Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Esses homens a quem chamamos de pais

10/08/2018

                                                                              Imagem ilustrativa: Canva (www.canva.com/pt_br/modelos)

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFMMeus pais foram envelhecendo, foram se fragilizando, foram precisando mais de mim. E como não precisava tanto deles, ocupado com meu trabalho e minhas relações, tornei-me ausente. Um ausente egoísta que empurrava os problemas para os irmãos e não pretendia se incomodar com a velhice e a saúde de meus guardiões (Cuide dos pais antes que seja tarde,  Carpinejar, Bertrand Brasil, p.7)

Quando chega o mês de agosto há um convite a que reflitamos sobre a figura do pai, esse homem ao qual nossa mãe nos apresentou logo após nosso nascimento. Viemos do seio dela, mas ela e ele “maquinaram” nossa chegada. E, por detrás, de tudo e antes de tudo o Pai que cria os espaços,  colore as pétalas das  flores e ensina os ares a fabricar a neve colocou viço e vida no amor da mãe e do pai. Viemos do Pai belo dos céus. No amor do pai e da mãe  lá estávamos nós… Quem dera que sempre assim fosse.  Duas vocações:  ser pai e ser mãe, duas trilhas que caminham inseparavelmente juntas.

Sim, não se pode falar de pai e paternidade, de mãe e maternidade separadamente. Paternidade e maternidade constituem tesouros da humanidade, que vão se transmitindo de geração em geração não somente porque  cada um nasce de um pai e de uma mãe, mas porque devido aos laços que se criam  são comunicadas maneiras de viver, de ser, atitudes e virtudes. Paternidade e maternidade constituem vocações.

Uma palavra esclarecedora: “A mãe que ampara o filho com sua ternura e compaixão, ajuda a despertar nele a confiança, a experimentar que o mundo é um lugar bom que o acolhe, e isto permite desenvolver uma autoestima que favorece a capacidade de intimidade e empatia. Por sua vez, a figura do pai ajuda a perceber os limites da realidade, caracterizando-se mais pela orientação, pela saída para o mundo mais amplo e rico de desafios, pelo convite a esforçar-se e a lutar. Um pai com uma clara e feliz identidade masculina, que por sua vez combine com a esposa, com o carinho e o acolhimento, é tão necessário como os cuidados maternos. Há funções e tarefas flexíveis que se adaptam às circunstâncias concretas de cada família, mas a presença clara e bem definida das duas figuras, feminina e masculina, cria o âmbito mais adequado para o amadurecimento das crianças” (Papa  Francisco,  A alegria do amor, § 175).

♦ Pai, homem companheiro da esposa: A palavra companheiro é bela. Duas pessoas que comem junto o pão de todos os dias  cum panis… Mulher e homem se encontram, se estudam, percorrem parte do caminho um ao lado do outro e entre os dois brota a certeza de que podem se dar as mãos, fazer um pacto de bem-querer, fazendo a experiência de êxodo e se unindo para viver a ventura do amor conjugal. Tudo está sempre para ser feito. Mas juntos. Amantes e amigos. Os pais são bons quando são amigos das mães.  Uma das maiores e mais fundas alegria dos filhos é sentirem ternura, carinho entre o pai e a mãe e um respeito amoroso nos momentos normais de divergência. O sucesso de ser pai e de ser mãe depende em boa parte do sucesso conjugal de um homem e de uma mulher.  O filho é sempre um superávit de amor e não um acidente de percurso.

♦ O pai, além de provedor é presença: Os tempos mudaram. O pai não é apenas um provedor, mas uma presença forte e indispensável no seio da família e junto aos filhos.  Não adianta somente colocar dinheiro na “firma” que é a casa.  Precisa manifestar alegria de ser marido, de ser pai, de ser pessoa feliz.  Presença na vida escolar  dos filhos, nos eventos familiares mais amplos, no sucesso e nos desafios que a mulher e os filhos vivem. Aliás, hoje muitas mulheres é que sustentam financeiramente a casa… Pai presente  na vida do filho mesmo quando houve a separação. Pai que não pode se ausentar da vida do filho que veio dele e uma mulher que escolheu para mãe de seus filhos.

♦ Pai amigo e confidente: Pais que se colocam perto dos filhos, próximos deles. Pais que conversam com os filhos e filhas meio à maneira de colegas e confidentes. Entendamo-nos bem: não um “coleguinha” dos filhos, sempre pai, sempre uma autoridade, mas uma autoridade que sabe ser terna e firme. Pai, sombra carinhosa se faz presente de modo particular quando os filhos descobrem a bela virulência de sua sexualidade. Pais que podem ser, na medida do possível e no respeito ao mistério de cada um, amigos dos filhos.

♦ Pais que auscultam as ânsias mais profundas do filhos: Pai e mãe saberão entrar para uma “Escola de Pais”, aprender a arte de educar. A escola e a universidade podem ajudar os filhos a se situarem diante do mundo. Pais e mães, no entanto, não   passam para outros suas intransferíveis responsabilidades de educadores. A história de cada filho pode ser uma obra de arte. Depende, em parte, da qualidade humana de um pai e de uma mãe”.  O pai não quer que os filhos sejam carbonos ou copias suas. Na volta do trabalho e em todos os momentos  e sempre auscultando as ânsias verdadeiramente profundas dos filhos.  Sobretudo não deixá-los crescer numa banalidade e superficialidade de vida.

♦ Pais vigilantes: Pais vigilantes, mas também esposos vigilantes. Que seu casamento não seja uma monótona rotina. Que ele sinta que sua mulher continua crescendo como mulher. Vigiar para que o amor conjugal não fique estagnado na mesmice das planuras.  Vigiar para que na família e entre os filhos vigorem valores: ajuda de todos, atenção para com os mais frágeis, cuidado dos avós velhos e doentes, bondade que seja dom de vida e não apenas um  “gestinho bonitinho”.  Os  pais terão sempre  as antenas ligadas…

♦ Pais de seus filhos e dos filhos que a mulher trouxe: Os homens são  pais de seus filhos biológicos e  dos filhos de uma companheira que veio de outro casamento. Os tempos mudaram.  Homens de valor e de garra são pais dos filhos que outros homens geraram e colocaram no mundo.

♦ Pai cuja vida seja janela para descobrir a Deus:  Nada de imposição.  O pai mostra aos filhos que anda buscando a Deus, que tem sede do Absoluto, pai que não seja intransigente homem dogmático, mero cumpridor de ritos religiosos. Os filhos sentirão nos pais criaturas normais com falhas, mas se curvam diante de um sacrário e escutam com avidez a Palavra.  Pai e mãe saberão criar em casa um clima de verdade, de vivência das bem-aventuranças. Os filhos haverão de ficar orgulhosos do pai que é reto, simples no falar, não se vestindo do ouro do dinheiro e do prestígio.

♦ Ainda um texto de Carpinejar:  “Há filhos que abortam seus pais dentro do coração, e os enterram precocemente, antes mesmo do velório. Abandonam os pais no asilo. Largam os pais para a temeridade violenta da solidão” (Cuide dos pais… Carpinejar, op. cit. 7).

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