Frei Elói Dionísio Piva, OFM
Introdução
Como você percebe, o tema proposto para marcar os 115 anos do Instituto Teológico Franciscano – Teologia e Sociedade – sugere uma ação do agente denominado Sociedade com o assunto Teologia.
Preparando esta colaboração personalizamos o assunto Teologia, traduzindo-o por Teólogos e, mais especificamente, por Frades. São eles que, num primeiro tempo e aos poucos, cunham a marca: Instituto Teológico Franciscano. Quanto ao interlocutor Sociedade, a equipe o entende prevalentemente como Sociedade petropolitana, ressaltando, porém, alguns atores da mesma.
Acompanhamos este diálogo entre Sociedade petropolitana e Frades do ITF e o representamos em multimídia. Ressaltamos o que entendemos ser memorável, a partir de um olhar retrospectivo. Você é convidado/a para este entretenimento, que consideramos saudável.
Abertas assim as cortinas, você talvez pergunte:
Quais são os interesses da Sociedade petropolitana e dos Frades para estabelecerem um diálogo, para manterem uma interação?
Especificamente, em que ponto ou pontos se dá convergência/divergência de interesses entre os franciscanos do ITF e alguns setores da sociedade petropolitana, dentre eles, principalmente os católicos (ou parte deles)?
Antes da conferição, ainda nos permitimos propor-te uma observação: note que as perguntas estão centradas no presente: “Quais são os interesses…”; “em que ponto ou pontos se dá convergência/divergência…” Então, talvez também seja oportuno lembrar que o olhar retrospectivo enunciado no título, embora “retrospectivo” e “memorial”, parte do hoje, visita o ontem e imagina o amanhã. É o hoje que visita o ontem, de olho do futuro. Nossos pés estão no hoje. E, com efeito, é também o hoje e o amanhã, o presente e o futuro do ITF a aposta desta noite!
Dito isto, é com base na memória viva e em registros dos franciscanos (Crônica), que faremos constatações e ensaiaremos observações.
Para isso e para início de conversa, podemos distinguir dois segmentos cronológicos no itinerário retrospectivo do ITF:
I. Do final do século XIX ao final do século XX; II. Do final do século XX aos inícios do século XXI.
Segmento I: Do final do século XIX ao início do século XX
1ª Constatação: Petrópolis, a polis de Pedro, o segundo
Dom Pedro, o Primeiro (1822), adquire a fazenda Córrego Seco, e Dom Pedro, o Segundo, aí instala sua casa de veraneio e sua segunda sede de governo (1843), hoje: o Museu Imperial. Por causa desta sua decisão, forma-se a cidade de veraneio e de governo, a polis de Pedro, o segundo, no caminho de fazendas de café do Vale do Paraíba e de Minas Gerais, cidade da Serra da Estrela, de clima saudável e também de imigração alemã.
República proclamada e Padroado extinto, articula-se a restauração das antigas Províncias franciscanas (OFM) do Nordeste e do Sudeste, iniciando-se pelo Estado de Santa Catarina.
Atento, o então internúncio apostólico residente em Petrópolis, Mons. João Batista Guidi, articula a vinda dos Franciscanos para a Cidade imperial, identificando o primeiro e duplo interesse social: atendimento religioso e cultural, a começar pelos imigrantes alemães. Ou seja, os frades deveriam ser:
a) assistentes religiosos, atendendo uma carência que, porém, ultrapassa as fronteiras do segmento da imigração alemã [1938 e 1945]; e
b) promotores de integração social, facilitando a transição da língua alemã para a portuguesa, da sociedade alemã à brasileira, da expressão religiosa alemã para a brasileira. Mas, como, se os próprios frades são alemães?!
2ª Constatação: A chegada dos frades
Resultado das proposições e dos contatos de Mons. Guidi, aos 16 de janeiro de 1896, chegam frades a Petrópolis, causando alguma surpresa e admiração. São eles: Frei Ciríaco Hilcher, guardião, frei Zeno Walbroehl e Frei Mariano Feldmann. E no dia 02 de novembro do mesmo ano, eis que também chegam jovens frades, estudantes ainda: seis!
Onde foram alocados? Simbolicamente, nas imediações e logo em seguida nas dependências da então igrejinha dos alemães, inaugurada em 1874 – hoje, Igreja-paróquia do Sagrado Coração de Jesus, à rua Montecaseros 95.
Ora, a presença de jovens frades pressupõe e pede formação. Nasce, assim, o que, no decorrer dos anos foi sendo identificado como Teologado, Academia Teológica, Centro de Estudo, Faculdade de Teologia, Instituto Teológico Franciscano, hoje com gloriosos 115 anos!
3ª Constatação: Os primeiros movimentos
Como dar conta da missão: atendimento religioso e integração social para os imigrantes alemães, sendo os próprios frades, alemães? Frei Estanislau Schaette, chegado em 1897 e com expressiva e variada atuação em Petrópolis, principalmente na área da história, fornece-nos uma preciosa indicação: um volume da Crônica da Fraternidade do Sagrado leva por título: pré-história de Petrópolis, cujas páginas atestam um levantamento da primitiva situação topográfica da região e um levantamento das sesmarias e de seus respectivos proprietários, da instalação da cidade, da atuação de Júlio Koeller na organização da mesma etc. Ora, mesmo que este volume possa ser a expressão de seu autor, o cronista fr. Estanislau, o que isto poderia sinalizar? Uma possível hipótese é a de uma intencionalidade: conhecer para integrar; aproximar-se para conhecer; conhecer para entender; entender para adequar a missão e – por que não? – compreender para amar e/ou amar para compreender! Pelo conjunto da atividade dos frades, também dos que se ocupam diretamente de ciências teológicas, esta é uma hipótese que poderíamos reter como bastante verossímel.
E mais: esta indicação pode ser imaginada como que acontecendo numa estrada de mão dupla. Se aquela mão de ida é significativa de uma estratégia, a mão de retorno é significativa de uma acolhida. Com efeito, com apoio e incentivo de Mons. Guidi, em dois anos se faz e se executa os projetos do que hoje é a ala junto à sacristia da Igreja do Sagrado, parte do atual refeitório e quase toda a ala junto à rua Frei Luís, e com sobra de dinheiro! Doações em grande parte registradas! Doações provenientes não só de imigrantes alemães, que eram relativamente pobres, mas da parte de eminentes personalidades da sociedade petropolitana! O óbvio fica então por conta do apreço e da acolhida recebidos!
4ª Constatação: As primeiras iniciativas dos frades e a marca dos fundamentos
Iniciativa 1: Atendimento pastoral
No dia 20 de janeiro de 1896, 4 dias após a chegada, Frei Ciríaco estreia, presidindo uma celebração eucarística na Igrejinha do Sagrado. Nascia, então, a primeira marca da presença franciscana, inspirada na imagem bíblica do pastor e em são Francisco, homem todo católico e apostólico: atendimento pastoral. Em seguida, rapidamente, o local físico, o Sagrado, ganha expressão de centro de irradiação pastoral. Integrado, até 1946, à Paróquia São Pedro de Alcântara, quando esta se tornou sede episcopal e a Igreja do Sagrado, paróquia, os frades se fazem presentes em quase toda a cidade e nos distritos vizinhos, como também em boa parte da Baixada Fluminense, prestando atendimento religioso: administração de sacramentos, liturgia, catequese, fundando e
animando comunidades de fé. Hoje, embora territorialmente restritos às atuais dimensões da Paróquia do Sagrado e à Paróquia Santa Clara, mas integrados no contexto social urbano, os frades continuam com esta marca do pastor.
Como destaques na memória popular e nesta área de atuação, entre outros, não há como não trazer presente os nomes de:
Frei Luiz Reinke. Estimadíssimo, seu falecimento, em 1937, parou a cidade e um busto presencializa sua memória. Incansável e afetuoso em seu zelo apostólico, incentiva a cultura cristã, leciona Teologia sistemática e Direito canônico aos frades, sintetiza em sua pessoa o pastor e o doutor; é reverenciado não só por católicos.
Frei Leão Hessling. Três dias de luto por ocasião de sua morte, em 1976, mesmo morando ele, na ocasião, em São Paulo! Sinônimo de caridade e doação ao próximo, seu nome, após 33 anos de atuação em Petrópolis, permanece carinhosa e até folcloricamente no imaginário popular. Imortalizado pelo bico de pena do artista Van Dijk, deixou sua marca na promoção social e religiosa, particularmente no Alto da Serra e nas redondezas.
Frei João José Pedreira de Castro (+1962). Natural de Petrópolis, granjeia estima e consideração no coração de seus conterrâneos. É mais um exemplo de aliança entre o doutor e o pastor, entre o estudo e a partilha e vice-versa. Mesmo não tendo concluído sua formação bíblica em razão de problemas de saúde, notabiliza-se como professor e inicia o movimento bíblico nacional, traduz a
Bíblia – versão da Ave Maria – e preconiza sua leitura popular. Incentivador de missões populares e inovador, por incluir leigos na pregação missionária. Através de participação popular, de todas as classes sociais, leva a termo a construção do Teatro Mariano e do Trono de Fátima – hoje monumento de fé e turismo –, inaugurado este com presença de autoridades civis e religiosas do Estado do Rio e de Portugal.
Iniciativa 2: Educação
Facilitar a integração dos filhos dos imigrantes alemães, através da educação, é outra parte da missão (inicial) confiada por Mons. Guidi aos franciscanos. Em 1897 os frades assumem a bandeira da resposta à demanda já detectada principalmente entre os imigrantes alemães pelo Pe. Teodoro Esch, pároco da Paróquia de São Pedro de Alcântara. Abrigada, inicialmente, junto ao Convento, a escola é transferida, alguns anos depois, em 1907, para o outro lado da atual rua Frei Luís, e finalmente, em 1991, para a atual sede à rua Santos Dumont. Resultado da parceria entre frades e leigos, está hoje integrada, em condições semelhantes, à rede escolar Bom Jesus, de Curitiba.
Inicialmente batizada como Escola Gratuita São José, gerou um filho, que de tão famoso, transferiu-lhe o nome: Escola dos Canarinhos, e hoje, em função da integração com o Centro Universitário Bom Jesus, de Curitiba: Bom Jesus-Canarinhos. O coral dos Canarinhos, rebento novo de ensaios anteriores, vem à luz do dia no ano de 1942 e, no ano seguinte, por ocasião do Congresso
Eucarística Nacional realizado em Petrópolis, tem destacada participação. Fazem parte, hoje, de um Instituto próprio, o Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis, na Escola Bom Jesus-Canarinhos, e dão origem, a outros corais dentro da mesma instituição. Com satisfação registra-se sua benéfica influência para que Petrópolis seja uma cidade agraciada com vários corais de qualidade e, agora, com educação musical nas escolas municipais.
Nesta trajetória, se, por um lado, realce deve dado à interação do corpo gestor e docente integrado por frades e leigos, não há como renunciar à satisfação de destacar o criador dos Canarinhos e por longos anos seu maestro-regente, Frei Letro Bienias (+ 1988). Ele lhe imprime o caráter religioso e cultural no repertório de suas atuações. Internacionalmente conhecido e estimado, contribui esta noite com mais um capítulo para a história viva e atual do ITF e para a sua própria. Também é dele, frei Leto, a fundação do Instituto dos Meninos Cantores.
Iniciativa 3: Comunicação através da imprensa
Com a finalidade de confeccionar e imprimir material didático para a Escola Gratuita São José, em 1899, Frei Ciríaco adquire uma incompleta e abandonada impressora alauzet, que, concertada por frei Inácio Hinte, entra em ação em 1901, integrando o pequeno conjunto denominado Tipografia da Escola Gratuita São José. Logo, porém, este objetivo inicia sua trajetória de ampliação, de relativa autonomia em relação à Escola e de atualização, até hoje.
Em 1907, dá-se início à publicação de um periódico de caráter cultural e religioso – Vozes de Petrópolis –, inspirado na revista alemã Stimmen aus Maria Lach. E a publicação passa a ser tão conhecida que, a partir de 1911, provoca a mudança de nome da Tipografia, para Administração das Vozes de Petrópolis, bem como sua transferência dos porões do Convento para o outro
lado da atual Rua Frei Luís. Finalmente, em 1939, a Administração passa a se denominar Editora Vozes Ltda.
À semelhança da comunicação eletrônica de hoje, também a Vozes, a partir das duas faces de seu editorial: a cultural e a religiosa, leva o nome de Petrópolis, particularmente dos frades ligados ao Instituto, para os mais distantes recantos. Através da editora, os frades promovem uma campanha pela boa imprensa, estabelecem contato com inúmeros autores, editam periódicos, dos quais a Revista Eclesiástica Brasileira (antiga Cor), Grande Sinal (antiga Sponsa Christi), Serviço de Documentação, além de parcerias com os periódicos Estudos Bíblicos, Ribla e Concilium, que estão em pleno andamento.
Sempre em estreita relação com o Instituto, os frades lideram nos anos 60, no mundo, a exceção feita por Roma, a divulgação do Concílio Vaticano II. Em função da crônica do Concílio elaborada pelo então Frei Boaventura Kloppenburg, perito conciliar, da publicação dos documentos conciliares, em diversas versões, e de inúmeros estudos em forma de artigos e livros, com acerto, a Vozes é denominada Editora do Concílio.
Em decorrência de toda a atividade editorial, ganha o acervo da Biblioteca, ao mesmo tempo em que esta lhe serve de suporte.
Alguns nomes se destacam:
Frei Pedro Sinzig (+1952), também ele Diretor, a partir de 1908, muito ativo, animador da Liga da Boa Imprensa e do Centro da Boa Imprensa, a fim de implementar a comunicação impressa e o cinema e direcioná-los de acordo com valores cristãos.
De sua pena, 37 obras de literatura, história e arte, e 67 composições musicais – e com a execução de uma delas os Canarinhos nos brindam hoje; fundador, em 1941, da Revista de Música Sacra, única em seu gênero no país – hoje não mais editada.
Frei Tomás Borgmeier (+ 1975), diretor de 1941 a 1952, há pouco homenageado neste espaço pelo XX Simpósio de Mirmecologia e I Encuentro de Mirmecologistas de las Américas, além de renomado entomologista e fundador da Revista de Entomologia (extinta), também o é da Revista Eclesiástica Brasileira e da Sponsa Christi, revista de espiritualidade inicialmente para religiosas
e hoje para todos os interessados, sob o nome de Grande Sinal.
Frei Ludovico Gomes Mourão de Castro (+1992), diretor da Editora, formado em Teologia, destacado administrador, clarividente e corajoso editor nos tempos do Concílio Vaticano II e da restrição à imprensa no Brasil, destacando a conjugação entre o editorial cultural e o religioso.
Iniciativa 4: Formação teológica
É inegável que toda a atividade, enquanto resposta a um chamado, traz, por um lado, o incansável desejo de conhecer e compreender quem chama e, por outro, a dedicação em anunciar seu nome. Dito de outra forma, este dinamismo se expressa, por um lado, no estudo e estudo acadêmico, e por outro, na evangelização. Estudo e estudo acadêmico, como resposta ao
chamado e apelo para buscar a razoabilidade da fé; evangelização – divulgação explícita e atuação pela caridade –, como resposta ao envio.
E mais: uma vez que foram enviados jovens em estágio formativo, já em novembro de 1896 tem início a atividade propriamente teológica, que naqueles tempos, informais, denomina-se Humanidades.
O estudo teológico decorrente da própria vocação e da presença de jovens frades a serem iniciados, ou seja, a busca da razoabilidade da fé, é o segredo da visibilidade do atendimento pastoral, da ação litúrgica, da promoção social principalmente através da Escola Gratuita São José, da comunicação religioso-cultural através da Editora Vozes, e da instituição que, aos poucos, ficaria conhecida como Instituto Teológico Franciscano. Durante pouco mais de 100 anos o centro físico de oração e reflexão é o Convento do Sagrado. Gerações se formam e renovam a atuação franciscana e da Igreja no Sudeste, alcançam e ultrapassam as fronteiras do Brasil, difundindo-se suas vozes um pouco por toda parte, através de assessorias, da pregação, da atividade literária e outras.
É uma honra lembrar brevemente alguns expoentes que exemplificam a determinação pelo estudo acadêmico, como caminho da razoabilidade da fé e da ação:
Frei Mariano Wintzen (+ 1943): estudioso, erudito e dedicado professor de Teologia sistemática, bem como de Exegese, Liturgia, Homilética, Teologia pastoral, além de músico e reitor. Polivalente, sabe harmonizar estudo e atividade pastoral: a história da comunidade de fé N.S. Auxiliadora, do Bingen, bem como a de S.J. do Meriti, na Baixada Fluminense e arredores, que o digam!
Amava tudo o que fazia e, por isso, fazia-o bem, com entusiasmo e vice versa. Admirador de Duns Scotus.
Frei Aleixo Voelkert (+1957), professor de Teologia moral e Direito canônico, por 23 anos. Lúcido, seguro, de profundo sentir humano e caridoso, ligou seu nome à assessoria moral; na REB está a marca do estudo de questões de teologia pastoral.
Frei Mateus Hoepers (+1983), formado em Exegese bíblica, também lecionou outras disciplinas teológicas, como Direito canônico, Teologia fundamental e moral. Mas é na área bíblica e na atuação junto à Ordem Franciscana Secular que se distingue. É dele a tradução do NT diretamente do grego. Junto com frei João José Pedreira de Castro, Frei Simão Voigt (+ 2002) e outros, é um dos expoentes do ensino da SE e da difusão da Palavra de Deus.
Frei Constantino Koser (+2000), reconhecido professor de Teologia e de Mariologia (sempre com acento franciscano-escotista), incentivador do estudo e organizador da biblioteca que leva seu nome; Ministro geral da Ordem dos Frades Menores e Padre conciliar, de projeção nacional e internacional.
Frei Boaventura Kloppenburg (+2009), ardoroso defensor da fé católica, perito do Concílio Vaticano II, eminente divulgador do mesmo pela imprensa e pela palavra; participante de Sínodos, de Conferências do Celam, exímio e reconhecido professor de Teologia sistemática, fecundo escritor, de projeção nacional e internacional.
Segmento II: Do final do século XX aos inícios do século XXI
Constatação 1: A marca deste segmento
A partir das décadas de 50 e 60 do século passado, foi tomando corpo a necessidade de se buscar uma melhor adequação de espaço físico para as diversas iniciativas abrigadas em torno do Sagrado. As estruturas físicas existentes já não comportam adequadamente a atividade acadêmica, a biblioteca, o Convento – super lotado –, a Editora Vozes, a Paróquia do Sagrado, a Escola e o Coral e o Instituto dos Canarinhos. Além da própria evolução social, a renovação conciliar e o nome já granjeado pelo conjunto da atividade dos frades de Petrópolis contribui para atrair estudantes de outras entidades religiosas, franciscanas ou não, masculinas e femininas. Além disso, do final da década de 1960 até meados dos anos 80, ao Curso de Teologia foi somado também o de Filosofia. Por isso, cerca de 160 estudantes ocupam os espaços físicos, que eram os de 1920 e de 1930. Mas, além da equação física, assim como foi o Vaticano II para a Igreja, uma re-significação das iniciativas embala os sonhos.
Constatação 2: Desfechos
Como desfecho desse quadro e dessa perspectiva, a solução aos poucos encontrada é a seguinte:
a) O Curso de Filosofia é novamente transferido para Curitiba, especificamente para Rondinha-Campo Largo, a 30 km da capital, num espaço novo, amplo e a partir de um conceito mais personalizado, traduzido na forma de se morar em módulos.
b) Para a Escola Gratuita São José e o Instituto dos Meninos Cantores – os Canarinhos –, aos poucos, constroi-se nova, ampla e adequada sede à Rua Santos Dumont. Posteriormente, como já foi acenado, Escola e Instituo dos Canarinhos são agregados à rede educacional Bom Jesus, de Curitiba, sob nova denominação: Bom Jesus-Canarinhos. O Instituto dos Canarinhos, mantém sua
tradição, mas não é mais diretamente administrado pelos freis; e a Escola, dos frades tem a orientação geral que lhe vem de Curitiba.
c) A Paróquia do Sagrado ganhou feições mais definidas de paróquia e foi redimensionada em sua extensão, com a criação das paróquias de Santa Rita, do Castrioto, e de São Judas Tadeu, do Mosela.
d) A Editora Vozes, depois de um ensaio em função de uma maior autonomia em relação ao Instituto de teologia, voltou ao elo original que a relaciona estreitamente ao Instituto – são frades professores que a administram – e, por outra, encontra na nanotecnologia e na informática uma solução técnica e espacial para permanecer, como editora e gráfica em seu primitivo espaço.
e) O Instituto Teológico Franciscano, juntamente com o corpo de professores, após acerto com os Cônegos Premonstratenses e as devidas adaptações, remodelações e acréscimos de estrutura física no antigo colégio São Vicente, passa a nele dispor de sua sede própria, com novas e amplas dependências, em particular para a biblioteca. Em função de uma melhor distinção de atividades e autonomia, foi criada a paróquia Santa Clara, no território do Instituto e confiada aos frades do mesmo, mantendo assim, também neste aspecto, a relação entre estudo e interação eclesial e social.
Pertencente à Província Franciscana da Imaculada Conceição, com sede em São Paulo, o Instituto abriga a Faculdade de Teologia, que, a partir de 2006 é reconhecida pelo MEC e afiliada à Pontifícia Universidade Antonianum, de Roma. Por isso, os diplomas expedidos são reconhecidos pelo MEC e pela Comunidade Europeia, em função do Acordo de Bologna. O conceito 4, sobre 5,
emitido pelo MEC à Faculdade de Teologia significa: muito bom. Além da Faculdade, o Instituto mantém o Curso do Master em Evangelização, um curso intensivo de 8 meses; mantém o curso lato sensu em Espiritualidade, Ecologia e Educação, nos meses de janeiro; mantém cursos de extensão, semestrais e noturnos, abordando temas de interesse religioso-cultural. Promove noites culturais, como esta, com temáticas de fundo cultural-religioso. Todos os cursos são abertos à participação de todos e ministrados pelos professores do Instituto, com a participação de professores de outras entidades ou convidados.
O Instituto mantém uma filosofia de estudo e ensino aberta ao diálogo ecumênico, interreligioso e social. Mantém a perspectiva de interagir sempre mais com a Conferência Franciscana dos Menores do Brasil e com a Família Franciscana do país; de maneira semelhante, o mesmo vale em relação a outras iniciativas de interesse da sociedade e da Igreja, como, p. ex., a possibilidade de um curso lato sensu de liturgia e música sacra.
Conclusão: algumas observações
a) A Evolução. O percurso destes 115 anos confirma que o primitivo Centro de estudos, o atual Instituto Teológico Franciscano, evolui. Até o final da década de 1910, a formação teológico-pastoral tem acento caseiro, conta com os recursos humanos possíveis, conta com o exemplo prático; a partir desta data constata-se a decisão de buscar preparo acadêmico fora do país para os professores – política que continua ainda hoje, embora também haja possibilidades no Brasil e se faça uso delas. Ademais, no decorrer destes 115 anos, a composição humana dos professores e dos estudantes evolui da predominância alemã para uma quase exclusividade de brasileiros; o Instituto evolui de uma escola teológica voltada exclusivamente para a formação dos próprios quadros, para uma escola teológica voltada também para estudantes de outras entidades franciscanas, congregações, clero secular e leigos, do Brasil e do exterior; evolui de um centro de estudos onde só estudavam homens, para um centro acolhedor de homens e mulheres, clérigos a leigos; evolui de uma escola teológica particular, para uma faculdade eclesial e pública.
b) Caminho compartilhado. Embora aqui pouco abordado, o pensar teológico acompanha o Concílio Plenário Latinoamericano (1899), o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-65), as Conferências latimoamericanas de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007); passa por acentos teológico-pastorais diversos, como o da reconquista da sociedade através da Ação Católica, o do diálogo inspirado pelo Vaticano II, o da teologia da libertação, o do amplo pluralismo religioso e social e o da missão continental de Aparecida. Perpassa estes tempos e acentos, sempre, porém, com um norte: uma grade curricular que espelha a opção de aliar disciplinas teológicas com humanas, espírito científico com franciscanismo, fidelidade à tradição teológica com constante atualização.
c) Caminho integrado. Propositalmente, não nos limitamos a evocar professores, estudantes, o Instituto Teológico em si mesmo e, o mais importante, a atividade acadêmica propriamente dita. E isto, porque estamos convencidos de que, se assim fizermos, teremos, sim, algum resultado didaticamente bem definido, mas, isolaríamos os estudos e a própria instituição de seu contexto vital. Pois, nenhum professor é exclusivamente professor; nenhum estudante é somente estudante, embora se possa assinalar diferenças. Uma atividade está estreitamente ligada à outra. Romper esta relação é romper o elo vital entre modo de vida e estudo, entre estudo e evangelização. Se assim fizermos, cremos que retiraríamos do Instituto uma sua característica própria, diminuiríamos o alcance de uma expressão popular, pela qual, de diversos e distantes lugares, muitas pessoas caracterizam os frades, professores e estudantes incluídos, assim: “Os frades de Petrópolis”, “Os franciscanos de Petrópolis”, ou simplesmente, “Petrópolis”. Parece que aqui temos a indicação de um conceito abrangente, de uma linha de pensamento e de ação comuns, de uma determinada eclesiologia comum, de uma determinada maneira de estar com as pessoas, achegada aos tempos e aos lugares culturais e sua evolução, própria do carisma franciscano. Além disso, os frades moram, por longos tempos, num mesmo conjunto físico, e estudantes e professores levam, basicamente, o mesmo estilo de vida. Cremos, pois, que esta integração e interação, este espírito de família e de equipe de estudo e trabalho justifica nossa opção de situar o Instituto em seu contexto vital, o estar como fraternidade no contexto da sociedade humana, na sua pluralidade, e com ela interagir. É esta uma opção interpretativa que fazemos em função da atividade acadêmica, social e eclesialmente situada.
d) Uma continuidade na mudança. Depois de 115 anos, o Instituto tem a grata satisfação de constatar que, evoluindo, é movido pelo mesmo vigor e pela mesma clarividência iniciais. Partindo do pressuposto de que a fé interpela o intelecto, busca através de boa qualidade de estudo e de ensino acadêmicos, fazer jus à sua vocação franciscana e eclesial de buscar a paradoxal
razoabilidade da fé e de, assim, contribuir para o bem do ser humano e de toda a criação.
Ao ser transferido para esta sede, o Instituto ganha maior autonomia em relação às outras iniciativas evangelizadoras dos frades, mas, através da reflexão acadêmica, continua sendo um privilegiado parceiro na busca de plausibilidade da evangelização seja dos frades, da Igreja e de toda pessoa de boa vontade. A autonomia é, pois, relativa. Antes, tende a reforçar as bases da evangelização à medida que mantém e reforça o bom nível do estudo e, portanto, tende a reforçar os laços que interligam os frades e, porque não, toda a ação da Igreja católica e de pessoas amantes da paz e do progresso humano. A autonomia convida o Instituto a permanecer em sua raiz franciscana, e também por isso, a ouvir todo ser humano e toda criatura e a prestar-lhe sua colaboração em vista do Reino.
Portanto, se, num olhar retrospectivo, o Instituto passa por tantos momentos diferentes e sabe situar-se em todos eles, estar neles e
neles ser fermento de renovação, então há fundada esperança de que poderá sê-lo no presente e no futuro. Por isso, a inspiração de 115 anos é suficientemente forte para reequilibrar eventuais hesitações e confirmar a força criadora e integradora do Evangelho.
INSTITUTO TEOLÓGICO FRANCISCANO – 115 ANOS
Teologia e Sociedade: um olhar retrospectivo que confirma sua vocação