*30/04/1935 + 16/08/2016
Frei Wilson faleceu às 10h15 do dia 16 de agosto, no Hospital A. C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, para onde fora transferido de Guaratinguetá, no dia 18 de julho, para tratamento de lesões no cérebro e pulmão. Após exames amplos e criteriosos, e devido ao seu estado geral de saúde, os médicos não optaram pela cirurgia mas pelas sessões de radioterapia. Houve, porém, um agravamento do seu estado na madrugada do dia 13, sábado passado, e ele foi transferido para a UTI, com diagnóstico de pneumonia, coração bastante enfraquecido e pressão arterial muito baixa. No dia 15 à tarde, Frei Mário Tagliari lhe deu a unção dos Enfermos. Frei Wilson estava lúcido, participou, e, na oração do Pai-Nosso, levantou os braços.
O corpo de Frei Wilson foi transladado para Guaratinguetá – Postulantado, onde chegou à meia-noite. Seu sepultamento foi logo depois da Missa de Exéquias, celebrada às 16h30, marcada pela emoção dos confrades da sua fraternidade e dos que acorreram a Guaratinguetá para por ele rezar e a ele prestar homenagem.
O frade menor
Frei Wilson era filho do casal Leonardo e Carlota Arns Steiner, e, nos seus dados biográficos, destacou a “fantástica experiência da vida em família grande onde todos aprendiam a repartir com todos”. Ele ocupava o quarto lugar entre os 16 filhos do casal Steiner, sendo 8 homens e 8 mulheres. Segundo ele, os pais viveram para os filhos, tendo a educação e a religiosidade como fundamentos da vida em família. “O Terço e a Oração pelas Vocações não faltavam em família”, dizia. Foi esse espírito que deu para a Igreja mais dois religiosos: a Irmã Esther (já falecida) e Dom Leonardo Ulrich Steiner, que também escolheu fazer parte de outra grande família: a franciscana.
“A distribuição das tarefas, o cuidado pelos irmãos menores, a coerência dos pais, a dedicação ao trabalho, o espírito de união me marcaram muito”, revelava Frei Wilson, recordando o tempo que em vivia no campo, em Forquilhinha. “O contato com a natureza ainda hoje exerce o impacto de um livro aberto para meditação. Gostava e gosto das noites com banho de lua, das madrugadas de frio quando levantava cedo para arrebanhar as vacas e fazer a ordenha. Tinha loucura por animais, principalmente de montaria. Não perdia uma missa das 6 horas da manhã quando escalado como coroinha nem as adorações do Santíssimo dos domingos à tarde”, recordava.
Dados pessoais: formação, transferências, trabalhosNascimento: 30.04.1935 (81 anos de idade), em Forquilhinha – SC; |
Segundo ele, a vila onde morava era uma grande família. “Domingo, o grande dia do encontro com todos nos horários da missa. Depois as visitas à tarde na casa de algum parente ou conhecido. O café colonial, as tangerinas…”, acrescenta.
São Francisco de Assis entrou em sua vida através dos frades: Frei Félix com seu bom humor, D. Pascásio e Frei Clemente Tambosi. Mas, para ele, a vocação surgiu do cultivo da vivência religiosa em família. “Nunca ninguém sugeriu ou canalizou. Os ouvidos se familiarizaram com os sinos das Ave-Marias chamando para o culto, e a convivência com os frades”. Frei Wilson também lembra que as missões pregadas pelos missionários franciscanos em 1948 ajudaram-no a tomar a decisão de, em 1949, ingressar no Seminário de Rio Negro, onde cursou a primeira série ginasial. Depois seguiu para Agudos, também Seminário Menor, onde ficou até o final do Científico em 1957. “Rio Negro me marcou com as pontas agudas dos seus ciprestes, a gruta e o estilo de castelo do seu prédio”, recordava.
Sua primeira missão ou transferência como religioso franciscano foi Blumenau, como orientador do Colégio Franciscano Santo Antônio. Em 1968 assumiu o cargo de diretor do Colégio. “Entendo cargo como serviço e ser serviço talvez seja o que mais alegria me dá nas coisas que faço”, definia, revelando que era muito empenhado nos compromissos assumidos.
Frei Wilson também se definia como uma pessoa introvertida, tímida e muito emotiva, escondida numa “capa de seriedade”. “Tenho capacidade para escuta, mas preciso fazer um esforço incrível para que não aconteça exatamente o contrário quando as coisas não andam como devem”, dizia, citando grosseria e estupidez como comportamentos inaceitáveis. “Gosto de leitura e música clássica. Abomino grandes concentrações, não gosto de barulho e algazarras de festanças. Divirto-me servindo para que os outros se possam divertir”, confessava.
Não tinha um trabalho preferido, mas sobrava dedicação ao confrade que foi mestre de muitos frades. “A gente acaba gostando das coisas que faz, quando feitas com gosto. Preferência é uma questão de opção e escolha. Servir é a vocação típica do frade menor”, dizia, reforçando que essa era a ideia-força de sua espiritualidade. “Servir a comunidade e fazer das pequenas coisas, também as que não aparecem, momentos de doação”, completava, revelando que se alimentava da
Eucaristia, da Bíblia, dos Escritos de São Francisco e documentos da Igreja. Sobre a formação insistia: “É tarefa para toda a nossa vida. Nunca estamos ‘prontos’, sempre a caminho”.
Seu pensamento sobre a vida franciscana é uma mensagem atualíssima: “Fazer acontecer São Francisco em nosso mundo dividido. Ele que foi capaz de contagiar, graciosamente pela não- violência e pela sua autenticidade na busca do Cristo, no seu tempo. Ser serviço em tudo. A nossa vida religiosa franciscana é fundamentalmente uma experiência do Evangelho. Somos religiosos na escola de Cristo e Francisco”.
R.I.P.