Carisma - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Via-sacra com Francisco

Introdução

Via-sacra com Francisco

A conversão intensamente vivida na Quaresma levará a uma vida de conversão permanente de toda a Igreja. Ampliarão e intensificarão sua vida de conversão evangélica através da oração e das práticas devocionais, como a Via-sacra com Francisco, do Devocionário Franciscano (CFFB-Vozes). Francisco viveu em seu corpo as dores do Crucificado quando recebeu os estigmas. O homem de Deus, segundo seu biógrafo Tomás de Celano, tinha pela cruz do Senhor um amor apaixonado, quer em público, quer em particular. “Na cruz, ele encontra, de maneira ao mesmo tempo paradoxal e evidente, a expressão da maior das dores e do mais eloquente e sublime amor. A verdadeira e perfeita alegria brota tão-somente do verdadeiro e perfeito amor” (Dicionário Franciscano).

O mistério da cruz, vivido intensamente por Francisco, tornou-se a força da pregação de seus filhos e fonte de renovação para a Igreja. Desde o primeiro encontro de Francisco com o Crucificado, na pequena Igreja de São Damião, a cruz estará sempre presente, no seguimento de Jesus Cristo, até a sua morte. Antes de receber os estigmas, ele rezou:

“Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que me faças antes que eu morra: a primeira é que em vida eu sinta na alma e no corpo, quanto for possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua cruel paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores”.

Reze conosco e com Francisco, a Via-sacra! Que, ao meditar sua Paixão, descubramos que nosso caminho é o do amor que dá a vida por seu irmão!

Imagens: Piero Casentini, artista plástico italiano

1ª estação: Um homem fraco

L1. Pilatos manda vir água e lava as mãos diante do povo (Mt 27,24)

Gesto que exterioriza inocência inexistente no interior do juiz. Derramava água sobre as mãos e sangue sobre a cabeça de Cristo.

D. E eu? (breve pausa) – Meu Jesus, misericórdia!

T. Senhor, tende piedade de nós!

L2. Desde o início de sua conversão, Francisco procurou ser transparente. Nunca recorreu a subterfúgios ou aparências. Aceitou os desafios da história e dos homens, de frente. Foi homem comprometido com a realidade. Odiava as aparências. O que era por dentro, assim queria que o vissem por fora.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e voz bendizemos.

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo. 

2ª estação: Um homem que assume

L1. Carregando a cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, onde o crucificaram (Jo 19,17).

A cruz, de que Jesus tantas vezes falara, caía sobre ele, agora, concreta, verdadeira, esmagadora.

D. Como encaramos a cruz de Cristo em nossa vida? (breve pausa) – Meu Jesus, misericórdia!

T. Cristo, tende piedade de nós!

L2. A cruz marcou a primeira veste envergada por Francisco e tornou-se doutrina de vida para seu agir e proceder. Carregou-a sempre consigo. Entendeu o mistério da dor, sob todas as suas formas e aceitou-a como purificação pessoal e forma de colaborar com Cristo no mistério salvífico. Do desenho externo, no início de sua vida, chegou à reprodução física e carnal, nos derradeiros anos de vida.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos,

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo. 

3ª estação: Um homem que cai

L1. Ele carregou as nossas enfermidades e tomou sobre si as nossas dores (cf. Is 43,4). E Cristo estava no solo, sob a cruz, real, esmagado em sua carne. Mas, por suas feridas nós fomos curados (cf. 1Pd 2,24).

D. Carregou nossos pecados no seu corpo sobre a cruz para que, mortos para o pecado, vivêssemos para a justiça (pequena pausa) – Tende piedade de nós, Senhor.

T. Porque somos pecadores. 

L2. Na vivência cotidiana com a cruz, Francisco sentiu a tentação rondar-lhe o ideal, perturbar-lhe a tranquilidade. O voltar-atrás media forças com o ir-para-frente. Sabia ele, porém, que não viera só para si, mas que muitos dele dependiam: os irmãos do tempo e os do futuro. Esta lembrança o fazia erguer-se, sempre de novo, retomar a caminhada, com a mesma alegria e disponibilidade ao encontro do fim que o Pai lhe havia mostrado.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos,

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo. 

4ª estação: Um homem com sua mãe

L1. Uma espada transpassará tua alma, dissera o velho Simeão à jovem mãe, quando lhe apresentava o Filho (cf. Lc 2,35). Nesta hora, quando encontra o cortejo do Filho conduzido ao suplício, a espada penetra fundo no seu coração.

D. Contemplemos a cena (breve silêncio) – Meu Jesus misericórdia.

T. Doce Coração de Maria, sede minha salvação.

L2. Francisco saudava, como vindos da bondade do Pai, tanto os momentos alegres, como os dolorosos. Todos lhe arrancavam um “louvado sejas, meu Senhor”. Não sabia apenas receber bens, como sabia provocar bens. E saber provocar coisas boas é exercer a função de mãe. É saber marcar presença junto ao que sofre e necessita de uma palavra de estímulo, de significado, de presença, mesmo silenciosa.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e voz bendizemos.

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

5ª estação: Um homem que ajuda

L1. Saindo da cidade, encontraram um homem de Cirene, de nome Simão, ao qual obrigaram a levar a cruz (Mt 27,32). Dois humilhados misturando seu sofrimento e as forças para prosseguir.

D. Pensemos na solidariedade humana (breve pausa) – Carregai os fardos uns dos outros.

T. Assim cumprireis a lei de Cristo.

L2. Um dos traços de Francisco e seus primeiros companheiros é a capacidade de ajudar o irmão a carregar a cruz: a cruz de um caráter difícil, de uma enfermidade, dos anos, do sofrimento espiritual, da perseguição humana. Cada irmão, segundo Francisco, deveria ter para com o outro atitudes de mãe, na solicitude que leva a antecipar-se às necessidades do irmão.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo. 

6ª estação: Um homem agradecido

L1. “Não tinha beleza nem formosura que atraísse os nossos olhares, não tinha boa aparência para que desejássemos vê-lo. Era desprezado, era o refugo da humanidade, homem das dores e habituado à enfermidade; era como pessoa de quem se desvia o rosto, tão desprezível que não fizemos caso dele” (Is 53,2-3). Eis que a verdadeira imagem (verônica) se estampa no gesto de amor de quem lhe enxuga a face.

D. Contemplemos os gestos de amor que enxugam a face de Cristo (breve pausa) – Oh! vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede.

T. Se há dor igual à minha dor. 

L2. Atrás dos rostos desfigurados pela lepra, Francisco conseguia discernir o rosto de um irmão. E foi ao beijar um deformado que caíram por terra as últimas resistências de sua vida e o sol nasceu claro em seu caminho. Por isso, em toda sua vida, mostrou extraordinária capacidade de descobrir o irmão e, através dele, a face do Cristo, mesmo quando muita casca bruta, como a lepra ou a ferocidade do lobo, deformasse as feições humanas.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos,

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

7ª estação: Um homem cai 2ª vez

L1. “Levanta-te, pega o teu leito e vai para casa. Ele levantou-se e foi para sua casa” (Mt 9,8). Quantas vezes Jesus ajuda as pessoas a se porem de pé e segui-Lo no seu caminho. Sempre a caminho de Jerusalém, buscando a casa do Pai, Jesus também segue firme, apesar de todo o sofrimento. Importante é não se entregar ao desânimo nas quedas do caminho.

D. Meditemos sobre as nossas quedas no caminho da vida rumo ao Pai (breve pausa) – Tomai o meu jugo sobre vós,

T. E aprendei de mim que sou manso e humilde de coração.

L2. Algo de tremendamente vivo em Francisco era a consciência de sua humanidade frágil e vulnerável e, consequentemente, necessitada da graça do alto. Convidava a si mesmo e aos outros a recomeçarem sempre de novo, pois o que havia sido percorrido pouco significava diante do muito que restava a fazer. As horas junto ao Senhor eram os reforços para a luta que ele sabia ser uma constante do homem.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos,

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo. 

8ª estacão: Um homem consolado

L1. Seguia-o grande multidão, no meio muitas mulheres,   que batia no peito e o lamentava. Voltando-se para as mulheres, Jesus disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos” (Lc 23,27-28). O único motivo de tristeza é o pecado que, arrependidos, somos chamados a chorar.

D. Choremos os nossos pecados (breve pausa) – Tende piedade de nós, porque somos pecadores.

T. Concedei-nos a graça de chorar as nossas culpas.

L2. Até a cegueira atingiu os olhos de Francisco de tanto chorar a paixão do Cristo e com suas palavras conseguia levar outras almas às lágrimas, quando lhes recordava os sofrimentos do Filho de Deus. Era a compreensão profunda da realidade do sofrimento assumido por Cristo, que se lhe tornava um convite a dividir o sofrimento e a imitar.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.,

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo. 

9ª estação: um homem cai 3ª vez

L1. “Eu sou um verme e não mais um homem, injuriado pelos homens e desprezado pelo povo. Todos os que me veem zombam de mim” (Sl 21,7-8). A caminhada para o Calvário é a imagem da caminhada de todo o homem: cada passo revela a nossa fraqueza, para acentuar a força de Deus.

D. Deus manifesta sua força na fraqueza (breve pausa) – Quem sois vós, Senhor, e quem sou eu?

T. Vós o altíssimo Senhor do céu e da terra/ e eu um miserável vermezinho, vosso ínfimo servo.

L2. Francisco sabia que as grandes coisas se constroem a duras penas. Recomeçando sempre, retomando, cada manhã, a caminhada como se fosse o primeiro instante do chamado e da inspiração. E não é nos triunfos que a graça de Deus transparece mais claramente, senão na pequenez: porque Deus não encontrou nenhum menor, mais pecador, mais indigno, por isso lançou seu olhar e sua graça sobre o pequenino Francisco.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos,

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

10ª estação: Um homem despido

L1. “Depois de crucificar Jesus, os soldados tomaram as vestes dele e dividiram-nas em quatro partes, uma para cada um. Tomaram também a túnica; era uma túnica sem costura, tecida toda de alto a baixo. Os soldados disseram uns aos outros: ‘Não vamos rasgá-la, mas vamos lançar a sorte para ver de quem será’, para que se cumprisse a Escritura: Repartiram entre si minhas vestes e sobre a túnica lançaram a sorte. Foi o que os soldados fizeram” (Jo 19,23-24). Jesus é despojado de suas vestes.

D. Quantas vezes rasgamos as vestes do corpo de Cristo, a Igreja? (breve pausa) – Vós como eleitos de Deus, santos e amados.

T. Revesti-vos de sentimento de carinhosa compaixão,/ bondade, humildade, mansidão, paciência.

L2. Guiado pelo Evangelho, submeteu-se Francisco a sucessivos despojamentos que o foram assemelhando, sempre mais, ao Cristo, até que, no derradeiro instante da vida, recebeu de empréstimo um hábito para agasalhar seu corpo na morte. Aprendera, como homem algum antes ou depois dele, o mistério da pobreza evangélica que atingia o ser e o ter.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos,

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

11ª estação: Um homem na cruz

L1. Quando chegaram ao lugar chamado ‘A Caveira’, ali crucificaram Jesus e os dois criminosos, um à direita e o outro à esquerda. Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,33-34).

D. Jesus, para cumprir a vontade do Pai e reunir um povo santo em seu louvor, estendeu os braços na hora da sua paixão, a fim de vencer a morte e manifestar a ressurreição (breve pausa) – “Quando eu for levantado da terra,

T. Atrairei todos a mim”.

L2. À maneira de São Paulo, podia Francisco dizer-se crucificado com Cristo, a tal ponto que, antes da morte, pediu ao Senhor que lhe imprimisse no corpo as chagas da dor e lhe fizesse provar na alma os cravos da agonia. Cristo o ouviu e o transfigurou, deixando-o carregar, em seu corpo, os sinais sangrentos da paixão. Ninguém foi Outro-Cristo qual Francisco.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos,

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

 

12ª estação: Um homem morre na cruz

L1. “Clamando com voz alta, Jesus disse: ‘Pai, em tuas mãos entrego meu espírito. Dizendo isto, expirou'” (Lc 23,45). Eis a vitória da obediência e do amor!

D. Calemos ante a eloquência do amor (pausa um pouco mais prolongada) – Meu Jesus, misericórdia!

T. Perdão, Senhor, por ter pecado tanto!

L2. Francisco aprendeu com Cristo a morrer aos poucos, até a morte lhe parecer uma irmã carinhosa que, à chegada, lhe arrancaria a alma da prisão do exílio. Por isso, quando o Pai o chamou, encontrou-o cantando, imerso num profundo agradecimento, porque além da morte estava a casa do Pai, casa que almejara durante a vida toda.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos,

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.

13ª estação: Uma mulher e o filho morto

L1. “José de Arimateia pediu a Pilatos que permitisse retirar o corpo de Jesus; Pilatos  lhe permitiu. Então, ele veio e retirou o corpo” (Jo 19,38). Chegou também Nicodemos e trouxe uns trinta quilos de uma mistura de mirra e aloés. Eles tiraram o corpo de Jesus e o envolveram em faixas de linho com aromas, conforme é costume de sepultar entre os judeus (Jo 19,38-40). A mãe  de Jesus lá estava de pé junto a cruz e certamente recebeu o Filho em seus braços. Eis a imagem da ‘pietá‘, expressão maior do amor de mãe para com o filho.

D. Contemplemos  imagem de tantas mães com seus filhos mortos nos braços; olhemos para Maria, exemplo de solidariedade humana em todas as circunstâncias (breve pausa) – Vendo a mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, Jesus disse para a mãe: ‘Mulher, aí está o teu filho’.

T. Depois, disse para o discípulo: ‘Aí está a tua mãe’.

L2. Francisco nutria para com Maria uma especial devoção, justamente por seu papel na obra redentora: trouxe o Cristo e com ele esteve no Calvário. Colocou a Ordem sob sua materna proteção e se enternecia ao considerar a pobreza e as dores de Maria. Esse carinho por Maria fazia-o ser compreensivo e caridoso para com os irmãos sofredores.

D. Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos,

T. Porque pela vossa cruz remistes o mundo.

14ª estação: Um homem sepultado

L1. “No local onde Jesus tinha sido crucificado havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo onde ainda tinha sido depositado. Como sepulcro estivesse próximo e ia começar o sábado dos judeus foi ali que puseram Jesus” (Jo 19,41-42).

D. “Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará só; mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24) (breve pausa) – O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão;

T. Mas depois de três dias ele ressuscitará.

L2. O sepultamento de Francisco não significou seu fim, mas começou nova fase de glória que se projetou pelos séculos adentro, tornando-se força para a humanidade itinerante. Sua presença não sofreu cessação de continuidade. Realizava o que dizia: bem-aventurado o servo que entesoura no céu os bens que o Senhor lhe concede.

D. Nós adoramos. Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos,

T. Porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.


Oração final

Absorvei, Senhor, eu vos suplico, o meu espírito, e, pela suave e ardente força do vosso amor, desafeiçoai-me de todas as coisas, que debaixo do céu existem, a fim de que eu possa morrer por vosso amor, ó Deus, que por meu amor vos dignastes morrer. Amém.