sonhos
Francisco reforçou a imagem do Panamá para o mundo nestes dias de Jornada Mundial da Juventude, como “um novo modo de construir a história”: será uma “confluência de esperança”, de milhares de jovens dos cinco continentes e cheios de sonhos que desafiam “visões míopes de curto alcance que, seduzidas pela resignação, a ganância ou prisioneiras do paradigma tecnocrático”, creem que o único caminho possível é o da competitividade, especulação e lei do mais forte.
“Sabemos que é possível outro mundo; e os jovens convidam-nos a envolver-nos na sua construção, para que os sonhos não permaneçam algo de efêmero ou etêreo, para que deem impulso a um pacto social no qual todos possam ter a oportunidade de sonhar um amanhã: o direito ao futuro também é um direito humano.”
Via-Sacra de Jesus prolonga-se nos jovens absorvidos numa espiral de morte
Cidade do Panamá – O Papa Francisco participou da Via-Sacra com os jovens, nesta sexta-feira (25/01), realizada no Campo Santa Maria la Antigua, situado na orla marítima, em Cidade do Panamá. O evento contou com a participação de 400 mil pessoas. “O caminho de Jesus para o Calvário é um caminho de sofrimento e solidão que continua em nossos dias. Ele caminha e sofre em tantos rostos que padecem a indiferença satisfeita e anestesiante da nossa sociedade que consome e se consome, que ignora e se ignora na dor de seus irmãos”, disse o Pontífice em seu discurso.
Fácil cair na cultura do bullying
Segundo o Papa, “também nós, amigos do Senhor, nos deixamos levar pela apatia e inatividade. Tantas vezes nos derrotou e paralisou o conformismo. Foi difícil reconhecer o Senhor no irmão sofredor: desviamos o olhar, para não ver; refugiamo-nos no barulho, para não ouvir; tapamos a boca, para não gritar”.
Francisco disse ainda que é mais fácil e vantajoso “ser amigo nas vitórias e na glória, no sucesso e no aplauso. É mais fácil estar próximo a quem é considerado popular e vencedor. Como é fácil cair na cultura do bullying, do assédio e da intimidação!”
A Via-Sacra de Jesus se prolonga
Para o Pontífice, a Via-Sacra de Jesus se prolonga hoje “no grito sufocado das crianças impedidas de nascer e daquelas que não têm o direito de ter uma infância, uma família, uma instrução; que não podem brincar, cantar e sonhar; nas mulheres maltratadas, exploradas e abandonadas, despojadas e ignoradas na sua dignidade; nos olhos tristes dos jovens que veem suas esperanças de futuro serem arrebatadas por falta de instrução e trabalho digno; na angústia de rostos jovens que caem nas redes de pessoas sem escrúpulos, redes de exploração, criminalidade e abuso que se alimentam de suas vidas”.
A Via-Sacra de Jesus se prolonga “em tantos jovens e famílias absorvidos numa espiral de morte por causa da droga, do álcool, da prostituição e do tráfico humano, nos jovens com rostos franzidos que perderam a capacidade de sonhar, criar e inventar o amanhã, na solidão resignada dos idosos abandonados e descartados, nos povos nativos, despojados de suas terras, raízes e culturas, silenciando e apagando toda a sabedoria que possam oferecer, no grito da mãe Terra ferida em suas entranhas pela contaminação da atmosfera, a esterilidade de seus campos, o lixo de suas águas, e se vê espezinhada pelo desprezo e o consumo enlouquecido que ignora razões. Prolonga-se numa sociedade que perdeu a capacidade de chorar e comover-se diante do sofrimento”.
Como reagimos diante de Jesus que sofre?
“Jesus continua caminhando, carregando e padecendo em todos esses rostos, enquanto o mundo, indiferente, consuma o drama da sua própria frivolidade”, destacou o Papa.
“E nós, Senhor, o que fazemos?”, perguntou Francisco. “Como reagimos diante de Jesus que sofre, caminha, emigra no rosto de tantos amigos nossos, de tantos desconhecidos que aprendemos a tornar invisíveis? Permanecemos aos pés da cruz, como Maria?”
“Queremos ser uma Igreja que apoia e acompanha, que sabe dizer: estou aqui, na vida e nas cruzes de tantos cristos que caminham ao nosso lado”, concluiu o Papa.
Papa a menores infratores: O olhar de Deus não vê rótulos, mas filhos
O Papa Francisco iniciou as atividades na manhã desta sexta-feira (25/01), terceiro dia da sua viagem ao Panamá, com uma visita ao Centro de Reabilitação de Menores “As Garças”, em Pacora, situado a cerca de 40 quilômetros da capital panamenha. A penitenciária, que acolhe 192 menores, é considerada um exemplo para o país, porque oferece aos jovens detidos um percurso de integração social integral, mediante um caminho educativo, familiar, sanitário e de formação profissional e humana.
O Papa presidiu uma liturgia penitencial no local, com os menores e jovens, privados de liberdade, partindo da citação evangélica: “Haverá alegria no céu por um só pecador que se converte”. Jesus acolhe os pecadores e come com eles! Esse gesto, disse o Papa, causou murmuração entre alguns fariseus e escribas, escandalizados e incomodados com a atitude de Jesus. Eles queriam desqualificá-Lo e desacreditá-Lo diante do povo.
Jesus não tem medo de Se aproximar daqueles que, por inúmeras razões, carregavam o peso do ódio social, como no caso dos publicanos – lembremo-nos que os publicanos se enriqueciam roubando o seu próprio povo, provocando muita, mas muita indignação – ou o peso das suas culpas, erros e enganos, como no caso daqueles que eram conhecidos por pecadores. Fá-lo porque sabe que, no Céu, há mais alegria por um só pecador convertido do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão (cf. Lc 15, 7).
O olhar da murmuração e mexericos
Enquanto eles se limitavam a murmurar ou a ficar indignados, sem a possibilidade de qualquer mudança, conversão e inclusão, explicou o Papa, Jesus se aproxima, se compromete, colocando em risco a sua reputação, e convida sempre a uma maior renovação da vida e da história. Dois modos de se comportar, bem diferentes, que se contrapõem: um olhar estéril e infecundo – murmuração e mexericos – e o outro que convida à transformação e à conversão, proposta pelo Senhor. Explicando o primeiro modo de se comportar, Francisco disse parece ser mais fácil colocar etiquetas e rótulos que produzem divisão: aqui os bons, ali os maus; aqui os justos, ali os pecadores.
Esse modo de agir dos fariseus e escribas, disse o Papa, contamina tudo, levanta um muro invisível, marginaliza, separa e isola num círculo vicioso. “Que pena faz ver uma sociedade que concentra as suas energias mais em murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por criar oportunidades e transformação! ”
O olhar da conversão
Aqui, Francisco esclareceu a atitude de Jesus que visa a conversão e a transformação, mediante o amor misericordioso do Pai: Um amor que não tem tempo para murmurar, mas procura romper o círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e imparcial e assume a complexidade da vida e de cada situação; um amor que inaugura uma dinâmica capaz de proporcionar caminhos e oportunidades de integração e transformação, cura e perdão, caminhos de salvação.
Ao comer com os publicanos e pecadores, Jesus rompe a lógica de separação, exclusão, isolamento e divisão entre bons e maus. Assim, rompe também com outro tipo de murmuração, a interior, incapaz de transformação.
Por isso, o Santo Padre exortou os presentes a percorrer esse caminho de superação, proposto por Jesus, sem desanimar. A alegria e a esperança do cristão nasce da experiência do olhar de Deus, que caminha conosco e nos ajudar a alcançar nossas metas. “Amigos, cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão”, disse o Papa.
Uma sociedade adoece quando não é capaz de fazer festa pela transformação dos seus filhos, uma comunidade adoece quando vive a murmuração que esmaga e condena, sem sensibilidade. Uma sociedade é fecunda quando consegue gerar dinâmicas capazes de incluir e integrar, assumir e lutar para criar oportunidades e alternativas que deem novas possibilidades aos seus filhos, quando se preocupa por criar futuro com comunidade, instrução e trabalho. E embora possa experimentar a impotência de não saber como, nem por isso se arrende, mas tenta de novo. Todos nos devemos ajudar para aprender, em comunidade, a encontrar estes caminhos.
O Papa finalizou convidando todos “a lutar sem cessar para encontrar caminhos de inserção e transformação”, e a “experimentar o olhar do Senhor que vê, não um rótulo ou uma condenação, mas filhos”.
Após o rito penitencial, o Papa Francisco deu de presente aos jovens detidos uma escultura de ferro de Cristo na Cruz contornado por ramos de oliveira, de um artesão italiano, Pietro Lettieri.
Ao término da celebração, Francisco retornará à Nunciatura Apostólica da capital panamenha, para o almoço e um breve momento de descanso. Na parte da tarde, o Santo Padre se transferirá ao Campo de Santa Maria La Antigua, às margens do Oceano Pacífico, onde presidirá à Via Sacra com os milhares de jovens desta 34ª JMJ. Com este encontro, o Papa encerra seu terceiro dia de atividades em terras panamenhas.
Dizer «sim» ao Senhor é ter coragem de abraçar a vida como ela vem
Cidade do Panamá – Um verdadeira festa feita de oração, cantos, danças, testemunhos e reflexão: assim foi a vigília que se realizou no Campo São João Paulo II com os jovens participantes da Jornada Mundial da Juventude do Panamá. A festa foi coroada com o discurso do Papa Francisco, que – como sempre – usou a linguagem dos seus interlocutores. O Pontífice se inspirou no testemunho dado momentos antes por alguns jovens para transmitir a sua mensagem, desta vez mariana.
“A salvação que o Senhor nos dá é um convite para participar em uma história de amor”, disse o Papa e foi assim que Ele surpreendeu Maria. “A jovem de Nazaré não aparecia nas «redes sociais» de então, não era uma influencer – uma influenciadora digital – mas, sem querer nem procurá-lo, tornou-Se a mulher que maior influência teve na história”.
Influencer de Deus
Francisco definiu Maria como a “influencer de Deus”, que com palavras soube dizer «sim», “confiando no amor e nas promessas de Deus, única força capaz de fazer novas todas as coisas”. A força desse “sim” impressiona, prosseguiu Francisco. Foi o «sim» de quem quer comprometer-se e arriscar. Nesta estrada, o primeiro passo é não ter medo de receber a vida como ela vem, com suas imperfeições e dificuldades.
“O amor do Senhor é maior que todas as nossas contradições, fragilidades e mesquinhices, mas é precisamente através das nossas contradições, fragilidades e mesquinhices que Ele quer escrever esta história de amor.”
Retomando a linguagem juvenil, o Papa recordou que não basta estar conectado o dia inteiro para se sentir reconhecido e amado. Mas é preciso encontrar espaços onde os jovens possam sentir-se parte de uma comunidade. Portanto, o segundo passo é criar elos, laços, família: uma comunidade onde possam se sentir amados. Espaços onde receber raízes e leva-las adiante.
“Ser um influencer no século XXI significa ser guardião das raízes, guardião de tudo aquilo que impede a nossa vida de tornar-se «gasosa», evaporando-se no nada. Sejam guardiões de tudo o que permite sentir-nos parte uns dos outros, pertencer-nos mutuamente”.
Faça-se em Mim
Interagindo com a multidão, Francisco perguntou se os jovens estão dispostos a responder o “sim” Maria, “Faça-se em Mim”: “O Evangelho ensina-nos que o mundo não será melhor por haver menos pessoas doentes, debilitadas, frágeis ou idosas de que ocupar-se, nem por haver menos pecadores, mas será melhor quando forem mais as pessoas que, como estes amigos, estiverem dispostas e tiverem a coragem de dar à luz o amanhã e acreditar na força transformadora do amor de Deus.”
Coragem foi a palavra final do Papa: “Não tenham medo de dizer ao Senhor que vocês também querem fazer parte da sua história de amor no mundo.”
Papa: “Beber da fonte de água que dá a vida eterna”
No terceiro dia da Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco celebrou a Santa Missa com a dedicação do altar da Catedral Basílica Santa Maria La Antigua, com a presença de numerosos Sacerdotes, Consagrados e Movimentos Leigos. O Papa iniciou sua homilia comentando um trecho do Evangelho de João no qual diz que Jesus, “cansado da caminhada, sentou-Se, sem mais, na borda do poço. Era por volta do meio-dia”. Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água. Disse-lhe Jesus: “Dá-Me de beber”.
Francisco parte deste fato: Jesus cansado de caminhar, precisava aplacar e saciar a sede e recuperar as forças, para continuar a sua missão: “levar a Boa-Nova aos pobres, curar os corações feridos, proclamar a libertação aos cativos e consolar os que sofriam (…) Todas são situações que nos tolhem a vida e a energia”.
“Mas o Senhor cansou-Se e, nesta fadiga, encontra lugar tanto cansaço dos nossos povos e da nossa gente, das nossas comunidades e de todos aqueles que estão cansados e oprimidos”.
O cansaço da esperança
São múltiplas as causas e os motivos que “quebratam a vida dos consagrados”. O Papa fala de uma situação que “parece ter-se instalado nas nossas comunidades”. É uma “espécie sutil de cansaço, que nada tem a ver com o cansaço do Senhor”: “Trata-se do cansaço da esperança” que não deixa avançar e nem olhar para diante. Como se tudo ficasse confuso” e “pondo em questão as forças, os recursos e a viabilidade da missão neste mundo que não cessa de mudar e interpelar”.
“É um cansaço paralisador” disse o Papa, que coloca também “em dúvida, a própria viabilidade da vida religiosa no mundo de hoje”. O cansaço da esperança, segundo o Papa, nasce da constatação de uma Igreja ferida pelo seu pecado e que, muitas vezes, não soube escutar tantos gritos nos quais se escondia o grito do Mestre: ‘Meu Deus, porque me abandonaste?’(…) e isso faz com que se instale um pragmatismo cinzento no coração das nossas comunidades” dando espaço a “uma das piores heresias do nosso tempo: pensar que o Senhor e as nossas comunidades não têm nada para dizer nem dar a este mundo novo em gestação. Então, aquilo que um dia nasceu para ser sal e luz do mundo, acaba por oferecer a sua versão pior”.
Devemos reagir
Como o Senhor, devemos pedir: “Dá-me de beber” para receber daquela “fonte de água que dá a vida eterna” para voltar, sem medo, ao poço originário do primeiro amor, quando Jesus passou pelo nosso caminho, olhou-nos com misericórdia e pediu que O seguíssemos” e “nos fez sentir que nos amava, e não só pessoalmente mas também como comunidade”.
“Dá-Me de beber» significa “recuperar a parte mais autêntica dos nossos carismas fundacionais – que não se limitam apenas à vida religiosa, mas a toda a Igreja – e ver as modalidades em que se podem expressar hoje (…) significa reconhecer-se necessitado de que o Espírito nos transforme em homens e mulheres memoriosos de uma passagem, a passagem salvífica de Deus”. Só assim “a esperança cansada será curada”, pronta para retomar a missão com a força de Jesus.
Por fim, o Papa falou da reabertura da Catedral depois de um longo tempo de restauração: “Uma Catedral espanhola, índia e afro-americana torna-se, assim, Catedral panamenha, dos panamenhos de ontem, mas também dos de hoje que a tornaram possível. Já não pertence só ao passado, mas é beleza do presente (…) não deixemos que nos roubem a beleza herdada dos nossos pais! Seja ela a raiz viva e fecunda que nos ajuda a continuar fazendo bela e profética a história da salvação nestas terras”.
Íntegra da vigília com os jovens
Queridos jovens, boa noite!
Acabamos de ver este belo espetáculo sobre a Árvore da Vida, que mostra como a vida que Jesus nos dá é uma história de amor, uma história de vida que quer misturar-se com a nossa e criar raízes na terra de cada um. Essa vida não é uma salvação suspensa «na nuvem» – no disco virtual – à espera de ser descarregada, nem uma nova «aplicação» para descobrir ou um exercício mental fruto de técnicas de crescimento pessoal. Nem sequer um «tutorial» com o qual apreender as últimas novidades. A salvação, que o Senhor nos dá, é um convite para participar numa história de amor, que está entrelaçada com as nossas histórias; que vive e quer nascer entre nós, para podermos dar fruto onde, como e com quem estivermos. Precisamente aí vem o Senhor plantar e plantar-Se a Si mesmo; Ele é o primeiro a dizer «sim» à nossa vida, à nossa história e quer que também nós digamos «sim» juntamente com Ele, convidando-A para fazer parte desta história de amor. Sem dúvida, a jovem de Nazaré não aparecia nas «redes sociais» de então, não era uma influencer – uma influenciadora digital – mas, sem querer nem procurá-lo, tornou-Se a mulher que maior influência teve na história.
Maria, a influencer de Deus. Com poucas palavras, soube dizer «sim», confiando no amor e nas promessas de Deus, única força capaz de fazer novas todas as coisas.
Sempre impressiona a força do «sim» desta jovem, daquele «faça-se em Mim» que disse ao anjo. Foi uma coisa diferente duma aceitação passiva ou resignada, ou dum «sim» como quando se diz: «Bem; provemos a ver que sucede». Foi algo mais, qualquer coisa de diferente. Foi o «sim» de quem quer comprometer-se e arriscar, de quem quer apostar tudo, sem ter outra garantia para além da certeza de saber que é portadora duma promessa. Teria, sem dúvida, uma missão difícil, mas as dificuldades não eram motivo para dizer «não». Com certeza teria complicações, mas não haveriam de ser idênticas às que se verificam quando a cobardia nos paralisa por não vermos, antecipadamente, tudo claro ou garantido. O «sim» e o desejo de servir foram mais fortes do que as dúvidas e dificuldades.
Esta noite ouvimos também como o «sim» de Maria ecoa e se multiplica de geração para geração. Seguindo o exemplo de Maria, muitos jovens arriscam e apostam, guiados por uma promessa. Obrigado, Erika e Rogelio, pelo testemunho que nos destes. Compartilhastes os vossos medos, dificuldades e todo o risco que vivestes à espera da vossa filha Inês. A dada altura dissestes: «A nós, pais, por várias razões, custa muito aceitar a chegada dum bebé portador de doença ou deficiência». Isso é verdade e compreensível! O facto surpreendente, porém, encerra-se naquilo que acrescentastes: «Quando nasceu a nossa filha, decidimos amá-la com todo o nosso coração». Antes da sua chegada, perante todas as notícias e dificuldades que surgiram, tomastes uma decisão e dissestes como Maria «faça-se em nós», decidistes amá-la. Face à vida de vossa filha frágil, inerme e necessitada, a resposta foi um «sim» e, deste modo, temos Inês. Acreditastes que o mundo não é só para os fortes!
Dizer «sim» ao Senhor é ter a coragem de abraçar a vida como vem, com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas contradições e insignificâncias, abraçá-la com o mesmo amor que Erika e Rogelio nos contaram. É abraçar a nossa pátria, as nossas famílias, os nossos amigos como são, mesmo com as suas fragilidades e mesquinhices. Damos também provas de que se abraça a vida, quando acolhemos tudo o que não é perfeito, puro ou destilado, mas lá por isso não menos digno de amor. Porventura alguém, pelo facto de ser portador de deficiência ou frágil, não é digno de amor? Porventura alguém, pelo facto de ser estrangeiro, ter errado, encontrar-se doente ou numa prisão, não é digno de amor? Assim fez Jesus: abraçou o leproso, o cego e o paralítico, abraçou o fariseu e o pecador. Abraçou o ladrão na cruz, abraçou e perdoou até àqueles que O estavam a crucificar.
Porquê? Porque, só o que se ama, pode ser salvo. Só o que se abraça, pode ser transformado. O amor do Senhor é maior que todas as nossas contradições, fragilidades e mesquinhices, mas é precisamente através das nossas contradições, fragilidades e mesquinhices que Ele quer escrever esta história de amor. Abraçou o filho pródigo, abraçou Pedro depois de O ter negado e abraça-nos sempre, sempre, depois das nossas quedas, ajudando-nos a levantar e ficar de pé. Porque a verdadeira queda, aquela que nos pode arruinar a vida, é ficar por terra e não se deixar ajudar.
Como se torna difícil, às vezes, compreender o amor de Deus! Mas que grande dádiva é saber que temos um Pai que nos abraça independentemente de todas as nossas imperfeições!
O primeiro passo é não ter medo de receber a vida como ela vem, de abraçar a vida!
Obrigado, Alfredo, pelo teu testemunho e a coragem de o partilhar com todos nós. Fiquei muito impressionado quando disseste: «Comecei a trabalhar na construção até quando terminou aquele projeto. Sem emprego, as coisas complicaram-se: sem escola, sem ocupação e sem trabalho». Resumo-o nos quatro «sem» que deixam a nossa vida sem raízes e ela seca: sem trabalho, sem instrução, sem comunidade, sem família.
É impossível uma pessoa crescer, se não possui raízes fortes que a ajudem a estar firme de pé e agarrada à terra. É fácil extraviar-se, quando não temos onde firmar-nos. Esta é uma questão que nós, mais velhos, vos devemos colocar; mais, é uma questão que vós devereis colocar-nos e nós temos o dever de vos responder: Que raízes estamos a dar-vos? Quais são as bases que estamos a oferecer-vos para vos construirdes como pessoas? Como é fácil criticar os jovens e passar o tempo murmurando, se os deixamos sem oportunidades laborais, educativas e comunitárias a que agarrar-se para sonhar o futuro! Sem instrução, é difícil sonhar o futuro; sem trabalho, é muito difícil sonhar o futuro; sem família nem comunidade, é quase impossível sonhar o futuro. Porque sonhar o futuro é aprender a responder não só porque vivo, mas também para quem vivo, por quem vale a pena gastar a vida.
Como nos dizia Alfredo, quando alguém se vê despedido e fica sem trabalho, sem instrução, sem comunidade e sem família, no fim do dia sente-se vazio e acaba por preencher aquele vazio com uma coisa qualquer. Porque já não sabemos para quem viver, lutar e amar.
Lembro-me que uma vez, conversando com alguns jovens, me perguntaram: «Padre, porque é que hoje muitos jovens não se interrogam se Deus existe, ou sentem dificuldade em crer n’Ele e evitam comprometer-se na vida?» Respondi: «E vós, que achais?» Dentre as respostas que surgiram na conversa, recordo uma que me tocou o coração e está relacionada com a experiência que Alfredo partilhou: «Porque muitos deles sentem que, para os outros, pouco a pouco deixaram de existir, frequentemente sentem-se invisíveis». É a cultura do abandono e da falta de consideração. Não digo todos, mas muitos sentem que não têm nem muito nem pouco para dar, por falta de espaços reais que a isso os convoquem. Como hão de pensar que Deus existe se, para seus irmãos, há muito que deixaram de existir?
Bem sabemos que não basta estar conectado o dia inteiro para se sentir reconhecido e amado. Sentir-se considerado e convidado para algo é mais do que permanecer «em rede». Significa encontrar espaços onde possais, com as vossas mãos, com o vosso coração e com a vossa cabeça, sentir-vos parte duma comunidade maior que precisa de vós e, vice-versa, vós precisais dela também.
Isto, compreenderam-no muito bem os santos. Penso, por exemplo, em São João Bosco, que não foi procurar os jovens em qualquer lugar distante ou especial, mas aprendeu a ver tudo o que acontecia na cidade com os olhos de Deus, ficando impressionado com as centenas de crianças e jovens abandonados, sem escola, sem trabalho e sem a mão amiga duma comunidade. Havia muita gente que vivia naquela mesma cidade, e muitos criticavam aqueles jovens, mas não sabiam vê-los com os olhos de Deus. João Bosco fê-lo e animou-se a dar o primeiro passo: abraçar a vida como ela se apresenta; e, a partir disto, não teve medo de dar o segundo: criar com eles uma comunidade, uma família onde se sentissem amados com trabalho e estudo, ou seja, dar-lhes raízes a que agarrar-se para poderem chegar ao céu.
Penso em muitos lugares da nossa América Latina onde se promove a chamada família grande lar de Cristo, com o mesmo espírito da Fundação João Paulo II de que nos falava Alfredo, e muitos outros centros, que procuram receber a vida como ela vem na sua totalidade e complexidade, porque sabem que «para a árvore há uma esperança: cortada, pode ainda reverdecer e deitar novos rebentos» (Job 14, 7).
E sempre é possível «reverdecer e deitar novos rebentos», quando há uma comunidade, o calor duma casa onde criar raízes, que oferece a confiança necessária e prepara o coração para descobrir um novo horizonte: horizonte de filho amado, procurado, encontrado e dedicado a uma missão. O Senhor torna-Se presente por meio de rostos concretos. Dizer «sim» a esta história de amor é dizer «sim» como instrumentos para construir, nos nossos bairros, comunidades eclesiais capazes de percorrer as estradas da cidade, abraçando e tecendo novas relações. Ser um influencer no século XXI significa ser guardião das raízes, guardião de tudo aquilo que impede a nossa vida de tornar-se «gasosa», evaporando-se no nada. Sede guardiões de tudo o que permite sentir-nos parte uns dos outros, pertencer-nos mutuamente.
Isto mesmo viveu Nirmeen na JMJ de Cracóvia. Encontrou uma comunidade viva, alegre, que veio ao encontro dela, fê-la sentir-se parte dela e permitiu-lhe viver a alegria que comunica a maravilha de ser encontrada por Jesus.
Uma vez, um santo interrogou-se: «O progresso da sociedade servirá apenas para chegar a possuir o último modelo de carro ou adquirir a última tecnologia do mercado? Nisto se resume toda a grandeza do homem? Não há mais nada que isto para viver?» (SANTO ALBERTO FURTADO, Meditación de Semana Santa para jovens, 1946). E eu pergunto-vos: É esta a vossa grandeza? Não teríeis sido criados para algo maior? Maria compreendeu-o e disse: «Faça-se em Mim». Erika e Rogelio compreenderam-no e disseram: «Faça-se em nós». Alfredo compreendeu-o e disse: «Faça-se em mim». Nirmeen compreendeu-o e disse: «Faça-se em mim». Amigos, pergunto-vos: Estais dispostos a dizer «sim»? O Evangelho ensina-nos que o mundo não será melhor por haver menos pessoas doentes, debilitadas, frágeis ou idosas de que ocupar-se, nem por haver menos pecadores, mas será melhor quando forem mais as pessoas que, como estes amigos, estiverem dispostas e tiverem a coragem de dar à luz o amanhã e acreditar na força transformadora do amor de Deus. Quereis ser influencer no estilo de Maria, que teve a coragem de dizer «faça-se em Mim»? Só o amor nos torna mais humanos, mais plenificados, o resto não passa de remedeio bom, mas vazio.
Dentro de momentos, na Adoração Eucarística, encontrar-nos-emos com Jesus vivo. Certamente tereis muitas coisas para Lhe dizer, para Lhe contar sobre várias situações da vossa vida, das vossas famílias e dos vossos países.
Encontrando-vos na sua presença, face a face, não tenhais medo de Lhe abrir o coração pedindo que renove o fogo do amor d’Ele, vos induza a abraçar a vida com toda a sua fragilidade e pequenez, mas também com toda a sua grandeza e beleza. Que vos ajude a descobrir a beleza de estar vivo.
Não tenhais medo de Lhe dizer que vós também quereis fazer parte da sua história de amor no mundo, que sois para um «mais»!
Amigos, peço-vos também que, neste face a face com Jesus, rezeis por mim para que também eu não tenha medo de abraçar a vida, guarde as raízes e diga com Maria: «Faça-se em mim segundo a tua palavra».
Papa Francisco
(Metro Park, 26 de janeiro de 2019)
JMJ: “Jovens, vocês são o ‘agora’ de Deus!” Até Lisboa!
Cidade do Panamá – Na mesma esplanada que acolheu 600 mil jovens para a festa da Vigília na noite anterior, o Papa celebrou na manhã deste domingo (27/01) a missa campal de envio da edição panamenha da Jornada Mundial da Juventude. Chegando em papamóvel ao Metro Park, Francisco foi recebido pelo Arcebispo de Panamá, Dom José Domingo Ulloa Mendieta, e com ele a bordo, prosseguiu entre os fiéis até a Sacristia do Campo São João Paulo II. Telões foram instalados em pontos estratégicos do campo para uma melhor visibilidade das 600 mil pessoas presentes. Na área destinada às autoridades, estavam os presidentes de 5 países latino-americanos: Costa Rica, Colômbia, Guatemala, El Salvador e Honduras, além do português Marcelo Rebelo de Souza.
Jesus e o ceticismo da comunidade
Em sua homilia, o Papa refletiu sobre ‘o agora de Deus’, tema apresentado no Evangelho de Lucas: Era o início da missão pública de Jesus e na sinagoga, circundado por conhecidos e vizinhos, Ele pronuncia publicamente as palavras “Cumpriu-se hoje”, que significavam a presença de Deus, o tempo de Deus que torna justos e oportunos todos os espaços e situações. Em Jesus, começa e faz-se vida o futuro prometido.
Mas nem todos aqueles que lá O ouviram, se sentiam convidados ou convocados; não estavam prontos para acreditar em alguém que conheciam e tinham visto crescer e que os convidava a realizar um sonho há muito aguardado. E o mesmo acontece às vezes também conosco, explicou o Papa: “Nem sempre acreditamos que Deus possa ser tão concreto no dia-a-dia, tão próximo e real, e menos ainda que Se faça assim presente agindo através de alguém conhecido, como um vizinho, um amigo, um parente”.
Não subestimar, mas assumir
De fato, prosseguiu Francisco, é comum comportarmo-nos como os vizinhos de Nazaré, preferindo um Deus à distância: magnífico, bom, generoso mas distante e que não incomode, porque um Deus próximo no dia-a-dia, amigo e irmão, nos pede para aprendermos proximidade, presença diária e, sobretudo, fraternidade.
Francisco alertou os jovens para o risco de pensar que a vida seja uma promessa que vale só para o futuro, que nada tem a ver com o presente. Como se ser jovem fosse sinônimo de uma ‘sala de espera’ para o futuro, considerando que o seu ‘agora’ ainda não chegou; que são jovens demais para se envolverem no sonho e na construção do amanhã.
Criar um espaço comum e lutar por ele
A este ponto, o Papa recordou o recente Sínodo dos Jovens, celebrado em outubro passado, no Vaticano, destacando como um de seus frutos “a riqueza da escuta entre gerações, do intercâmbio e do valor de reconhecer que precisamos uns dos outros; “que devemos esforçar-nos por promover canais e espaços onde nos comprometamos a sonhar e construir o amanhã, já hoje, unidos, criando um espaço em comum: um espaço que não nos é oferecido como um presente, nem o ganhamos na loteria, mas um espaço pelo qual vocês também devem lutar”.
“ Porque vocês, queridos jovens, não são o futuro, mas o agora de Deus”, disse, prosseguindo: “Ele os convoca e os chama, em suas comunidades e cidades, para irem à procura dos avós, dos mais velhos; para se erguerem de pé e, juntamente com eles, tomar a palavra e realizar o sonho com que o Senhor os sonhou. Não amanhã; mas agora!”.
A missão com Deus é a nossa vida
Incitando os jovens a deixar-se apaixonar por Deus, sentindo que possuem uma missão, Francisco concluiu sua homilia lembrando que o Senhor e sua missão não são um ‘entretanto’, uma coisa passageira, mas são ‘as nossas vidas’, e que o amor de Deus é concreto, próximo e real: “É alegria festiva que nasce da opção de participar na pesca miraculosa da esperança e da caridade, da solidariedade e da fraternidade frente a tantos olhares paralisados e paralisadores por causa dos medos e da exclusão, da especulação e da manipulação”.
Viver o amor concretamente
Assim como Maria, que não Se limitou a acreditar em Deus e nas suas promessas como algo possível, mas acreditou em Deus e teve a coragem de dizer ‘sim’ para participar neste agora do Senhor, devemos viver em concreto o nosso amor: “Que o seu ‘sim’ continue a ser a porta de entrada para que o Espírito Santo conceda um novo Pentecostes ao mundo e à Igreja” – foram as palavras conclusivas do Papa.
O ‘obrigado’ do Papa
No final desta celebração, Francisco agradeceu todas as autoridades civis, o arcebispo de Panamá e os bispos do país e das nações vizinhas, por tudo o que fizeram em suas comunidades para dar abrigo e ajuda a tantos jovens. O ‘obrigado’ do Papa se dirigiu também a todas as pessoas que a apoiaram com a a oração e colaboraram com dedicação e trabalho na realização da JMJ e principalmente, a todos os jovens: “ Sua fé e alegria fizeram vibrar o Panamá, a América e o mundo inteiro ”
O último pedido a todos foi para que regressem às suas paróquias e comunidades, famílias e amigos e transmitam esta experiência, para que outros possam vibrar “com a sua força e o seu sonho”.
ATÉ LISBOA
O Presidente do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Cardeal Kevin Farrell, anunciou a próxima cidade que irá receber a Jornada Mundial da Juventude ao final da missa conclusiva do evento do Panamá neste domingo (27/01), no Campo São João Paulo II. A cidade de Lisboa, em Portugal, vai sediar a JMJ de 2022.
A preparação para a próxima festa mundial dos jovens começa já nesta semana, segundo afirma o Pe. José Manuel Pereira de Almeida, teólogo e vice-reitor da Universidade Católica de Portugal: “Será uma ocasião extraordinária ter os jovens do mundo inteiro e o Papa aqui. Começamos a trabalhar já nesta semana!”.
Abraçar o próximo com gestos simples e diários
O Papa Francisco visitou o Lar do Bom Samaritano neste domingo (27/01), por ocasião da sua participação na Jornada Mundial da Juventude, no Panamá. Ao encontrar os doentes do local e de outros centros de assistência, mas também diretores, colaboradores e agentes pastorais, o Pontífice confessou “o desejo ardente” do encontro na casa-família para se renovar a esperança.
Lembrando um dos testemunhos lidos pelo Pontífice antes da visita que dizia “aqui nasci de novo”, o Papa afirmou que esse tipo de espaço é “sinal da vida nova que o Senhor nos quer dar” e são neles que “a Igreja e a fé nascem e se renovam continuamente por meio da caridade”.
“ Começamos a nascer de novo, quando o Espírito Santo nos dá olhos para ver os outros – como nos dizia o Padre Domingo – não apenas como nossos vizinhos (o que é já tanto), mas como nosso próximo. ”
O rosto do próximo
O Papa Francisco, então, fez referência à parábola do Bom Samaritano para dar o exemplo do “nosso próximo”, um “rosto que incomoda maravilhosamente a vida”:
“O próximo é sobretudo um rosto que encontramos ao longo do caminho e pelo qual nos deixamos mover e comover: mover dos nossos planos e prioridades e comover intimamente por aquilo que vive aquela pessoa, para lhe dar lugar e espaço na nossa caminhada. […] O bom Samaritano, como todas as vossas casas, mostram-nos que o próximo é, antes de tudo, uma pessoa, alguém com um rosto concreto e real, e não qualquer coisa a deixar para trás ou ignorar, seja qual for a sua situação. É um rosto que revela a nossa humanidade tantas vezes atribulada e ignorada.”
Criando comunidades
O Papa Francisco disse que visitar o Lar é “tocar o rosto silencioso e materno da Igreja, que é capaz de profetizar e criar casa, criar comunidade”. E, assim, explicou: “ Criar «casa» é criar família; é aprender a se sentir unido aos outros, sem olhar a vínculos utilitaristas ou funcionais, de modo que nos faz sentir a vida um pouco mais humana. Criar casa é permitir que a profecia encarne e torne as nossas horas e dias menos rudes, indiferentes e anônimos. É criar laços que se constroem com gestos simples, diários e que todos podemos realizar. ”
E as casas, lembrou o Pontífice, precisam sempre da colaboração de todos, o que implica também “ter paciência, aprender a nos perdoar; aprender cada dia a recomeçar”. Então o Papa questionou e respondeu em seguida: “quantas vezes temos de perdoar e recomeçar? Setenta vezes sete, todas as vezes que for necessário. Criar relações fortes requer a confiança, que se alimenta diariamente de paciência e perdão”.
Angelus: coragem para se doar
O Papa Francisco, depois de agradecer o trabalho de todos para manter viva e concretizar “o milagre de experimentar que, aqui, se nasce de novo”, rezou a oração mariana do Angelus. À Virgem Maria, como “Boa Samaritana”, o Pontífice pediu “que nos ensine a estar atentos para descobrir cada dia quem é o nosso próximo e nos encoraje a ir prontamente ao seu encontro e dar-lhe uma casa, um abraço onde possa encontrar proteção e amor de irmãos”.
Brumadinho: a solidariedade do Papa Francisco
Após rezar o Angelus no Lar do Samaritano, em Cidade do Panamá, o Papa Francisco expressou sua solidariedade às vítimas de Brumadinho (MG). O Pontífice manifestou seu pesar também pela tragédia no Estado mexicano de Hidalgo, com a explosão de um oleoduto.