* 02/09/1922 + 30/12/2016
Comunicamos o falecimento de Frei João Batista, que o Senhor chamou a si na tarde de hoje, às 16h00, em Bragança Paulista.
No dia 13 deste mês, Frei Carlos Körber, guardião, informara sobre o estado de saúde de Frei João, que no dia 5 havia celebrado seus 75 anos de vida consagrada franciscana.
O corpo de Frei João Batista será velado na Fraternidade São Francisco, de Bragança Paulista, de onde será transladado amanhã (31.12) para o Cemitério do Santíssimo Sacramento, em São Paulo. A missa de exéquias, na capela do cemitério, será às 15h00, seguida do sepultamento.
Na última frase da ficha autobiográfica, assinada por Frei João em julho de 1982, ele afirma que “o Religioso morre, mas a Vida Religiosa Franciscana perdura”. Nós, que damos prosseguimento a esta Vida, guardemos a memória deste confrade fiel e dedicado, e procuremos, ao recomendá-lo ao Senhor, seguir seu exemplo de vida simples e operosa.
R.I.P.
Um frade paulista com traços
mineiros e germânicos
Frei Gustavo Medella
Dados pessoais: formação,
|
Frei João Batista nasceu no interior de São Paulo. No entanto, pelo que pude perceber nos anos em que convivi com ele em Petrópolis – no Convento do Sagrado Coração de Jesus –, em São Paulo, no Largo São Francisco –, embora paulista de nascimento, sua personalidade apresentava cores muito fortes nos traços da discrição mineira, às vezes até da desconfiança, e da precisão germânica.
Os traços das Minas Gerais talvez sejam fruto da proximidade de sua cidade natal à terra da Inconfidência. Frei João, extremamente tímido, “dava uma boiada” para não estar em evidência. Sempre discreto, não apreciava muito que dele se falasse em público. Também não era de muitas palavras, embora no contato direto, uma vez que o interlocutor lhe tivesse conquistado a simpatia, mostrava um fino senso de humor e gostava muito de recordar as histórias pitorescas vivenciadas nas fraternidades por onde passou. Lembrava-se com bastante gosto dos confrades com quem convivera no passado e também às vezes se queixava de alguns espinhos que encontrara na convivência fraterna. Nada que lhe tirasse o sono. Também tinha apreço pelo silêncio. Gostava de leitura e possuía um conhecimento geral amplo e sólido.
A influência no modo se ser alemão certamente tenha sido um legado de sua convivência desde o ingresso na Vida Franciscana, em Rio Negro, com diversos confrades de origem germânica. Percebia-se em Frei João um carinho especial pela língua alemã, manifesto no esforço que fazia para pronunciar com precisão os sobrenomes repletos de consoantes e também os ditos e passagens que conhecia. Também chamavam a atenção sua absoluta pontualidade, um profundo senso de organização e um raciocínio lógico e matemático que saltava aos olhos diante de sua habilidade nas partidas de xadrez que gostava de disputar com os confrades. Quase nunca perdia.
A lucidez também foi uma de suas marcas. Temia demais perdê-la e, diante das limitações próprias da idade, possuía certa tendência à negatividade, considerando que o declínio da audição e da visão, as dificuldades com o equilíbrio, os acessos de tosse e outros achaques próprios do avançar da idade indicavam que ele estaria próximo do fim. No entanto, mesmo com todos os limites, Frei João teve a graça de alcançar os 94 anos, praticamente lúcido até o fim.
A última vez em que o vi foi na celebração de seu jubileu de 75 anos de vida religiosa franciscana, realizada em Bragança Paulista, SP, no dia 5 de dezembro de 2016. Estava debilitado, na cadeira de rodas. Manifestou-se muito emotivo durante a celebração. No almoço, acompanhado de alguns de seus familiares, demonstrou-se um tanto enfraquecido. A impressão é que estava em clima de despedida. Desta vez, Frei João tinha razão. Sua partida se aproximava. No dia 30 de dezembro de 2016, praticamente junto ao ano que findava, o confrade despediu-se de sua vida terrena, na discrição que sempre lhe fora própria. Agora, junto de Deus, participa do convívio eterno d’Aquele a quem escolheu consagrar a sua vida.