* 03.04.1922 †24.02.2002
Frei Ildefonso, já nos últimos anos, vinha lutando com dois problemas graves de saúde: artrose na coluna cervical e leucemia. Com os respectivos tratamentos (acupuntura, hidroginástica e quimioterapia) conseguia ainda levar sua vida com relativa normalidade, apesar das dores e a perda da articulação do pescoço. Na quinta-feira, dia 21, pela manhã, ainda trabalhou como de costume, mas já dava sinais de fraqueza pois não estava se alimentando com normalidade. Na tarde deste dia, foi levado a Curitiba, para uma avaliação com seu médico, tendo sido internado no Hospital N. Sra. das Graças. Na sexta-feira seu estado geral piorou: coração fraco e início de pneumonia, tendo sido internato na UTI. No sábado, alertado pelo médico, dada a gravidade de seu estado, o guardião Frei Pedro da Silva e Frei Jaime Spengler foram visitá-lo e administraram a unção dos enfermos. Estava semi-consciente. Na manhã do domingo seu estado permanecia grave. Por volta das 18h20 veio a comunicação de seu falecimento. Levado para Rondinha, a partir das 00h30, seu corpo foi velado na capela. A missa exequial foi celebrada às 16h00 do dia 25, seguindo-se seu sepultamento.
O frade menor
Frei Ary Pintarelli, em conversa com os frades estudantes, destacou dois aspectos marcantes de Frei Ildefonso, nos seus últimos anos: sua alegria e bom humor apesar do constante sofrimento e limitação física; trabalhou até o último momento, antes de sua internação, nas suas pesquisas, aulas, etc. Entre os confrades estudantes de Rondinha sempre foi uma presença boa e amiga. Aliás, é bom recordar que ele foi um dos idealizadores daquela casa, incentivando uma formação franciscana, própria e específica, para o tempo da profissão temporária.
E foi do primeiro grupo de frades formadores na primitiva residência na Aldeia Franciscana, já no final de 1982, participando com entusiasmo desta nova fase da formação na Província. Pediu para retornar a Rondinha, depois de sete anos, como que para concluir sua ‘obra’, lecionando até o final do ano passado.
Pesquisador sério e profundo da história e da espiritualidade franciscanas, multiplicou seu conhecimento ao traduzir, em linguagem acessível, as fontes e a história franciscana. Foi ele quem coordenou a edição do volume São Francisco de Assis – Escritos e biografias – Crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano (Vozes, 1ª edição, 1981). Foram muitos os seus artigos e livros, e o último (análise histórica de documentos franciscanos) foi entregue à Vozes no final de 2001.
A pesquisa e o magistério não fizeram dele um intelectual de gabinete. Frei Ildefonso nunca perdeu a raiz de sua simplicidade. Gostava de dizer que era um “caboclo de Palhoça”! Isso transparecia no seu gosto pelas coisas simples da vida: cuidar dos pássaros, mexer na terra e cultivar suas plantas; sua criação de peixes na lagoa de Rondinha e, nos últimos tempos, descobriu o hobby da culinária, fazendo suas experiências na cozinha. E os confrades, comiam…
Outro traço significativo de sua rica personalidade era o modo como lidava com a crítica histórica dos documentos e fontes: como cientista e técnico, não fazia concessões no método de pesquisa; como frade menor, sabia burilar o essencial na interpretação dos fatos, resgatando o valor primordial das coisas. Certamente, este equilíbrio do bom senso brotava de sua espiritualidade pessoal, cultivada na oração, na palavra de Deus e na eucaristia.
Numa geração de confrades, seus alunos em Petrópolis na década de 70, ficou conhecido como “Costinha”, pela semelhança física com o humorista. Mas, mais do que isso, era seu bom humor e sua alegria que o tornaram alguém estimado por todos; porque Frei Ildefonso conseguiu fazer de sua vida aquela síntese da qual fala S. Francisco no primeiro Elogio das Virtudes: “Salve, rainha sabedoria, o Senhor te guarde por tua santa irmã, a pura simplicidade”! Descanse em paz!
MEMÓRIA DE UM HISTORIADOR
No dia 24 de fevereiro, a Província e a Ordem perdiam um ilustre pesquisador, Frei Ildefonso Silveira.
Relatar a presença fraterna de Frei Ildefonso em nosso meio é difícil: não podemos fazer “florilégios” demasiados, uma vez que temos de respeitar a memória de um historiador que, em suas fontes de estudo, sabiamente empregava uma minuciosa crítica histórica.
Frei Ildefonso sofria de duas graves doenças: leucemia e artrose cervical, que o faziam sofrer muito! Sofrimento que aprendeu a suportar em silêncio, até o fim. E até o fim manteve o seu jeito extrovertido, testemunho de sua felicidade e, acima de tudo, de um frade realizado. Nos últimos dias, a única coisa que ele dizia de seu estado de saúde era: “A minha cabeça está pesada”.
O professor Frei Ildefonso era um querido “velho chato” em suas exigências acadêmicas. Verdade esta constatada pelo fato de que poucos, ou raríssimos estudantes conseguiram um dez na matéria ministrada por ele. Costumava dizer: “Você está contente com isso?”, ou ainda, “Será que não haveria algo a mais a dizer sobre esse texto?” – características próprias de um verdadeiro mestre que queria levar o aluno a dar o máximo de sua capacidade.
Três foram os “xodós” de Frei Ildefonso: sua biblioteca particular (jamais esquecia para quem emprestava um de seus livros), seus cachimbos que davam um odor particular às suas coisas, e seus canários, que ele fazia questão de tratar pessoalmente todos os dias. Nos últimos anos, Frei Ildefonso trabalhou com afinco em pesquisas e auxiliou na tradução de alguns textos das Fontes Franciscanas. Parte de suas pesquisas estão por ser publicadas. Apesar de suas várias obras e de seu conhecimento, Frei Ildefonso era uma pessoa simples em todos os aspectos.
Recordando sua pessoa podemos citar São Boaventura: “A simplicidade é a porta para a sabedoria”. Frades Estudantes 2002
Dados Pessoais e formação
Natural: Palhoça-SC ( 80 anos incompletos)
1936-1943: Seminário São Luiz de Tolosa – Rio Negro-PR
1944: Noviciado – Rodeio-SC (1ª profissão: 21.12.44): 58 anos de vida franciscana
1945-1946: Filosofia, em Curitiba-PR
1947-1951: Teologia, em Petrópolis-RJ (Profissão solene: 21.12.1947)
25/07/1950: ordenação presbiteral (52 anos de sacerdócio)
Estudos de especialização e atividades
1952: Lages – professor e vice-prefeito do Colégio
1953-1957: estudos de especialização em História – Roma
julho-57-1967: Petrópolis-RJ – professor, vice-mestre, vice-reitor, redator Grande Sinal
1968-1973: SP-S.Francisco – Vigário Provincial
1974-julho/76: Petrópolis – professor
agosto/76-jun/77: ano sabático na Itália e Portugal (pesquisa)
julho/77-1982: Petrópolis – professor
1980-junho/81: Definidor provincial (residindo em Petrópolis)
junho/82-1983: SP-São Francisco – Vig. Provincial (em substituição a D. Lino)
1983-1990: Rondinha – professor e vigário da casa
1991-julho/97: Bragança Paulista – IFAN – vigário da casa
1997-2002: Rondinha – professor