Esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia (Jo 6,39).
O Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces (Is 25, 8)
Finados, dia de saudade e jornada de esperança. Chega à nossa mente o semblante de todos os nossos entes queridos que já largaram suas mãos de nossas mãos. Misturam-se diferentes sentimentos em nosso interior. Antes de tudo, e sobretudo, uma imensa saudade dos que se foram, lembrança que o tempo tenta amenizar a duras penas.
Lá dentro de nós dizemos que a morte é um absurdo. Tanto viço, tanta vontade de vida e chega o momento em que tudo termina na terra fria do cemitério ou nas chamas vigorosas de um crematório. De outro lado, pode acontecer, que fique dentro de nós uma ponta arrependimento de não termos, naqueles tempos de imaturidade e de loucura, amado mais os que nos amaram e os que não nos amaram.
Somos cristãos. Aos poucos fomos deixando de lado uma fé herdada de fórmulas e ritos e tentamos nos aproximar do Deus vivo que se nos foi revelando ao longo do tempo da vida. Achegamo-nos a esse Cristo que foi se desenhando aos nossos horizontes como a comunicação de Deus, o pão da vida, a vida, simplesmente a vida. Ele mesmo em diversos momentos afirmara: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Cremos numa vida além do horizonte da morte.
Sentamo-nos aos pés de Jesus. Procuramos perscrutar as Escrituras. Convivemos com pessoas iluminadas pela sua claridade e ficamos encantados. Resolvemos, como Nicodemos, perguntar a Jesus o que precisamos fazer para entrar na vida. Ficamos sabendo que precisávamos nascer de novo, vir ao mundo de uma outra forma, entrar numa vida suscitada e animada pelo Espírito. Nascer da água e do Espírito. Vida nova. Graça do alto que carregamos em vasos frágeis. Cremos numa vida plena que começa aqui e desemboca na comunhão com Deus. Na glória que chamamos de céu. Entendamos bem o que isso quer dizer.
E ao longo de nossa convivência com Jesus fomos sendo interiormente formados. Jesus veio para que tenhamos vida e vida em abundância, ele é pão da vida, ressuscita os mortos como sinal de que é também vida. Morremos ao homem velho e, no lusco-fusco do tempo da peregrinação, já temos sementes de vida, do homem novo, do homem da graça, daquele que em si traz o selo, a garantia da vida. O Senhor Deus arrancou Jesus da morte. E os que são de Cristo têm sua vida escondida na vida de Jesus. Olhamos na direção das coisas do alto. Vivemos no mundo, mas não somos do mundo. Já temos as sementes da vida eterna que já começa agora mesmo com nossos passos trôpegos.
Páscoa. É palavra. Vamos fazendo nossa Páscoa no viver aqui esperando a plena manifestação da glória no face a face daquele que amamos na luz da fé.
Finados, dia de saudade e jornada de esperança. Pensamos em todos os que morreram e os colocamos na pátena da missa. Eles vivem com aquilo que era sua pessoa num mundo de profunda felicidade.
Frei Almir Guimarães