* 02.02.1929 †15.10.2009
Recebemos telefonema de Agudos informando o falecimento de Frei Joel Lorenzetti, ocorrido por volta das 17hs no Hospital de Agudos, onde estava internado desde o dia 30 de setembro, em conseqüência de AVC sofrido dias antes. Tinha 80 anos de idade, 56 anos de vida franciscana e 50 de ministério sacerdotal.
No dia 5 de outubro, Frei Paulo Pereira informou no site do Seminário. “Desde o último dia 30, frei Joel Lorenzetti vive mais um capítulo de dor na construção do seu itinerário de conformação a Jesus Cristo. Na manhã daquela quarta-feira, enquanto era preparado para o banho, sentiu-se mal e teve que ser levado ao hospital. Prontamente atendido, diagnosticou-se Acidente Vascular Cerebral. O AVC paralisou seu lado esquerdo e trouxe dificuldades para deglutição espontânea. Além disso, outros exames constataram, para surpresa de todos, anemia. Isso somado às limitações impostas pelo Alzheimer se configura num quadro bem grave”.
Sua morte ocorre 21 dias depois de Frei Nereu Rampinelli, também em Agudos, e uma semana após a morte de Frei Domiciano Rampinelli, no Rio de Janeiro. Frei Joel é o 10º confrade falecido em 2009. A missa exequial de Frei Joel será celebrada às 16h de hoje, dia 16, na Capela do Seminário Santo Antônio, em Agudos, seguida do sepultamento no jazigo local.
O Frade Menor
Em geral, toda vez que ocorre o falecimento de um confrade, procuro escrever algumas linhas sobre suas características pessoais e, a partir delas, como viveu sua vida franciscana. Tive poucos contatos e convivência com Frei Joel. Nunca vivemos na mesma fraternidade ou regional. O conhecimento que tenho dele é esporádico e baseado nas informações dos que conviveram com ele. Destaco algumas delas.
Fazia parte daquele grupo de frades que, durante um tempo, formavam a Equipe de Missões Populares da nossa Província, ao lado de Frei Silvério Weber, Ceciliano Meurer, Luiz Valmórbida, Belmiro Brondani, Élio Zilio, Paulo Back e outros mais que eu desconheço os nomes. Apenas para lembrar o fato de que, numa época em que os frades não dispunham dos recursos atuais de comunicação, o anúncio do Evangelho era feito a partir dos dons pessoais da voz, do canto, da simpatia e da empatia com o povo, da pregação simples, direta e envolvente. Basta lembrar da força comunicativa de Frei Silvério na Região sul da Província. Dois remanescentes dessa geração ainda estão entre nós: Frei Paulo Back e, de uma maneira muito especial, Frei Policarpo Berri. Enquanto eu iniciava a elaboração desse texto, nossa funcionária Edite Beber, franciscana da cepa de Luzerna e membro da OFS, ao saber da notícia de Frei Joel comentou comigo a recordação dele, durante as Missões Populares, quando ela, ainda menina, na 2ª série do primário, na Escola da Linha Grafunda; da pregação e dos cantos que jamais esqueceu, na voz forte e cheia de vibração.
Aquela Equipe Missionária terminou seu ciclo. Nasceram outras modalidades, talvez mais adequadas aos tempos, mas com menor impacto, talvez pelas novas circunstâncias da sociedade e da própria Igreja. Frei Joel adaptou-se aos tempos assumindo a rotina da evangelização paroquial e urbana, porém, sem abdicar e sem perder aquela mesma força e entusiasmo de antes. Deixou marcas profundas em todos os locais onde viveu.
Ontem, à noite, quando fui pesquisar sua pasta pessoal no arquivo, encontrei duas páginas datilografadas por ele, no dia 02.02.2002, seu aniversário quando completava 73 anos idade, portanto há sete anos. O texto tinha como título “Projeto de Vida Pessoal de Frei Joel Lorenzetti”. Na medida em que fui lendo o seu projeto, me emocionei às lágrimas, refletindo no fato de que, sete anos antes de sua morte, ainda sem o sofrimento e as limitações que viriam com o mal de Alzheimer, ele tinha uma lucidez, uma consciência e vitalidade extraordinárias acerca do próprio dom de sua vida e vocação.
Pensei, sobretudo, no “projeto de Frei Joel” (de 2002) à luz daquilo que o Capítulo Geral da Ordem (em 2009) recordou: “a necessidade de que as fraternidades e as entidades entrem na cultura do projeto fraterno de vida e missão… a necessidade de integrar o conjunto de nossa vida e de estabelecer nela os critérios que direcionem nossas decisões”, porque “a vida tocada pelo dinamismo do Evangelho converte-se em paixão transbordante pelo Reino. É preciso dar forma à vida para não perder os frutos daquilo que o Senhor semeou” (Mensagem Final, n. 28). Frei Joel, enfermo, estava em sintonia com a Ordem, mesmo que para os demais seu estado fosse o de uma aparente ausência.
Frei Joel me fez refletir também sobre aquilo que a mesma Mensagem chama de “fantasia evangélica de Francisco, ao anunciar o Evangelho da paz, no modo como que ele consegue pacificar o Bispo e o Prefeito de Assis, inimigos ente si. Convida-os simplesmente a escutarem o Cântico, cujas letra e música ele havia composto. Sua fantasia lhe sugere o modo de ajudá-los a resolver suas contendas, a partir do próprio dom. O que há de mais eficaz do que a música e o canto para tocar os afetos e falar ao coração?” (n. 7).
A sua morte me fez concluir que, no ano em que a Ordem celebra os oito séculos da aprovação da Regra e o Capítulo Geral indica a restituição do dom do Evangelho, como caminho da Evangelização, para muitos frades, entre eles Frei Joel, essa recomendação soa como “chover no molhado”! Na realidade, são eles a convocar a Ordem, a cada um de nós, a Província, porque “a vida tocada pelo dinamismo do Evangelho converte-se em paixão transbordante pelo Reino” .
Transcrevo alguns trechos do citado “Projeto de vida pessoal” de Frei Joel Lorenzetti, porque acredito que é um texto nos moldes de um testamento. Nas vésperas do nosso Capítulo Provincial, a força das suas palavras adquirem um significado extraordinariamente fecundo e questionador, exatamente porque todos nós, os que ficamos, temos que nos ‘medir’ e nos confrontar com o nosso projeto pessoal de vida, buscando descobrir e recuperar daquele “dinamismo do Evangelho que converte-se em paixão transbordante pelo Reino”. Do contrário a sua vida e a de todos os demais que nos antecederam teriam sido em vão.
• Minha opção da juventude, renova-se a cada ano. Cada momento, uma resposta diferente. Sei que sem projeto, uma pessoa não tem presente e será um “caniço agitado pelo vento”. E não tem futuro, pois está à mercê daquilo que o obrigam a fazer. Sou um ser histórico que deseja realizar-se teológica e franciscanamente. Teologicamente, sabemos que a vocação não se responde de uma vez por todas. É algo que se deve renovar constantemente. A resposta à vocação exige que se viva em constante atitude de discernimento: Senhor, o que queres que eu faça?
• Do ponto de vista franciscano, um Projeto de Vida Pessoal nos obriga a ser itinerantes e não mais nos sentirmos instalados. Obriga-nos a permanecer sempre numa dinâmica de crescimento, e entender a vida como um processo; a caminhar e a começar sempre de novo: Irmãos, comecemos!
• Nosso caminhar deve ser a partir da verdade sobre si mesmo, e crer que esse caminhar, essa estrada é indicada por Deus para mim. Importa responder as três perguntas: Quem sou eu? O que quero ser? O que Deus quer de mim? Neste exame devo manter uma vontade firme de viver em permanente atitude de discernimento e de itinerância. Abertura incondicional ao Espírito Santo, que é capaz de iluminar o mais recôndito ângulo de minha existência e, levar-me por caminhos desconhecidos e “descobertas” em mim mesmo. Por isso, o Projeto de Vida Pessoal não é outra coisa senão a coragem de tomar a vida nas próprias mãos, para fazer de nós mesmos uma pessoa.
• Toda pessoa sente o chamado à plenitude (eu diria santidade). Ter um projeto é parte constitutiva do ser humano. Toda a vida é projeto. O Projeto Pessoal nos leva a permanecermos sempre vivos… A aceitação ou reconciliação com a própria história nos impele a viver a nossa vocação com mais autenticidade. Não basta traçar estratégias de meditação e programar exercícios e tarefas, por mais importantes que sejam. É um chamado à conversão, a viver o Evangelho a partir de minha realidade concreta.
• A cada momento o Projeto de Vida Pessoal é uma mediação útil, a partir do momento em que eu me pergunto conscientemente: Quem sou eu? O que quero ser? Na medida do aprofundamento da grande opção de viver o santo Evangelho, com o auxílio da Regra e das Constituições Gerais, atento aos documentos da Igreja, descobrir valores que plenificam a vida e nos realizam como ser humano.
Descobrir a escala de valores e organizá-los corretamente, tanto no que se refere à vida fraterna como à vida pessoal. Qual deve ser o Objetivo Geral do projeto? É seu eixo central. Refere-se ao modo de pensar, sentir, amar, relacionar-se, conduzir-se e agir. É a prioridade do projeto. Os objetivos são sempre valores, atitudes. Poucos e essenciais, que comprometam toda a existência. Não é mera revisão “do que” se faz, mas sobretudo o “como” se faz.
Frei Regis Daher
Dados Pessoais e Formação Franciscana
• 02.02.1929 – Nascimento, em Três Arroios, RS (80 anos de idade).
•1944 – Ingresso no Seminário São João Batista, Luzerna, SC e nos anos seguintes, Seminário São Luiz, em Rio Negro, PR e Seminário Santo Antônio, em Agudos, até o final de 1952.
• 04.01.1953 – Admissão (vestição) ao Noviciado Franciscano, Rodeio, SC (56 anos de vida franciscana).
• 05.01.1954 – Primeira Profissão religiosa dos votos temporários, ao término do Noviciado.
• 1954-1955 – Estudos de Filosofia e Formação Franciscana, Curitiba, PR.
• 1956-1959 – Estudos de Teologia, em Petrópolis, RJ.
• 05.01.1957 – Profissão solene dos votos perpétuos na Ordem Franciscana.
• 16.12.1957 – Ordenação diaconal, Petrópolis.
• 03.01.1959 – Ordenação presbiteral, em Petrópolis (50 anos de ministério sacerdotal).
• 1960 – Estágio pastoral, Convento Santo Antônio, Rio de Janeiro, RJ.
• 1961-1963 – Vigário paroquial, em Duque de Caxias, RJ.
• 1964-1970 – Equipe de Missões Populares, residindo em Florianópolis (1964), em Lages (1965), em Luzerna (1966-1970).
• 1971-1976 – Vigário paroquial, em Xaxim, SC.
• 1977-1979 – Guardião e Pároco, em Concórdia, SC.
• 1980-1985 – Guardião e Pároco, em Ituporanga, SC.
• 1986-1988 – Vigário paroquial, em Curitibanos, SC.
• 1989-1990 – Guardião e Pároco, em Pinhão, PR.
• 1991-1993 – A serviço da Custódia Franciscana das Sete Alegrias, Campo Grande, MS.
• 1994 – Vigário paroquial, em Santo Amaro da Imperatriz, SC.
• 1995-1997 – Vigário paroquial, em Pato Branco, PR.
• 1998-2003 – Guardião e Pároco, em Angelina, SC.
• 2004-2009 – Tratamento de saúde, Agudos, SP