Frei Jacir de Freitas Faria, OFM (*)
A Campanha da Fraternidade deste ano tem como tema a juventude no contexto de mudança de época, seu protagonismo no seguimento de Jesus, na participação eclesial e na construção de uma sociedade fundamentada na cultura da vida, da justiça e da paz. “Eis-me aqui. Envia-me!”, Isaías 6,8, é o lema.
Atualmente, poucos jovens brasileiros participam de uma organização juvenil. Ao longo dos últimos cinquenta anos, a juventude atuou de diversos modos na sociedade. Nas décadas de 1960 e 1970, nos sindicatos e movimento estudantil; nos anos 1980, nos movimentos sociais; nos anos 1990, nos movimentos culturais e lúdicos e, a partir dos anos 2000, nos movimentos religiosos carismáticos e pentecostais católicos e evangélicos. Essa mudança de atuação é consequência do mundo moderno, onde tudo é passageiro e sem compromisso. O que vale é a realização individual, o bem-estar, até mesmo na vida comunitária religiosa. Antes, os jovens namoravam, isto é, procuravam lentamente entrar na “morada” do outro. Hoje, eles “ficam” para não permanecer com o outro. Eles vivem de forma intensa o momento, sem responsabilidade e perspectivas de futuro, pensando no modo como eternizar a sua juventude, seu prazer, sua beleza, sua música barulhenta, sua balada. Juventude passou a ser sinônimo de coisas efêmeras e de vida fragmentada, sem futuro, sem modelos para serem seguidos. O que importa é um eu quase narcísico, sem apego às tradições e aos tabus dos pais. Por isso, os jovens são liberais em termos de sexualidade, e assim entram com facilidade no mundo das drogas. Tudo pode! A sua vida pessoal passa a ser de domínio público. No ‘face’, a face de cada um é exposta com naturalidade: “acabei de sair do cinema”; “fulana está de namorado novo”; escrevem alguns. Outros são mais audazes: “sou flex”. Trata-se de uma banalização do corpo e das pessoas.
Por outro lado, os jovens passaram a ser protagonistas de sua ação e não mais se silenciam diante do ‘chicote’ do passado, seja da família ou da escola, onde eles eram meros receptores de conhecimentos e castigos. A escola de hoje dá ao jovem a liberdade de criar, interagir e ser autônomo com responsabilidade. Professor torna-se um educador que conquista seu aluno pela compreensão, confiança e o incentiva a fazer o próprio caminho a partir do seu potencial de crescimento, sem adestrá-lo, dando-lhe autonomia e exigindo disciplina. O jovem que entende essa proposta será bem-sucedido na vida.
O jovem moderno sabe que se ele não adquirir uma especialização em uma área, não terá lugar no diversificado mercado de trabalho. Já o avanço tecnológico globaliza, massifica e despersonaliza jovens e crianças, os quais estão mais plugados na internet que nos livros. Ademais, o jovem de hoje é fruto de pais que se casam, descasam e namoram. Os filhos têm várias casas e vivem à mercê de seus pais e de lar em lar. Perdeu-se o respeito para com os pais, agora amigos e não mais autoridades. Consequência disso é que os jovens sentem-se inseguros para constituir família.
Um dos grandes desafios da Igreja é o de compreender o perfil do jovem moderno, que acabou deixando as igrejas tradicionais em busca das modernas ou de formas religiosas que possam se adequar ao seu gosto momentâneo, sem as amarras do certo e do errado e de uma espiritualidade passageira sem o compromisso de transformação social. Como escrevera poeticamente o intelectual chinês Chen Duxiu, no longínquo 1915: “A juventude é como a primavera precoce, como o sol nascente, como as plantinhas e árvores brotam, como uma lâmina recém-afiada. É o período mais precioso da vida. O papel da juventude na sociedade é como o de uma célula nova e vital no corpo humano… Se o metabolismo de uma sociedade funcionar normalmente, ela prosperará; se os velhos elementos apodrecidos dominarem a sociedade, então ela cessará de viver”. Refletindo sobre isso, resta à Igreja o desafio de acolher, compreender, preparar e enviar jovens para a missão evangelizadora.
Frei Jacir de Freitas Faria, OFM, é frade franciscano, escritor, mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, de Roma, especialista em evangelhos apócrifos, professor de exegese bíblica no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA, em Belo Horizonte e em cursos de Teologia para leigos. Autor do livro “Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativos. Poder e heresias!” (Vozes), dentre outros. Veja mais: www.bibliaeapocrifos.com.br