* 28/10/1936 + 01/03/2014
Faleceu no dia 1º de março de 2014 nosso confrade Eckart Höfling, às 7h25 (3h25, horário de Frankfurt na Alemanha). Frei Eckart estava internado na UTI do Hospital Universitário de Frankfurt. Foi vítima de várias paradas cardíacas durante o tratamento contra um câncer na bexiga. Anos atrás, Frei Eckart já tinha sofrido um infarto.
Frei Eckart nasceu no dia 28 de outubro de 1936 em Langenprozelten, na Alemanha. Foi auxiliar de escritório no Fórum da sua região quando sentiu o chamado para a vida religiosa e sacerdotal. Preparou-se no nosso convento de Garnstock, Bélgica, para sua vinda ao Brasil. Juntou com seus colegas de turma embarcou no fim do ano de 1959, já com 23 anos de idade. Fez o último ano do segundo grau em Agudos e, no dia 19.12.1960 foi admitido ao noviciado e recebeu o hábito franciscano. Sua primeira profissão foi no dia 20.12.1961 e a profissão solene, no dia 12.02.1965. Durante os anos de estudo foi muito ativo como escoteiro e, em Petrópolis, durante o estudo da Teologia, foi a mão direita do guardião de então para a adaptação da igreja do Sagrado ao novo espírito do Concílio Vaticano II. Neste tempo nasceu e se intensificou sua paixão pela Baixada Fluminense. Em Nilópolis, paróquia de N. Sra. da Conceição, tornou-se, em “fins de semana prolongados” grande colaborador do Frei Ático Francisco Eyng. Frei Ático tinha fundado aí a Congregação das Irmãs Paroquiais de São Francisco no dia 8.12.1953. Frei Eckart tornou-se quase “co-fundador” da Congregação de irmãs. Mesmo quando surgiram dificuldades entre o Frei Ático e o Bispo Diocesano de Nova Iguaçu, Dom Adriano Hipólito, OFM, resultando na transferência das irmãs para São Paulo (continuando sempre de direito diocesano), Frei Eckart as acompanhou com muito zelo e dedicação, como podemos ver na mensagem enviada pela ex-irmã Geral Sylvia Eyng: “Sem a mão condutora da Província Franciscana, na pessoa do Frei Eckart, não sei como teríamos superado tantas e inúmeras dificuldades… O Eckart foi muito mais do que um orientador espiritual, ele foi um amigo e irmão que se preocupava muito com o rumo e futuro da Congregação; ele indicava caminhos e despertou em nós a necessidade de buscarmos e oferecermos ao grupo uma formação educacional e religiosa para um desempenho mais satisfatório de nosso trabalho pastoral. E além disso tudo, nos orientava na parte financeira…”.
Frei Eckart fez parte da primeira turma de estudantes alemães que, no clima da primavera conciliar, puderam voltar para sua terra natal e celebrar a ordenação sacerdotal junto aos seus familiares. Frei Eckart e Frei Willy Gärtner (colega de turma) foram então ordenados sacerdotes no dia 8.12.1966, em Würzburg, pelo Bispo José Stangel. No ano de 1967 terminou os estudos de Teologia e sua primeira transferência foi para Nilópolis, N. Sra. da Conceição. Com a transferência das Irmãs Paroquiais para São Paulo, Frei Eckart também foi transferido no dia 31.12.1969 para São Paulo, inicialmente para o convento de Santo Antônio do Pari e depois para o convento de São Francisco, no centro.
Durante o ano de 1971 frequentou o curso de espiritualidade franciscana, que na época era chamado CEFEPAL, em Petrópolis. E lá nasceu sua “segunda paixão”. Durante muitos anos acompanhou muitos irmãos e irmãs da Família Franciscana como diretor do curso do CEFEPAL. A Família Franciscana do Brasil muito deve ao seu empenho e dedicação. Muitas viagens o levaram à Europa, batendo às portas das Províncias e Congregações Franciscanas, esmolando dinheiro para criar o Centro Franciscano da Família Franciscana no Brasil.
A partir do dia 07.11.1984, a convite do então ministro provincial, Frei Basílio, se transferiu para a cúria provincial em São Paulo, convento de São Francisco, centro, para assumir o trabalho de auxiliar no economato da Província. Sua primeira tarefa foi principalmente a organização do arquivo provincial dos bens patrimoniais. Diga-se de passagem: organizar arquivos, pastas e documentos era o seu forte. Certamente uma herança de sua profissão antes de entrar na Ordem. Quem não se lembra do Frei Eckart, batendo às portas das nossas casas – não poucas vezes numa hora inesperada – acompanhado por sua maleta cheia de documentos? A segunda tarefa já foi mais espinhosa: regularizar os documentos referentes ao nosso patrimônio. Trabalho seco, árduo, cansativo… mas a persistência de Frei Eckart vencia todas as barreiras. Neste particular a nossa Província deve muito a ele. Lembro-me de dois casos bastante trabalhosos: O santuário da Penha em Vila Velha, registrado em nome de “capuchos” e o patrimônio de Blumenau, registrado no nome pessoal do primeiro provincial da Província restaurada, Frei Herculano Limpinsel (situação delicada porque mais tarde deixou a Ordem e constituiu família). Pode-se dizer que esta foi a “terceira paixão” de Frei Eckart.
Em 1987, o cardeal Dom Eugênio Sales, arcebispo do Rio de Janeiro, primeiro e último responsável pelos bens considerados eclesiásticos, preocupado com a situação de falência do hospital da VOT, pediu ao então ministro provincial a liberação de um frade competente para assumir o papel de interventor. O Definitório Provincial liberou então o Frei Eckart para assumir esta gigantesca tarefa. Em 13.02.1987 Frei Eckart então assumiu o que seria logo logo sua “quarta paixão”. Nos primeiros anos, a administração prometia gradativa solução para os graves e inúmeros problemas. Frei Eckart em momento algum se poupava. Não sem consequências. Cada vez mais o “irmão corpo” emitia sinais de alerta, que eram simplesmente ignorados pelo confrade. Sofreu infarto, mas isto não o impressionou ou diminuiu seu empenho. Nos últimos anos, os problemas e desafios se avolumaram e parece que já não tinha mais a visão de tudo. Para de certo modo complicar as coisas, criou uma série de obras sociais, transferindo recursos para cá e para lá. Bem-intencionado e pensando unicamente nos outros, não obteve sucesso. A montanha de dívidas crescia cada vez mais e, por fim, se tornou tão gigantesca que o novo arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, pediu ao confrade para deixar a direção e entregar a obra à Congregação de São Francisco na Providência de Deus, especializada em administração hospitalar. O Definitório Provincial se mostrou de acordo por que a saúde do confrade, a olhos vistos, estava se deteriorando cada vez mais. No início de 2011, Frei Eckart deixou a direção da VOT.
A “paixão” pelo Cristo e, consequentemente, o empenho em dar a vida pelos outros foi certamente o grande “leitmotiv” da vida e da ação do Frei Eckart. E também ele teve que experimentar em sua vida, já com mais de 70 anos de idade e mais de 50 anos no Brasil, o que dizia Jesus aos seus discípulos: “O discípulo não está acima do mestre. Se o mestre sofreu, o discípulo também sofrerá.” Esta verdade que fez parte de toda a sua vida no seguimento do Cristo pobre e crucificado desdobrar-se-ia – como se abre uma rosa espalhando perfume e beleza – nos últimos meses de sua vida entre nós.
Em maio de 2011 – enfim acolhendo o insistente pedido do Definitório Provincial – viajou para Alemanha para tratar exclusivamente de sua saúde. Mal chegou e já ficou internado: diabete, pressão alta, dores no joelho etc. Houve repetidas internações em hospitais. A fraternidade franciscana do convento de Grosskrotzenburg, próximo do lugar onde nasceu e passou a infância e juventude, o acolheu e acompanhou de modo muito fraterno nestes momentos difíceis. Começaria a “quinta paixão”, a conformidade cada vez mais visível ao Cristo morto na cruz. Por último, apareceu um tumor na bexiga, difícil de ser extirpado. Em várias tentativas de tirar ao menos parte do tumor, sofreu paradas cardíacas. Enfim conseguiram tirar boa parte, mas Frei Eckart já estava passando pela grande paixão de sua vida, unindo-se na morte ao Cristo que venceu todos os males e que vive ressuscitado para sempre.
No dia 7 de março, muitos amigos e benfeitores o acompanharam na “missa da ressurreição” e no enterro no mausoléu dos frades franciscanos do convento de Grosskrotzenburg. Foi expressamente a pedido do confrade que lá foi devolvido à terra o que é da terra e ao Senhor da vida o que é dele para sempre, juntando-se aos colegas de turma, Frei Willy Gärtner, Frei Ivo Theiss e Frei Augusto Koenig.
RIP
Frei Estêvão Ottenbreit