Nesses tempos dramáticos sob o ataque do coronavírus sobre nossas vidas, sobre nossos corpos, nada mais oportuno que fazer uma reflexão mais aprofundada sobre o que é o nosso corpo e como devemos, agora mais do antes, cuidar dele e dos corpos dos outros.
Para isso, importa, enriquecermos nossa compreensão de corpo, porque aquela herdada dos gregos e ainda vigente na cultura dominante, entende o corpo como uma parte do ser humano ao lado da outra que é a alma. Compreende-se comumente o ser humano como um composto de corpo e alma. Ao morrer, o corpo é devolvido à Terra enquanto a alma é transladada para a eternidade, feliz ou infeliz conforme a qualidade de vida que tenha vivido. Tentemos enriquecer nossa compreensão de corpo à luz da nova antropologia.
A unidade complexa corpo-espírito
Tanto a antropologia bíblica quanto a antropologia contemporânea (e há muita afinidade entre elas) nos apresentam uma concepção de corpo mais complexa e holística. Segundo ela, o corpo não é algo que temos mas algo que somos. Falamos então de homem-corpo, todo inteiro mergulhado no mundo e relacionado em todas as direções.
O ser humano apresenta-se primeiramente como corpo. Corpo vivo e não um cadáver, uma realidade bio-psico-energético-cultural, dotada de um sistema perceptivo, cognitivo, afetivo, valorativo, informacional e espiritual.
Ele é feito dos materiais cósmicos que se formaram desde o início do processo da cosmogênese há 13,7 bilhões de anos, da biogênese, há 3,8 bilhões de anos e da antropogênese há 7-8 milhões de anos, portador de 400 trilhões de células, continuamente renovadas por um sistema genético que se formou ao largo de 3,8 bilhões de anos (é a idade da vida), habitado por um quatrilhão de micróbios (Collins, A linguagem da vida, p.200), munido de três níveis do único cérebro com 50 a 100 bilhões de neurônios. O mais ancestral é o reptiliano, surgido há 250 milhões de anos, responde por nossas reações instintivas, como o abrir e fechar os olhos, as batidas do coração e outras, ao redor do qual se formou o cérebro límbico, há 125 milhões de anos, que explica nossa afetividade, o amor e cuidado e, por fim, completado pelo cérebro neo-cortical que irrompeu há cerca de 5-8 milhões de anos, com o qual organizamos conceptualmente o mundo e nos abrimos à totalidade do real.
A corporalidade é uma dimensão da sujeito humano concreto. Isto quer dizer: na realidade, nunca encontramos um espírito puro mas sempre em todo o lugar um espírito encarnado. Pertence ao espírito sua corporalidade e com isso sua permanente relação com todas as coisas. Como homem-corpo emergimos qual nó de relações universais, a partir de nosso estar-no-mundo-com-os-outros.
Este estar-no-mundo-com-os-outros não é uma dimensão geográfica, nem acidental mas essencial. Quer dizer, em cada momento e em sua totalidade o ser humano é corporal e simultaneamente em sua totalidade é espiritual. Somos um corpo espiritualizado como somos também um espírito corporizado. Esta unidade complexa do ser humano não pode ser nunca olvidada.
Desta forma, os atos espirituais mais sublimes ou os voos mais altos da criação artística ou da mística vem marcados pela corporalidade. Como os mais comezinhos atos corporais como comer, lavar-se, dirigir um carro, vem penetrados de espírito. O corpo é o espírito se realizando dentro da matéria. E o espírito é a transfiguração da matéria.
Neste sentido, podemos dizer que o espírito é visível. Quando olhamos, por exemplo, um rosto não vemos apenas os olhos, a boca, o nariz e o jogo dos músculos. Surpreendemos também alegria ou angústia, resignação ou confiança, brilho ou abatimento. O que se vê, pois, é um corpo vivificado e penetrado de espírito. De forma semelhante, o espírito não se esconde atrás do corpo. Na expressão facial, no olhar, no falar, no modo de estar presente e mesmo no silêncio se revela toda a profundidade do espírito.
As forças de autoafirmação e de integração
Por outro lado, importa entender que, biologicamente, somos seres carentes. Não somos dotados de nenhum órgão especializado que nos garantisse a sobrevivência ou nos defendesse dos riscos, como ocorre com os animais. Um patinho nasce e já sai nadando. O ser humano, não, ele precisa aprender. Alguns biólogos chegam a dizer que somos “um animal doente” um “faux pas”, uma “passagem” (Übergang) para outra coisa mais alta ou complexa, por isso nunca somos fixados, somos inteiros mas ainda não completos, sempre por fazer.
Tal verificação tem como consequência que precisamos continuamente garantir a nossa existência, mediante o trabalho e a inteligente intervenção na natureza. Deste esforço, nasce a cultura que organiza de forma mais estável as condições infra-estruturais e também humano-espirituais para vivermos humanamente melhor e mais cômodos.
Acresce ainda outro dado, presente também em todos os seres do universo, mas que no nível humano ganha especial relevância, especialmente com referência ao cuidado. Vigoram duas forças em cada ser e em nós. A primeira é a força da auto-afirmação, a segunda a força da integração. Elas atuam sempre juntas num equilíbrio difícil e sempre dinâmico.
Pela força da auto-afirmação cada ser, no caso, o ser humano, se centra em si mesmo e seu instinto é conservar-se, defendendo-se contra todo tipo de ameaça contra sua integridade e sua vida. Defende-se ao ser ameaçado de morte. Ninguém aceita simplesmente morrer. Luta para continuar a viver, a desenvolver-se e a se expandir. Essa força explica a persistência e a subsistência de cada indivíduo.
Precisamos neste ponto superar totalmente o darwinismo social segundo o qual somente os mais bem dotados triunfam e permanecem. Essa é uma meia verdade que está na contramão do processo evolucionário. A lei básica da universo é a relação de todos com todos e a cooperação entre todos para que possam existir e continuar a evoluir. Este processo não privilegia só os mais bem dotados. Se assim fora, os dinossauros estariam ainda entre nós. O sentido da evolução é permitir que todos os seres, também os mais vulneráveis, expressem dimensões da realidade e virtualidades latentes dentro do universo em evolução. Repetimos: esse é o valor da interdependência de todos com todos e da solidariedade cósmica. Todos se entre-ajudam para coexistir e co-evoluir. Os fracos também merecem viver e tem algo a nos dizer. Observem que num pequeno buraco do asfalto nasce uma plantinha. É um milagre da vida e nos dá uma mensagem da força da vida.
Pela força da integração, o indivíduo se descobre integrado numa rede de relações, sem as quais, sozinho como indivíduo não viveria nem sobreviveria. Todos os seres são interconectados e vivem uns pelos outros, com os outros e para os outros. O indivíduo se integra, pois, naturalmente, num todo maior, na família, na comunidade e na sociedade. Mesmo que o indivíduo morra, o todo garante que a espécie continue, permitindo que outros representantes venham nos suceder.
Sabedoria humana é reconhecer que chega certo momento na vida no qual a pessoa deve se despedir, agradecida, para deixar o lugar, até fisicamente, a outros que virão.
O universo, os reinos, as espécies e também os seres humanos se equilibram entre estas duas forças, a da auto-afirmação do indivíduo e a da integração num todo maior. Mas esse processo não é linear e sereno. Ele é tenso e dinâmico. O equilíbrio das forças nunca é um dado, mas um feito a ser alcançado a todo o momento.
É aqui que entra o cuidado. Se não cuidarmos pode prevalecer ou a auto-afirmação do indivíduo à custa de uma insuficiente integração no todo e então predomina o eu, o individualismo, o autoritarismo e a violência ou pode prevalecer a integração, o nós a preço do enfraquecimento e até anulação do eu, do indivíduo e então ganha a partida o coletivismo e o achatamento das individualidades. O cuidado aqui se traduz na justa medida e na autocontenção para não privilegiar nenhuma destas forças.
Efetivamente, na história social humana, surgiram sistemas que ora privilegiam o eu, o indivíduo, seu desempenho e a propriedade privada como é o caso do sistema capitalista ou ora prevalece o nós, o coletivo e a propriedade social como é o caso do socialismo real. A exacerbação de uma destas forças em detrimento da outra leva a desequilíbrios, a devastações e a tragédias. O cuidado desaparece para dar lugar à vontade de poder e até da brutalidade.
Para equilibrar estas duas forças se projetou a democracia que procura incluir e articular e eu com o nós, onde cada indivíduo pode participar e com outros criar o nós social. Dessa convivência do eu com o nós nem sempre fácil, nasce a busca do bem comum. Democracia é participação de todos, na família, na comunidade, nas organizações e na forma de organizar o Estado. É um valor universal a ser sempre vivido e alimentado.
Qual é o desafio que se dirige ao ser humano? É o cuidado de buscar o equilíbrio construído conscientemente e fazer desta busca um um propósito e uma atitude de base. Portador de consciência e de liberdade, o ser humano possui esta missão que o distingue dos demais seres. Só ele pode ser um ser ético, um ser que cuida se responsabiliza por si (eu) e pelo destino dos outros (nós). Ele pode ser hostil à vida, oprimir e devastar. Pode ser também o anjo bom, guardador e protetor de todo o criado. Depende de seu empenho em cuidar ou deixar que forças obscuras e incontroláveis assumam o curso da vida.
Por causa da liberdade, ele não está submetido à fatalidade do dinamismo das coisas. Ele pode intervir e salvar o mais fraco, impedir que uma espécie desapareça ou criar condições que diminuam o sofrimento, como é o caso no momento atual.
No lugar da lei do mais bem dotado e forte, propõe-se a lei do cuidado do menos dotado e mais fraco. Só o ser humano pode fazer isso. Por isso ele foi constituído como guardião dos seres, o jardineiro que cuida e guarda o Jardim do Éden (Terra). Ele emerge como o cuidador das criaturas que mais precisam de condições de vida e de inserção no todo. Desta forma assegura um futuro para o maior número de pessoas e de representantes de outras espécies. Esse é o desafio para o nosso país e para toda a Terra assolada pelo Covid-19.
Os desafios do cuidado pelo próprio corpo
Depois desta longa introdução surge a pergunta: como cuidar de nosso próprio corpo? Esse ponto é fundamental neste momento em que devemos acolher o isolamento social para nos proteger do coronavírus.
Antes de mais nada, impõe-se um esforço de manter nossa integridade e unidade complexa. Devemos assumir nosso enraizamento no mundo, com suas relações de família, de trabalho, de profissão e de empenho pela sobrevivência. E fazê-lo com inteireza, sabendo que somos a parte consciente e inteligente do todo, capaz de valorizar cada iniciativa, desde aquela que diz respeito à higiene do corpo, até o trabalho mais sofisticado da inteligência.
Nesse momento é dever proteger-se com a máscara quando saímos de casa e lavar continuamente as mãos com sabão ou com álcool-gel. O homem-corpo é essa unidade complexa e exige todos estes cuidados, especialmente nesse momento dramático de nossa vida.
Faz-se mister de opor-se conscientemente aos dualismos que a cultura persiste em manter, por um lado o “corpo”, desvinculado do espírito e por outro do “espírito” desmaterializado de seu corpo. O marketing explora esta dualidade, apresentando o corpo não como a totalidade do humano, mas sua parcialização, seus rostos, seus seios, seus músculos, suas mãos, seus pés, enfim, suas partes.
Principais vítimas desta retaliação são as mulheres, embora não sejam as únicas, pois a visão machista se refugiou no mundo mediático da propaganda usando partes da mulher: o rosto, seus olhos, seus seios, seu sexo e outras partes, continuando perversamente a fazer da mulher um “objeto de cama e mesa”. Devemos nos opor a esta deformação cultural.
Importa também recusar o mero “culto do corpo” pelo sem número de academias e outras formas de trabalho sobre a dimensão física como se o homem-corpo fosse uma máquina destituída de espírito, buscando performances musculares que não conhecem limites. Com isso não queremos desmerecer os benefícios que representam as academias. Afirmando positivamente isso, cabe enfatizar a alimentação equilibrada e sadia, as vantagens inegáveis dos exercícios de ginástica, as massagens que revigoram o corpo e fazem fluir as energias vitais, particularmente, as ginásticas orientais, entre elas a capacidade de o yoga de fortalecer a harmonia corpo-mente.
O vestuário merece uma consideração especial. Ele não possui apenas uma função utilitária ao nos proteger das intempéries e de encobrir o que na nossa cultura (diferente da dos indígenas) são as partes sexuais. Ele pertence ao cuidado do corpo, pois o vestuário representa uma linguagem, uma forma de revelar-se no cenário da vida. É importante cuidar que o vestuário seja expressão de um modo de ser e mostre o perfil humano e estético da pessoa.
Constitui uma demonstração de anemia de espírito as belezas construídas por mil meios para ser aquilo que a vida não quis que as pessoas fossem. Há uma beleza própria de cada idade, um charme que nasce do trabalho que a vida e o espírito fizeram na expressão “corporal” do ser humano. Não há photoshop que substituam a beleza rude de um rosto de um trabalhador, talhado pela dureza da vida, pelos traços faciais moldados pelo sofrimento e pela luta. Elas ganham uma expressão de grande força e energia. Falam da vida real e não artificial e construída. As fotos trabalhadas dos ícones da beleza convencional são todos parecidos, e mal disfarçam a artificialidade da figura construída pelo marketing.
Todos estes artificialismos de nossa cultura mais ligada ao mercado que às necessidades reais da vida, levam a não cultivar o cuidado próprio de cada fase da vida, com sua beleza e irradiação singular mas também com as marcas de uma vida vivida que deixou estampada no rosto e no corpo as lutas, os sofrimentos, as superações. Tais marcas são condecorações e criam uma beleza inigualável e uma irradiação específica, ao invés de engessar-se num tipo de perfil de um passado já vivido.
Positivamente cuidamos do corpo regressando para onde, por séculos. nos havíamos exilado: para a natureza e para uma relação benigna para com o todo da Terra. Isso significa estabelecer uma relação de biofilia, de amor e de sensibilização para com os animais, as flores, rosas e plantas, os climas, as águas, com as paisagens, com a Terra. Quando a Terra vem mostrada a partir do espaço exterior com essas belas imagens do globo terrestre transmitidas pelos grandes telescópios ou pelas naves espaciais irrompe em nós um sentido de reverência, de respeito e de amor pela nossa Casa Comum, a nossa Grande Mãe de cujo útero todos viemos. Sentimo-nos humildes quando contemplamos a Terra como um pálido ponto azul, a última foto dela tirada antes de deixar o sistema solar e penetrar no infinito do espaço sideral.
Talvez o desafio maior para o homem-corpo consiste em lograr um equilíbrio entre a autoafirmação, sem cair na arrogância e no rebaixamento dos outros, e entre a integração no todo maior, da família, da comunidade, do grupo de trabalho e da sociedade, sem deixar-se massificar e cair no adesismo acrítico.
A busca deste equilíbrio não se resolve uma vez por todas, mas deve ser assumido diuturnamente, pois, ele nos é cobrado a cada momento. E cada situação, por mais estranha que possa parecer, é suficientemente boa para encontrarmos o balanço adequado entre as duas forças que nos podem dilacerar ou nos podem unificar e dar leveza à nossa existência.
O cuidado em nossa inserção no estar-no-mundo-com-outros envolve nossa dieta: o que comemos e bebemos. Fazer do comer mais que um processo de nutrição mas um rito de comunhão com os frutos da generosidade da Terra. Assim cada refeição é uma celebração da vida. Saber escolher os produtos, os produzidos organicamente ou os menos quimicalizados. Aqui entra o cuidado como amorosidade para consigo mesmo que se traduz numa vida saudável e como precaução contra eventuais enfermidades que nos podem advir pelo ar contaminado, pelas águas maltratadas, pela geral intoxicação do ambiente.
O homem-corpo deve deixar transparecer essa harmonia interior e exterior, como membro da grande comunidade terrenal e biótica.
O cuidado pelo corpo dos outros, dos pobres, da Terra
A maioria dos corpos humanos são enfermos, emagrecidos e deformados por demasiadas carências. Há uma humanidade-corpo faminta, sedenta, desesperada no espírito pelo excesso de trabalho explorado e pela humilhação de serem tratados como carvão a ser consumido no processo produtivo, na expressão do antropólogo Darcy Ribeiro.
Cuidado para com os corpos dos empobrecidos e condenados da Terra é não negá-los e desprezá-los como ocorre na nossa tradição escravagista. Mas considerá-los como co-iguais com os mesma dignidade e direitos. Socialmente é lutar por políticas públicas, como foram feitas pelos projetos sociais da “Fome Zero”, “Luz para Todos”, “Minha Casa, minha Vida” com a agricultura ecológica e familiar e outros, como as cozinhas comunitárias, como as UPAS e outras iniciativas que organizam a solidariedade social para que todos possam ver realizado seu direito à comensalidade, a poder comer o suficiente e decente de cada dia.
Permito-me dar um exemplo: No nosso Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis, desenvolvemos um projeto “Pão e Beleza”, dando à população de rua uma boa refeição diária (cerca de 300 pessoas: o momento do Pão) e em seguida o momento da Beleza que é a conquista de sua dignidade, a começar pelo nome (pois a maioria tem apelidos), fazendo círculos de discussão sobre seus próprios problemas, acompanhá-los quando doentes à assistência médica ou psicológica e ver como reintegrá-los na sociedade com algum trabalho. A perspectiva continua sendo cuidar do ser humano integral, corpo-espirito, através do Pão necessário e do Espírito cultivado.
Importante em termos de uma pedagogia libertadora é contribuir para que as próprios carentes, como sujeitos, se organizem e com sua pressão garantam as bases que sustentam a vida. Mas não apenas saciar a fome de Pão, sempre necessária e saciável, mas também sua fome de Beleza, insaciável, de reconhecimento, de respeito, de comunhão, de Transcendência, sempre aberta a um desenvolvimento ilimitado.
Cuidar do corpo social é uma missão política que exige uma crítica severa contra um sistema de relações que trata as pessoas como coisas e lhes negam o acesso aos commons aos bens comuns que todos os seres humanos têm direito, como o alimento, a água, um pedaço de chão, o tratamento do esgoto e do lixo, a saúde, a moradia, a cultura e a segurança.
Na verdade, aqui se imporia uma verdadeira revolução humanitária. Mas não basta querê-la. Precisam-se das condições histórico-sociais que a viabilizem e a tornem vitoriosa. É a utopia mínima a ser realizada até por um mínimo senso ético.
Hoje mais que em outras épocas, urge cuidar do corpo da Mãe Terra, marcado por chagas que não se fecham. Há devastações inimagináveis no reino animal, vegetal nos solos subsolos e nos mares. Já externei a opinião de que possivelmente o coronavírus seja uma reação da Mãe Terra, um contra-ataque à sistemática violência que continuamente sofre.
Ou cuidamos do corpo da Mãe Terra ou corremos o risco de não haver mais lugar para nós ou ela não nos querer mais sobre seu solo. Cuidar do corpo da Terra é cuidar dos dejetos, da limpeza geral das ruas, praças, das águas do ar, dos transportes, interessar-se por tudo o que diz respeito sobre seu estado do planeta, acompanhando pelos meios de comunicação como está sendo tratado, agredido ou curado.
Por fim, seja-nos permitido recordar a mensagem cristã que, pela encarnação do Filho de Deus, santificou a matéria e também a eternizou. A ressurreição do homem das dores, chagado e crucificado vem confirmar que o fim dos caminhos de Deus não é um “espírito” sem a matéria, mas o homem-corpo transfigurado, que realizou todas as potencialidades nele escondidas e elevado ao mais alto grau de sua evolução humana e divina.
É o supremo cuidado que Deus mostrou para com o homem-corpo, ressuscitando-o como homem novo, “o novíssimo Adão” como o chama São Paulo e, enfim, assumindo-o para dentro de sua própria realidade infinita e eterna.
Leonardo Boff é ecoteólogo e escreveu “O destino do homem e do mundo”, Vozes,muitas edições 2012.