* 09.04.1939 †10.08.2005
Faleceu às 19h40, do dia 10 de agosto de 2005, no Centro de Terapia Intensiva do Hospital da Venerável Ordem Terceira da Penitência.
O frade menor
Nunca foi de saúde forte. Há anos se tratava de hepatite B e hepatite C, somadas a uma preocupante diabete. Cuidava-se bem, ia a vários médicos, buscava remédios especiais de controle de hepatite no Instituto Osvaldo Cruz. Já passara por algumas crises em anos anteriores, inclusive superara com bastante dificuldade temporadas de pânico, com ajuda de psiquiatra. Vivia desde 2003 uma fase boa, alegre, atendendo confissões (ministério para o qual era muito procurado), celebrava e pregava com desenvoltura.
Aos sábados, domingos e segundas celebrava duas missas cada dia na Irmandade do Senhor Bom Jesus, na Tijuca. Sempre pronto para uma segunda ou terceira Missa, quando necessário.
Tinha dois passatempos, ambos de alto sentido terapêutico: o radioamadorismo e o cultivo de orquídeas. Era admirável seu conhecimento de orquídeas e orquidários. Por isso lhe pusemos à cabeceira, durante o velório, uma bela orquídea de sua coleção. Plantava tomates, ervas medicinais, nabos e mamoeiros. Tinha ingênua e bonita alegria, quando um confrade visitava sua ‘roça’ e lhe dava oportunidade de explicar seu trabalho e o combate aos caramujos vorazes.
De suas plantações colhia material que somava a produtos encontrados na cozinha e fazia suas sopas à noite. Sabia que legumes lhe faziam bem e quais não. Tinha muito carinho para com suas coisas, mas vivia desapegado de tudo. E, muitas vezes, andava mal vestido. Dobrando todas as suas roupas, cabiam e sobrava lugar numa sacola de supermercado.
Carregava um certo complexo de inferioridade intelectual e o expressava de vez em quando por palavras. Mas não era essa a impressão que as pessoas levavam dele.
Deve ter feito ao menos duas dezenas de cursos. O último, de telegrafia, não terminou, porque seu professor ficara doente. Gostava de ler livros e artigos que falassem de seus problemas. Ultimamente, e até com facilidade, dizia aos confrades que estava vivendo uma fase de paz interior que se irradiava a ponto de achar que todas as pessoas eram boas criaturas. Mas acrescentava sempre: “Não foi assim no passado”.
A partir de 20 de maio deste ano começou a não se sentir bem. Resistiu muito em procurar médico para um exame mais pormenorizado. Não conseguiu cumprir seus horários de confissões durante a trezena de Santo Antônio. No dia 15 de junho completou uma série de exames médicos em que apareceu com todas as letras a palavra ‘cirrose’. Esse fato o abateu muito, porque perdera uma de suas duas irmãs, levada por esse mal.
Dias 18 e 19 de junho acompanhou a Fraternidade a Guaratinguetá e Aparecida. No dia 24 de junho, apresentou-se na fila dos anciãos e doentes para receber a Unção dos Enfermos. Não escondia o medo de morrer, mas acrescentava logo: “Me entreguei na mão de Deus”. Disse ao guardião que passara algumas horas da noite em oração e estava pronto para o que Deus quisesse.
Teve uma crise muito forte no dia 26 de junho. Insisti em internamento no hospital. Ele resistia. Mas escreveu numa folha os telefones das pessoas a serem avisadas em caso de morte e me deu por escrito o nome das pessoas a quem ele queria deixar algum objeto. Continuou fazendo exames médicos. Melhorou bem na primeira semana de julho. Achava ele que superaria a crise. No entanto, não pôde celebrar na sua capelania nos dias 9, 10 e 11 de julho. Também não conseguiu celebrar a Missa no Convento no dia 11. Começava a sentir peso nas pernas e não conseguia alimentar-se. Aliás, não mais celebrou. Os confrades lhe levavam a Comunhão no quarto. Negava-se a se internar.
No dia 13 de julho celebramos os 50 anos de padre de Frei Floriano. Frei Pasqual não conseguiu concelebrar. Os confrades que o visitaram se mostraram preocupados. Fazia dois dias que não se alimentava nem sentia vontade de comer e sofria de soluços, que não o deixavam dormir. À tarde aceitou internação, com a condição que não avisássemos os parentes e os amigos. Ficou uma semana exata no Hospital da Penitência, onde fez outra coleção de exames muito pormenorizados. Seu quadro foi considerado grave.
Os confrades da VOT e os do Santo Antônio o acompanharam com carinho. Fez duas endoscopias. O soluço renitente o abateu muito e a dificuldade só foi contornada no dia 26. No dia 27 o médico comunica ao guardião: “Vou dar alta ao Frei Pasqual amanhã. Ele está superando a crise, mas a cura só seria possível mediante um transplante do fígado, mas ele não resistiria nas condições em que está”.
No dia 27 de julho, pelo meio-dia, Frei Pasqual retornou ao Convento. Alegre, mas pálido e com a barriga volumosa. Passou a usar cadeira de rodas, porque as pernas lhe pesavam muito. Dependia em quase tudo do enfermeiro. No dia 4 de agosto, enquanto Frei Olavo celebrava seus 86 anos, Frei Pasqual piorava a olhos vistos. A família foi avisada.
Ao meio-dia ele foi re-internado no Hospital da Penitência. Já entrou em estado de choque e foi levado diretamente à UTI. Estava inconsciente e não mais recuperou a consciência. Em coma induzido, entubado, permaneceu até a morte. No dia 4 à tarde passaram pelo Rio, vindos do Definitório em Petrópolis, para visitar Frei Pasqual, o ministro provincial e quatro definidores. Mas ele já estava na UTI.
Ainda no dia 4, os rins deixaram de funcionar. Aplicaram-lhe a hemodiálise e retiraram água da barriga. No dia 5 de agosto, à tardezinha, chegaram uma sobrinha (Daniela) e um sobrinho (Saulo), filhos da única irmã viva de Frei Pasqual. Telefonou o irmão dele (Walter). A mãe de Frei Pasqual (acamada), aos poucos, foi posta a par da gravidade.
Os dois sobrinhos retornaram ao interior do Rio Grande do Sul na segunda-feira cedo. Na tarde de segunda, Frei Pasqual sofreu uma hemorragia no esôfago. As esperanças foram diminuindo. Frei Pasqual partiu na noite da festa de São Lourenço.
Na mesma noite seu corpo foi levado ao Convento Santo Antônio e velado na Igreja. Todas as Missas de horário da quinta-feira foram celebradas diante do caixão aberto.
A Missa funeral deverá ser celebrada às 15 horas e celebraremos a Missa da festa de Santa Clara. Apesar de todo o sofrimento, o rosto de Frei Pasqual estava sereno no meio dos crisântemos brancos que enfeitaram o caixão.
Por Frei Clarêncio Neotti
DADOS PESSOAIS E FORMAÇÃO
Nascimento: Nascimento: 09.04.1939 (66 anos)
Natural de Jaguari, RS.
1972 – Ingresso no Seminário Frei Galvão (SEVOA), em Guaratinguetá-SP.
20.01.1973 – Admissão no Noviciado Franciscano, em Rodeio-SC.
(32 anos de vida franciscana)
21.1.1974 – Primeira profissão dos votos temporário, em Rodeio-SC
1974-1979 – Estudos de Filosofia e Teologia, em Petrópolis-RJ
02.08.1977 – Profissão solene dos votos perpétuos, em Petrópolis.
20.11.1978 – Ordenação diaconal, em Petrópolis
16.12.1979 – Ordenação presbiteral, em Nilópolis-RJ
(26 anos de ministério sacerdotal).
ATIVIDADES NA EVANGELIZAÇÃO
1980 – Vigário paroquial – Paróquia Santa Rita, Sorocaba-SP
1981-1982 – Vigário paroquial, Cabo Frio-RJ.
1983-1994 – Vigário paroquial, São João de Meriti-RJ.
1995 – Vigário paroquial, em Campos Elíseos – Duque de Caxias-RJ.
1996-2005 – Atendente conventual – Rio de Janeiro-RJ.