* 19/11/1953 + 31/01/2014
Frei Jurandir Cristofolini faleceu, às 20h15, do dia 31 de janeiro último, em Bragança Paulista.
Seu corpo foi velado na Fraternidade de Bragança Paulista e, no dia seguinte, por volta das 11h00, foi transladado para São Paulo, onde, às 14h00, no Cemitério do Santíssimo Sacramento, foi celebrada a Missa de Exéquias, antes do sepultamento.
Frei Régis Daher, em um boletim enviado aos frades, detalhou o estado de saúde antes de seu falecimento. “Nos últimos dias, Frei Jurandir estava bastante inquieto, sensível, devido ao calor intenso deste tórrido verão. Gemidos constantes e gritos chamaram a atenção da enfermagem e dos confrades. Na sexta-feira, dia 24, foi chamada a médica da casa Dra. Ângela Izzo. Fez a ausculta e o pulmão estava limpo. Constatou, porém, uma distensão (inchaço) do abdômen. Solicitou uma lavagem intestinal que, no entanto, teve pouco resultado. Suspendeu o sulfato ferroso e pediu que ficasse em observação. Passado o final de semana sem melhora no quadro, na tarde da segunda-feira, dia 27, foi levado ao Hospital HUSF e foi avaliado pelo médico cirurgião Dr. Jacinto Soares Souza Lima Jr (gastro). Solicitou exame de sangue, de urina e RX. Constatou-se início de pneumonia. Ante o risco de contrair infecção hospitalar mais grave, retornou para casa com a prescrição de antibiótico. Na terça-feira não houve melhora, apresentando palidez e febre. Na manhã da quarta-feira, novamente foi levado ao HUSF, tendo sido atendido por Dr. Rodolfo Melari que solicitou novos exames (sangue, urina, RX, eletrocardiograma, ultrassom e tomografia). Os exames acusaram derrame pleural, hemoglobina baixa e hipotassemia (potássio baixo). A partir desses resultados o tratamento consistiu na reposição de potássio, transfusão sanguínea e novos antibióticos. Pela evolução do quadro, foi feita uma drenagem do tórax. O tratamento, contudo, não reverteu o quadro crítico de Frei Jurandir.
O FRADE MENOR FREI JURA
Em carta de 1º de outubro de 1973, dirigida ao então Ministro Provincial Frei Walter Kempf, pedindo para receber o hábito franciscano, ao iniciar o Noviciado em Rodeio, Frei Jurandir, bem ao final, escreve: “Não tenho certeza absoluta que vou ser padre franciscano, mas, no momento, quero pedir ao senhor a permissão para me tornar um religioso franciscano. Chegou a hora de dar um passo bastante importante. Entre a vida secular e religiosa eu optei por esta. Sei que não é um barco que está afundando – isso o senhor nos disse certa ocasião -, e assim eu peço para ajudar a remar”.
Hoje Frei Jura não rema mais no barco da Vida Franciscana entre nós. Mergulhou no mar infinito do amor de Deus. Mas o passo que ele deu ao ingressar no Noviciado foi de fato muito importante. Nestes anos todos, ele nos ajudou a remar o barco de nossa vida, como irmão, como amigo. Certamente, o jovem Jurandir não poderia imaginar que as águas dos seus últimos 7 anos de vida seriam remadas numa cama de hospital, sem praticamente comunicação alguma, sem fala, sem gestos, porém, com muitos períodos de gritos, de dores e desconfortos.
Pensando no que São Paulo nos ensina ao afirmar que “completamos em nossa carne o que falta aos sofrimentos de Cristo” temos necessariamente que reconhecer o quanto Frei Jura participou desse sofrimento, e se a morte de Jesus foi vicária, o calvário de Frei Jura também o foi para nós.
Frei Jura caprichou bastante ao escrever o seu Curriculum Vitae, e fez o que não era muito de seu feitio: falar de si mesmo, mas o fez com precisão impressionante:
“Não há muito a dizer de mim mesmo. Eu me sinto uma pessoa de poucas palavras, mas direto e sincero no que digo e faço. Gostaria que a vida e a convivência fosse a festa de todos os dias, marcado pelas exigências e necessidades diárias e comuns, onde as pessoas fossem convivendo sem que fosse necessária a criação do artificial que nos desse a sensação de que somos irmãos. Gosto de ordem e evidência no que faço. Sou um tanto metódico na maneira de trabalhar e organizar o meu dia. Não gosto, de maneira geral, do improviso. Em relação às pessoas, sou daqueles que me aproximo devagar, aos poucos. Da mesma forma como não permito que me invadam num primeiro encontro. Existe, sim, um bocado de timidez, certa insegurança. Demoro a me sentir em casa, quando longe da minha. Na verdade, acho que sou de uma casa só. Sempre gostei de estar em casa. Viajar é sempre um sofrimento”.
Aos quarenta e cinco anos de idade, referindo-se ao trabalho, Frei Jura afirma ter dificuldade em comentar sobre isso. “Olhando para trás, não vejo qualquer coisa a destacar como marcante. Terei vivido tão mediocramente que não sobre nada até aqui? Possivelmente minha vida seja marcada pela busca de todos os dias pelo que está por vir, pelo que está à frente, pelo que está por ser alcançado. O dia que passou, a conquista realizada, padecem da injustiça de serem passado. É evidente que hoje sou tudo o que consegui realizar até aqui. Mas tudo de tal forma integrado que a luz recai sempre no que sou. E o que sou tem sempre presente o que posso vir a ser. (…) Dos trabalhos e atividades realizadas até aqui posso dizer que toda transferência, até agora, me fez sofrer muito. Sofri em todas elas por ter que deixar uma casa, confrades, trabalho e pessoas de quem eu gostava. É bom poder dizer que se têm saudades do Pari, de Ituporanga, de Rondinha e de Agudos”.
Embora tímido e geralmente reservado, Frei Jurandir revela o quanto era importante para ele a fraternidade, e o que dela esperava como ideal. “Para mim a vida religiosa franciscana deveria gerar irmãos com uma qualidade tal que o conviver viesse a se transformar na grande alegria dos confrades”.
Nos últimos anos, tivemos uma presença diferente de Frei Jurandir entre nós. Não aquela que estávamos acostumados a ter, e de que temos saudades: aquela de remar juntos na simplicidade do dia a dia, do trabalho e das alegrias corriqueiras. Mas, ela era eloquente, questionadora sobre a vida e seu sentido. Mergulhado em Deus, ele possa interceder pelo nosso barco e pelas forças de que precisamos para continuar remando. E que a plenitude do mar seja toda sua paz e alegria!
Dados pessoais, formação e atividades
Nascimento: 19/11/1953 (60 anos de idade), em Rodeio;
Admissão ao Noviciado: 20.01.1974, em Rodeio, SC;
Primeira Profissão: 20.01.1975;
Profissão Solene: 02.08.1978;
Ordenação Presbiteral: 15.01.1980;
12.12.1980 – São Paulo – Pari – vigário cooperador;
29.08.1981 – Ituporanga – seminário – professor e orientador;
21.01.1989 – Rondinha – vice-mestre;
18.01.1992 – guardião e vice-reitor do Instituto de Filosofia;
10.01.1995 – Agudos – guardião;
21.09.1997 – eleito Definidor Provincial;
30.11.1997 – São Paulo – Provincialado – ecônomo, secretário do Secretariado da Administração dos Bens;
16.09.2000 – eleito Vigário Provincial;
20.09.2003 – reeleito Definidor Provincial;
07.11.2003 – São Paulo – Vila Clementino – guardião, ecônomo provincial e Secretário do Seabens;
04.08.2005 – Presidente da Casa Nossa Senhora da Paz;
28.09.2006 – sofreu parada cardíaca e AVC isquêmico, com graves sequelas;
25.11.2008 – Bragança Paulista – para cuidados constantes de enfermagem.
R.I.P.
Frei Walter de Carvalho Júnior