Roma, Basílica de Aracoeli, 06.01.2011
PÔR-SE A CAMINHO
Is 60, 1-6;
Sal 71;
Ef 3, 2-3. 5-6;
Mt 2, 1-12
Queridos, que o Senhor lhes dê a paz!
Sejam bem-vindos a esta solene celebração da Epifania do Senhor, nesta Basílica de Aracoeli, tão ligada à história de Roma e da Ordem dos Frades Menores. Saúdo respeitosa e fraternalmente ao Cardeal Titular desta Basílica, Sua Eminência Reverendíssima Cardeal Salvatore De Giorgi, assim como o Honorável Gianni Alemanno, prefeito de nossa cidade de Roma. Saúdo fraternalmente a todos vocês, queridos amigos, que perpetuando esta antiga tradição romana, vieram hoje para adorar o Menino de Aracoeli. Finalmente, um abraço especial a todas as crianças aqui presentes. Oxalá esta ocasião seja o início do encontro com Aquele que vem para salvar-nos e deseja estabelecer sua morada em cada homem e mulher. Que o Menino de Belém, como gostava de chamá-Lo o Seráfico Pai São Francisco, os cumule com todas as bênçãos no ano de 2011, apenas iniciado.
Com a Epifania chegamos a um momento importante das festas natalinas, celebrações que se concluirão no próximo domingo com a festa do Batismo do Senhor. O Senhor que na noite de Natal se manifestou ao povo de Israel na pessoa dos pastores, hoje se manifesta aos gentios, graças aos Magos do Oriente. Desta forma, Jesus, como o anjo o havia chamado antes de sua concepção no seio virginal de Maria, sua mãe (cf. Lc 2,21); o Salvador, conforme anunciado aos pastores quando estavam no campo, guardando o seu rebanho (cf. . Lc 2, 8.11); manifesta-se tanto aos próximos como aos distantes (cf. Ef 2,17). Precisamente as festas do Natal, nos anunciam esta boa notícia: também aqueles que estavam excluídos do direito de cidadania em Israel, peregrinos e forasteiros à aliança prometida (Ef 2,12), agora se tornam próximos, pois a ninguém é fechada a possibilidade de ser salvo. Se todos havíamos pecado e estávamos sob o domínio do pecado, agora, se manifestou a justiça de Deus que, pela fé em Cristo Jesus, justifica tanto judeus como pagãos (cf. Rm 1.2.3). A partir de então, também os gentios foram chamados, em Cristo Jesus, para participar da mesma herança, a formar parte do mesmo corpo e a participar das promessas, por meio do Evangelho (cf. Ef 3,6). A todos, judeus e pagãos, dirige-se o convite do profeta Isaías: “Levanta-te, resplandece, porque chegou a tua luz e a glória do Senhor brilha sobre ti” (Is 60,1). Em Cristo Jesus, de fato, todos nós fomos abençoados (cf. Ef 1,3). Assim, atinge o seu cume, o caminho de Deus para o homem e do homem para Deus; um caminho de busca e de encontro recíproco.
A busca por parte de Deus em relação ao homem, começa quando o homem decide romper os laços de amizade com o Criador, no momento do pecado: “Adão, onde estás?” (Gen. 3,9). Deus, amando com amor eterno (cf. Jr 31,3) não quer a separação do homem, mas a sua amizade, e é por isto que o procura. A esta vontade divina, o homem não corresponde imediatamente. Mas Deus não deixa de buscar o homem; de muitas formas e de diferentes maneiras, por meio dos profetas (cf. Heb 1,1), faz ouvir seu chamado de amor: “Vinde a mim de todo coração” e assim “serão o meu povo e eu serei o vosso Deus”. E ainda não satisfeito em apenas expressar seu desejo, “quando se completou o tempo estabelecido, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar filhos adotivos” (Gl 4:4-5). No Emanuel, Deus conosco, Deus se encontra definitivamente com o homem.
Por sua vez, o homem, como diz o salmista, nunca esquece o profundo desejo de encontrar-se novamente com o seu Criador: “Minha alma tem sede de ti!” Como expressa, um dos maiores buscadores de Deus, Santo Agostinho: “o homem, que foi criado por Deus, não encontrará a paz, senão descansando nEle”. Este encontro do homem com Deus e de Deus com o homem, acontece na pessoa de Jesus, o Verbo feito homem (cf. Jo 1,14). Contemplando este mistério de amor, compreendemos quanta razão tinha o Apóstolo ao afirmar que somos queridos por Deus, ou com outras palavras, amados por Deus (cf. 1 Jo 5.14), até ao ponto de converter-nos em seus próprios filhos (cf. Jo 1.12).
Neste ponto, é necessário tomar consciência de uma coisa: enquanto o desejo de Deus em encontrar o homem não diminui jamais, o desejo do homem de encontrar a Deus pode enfraquecer. Recorda-nos o prólogo do Evangelho de João que ouvimos no dia de Natal: “A luz brilha nas trevas e as trevas não a perceberam (…). Ela estava no mundo e o mundo foi feito por ela, e o mundo não a conheceu. Veio para os seus, e os Seus não a receberam”. (Jo 1,5.10-11). Recorda também a página do Evangelho desta celebração. Junto aos Magos, que se põem a caminho para encontrar e adorar “o Rei dos judeus que acaba de nascer”, está Herodes, perplexo e “com ele toda Jerusalém” (Mt 2:2-3). Esta é a nossa grande responsabilidade: diante de um Deus que está constantemente à procura do homem, podemos abrir nosso coração, nossa casa para acolhê-lo, ou podemos rejeitá-lo, como fizeram os habitantes de Belém, quando José e Maria subiram a cidade de Davi, para inscrever-se ao recenseamento ordenado por César Augusto (Lc 2.7).
Queridos irmãos e irmãs, também para nós chegou o momento de procurar sinceramente a Jesus, como os pastores, que se puseram a caminho sem hesitação (cf. Lc 2,16); como os Magos, que enfrentaram dificuldades para chegar ao recém-nascido e adorá-lo (cf. Mt 2, 2); como tantos homens e mulheres de todos os tempos que, encontrando Jesus, abrem-lhe o cofre de seu coração e doam-se totalmente Àquele, que livrará o pobre que suplica e ao humilde que está desamparado. Terá compaixão dos fracos e dos pobres e salvará a vida dos indigentes (cf. Sl 72).
Também nós, que o conhecemos pela fé (cf. Coleta), somos chamados, como os Magos, a pormo-nos a caminho para encontrá-lo constantemente, assumindo o cansaço do caminho – o caminho da fé não é fácil para ninguém, – é um caminho cheio de fascínio e temores, de desejos e dúvidas, de esperanças e incertezas, sob a orientação de uma estrela que aparece e desaparece. Se permanecermos imóveis, seremos como Herodes, que quer matá-lo, ou como os escribas e sacerdotes, cujo saber serve apenas para ajudar com as suas indicações a quem o quer matar. Afirma S. Agostinho: “a alma está mais presente onde ama do que no próprio corpo”. O caminho dos Magos é o caminho do amor, que, através da busca, da inteligência, da revelação, da alegria e da adoração, alcança o dom de si mesmo.
A Epifania é também a festa da missão universal. Quem encontra o Senhor não o pode guardar para si. Sua vida muda. Após o encontro com o “rei dos judeus”, os Magos voltaram por outro caminho (cf. Mt 1,12), sinal de sua conversão interior, que os leva a explorar caminhos novos, porque são pessoas novas. Como no caso dos Magos, também a nossa vida mudará com o encontro com Jesus e seremos capazes de tomar outros caminhos, dando testemunho do que vimos com nossos olhos, tocamos com nossas mãos, daquilo que ouvimos (cf. 1 Jo 1, 1-2). A Epifania mostra-nos este itinerário missionário:
• ver a estrela, para isto é necessário estar na disposição de busca como mendicantes de sentido;
• pôr-se a caminho com coragem, sem medo das dificuldades que possam surgir;
• deixar que nosso coração se encha de alegria, pois é necessário ter sede de plenitude;
• abrir nossos cofres, que Mateus são nossos corações (cf. Mt 6,21), para oferecer ao Senhor o que temos (ouro), nossos desejos (incenso) e as nossas necessidades (mirra), isto é, para oferecer-lhe o que somos e o que temos. É assim que Deus nasce no homem e o homem em Deus;
• testemunhar com a vida e com nossas palavras, que só Ele é o Salvador, Aquele que apascentará a todos os povos da terra (cf. 5.1).
Irmãos e irmãs perguntemo-nos:
• Estamos dispostos a pormo-nos a caminho para encontrar também nós, o Rei dos Judeus, assumindo as atitudes próprias daqueles que se põem a caminho, despojando-nos de nós mesmos, não temendo nenhuma dificuldade, acolhendo a novidade do Senhor?
• Que estrelas vejo em minha vida?
• Como posso ser estrela para os outros?
Fr. José Rodríguez Carballo, ofm
Ministro geral OFM
Tradução: Irmãs Clarissas da Federação da Sagrada Família