Quem somos - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei Mateus Hoepers

(1898-1983)

Um dos ilustres frades “habitantes” do Convento do Coração de Jesus foi, sem dúvida alguma, Frei Mateus Hoepers. Nesta crônica-testemunho, atenho-me a relevância do frade menor que se manifestou no ensino das Sagradas Escrituras e no seu envolvimento com a Ordem Terceira em nível local e nacional. As observações que se seguem situam-se em torno dos anos 45 a meados de 70. Ao ler depoimentos de leigos amigos de Frei Mateus fiquei surpreso de ver a influência que exerceu em tantos. Quantos leigos valorosos foram, de alguma forma, forjados por nosso confrade.

Celina Braga de Campos, terceira franciscana mineira, apresentou uma síntese de homem de Deus que foi Frei Mateus num necrológio feito a respeito de sua vida. Por aí desejo começar: “Se o coração de nosso caríssimo Frei Mateus fosse radiografado espiritualmente teríamos a graça de sentir as pulsações da vivência do carisma de São Francisco de Assis, em plenitude. Retratou-se nele o verdadeiro frade menor. Penitente. Fiel no seguimento dos passos de Nosso Senhor Jesus Cristo, empenhou-se em observar o seu Evangelho na escuta do Espírito do Senhor. Era o religioso das bem-aventuranças. Coração de pobre. Desprendido. Cheio de fome de Deus. Pronto a ouvir e consolar os irmãos. Fácil no perdão. Marcado com o dom da verdade, corajosamente apontava os erros com mansidão. Compreensivo e misericordioso, sorria sempre com pureza de criança. Na injustiça, incompreensão experimentou a perfeita alegria ensinada pelo Pai Seráfico. Não foi tão fácil de sua união transformante em Cristo Crucificado em sua penosa enfermidade. Jamais se queixava do sofrimento. Nele se tornou o orante, o contemplativo.” Irma Celina foi muito feliz neste seu depoimento. Subscrevo-o inteiramente.

Seu nome de batismo foi Leonardo. Nasceu em São Martinho do Capivari (SC), perto de Criciúma a 31 de outubro de 1898 e termina seus dias no Convento de Santo Antônio do Largo da Carioca no Rio de Janeiro, a 29 de março de 1983. Compulsando seus dados biográficos eis as anotações do tempo de sua permanência em Petrópolis. No dia 21 de janeiro de 1945 foi transferido para Petrópolis como guardião, professor de teologia pastoral, prefeito dos estudos, diretor da Ordem Terceira e responsável pela Ação Católica. Logo depois (1948) é nomeado professor de exegese. A continuação de seu curriculum vitae é rico de anotações que fogem ao intuito destas páginas.

Alto, magro, depois mais cheio de quilos. Esteve em Freiburg-am-Breisgau (Alemanha) estudando Exegese. Foi professor de Sagradas Escrituras no curso da teologia dos frades, contemporâneo de Frei João José Pedreira de Castro, este petropolitano, também professor de exegese. Este último fez a tradução da Bíblia dita da Ave Maria, de Maredsous, a partir dos originais franceses ( Frei João José, Jojô, como era conhecido, foi incentivador e construtor do santuário Trono de Fátima, com apoio da Congregação Mariana)

Frei Mateus era um pessoa muito simples. Por vezes não captava um comunicado ou até mesmo chiste. Acontecia que, estando na recitação do ofício na igreja, entendia a piada e tinha acesso de riso. É o que dizem. Tinha voz muito forte. Em suas homilias no Sagrado era facilmente ouvido. No tempo em que as missas eram celebradas com as costas para o povo, lá no altar mor, Frei Mateus deixava a casula sobre o altar, atravessava os espaços das estalas (que pena que foram tiradas!!!), abria o portãozinho da mesa da comunhão subia ao púlpito perto da entrada capela de Nossa Senhora das Dores. Voz e estilo de oratória do tempo. Um de seus temas preferidos era o da fé. Usava lenços enormes para secar o suor que corria generoso de sua fronte e pescoço e os guardava nas amplas mangas do hábito.

Incentivado pelos confrades das Vozes Frei Mateus recebeu a tarefa de fazer uma tradução do Novo Testamento a partir dos originais gregos. Foi a primeira tradução no Brasil. Com isto Frei Mateus ficou sendo conhecido como um homem da Bíblia e seu nome difundiu os frades de Petrópolis.

Seria longo e fastidioso elencar todos os seus méritos junto aos terceiros franciscanos. Frei Mateus com um grupo de dedicadíssimos leigos fizeram um ingente e belíssimo trabalho. Estamos no período pré e pós conciliar. Apaixonado por Francisco e pela Ordem Terceira, Frei Mateus se deu conta que ela precisava ser conhecida. Era preciso unificar a Ordem. Cada obediência franciscana tinha suas ordens terceiras mais como grupos devocionais. As preocupações de Frei Mateus e de seus valentes “soldados” era a da criação de um Secretariado Nacional, publicação de textos formativos, orientação nacional. Tudo foi sendo conseguido a duras penas. Alguns frades e leigos teimaram em guardar a autonomia das obediências. Frei Mateus e sua gente foram até mesmo enfrentados com certa veemência…

Deve-se recordar tudo ia acontecendo enquanto se realizavam os trabalhos de elaboração da nova Regra da Ordem, finalmente aprovada em junho de 1978, pautada nos ensinamentos do Vaticano II. Frei Mateus não cabia em si de alegria e de esperança pelo amanhã da Ordem. Um laicato franciscano bem no meio do mundo, vivendo as bem-aventuranças e tudo impregnado de Francisco, o novo evangelizador. Ordem Franciscana no mundo. Ordem Franciscana Secular. Esse Secular era importante.

Houve um tempo em que Frei Mateus foi responsável pela Ação Católica, mais especificamente cuidando da JOC (Juventude Operária Católica, na diocese de Petrópolis. Não é aqui o espaço para dizer da importância da Ação Católica numa Igreja que , nos anos 50, buscava ter um rosto mais laical. Foi certamente uma as correntes precursoras do espírito do Vaticano II. Frei Mateus , de alguma forma, imaginava os terceiros como pessoas no meio do mundo, franciscanamente no meio do mundo, uma ação católica franciscana, como queriam os papas.

Retomo o testemunho da Irmã Celina Braga de Campos: Frei Mateus “buscou todos os meios possíveis e mais apropriados para um crescimento na renovação da vida franciscana e eclesial nas Fraternidades, organizando congressos, encontros, dias de reflexão e cursos. Não se esquecia de valorizar o convívio com outros grupos franciscanos, de modo especial, pedia insistentemente que se acolhesse a juventude franciscana, como a esperança e a segurança do futuro da Ordem Franciscana Secular”.

Não quero me furtar ao dever de lembrar que, durante um ano inteiro (1956) Frei Mateus reuniu três rapazes, todos os domingos, às 5h da tarde, num canto do salão da Casa da Ordem ao lado do Sagrado. Eu mesmo estava incluído entre três. Três sentados em torno de uma mesa. Ele falava. Sem gravuras nem projeção na parede. Contava a epopeia de Francisco de Assis. Relutei em participar desses encontros. Ele me impediam de ir ao Cine Petrópolis ou Capitólio. Francisco de Assis foi penetrando em nossa idade jovem. Ficamos firmes. Antes, bem antes de se falar em JUFRA, nós três constituíamos a JUF (Juventude Franciscana) do Sagrado. Os três começávamos uma paixão por Francisco d Assis.

Foi bom que a Irmã Celina tivesse lembrado que Frei Mateus “pedia que se acolhesse a juventude franciscana”. Sem estruturas pesadas. Rapazes e moças, estudantes, operários, trabalhadores em geral, tocados pelo Evangelho e fascinados por Francisco, desejosos de viver seu espírito. Não em gueto. Sempre ligados à seiva da Ordem Franciscana. Junto com os irmãos OFM e com leigos da OFS. Sem super-estruturas e muita autorreferencialidade. Lamento que a vida não me deu chances de viver a experiência franciscana com jovens junto Frei Mateus tinha toda razão pedindo que se acolhesse a juventude.

Ao concluir estas reflexões uma vez mais tenho que dar graças a Deus po ter colocado no meu caminho a pessoa de Frei Mateus. Com meus mais de oitenta anos não me sinto velho. Há dentro de mim uma tremenda ânsia de viver. Devo isso certamente quando em meus dezessete anos convivi com Frei Mateus e o seu apaixonado amor por São Francisco. Sofro porque sou falho no seguimento de Francisco. Sofro porque falamos muito de Francisco sem termos bebido na fonte que ele bebeu. As aparências podem enganar. Lamento que muitas Fraternidades seculares não tenham conseguido captar a riqueza do carisma e a preciosidade de sua Regra. Espero que lá na glória, bem próximo de São Francisco, Frei Mateus, interceda por nós.

Para terminar quero dar a palavra a Frei Mateus. Em 1978 ele publicou um livro sobre as novas fraternidades franciscanas seculares, ano em que era aprovada a nova Regra da OFS, dita de Paulo VI. Frei Mateus fala a respeito do desconhecimento da “Ordem Terceira” por parte de frades e leigos: “Devemos reconhecer as consequências dessa ignorância para o carisma do Poverello. Ela é responsável pela omissão de tantos religiosos em relação a seus irmãos seculares. Daí resultou enfraquecer-se, por falta do alimento da espiritualidade, a força do testemunho que Francisco confiou aos leigos e que a Igreja espera deles. Por outro lado, a reciprocidade vital, que deve edificar todos os filhos do Seráfico Pai, perdia a contribuição do ramo leigo”.

Espero que lá na glória, bem próximo a São Francisco, Frei Mateus interceda por nós.

Frei Almir Ribeiro Guimarães

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