Presépio: uma tradição franciscana
- Presépio: uma tradição franciscana
- Admirável sinal: Carta Apostólica do Papa sobre o presépio
- A imensa alegria de celebrar o nascimento daquele Menino que se fez frágil em Belém
- O meu Presépio
- Papa concede Indulgência Plenária de Greccio
- 800 anos de Greccio: como receber a Indulgência Plenária
- Exposição Franciscana no Convento Santo Antônio (vídeo)
- Exposição Internacional de Presépios no ITF
- 1ª Exposição de Presépios em Duque de Caxias
- Celebrações presididas pelo Papa Francisco no Tempo do Natal
- Presépio: uma escola
- Vamos a Belém
Presépio: uma tradição franciscana
O mês de dezembro é marcado pela intensa movimentação nas ruas, no comércio popular e nos shoppings. Os prédios, ruas e casas já começam a ser enfeitadas de vermelho e verde, luzes coloridas, bonecos de neve e papais noéis. Cenas inusitadas para o calor do verão brasileiro. Uma das expressões mais significantes do Natal é o presépio. Feito de diversos materiais, a representação da encarnação do Senhor ganha espaço em meio às diversas decorações.
Trata-se de uma das mais fortes tradições franciscanas, surgida em Greccio, na Itália, no ano de 1223. Vejamos o relato segundo Tomás de Celano:
“Havia naquela terra um homem de nome João, de boa fama, mas de vida melhor, a quem o bem-aventurado Francisco amava com especial afeição, porque, como fosse muito nobre e louvável em sua terra, tendo desprezado a nobreza da carne, seguiu a nobreza do espírito. E o bem-aventurado Francisco, como muitas vezes acontecia, quase quinze dias antes do Natal do Senhor, mandou que ele fosse chamado e disse-lhe: ‘Se desejas que celebremos, em Greccio, a presente festividade do Senhor, apressa-te e prepara diligentemente as coisas que te digo. Pois quero celebrar a memória daquele Menino que nasceu em Belém e ver de algum modo, com os olhos corporais, os apuros e necessidades da infância dele, como foi reclinado no presépio e como, estando presentes o boi e o burro, foi colocado sobre o feno’. O bom e fiel homem, ouvindo isto, correu mais apressadamente e preparou no predito lugar tudo o que o santo dissera.
E aproximou-se o dia da alegria, chegou o tempo da exultação. Os irmãos foram chamados de muitos lugares; homens e mulheres daquela terra, com ânimos exultantes, preparam, segundo suas possibilidades, velas e tochas para iluminar a noite que com o astro cintilante iluminou todos os dias e anos. Veio finalmente o santo de Deus e, encontrando tudo preparado, viu e alegrou-se. E, de fato, prepara-se o presépio, traz-se o feno, são conduzidos o boi e o burro. Ali se honra a simplicidade, se exalta a pobreza, se elogia a humildade; e de Greccio se fez com que uma nova Belém. Ilumina-se a noite como o dia e torna-se deliciosa para os homens e animais. As pessoas chegam ao novo mistério e alegram-se com novas alegrias. O bosque faz ressoar as vozes, e as rochas respondem aos que se rejubilam. Os irmãos cantam, rendendo os devidos louvores ao Senhor, e toda a noite dança de júbilo. O santo de Deus está de pé diante do presépio, cheio de suspiros, contrito de piedade e transbordante de admirável alegria.” (Cel 30,4).
Em 2019, no início do Advento, o Papa Francisco visitou o Santuário Franciscano do Presépio de Greccio. “Não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efémeras de felicidade. Jesus nasceu pobre, levou uma vida simples, para nos ensinar a identificar e a viver do essencial”, escreveu o Papa na sua Carta Apostólica sobre o Presépio (veja abaixo).
Admirável sinal: Carta Apostólica do Papa sobre o presépio
Admirável sinal: Carta Apostólica do Papa sobre o presépio
CARTA APOSTÓLICA
ADMIRABILE SIGNUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
SOBRE O SIGNIFICADO E VALOR DO PRESÉPIO
1. O SINAL ADMIRÁVEL do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa de suscitar maravilha e enlevo. Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. De facto, o Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrirmos que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele.
Com esta Carta, quero apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças… Trata-se verdadeiramente dum exercício de imaginação criativa, que recorre aos mais variados materiais para produzir, em miniatura, obras-primas de beleza. Aprende-se em criança, quando o pai e a mãe, juntamente com os avós, transmitem este gracioso costume, que encerra uma rica espiritualidade popular. Almejo que esta prática nunca desapareça; mais, espero que a mesma, onde porventura tenha caído em desuso, se possa redescobrir e revitalizar.
2. A origem do Presépio fica-se a dever, antes de mais nada, a alguns pormenores do nascimento de Jesus em Belém, referidos no Evangelho. O evangelista Lucas limita-se a dizer que, tendo-se completado os dias de Maria dar à luz, «teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (2, 7). Jesus é colocado numa manjedoura, que, em latim, se diz praesepium, donde vem a nossa palavra presépio.
Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como «o pão vivo, o que desceu do céu» (Jo 6, 51). Uma simbologia, que já Santo Agostinho, a par doutros Padres da Igreja, tinha entrevisto quando escreveu: «Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento».[1] Na realidade, o Presépio inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à nossa vida diária.
Passemos agora à origem do Presépio, tal como nós o entendemos. A mente leva-nos a Gréccio, na Valada de Rieti; aqui se deteve São Francisco, provavelmente quando vinha de Roma onde recebera, do Papa Honório III, a aprovação da sua Regra em 29 de novembro de 1223. Aquelas grutas, depois da sua viagem à Terra Santa, faziam-lhe lembrar de modo particular a paisagem de Belém. E é possível que, em Roma, o «Poverello» de Assis tenha ficado encantado com os mosaicos, na Basílica de Santa Maria Maior, que representam a natividade de Jesus e se encontram perto do lugar onde, segundo uma antiga tradição, se conservam precisamente as tábuas da manjedoura.
As Fontes Franciscanas narram, de forma detalhada, o que aconteceu em Gréccio. Quinze dias antes do Natal, Francisco chamou João, um homem daquela terra, para lhe pedir que o ajudasse a concretizar um desejo: «Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incómodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro».[2] Mal acabara de o ouvir, o fiel amigo foi preparar, no lugar designado, tudo o que era necessário segundo o desejo do Santo. No dia 25 de dezembro, chegaram a Greccio muitos frades, vindos de vários lados, e também homens e mulheres das casas da região, trazendo flores e tochas para iluminar aquela noite santa. Francisco, ao chegar, encontrou a manjedoura com palha, o boi e o burro. À vista da representação do Natal, as pessoas lá reunidas manifestaram uma alegria indescritível, como nunca tinham sentido antes. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando também deste modo a ligação que existe entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Em Greccio, naquela ocasião, não havia figuras: o Presépio foi formado e vivido pelos que estavam presentes.[3]
Assim nasce a nossa tradição: todos à volta da gruta e repletos de alegria, sem qualquer distância entre o acontecimento que se realiza e as pessoas que participam no mistério.
O primeiro biógrafo de São Francisco, Tomás de Celano, lembra que naquela noite, à simples e comovente representação se veio juntar o dom duma visão maravilhosa: um dos presentes viu que jazia na manjedoura o próprio Menino Jesus. Daquele Presépio do Natal de 1223, «todos voltaram para suas casas cheios de inefável alegria»[4].
3. Com a simplicidade daquele sinal, São Francisco realizou uma grande obra de evangelização. O seu ensinamento penetrou no coração dos cristãos, permanecendo até aos nossos dias como uma forma genuína de repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé. Aliás, o próprio lugar onde se realizou o primeiro Presépio sugere e suscita estes sentimentos. Greccio torna-se um refúgio para a alma que se esconde na rocha, deixando-se envolver pelo silêncio.
Por que motivo suscita o Presépio tanto enlevo e nos comove? Antes de mais nada, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, abaixa-Se até à nossa pequenez. O dom da vida, sempre misterioso para nós, fascina-nos ainda mais ao vermos que Aquele que nasceu de Maria é a fonte e o sustento de toda a vida. Em Jesus, o Pai deu-nos um irmão, que vem procurar-nos quando estamos desorientados e perdemos o rumo, e um amigo fiel, que está sempre ao nosso lado; deu-nos o seu Filho, que nos perdoa e levanta do pecado.
Armar o Presépio em nossas casas ajuda-nos a reviver a história sucedida em Belém. Naturalmente os Evangelhos continuam a ser a fonte, que nos permite conhecer e meditar aquele Acontecimento; mas, a sua representação no Presépio ajuda a imaginar as várias cenas, estimula os afetos, convida a sentir-nos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais.
De modo particular, desde a sua origem franciscana, o Presépio é um convite a «sentir», a «tocar» a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados (cf. Mt 25, 31-46).
4. Gostava agora de repassar os vários sinais do Presépio para apreendermos o significado que encerram. Em primeiro lugar, representamos o céu estrelado na escuridão e no silêncio da noite. Fazemo-lo não apenas para ser fiéis às narrações do Evangelho, mas também pelo significado que possui. Pensemos nas vezes sem conta que a noite envolve a nossa vida. Pois bem, mesmo em tais momentos, Deus não nos deixa sozinhos, mas faz-Se presente para dar resposta às questões decisivas sobre o sentido da nossa existência: Quem sou eu? Donde venho? Por que nasci neste tempo? Por que amo? Por que sofro? Por que hei de morrer? Foi para dar uma resposta a estas questões que Deus Se fez homem. A sua proximidade traz luz onde há escuridão, e ilumina a quantos atravessam as trevas do sofrimento (cf. Lc 1, 79).
Merecem também uma referência as paisagens que fazem parte do Presépio; muitas vezes aparecem representadas as ruínas de casas e palácios antigos que, nalguns casos, substituem a gruta de Belém tornando-se a habitação da Sagrada Família. Parece que estas ruínas se inspiram na Legenda Áurea, do dominicano Jacopo de Varazze (século XIII), onde se refere a crença pagã segundo a qual o templo da Paz, em Roma, iria desabar quando desse à luz uma Virgem. Aquelas ruínas são sinal visível sobretudo da humanidade decaída, de tudo aquilo que cai em ruína, que se corrompe e definha. Este cenário diz que Jesus é a novidade no meio dum mundo velho, e veio para curar e reconstruir, para reconduzir a nossa vida e o mundo ao seu esplendor originário.
5. Uma grande emoção se deveria apoderar de nós, ao colocarmos no Presépio as montanhas, os riachos, as ovelhas e os pastores! Pois assim lembramos, como preanunciaram os profetas, que toda a criação participa na festa da vinda do Messias. Os anjos e a estrela-cometa são o sinal de que também nós somos chamados a pôr-nos a caminho para ir até à gruta adorar o Senhor.
«Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer» (Lc 2, 15): assim falam os pastores, depois do anúncio que os anjos lhes fizeram. É um ensinamento muito belo, que nos é dado na simplicidade da descrição. Ao contrário de tanta gente ocupada a fazer muitas outras coisas, os pastores tornam-se as primeiras testemunhas do essencial, isto é, da salvação que nos é oferecida. São os mais humildes e os mais pobres que sabem acolher o acontecimento da Encarnação. A Deus, que vem ao nosso encontro no Menino Jesus, os pastores respondem, pondo-se a caminho rumo a Ele, para um encontro de amor e de grata admiração. É precisamente este encontro entre Deus e os seus filhos, graças a Jesus, que dá vida à nossa religião e constitui a sua beleza singular, que transparece de modo particular no Presépio.
6. Nos nossos Presépios, costumamos colocar muitas figuras simbólicas. Em primeiro lugar, as de mendigos e pessoas que não conhecem outra abundância a não ser a do coração. Também estas figuras estão próximas do Menino Jesus de pleno direito, sem que ninguém possa expulsá-las ou afastá-las dum berço de tal modo improvisado que os pobres, ao seu redor, não destoam absolutamente. Antes, os pobres são os privilegiados deste mistério e, muitas vezes, aqueles que melhor conseguem reconhecer a presença de Deus no meio de nós.
No Presépio, os pobres e os simples lembram-nos que Deus Se faz homem para aqueles que mais sentem a necessidade do seu amor e pedem a sua proximidade. Jesus, «manso e humilde de coração» (Mt 11, 29), nasceu pobre, levou uma vida simples, para nos ensinar a identificar e a viver do essencial. Do Presépio surge, clara, a mensagem de que não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efémeras de felicidade. Como pano de fundo, aparece o palácio de Herodes, fechado, surdo ao jubiloso anúncio. Nascendo no Presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado.
Muitas vezes, as crianças (mas os adultos também!) gostam de acrescentar, no Presépio, outras figuras que parecem não ter qualquer relação com as narrações do Evangelho. Contudo esta imaginação pretende expressar que, neste mundo novo inaugurado por Jesus, há espaço para tudo o que é humano e para toda a criatura. Do pastor ao ferreiro, do padeiro aos músicos, das mulheres com a bilha de água ao ombro às crianças que brincam… tudo isso representa a santidade do dia a dia, a alegria de realizar de modo extraordinário as coisas de todos os dias, quando Jesus partilha connosco a sua vida divina.
7. A pouco e pouco, o Presépio leva-nos à gruta, onde encontramos as figuras de Maria e de José. Maria é uma mãe que contempla o seu Menino e O mostra a quantos vêm visitá-Lo. A sua figura faz pensar no grande mistério que envolveu esta jovem, quando Deus bateu à porta do seu coração imaculado. Ao anúncio do anjo que Lhe pedia para Se tornar a mãe de Deus, Maria responde com obediência plena e total. As suas palavras – «eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38) – são, para todos nós, o testemunho do modo como abandonar-se, na fé, à vontade de Deus. Com aquele «sim», Maria tornava-Se mãe do Filho de Deus, sem perder – antes, graças a Ele, consagrando – a sua virgindade. N’Ela, vemos a Mãe de Deus que não guarda o seu Filho só para Si mesma, mas pede a todos que obedeçam à palavra d’Ele e a ponham em prática (cf. Jo 2, 5).
Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o Menino e sua mãe, está São José. Geralmente, é representado com o bordão na mão e, por vezes, também segurando um lampião. São José desempenha um papel muito importante na vida de Jesus e Maria. É o guardião que nunca se cansa de proteger a sua família. Quando Deus o avisar da ameaça de Herodes, não hesitará a pôr-se em viagem emigrando para o Egito (cf. Mt 2, 13-15). E depois, passado o perigo, reconduzirá a família para Nazaré, onde será o primeiro educador de Jesus, na sua infância e adolescência. José trazia no coração o grande mistério que envolvia Maria, sua esposa, e Jesus; homem justo que era, sempre se entregou à vontade de Deus e pô-la em prática.
8. O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços. Naquela fraqueza e fragilidade, esconde o seu poder que tudo cria e transforma. Parece impossível, mas é assim: em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor, que se manifesta num sorriso e nas suas mãos estendidas para quem quer que seja.
O nascimento duma criança suscita alegria e encanto, porque nos coloca perante o grande mistério da vida. Quando vemos brilhar os olhos dos jovens esposos diante do seu filho recém-nascido, compreendemos os sentimentos de Maria e José que, olhando o Menino Jesus, entreviam a presença de Deus na sua vida.
«De facto, a vida manifestou-se» (1 Jo 1, 2): assim o apóstolo João resume o mistério da Encarnação. O Presépio faz-nos ver, faz-nos tocar este acontecimento único e extraordinário que mudou o curso da história e a partir do qual também se contam os anos, antes e depois do nascimento de Cristo.
O modo de agir de Deus quase cria vertigens, pois parece impossível que Ele renuncie à sua glória para Se fazer homem como nós. Que surpresa ver Deus adotar os nossos próprios comportamentos: dorme, mama ao peito da mãe, chora e brinca, como todas as crianças. Como sempre, Deus gera perplexidade, é imprevisível, aparece continuamente fora dos nossos esquemas. Assim o Presépio, ao mesmo tempo que nos mostra Deus tal como entrou no mundo, desafia-nos a imaginar a nossa vida inserida na de Deus; convida a tornar-nos seus discípulos, se quisermos alcançar o sentido último da vida.
9. Quando se aproxima a festa da Epifania, colocam-se no Presépio as três figuras dos Reis Magos. Tendo observado a estrela, aqueles sábios e ricos senhores do Oriente puseram-se a caminho rumo a Belém para conhecer Jesus e oferecer-Lhe de presente ouro, incenso e mirra. Estes presentes têm também um significado alegórico: o ouro honra a realeza de Jesus; o incenso, a sua divindade; a mirra, a sua humanidade sagrada que experimentará a morte e a sepultura.
Ao fixarmos esta cena no Presépio, somos chamados a refletir sobre a responsabilidade que cada cristão tem de ser evangelizador. Cada um de nós torna-se portador da Boa-Nova para as pessoas que encontra, testemunhando a alegria de ter conhecido Jesus e o seu amor; e fá-lo com ações concretas de misericórdia.
Os Magos ensinam que se pode partir de muito longe para chegar a Cristo: são homens ricos, estrangeiros sábios, sedentos de infinito, que saem para uma viagem longa e perigosa e que os leva até Belém (cf. Mt 2, 1-12). À vista do Menino Rei, invade-os uma grande alegria. Não se deixam escandalizar pela pobreza do ambiente; não hesitam em pôr-se de joelhos e adorá-Lo. Diante d’Ele compreendem que Deus, tal como regula com soberana sabedoria o curso dos astros, assim também guia o curso da história, derrubando os poderosos e exaltando os humildes. E de certeza, quando regressaram ao seu país, falaram deste encontro surpreendente com o Messias, inaugurando a viagem do Evangelho entre os gentios.
10. Diante do Presépio, a mente corre de bom grado aos tempos em que se era criança e se esperava, com impaciência, o tempo para começar a construí-lo. Estas recordações induzem-nos a tomar consciência sempre de novo do grande dom que nos foi feito, transmitindo-nos a fé; e ao mesmo tempo, fazem-nos sentir o dever e a alegria de comunicar a mesma experiência aos filhos e netos. Não é importante a forma como se arma o Presépio; pode ser sempre igual ou modificá-la cada ano. O que conta, é que fale à nossa vida. Por todo o lado e na forma que for, o Presépio narra o amor de Deus, o Deus que Se fez menino para nos dizer quão próximo está de cada ser humano, independentemente da condição em que este se encontre.
Queridos irmãos e irmãs, o Presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé. A partir da infância e, depois, em cada idade da vida, educa-nos para contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós, sentir e acreditar que Deus está connosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria. E educa para sentir que nisto está a felicidade. Na escola de São Francisco, abramos o coração a esta graça simples, deixemos que do encanto nasça uma prece humilde: o nosso «obrigado» a Deus, que tudo quis partilhar connosco para nunca nos deixar sozinhos.
Dado em Gréccio, no Santuário do Presépio, a 1 de dezembro de 2019, sétimo do meu pontificado.
[Franciscus]
[1] Santo Agostinho, Sermão 189, 4.
[2] Fontes Franciscanas, 468.
[3] Cf. Tomás de Celano, Vita Prima, 85: Fontes Franciscanas, 469.
[4] Ibid., 86: o. c., 470.
A imensa alegria de celebrar o nascimento daquele Menino que se fez frágil em Belém
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
[…]
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
[…]
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
[…]
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
[…]
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
Alberto Caeiro nos presenteou com estes belos versos em seu poema-livro O GUARDADOR DE REBANHOS, apresentou-nos a eterna criança, o Deus que faltava, aquele que brinca na nossa alma, que nos conta histórias, que muda o nosso olhar sobre cada coisa.
Há oitocentos anos no pequeno vilarejo de Greccio, província de Rieti, na região do Lácio Itália, São Francisco de Assis fez o primeiro presépio, assim como o poeta Alberto Caeiro ele nos ajudou a mudar o olhar, e é sobre este fazer o presépio de São Francisco que agora vamos falar.
No dia 13 de junho do ano de 313, o Imperador Constantino no Ocidente e o imperador Licínio no Oriente proclamaram o chamado Edito de Milão que tornava o culto cristão livre dentro do Império Romano no Ocidente e Oriente, além de devolver aos cristãos os bens que haviam sido confiscados. Depois de quase três séculos de perseguição, mas também de expansão, o Cristianismo teria liberdade de culto e manifestação.
No dia 27 de fevereiro de 380, o imperador Teodósio proclamou o Edito de Tessalônica transformando a religião cristã em religião oficial do império, abolindo todas as práticas politeístas e fechando as Igrejas pagãs. Aquela que era uma religião marginal tornou-se, desta forma, a religião oficial do império e lá onde estivesse o império, estaria a religião cristã, agora Católica.
Aos poucos, os cristãos foram se apoderando das práticas religiosas dos pagãos, em um processo de aculturação e transformando, quando possível, as festas pagãs em festas cristãs. Um bom exemplo disso é a festa do Natal que era uma celebração pagã na qual se festejava o sol invicto. No solstício de inverno, 24 de dezembro, os adoradores do sol se reuniam para dizer que por mais longa e fria que fosse a noite, o sol haveria de nascer, ele era o deus invicto.
O primeiro registro histórico da apropriação dos cristãos desta festa data do ano de 336 ainda no império de Constantino, mas no ano de 350, ainda antes do Edito de Tessalônica, o Papa Júlio I definiu para os cristãos, a data de 25 de dezembro como Natal de Jesus, o sol da Justiça e a luz do mundo para os seguidores desta religião. Com o Edito de Tessalônica essa prática de apoderação dos cultos religiosos de outras religiões foi se tornando uma constante para a Igreja.
Quando Teodósio proclamou a religião cristã como oficial e única do império, a Igreja foi se adaptando ao novo status e atingindo todas as instâncias, mas, aos poucos foi se perdendo o ardor missionário, uma vez que ao nascer no império, o cidadão já nascia, de alguma forma, cristão.
Oito séculos depois de Teodósio e do Papa Julio I, nasceu na cidade de Assis, na região da Úmbria – Itália, São Francisco de Assis. O período de seu nascimento foi marcado pela decadência do sistema feudal e nascimento do capitalismo, marcado também por guerras entre cristãos e muçulmanos, as chamadas cruzadas. No período de vida de São Francisco aconteceram três cruzadas contra os muçulmanos (a chamada terceira cruzada, 1189; a quarta cruzada, 1202; e a quinta cruzada, 1217), além da cruzada contra os Albigenses (1209, esta contra cristãos considerados hereges). Este período ainda foi marcado pelo poder do papado, Inocêncio III, papa entre os anos de 1198 até o ano de 1216, se entendia como líder político e religioso do Ocidente.
Neste tempo de crise e de guerra, a figura de São Francisco de Assis contrastava, seus escritos e suas ações mostravam um homem capaz de se adaptar sem perder as suas convicções. Toda a vida dele foi marcada por encontros e a cada encontro, aconteciam mudanças pontuais para manter a essência.
Quando nasceu São Francisco, nasceu também o capitalismo e assim como o Cristianismo teve no princípio, o capitalismo tem uma porosidade e uma capacidade incrível de se adaptar, como se fosse a água que vai se infiltrando e tomando tudo para ela. Aos poucos as festas cristãs foram se tornando festa do capitalismo, o Natal se tornou a festa do Papai Noel, a Páscoa se tornou a festa do chocolate, e cada festa religiosa foi se adaptando para se tornar um festival do capital, um feriado prolongado para a alegria do turismo.
A Rússia, a China e outros países de regime comunista vão se curvando a passos largos ao capitalismo. Oriente, Ocidente, muçulmanos, hindus, judeus, budistas cristãos. O capitalismo vai tocando a todos com sua capacidade de adaptação. Um cristão pentecostal talvez não tenha coragem de comer uma prenda oferecida a um Orixá, mas com o dinheiro recebido através de uma negociação com um pai ou mãe de santo, o mesmo pentecostal não teria nenhum problema em comprar algo e levar para casa para o deleite de toda a sua família.
No último século alguns sociólogos se debruçaram sobre a religião, uma hora eles falaram do desencanto, depois falaram do reencantamento. No Brasil da década de 1950, com uma população com mais de 95% se dizendo católica, chegamos, menos de um século depois, com um índice muito menor, talvez 50% e ainda assim como uma participação ativa ainda mais frágil. De um imenso trânsito religioso nas décadas de 1990-2000, temos cada vez mais os censos nos apontando para os sem religião, os agnósticos, os ateus.
Aquela capacidade imensa de adaptação e porosidade do Cristianismo parece ter se esvaído, muitas vezes o que se tenta é uma volta a um passado que já não respondia às demandas pretéritas, portanto, impossível pensar que respondam às demandas de hoje – não se coloca remendo velho em roupas novas. Mas parece que os religiosos têm uma convicção tão convicta de suas convicções que não conseguem mais se adaptar e tendem a se fechar no moralismo, e em liturgias imensamente formais e tão litúrgicas quanto letárgicas.
O capitalismo com sua porosidade parece ter tomado conta também dos rumos da fé, há muito mais preocupação com as finanças que com a evangelização. Um mercado religioso que movimenta bilhões e bilhões anualmente, mesmo diante do esfriamento da piedade.
E onde entra o presépio de São Francisco nesta história?
Entre os meses de julho e setembro do ano de 1219, Francisco de Assis foi à cidade de Damieta, no Delta do Nilo, Egito, ali estava acontecendo a V Cruzada, em uma das batalhas, Francisco viu no campo de guerra mais de seis mil cristãos mortos.
Desde a carta Quia Maior que convocava o IV Concílio de Latrão e durante todo o referido Concílio, uma das grandes pautas era uma tentativa de exterminar o Islã e conseqüentemente os muçulmanos. Francisco que esteve presente na cruzada, pôde passar alguns dias no acampamento dos muçulmanos na presença do líder deles, o sultão Malek-al-Kamil.
Ao voltar da cruzada, São Francisco agiu com aquela porosidade que marcou o Cristianismo inicial e marca o capitalismo. Escreveu uma carta aos governantes dos povos pedindo que os mesmos colocassem pregoeiros nas Igrejas durante algumas horas do dia para que os mesmos convocassem o povo à oração – prática que ele pôde perceber junto aos muçulmanos –, interessante notar que poucos anos depois desta carta, surgiu dentro da comunidade cristã e logo se espalhou por todo mundo católico a oração do Ângelus que é um convite ao povo cristão para a oração três vezes ao dia.
Depois de muitos séculos sem programa missionário, São Francisco, na Regra não Bulada, estabeleceu um estatuto missionário, enviando seus irmãos para o meio dos muçulmanos para que pudessem conviver pacificamente e pregassem o amor de Jesus Cristo sem litígios e nem contendas, que deixassem a vida falar muito mais do que as palavras.
E em dezembro de 1223 Francisco estava pela estrada junto com Frei Iluminado quando chegaram ao povoado de Greccio e ali Francisco quis celebrar o Natal e construiu o primeiro presépio. Quais os elementos estão por trás deste presépio que podem lançar luzes para os nossos dias?
O primeiro elemento que podemos destacar é a capacidade de adaptação, o mundo estava saturado pelas guerras entre cristãos e muçulmanos, e os muçulmanos já tinham tomado quase toda a Terra Santa, o argumento principal que se usava na pregação em favor das cruzadas era que se fazia necessário exterminar os muçulmanos e tomarem a terra que Jesus havia comprado com o próprio sangue. Se o Ocidente estava saturado com as guerras, se a Terra Santa estava tomada pelos muçulmanos e se o argumento que alimentava a guerra era retomar a Terra Santa, São Francisco resolveu os problemas transformando Greccio na Terra Santa.
A mais sublime vontade, o principal desejo e supremo propósito dele era observar em tudo e por tudo o santo Evangelho, seguir perfeitamente a doutrina e imitar e seguir os passos de nosso Senhor Jesus Cristo com toda a vigilância. Com todo o empenho, com todo o desejo da mente e com todo o fervor do coração. Recordava-se em assídua meditação das palavras e com penetrante consideração rememorava as obras dele. Principalmente a humildade da encarnação e a caridade da paixão de tal modo ocupavam a sua memória que mal queria pensar outra coisa. Deve se por isso, recordar e cultivar em reverente memória o que ele fez no dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo no terceiro ano antes do dia da sua gloriosa morte, na aldeia que se chama Greccio (1 Cel 84).
O Papa Francisco chama um de seus documentos de A Alegria do Evangelho. São Francisco ao montar o presépio em Greccio convida toda a comunidade para a imensa alegria de celebrar o nascimento daquele menino que se fez frágil em Belém. Na humildade da encarnação.
O segundo ponto que podemos abstrair da ação de São Francisco é a capacidade de ressignificar as coisas, dar a elas um sentido novo sem perder a essência do original, ao transformar Greccio em Belém e afirmar que toda a terra é santa, ele toma uma das leituras do IV Concílio de Latrão que era a valorização da encarnação do Verbo, mas, ao mesmo tempo, mostra que as guerras são sem sentido se o que as alimenta é a busca de territórios, pois, toda a terra é santa e em todo lugar nasce Deus no coração dos homens e mulheres.
O Papa Francisco tem buscado, sob a inspiração de São Francisco, nortear os caminhos da Evangelização. Em um de seus documentos Fratelli Tutti, de clara inspiração no Pobre de Assis, ele aponta para o diálogo como caminho de paz para o mundo – somos todos irmãos.
Ao montar o seu presépio, São Francisco evocou as figuras do burro e do boi, que em si, evocam a acolhida do Messias por todos os povos; o boi sendo símbolo do judaísmo e o burro símbolo dos gentios.
E aproximou-se o dia da alegria, chegou o tempo (cf. Tb 13,10; Ct 2,12) da exultação. Os irmãos foram chamados de muitos lugares; homens e mulheres daquela terra, com ânimos exultantes, preparam, segundo suas possibilidades, velas e tochas para iluminar a noite que com o astro cintilante iluminou todos os dias e os anos (e os lugares e os homens). Veio finalmente o santo de Deus e, encontrando tudo preparado, viu e alegrou-se (cf. Jo 8,56). E, de fato, prepara-se o presépio, traz-se o feno, são conduzidos o boi e o burro. Ali se honra a simplicidade, se exalta a pobreza, se elogia a humildade; e de Greccio se fez como que uma nova Belém. Ilumina-se a noite como dia (cf. Sl 138,12) e torna-se deliciosa para os homens e animais. As pessoas chegam ao novo mistério e alegram-se com as novas alegrias. O bosque faz ressoar as vozes, e as rochas respondem aos que se rejubilam. Os irmãos cantam, rendendo os devidos louvores ao Senhor, e toda a noite dança de júbilo (1 Cel 85)
Quando o Papa João XIII convocou o Concílio Vaticano II ele falou da necessidade de um aggiornamento (renovação para os dias de hoje) da Igreja, uma Igreja no mundo e a serviço da vida, as alegrias e dores dos homens e mulheres devem ser também as alegrias e dores da Igreja. Contudo, nos últimos anos tem se assistido a uma tentativa de volta ao passado, uma busca de remédios velhos para problemas novos, uma Igreja muito mais guardiã da moral do que uma Igreja dialogal que anuncia a alegria do Evangelho, parece até que o Papa está na contramão, que São Francisco estava na contramão, que Jesus “morreu na contramão atrapalhando o sábado”.
E o elemento principal do presépio foi a retomada da leitura fundamental do Evangelho, da essência da fé cristã. A kénosis de Jesus que sendo Deus se esvaziou e assumiu a condição humana e se fez menino no ventre de Maria e nasceu em um lugar à parte dos homens.
São Francisco, com um gesto que hoje se pode ver em igrejas espalhadas pelo mundo inteiro no tempo entre o Advento e seis de janeiro, conseguiu falar a toda a Igreja da necessidade de estar atenta ao tempo que se vive, e ainda hoje continua a ser referência para a mesma Igreja que sob a liderança de outro Francisco tem buscado dialogar com o mundo e se colocar a serviço da vida, como fez Jesus.
Que Greccio seja cada canto, que Deus se manifeste em cada ser humano e a alegria do Evangelho possa contagiar a todos, infiltrando com porosidade o coração da humanidade como testemunhas do Deus que se fez Menino e que ele possa brincar em nossas almas nos dando leveza e paz, nos tornando irmãos de todas as criaturas.
Enio Marcos de Oliveira
Padre – Diocese de Leopoldina
O meu Presépio
Duas vezes desejei ir a Greccio.
A primeira, para conhecer o lugar onde São Francisco de Assis inventou o presépio, que também marcou a minha infância: em casa dos meus pais, em Buenos Aires, estava sempre presente este símbolo do Natal, mais até do que a árvore.
Da segunda vez voltei de boa vontade a esta localidade, hoje situada na província de Rieti, para assinar a carta apostólica Admirabile Signum sobre o sentido e o significado do presépio nos nossos dias.
Em ambas as ocasiões senti libertar-se uma emoção especial da gruta onde podemos admirar um afresco medieval que retrata a noite de Belém e a de Greccio, que o artista põe como que em paralelo.
A emoção daquela visão leva-me a aprofundar o mistério cristão que gosta de se esconder dentro daquilo que é infinitamente pequeno.
Com efeito, a encarnação de Jesus Cristo continua a ser o coração da revelação de Deus, mesmo quando facilmente se torna discreta a ponto de passar despercebida.
A pequenez é, de fato, o caminho para encontrar Deus.
Num epitáfio comemorativo de Santo Inácio de Loyola diz-se: “Non coerceri a maximo, sed contineri a minimo, divinum est” (NT). É divino ter ideais que não sejam limitados por nada do que existe, mas ideais que, ao mesmo tempo, se contenham e sejam vividos nas coisas mais pequenas da vida. Em suma, não vale a pena assustar-se com as coisas grandes, importa antes andar em frente e reparar sempre nas coisas mais pequenas.
É por esta razão que salvaguardar o espírito do presépio se torna uma imersão salutar na presença de Deus, que se manifesta nas pequenas coisas, por vezes banais e repetitivas, do quotidiano. Saber renunciar àquilo que seduz, mas leva por maus caminhos, e escolher os caminhos de Deus é a tarefa que nos espera. Para este efeito, o discernimento é um grande dom e nunca nos devemos cansar de o pedir na oração. No presépio, os pastores são aqueles que acolhem a surpresa de Deus e vivem com espanto o encontro com Ele, adorando-O: na pequenez reconhecem o rosto de Deus. Humanamente, somos todos impelidos a procurar a grandeza, mas é um dom saber encontrá-la de verdade: conseguir encontrar a grandeza naquela pequenez que Deus tanto ama.
Em janeiro de 2016 encontrei-me com jovens de Rieti precisamente no Oásis do Menino Jesus, pouco acima do Santuário do Presépio. Recordei-lhes então, e recordo hoje a todos, que são dois os sinais que, no Natal, nos guiam para reconhecer Jesus. Um é o céu cheio de estrelas. São tantas, infinitas, mas entre todas brilha uma especial, que impele os Magos a deixar as suas casas e a iniciar uma viagem, um caminho que não sabem aonde os vai levar. Acontece o mesmo na nossa vida: em certo momento, uma “estrela” especial convida-nos a tomar uma decisão, a fazer uma escolha, a iniciar um caminho. Devemos pedir a Deus com força que nos mostre essa estrela que nos impele para além dos nossos hábitos, porque essa estrela levar-nos-á a contemplar Jesus, aquele Menino nascido em Belém que quer a nossa felicidade plena.
Naquela noite que se tornou santa pelo nascimento do Salvador encontramos um outro sinal poderoso: a pequenez de Deus. Os anjos mostram aos pastores um menino nascido numa manjedoura. Não um sinal de poder, de autossuficiência ou de soberba. Não. O Deus eterno reduz-Se a Si próprio a um ser humano indefeso, pobre, humilde. Deus rebaixou-Se para que nós possamos caminhar com Ele e para que Ele possa pôr-Se ao nosso lado; Deus não quer pôr-Se acima ou longe de nós.
Espanto e maravilha são os dois sentimentos que emocionam todos, pequenos e grandes, perante o presépio, que é como um Evangelho vivo que transborda das páginas da Sagrada Escritura. Não interessa como se arranja o presépio, se é sempre igual ou diferente todos os anos; o que importa é que ele fale à nossa vida.
O primeiro biógrafo de São Francisco, Tomás da Celano, descreve a noite de Natal de 1223, cujo oitavo centenário festejamos este ano. Quando Francisco chegou, encontrou o berço com a palha, a vaca e o burrinho. As pessoas que acorreram manifestaram uma alegria indescritível, nunca antes experimentada, perante aquela cena de Natal. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando assim a ligação entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Em Greccio não existia então nenhuma figura: o presépio foi feito e vivido pelos próprios presentes.
Estou certo de que o primeiro presépio, que realizou uma grande obra de evangelização, pode ocasionar ainda hoje espanto e maravilha. Assim, o que São Francisco realizou com a simplicidade daquele gesto permanece nos nossos dias uma forma genuína da beleza da nossa fé.
Francisco
Cidade do Vaticano, 27 de setembro de 2023
* Em português, o livro foi lançado pela Princípia Editora.
Fonte: Vatican News
Papa concede Indulgência Plenária de Greccio
O ano de 2023 deu início a um significativo tempo de ressignificação e celebração para toda a Família Franciscana. Trata-se do 8º Centenário de acontecimentos importantes na vida de São Francisco de Assis que revelam elementos de nossa espiritualidade e carisma de modo a renovar a essência do que fomos chamados e aceitamos ser e aquilo com que nos comprometemos a testemunhar e anunciar ao mundo. Assim, em 2023, celebramos a aprovação da Igreja da Regra da Ordem dos Frades Menores e a criação do presépio de Greccio (ambos em 1223). Nos próximos anos, celebraremos a estigmatização de São Francisco (1224), a composição do Cântico do Irmão Sol (1225) e o trânsito de São Francisco (1226).
Se é verdade que, para muitas das fraternidades e comunidades franciscanas a aprovação da Regra ganhou grande destaque, sendo oportunidade para renovação das promessas de consagração a Deus ao modo franciscano, também tivemos presépios expostos nas igrejas no decorrer deste ano como permanente recordação do mistério da Encarnação que São Francisco desejou enxergar com seus olhos e provocou o mundo a viver a mesma experiência.
Fortalecendo esta celebração, a o Santo Padre concedeu aos fiéis outra especial graça para marcar o 8º Centenário da criação do Presépio. Acolhendo a solicitação dos Ministros gerais da Primeira Ordem Franciscana (Menores, Capuchinhos e Conventuais), dos Ministros gerais da Terceira Ordem Secular (OFS) e da Terceira Ordem Regular (TOR) e da Presidente da Conferência Franciscana Internacional (CFI-TOR), o Papa Francisco, através da Penitenciaria Apostólica, concedeu o privilégio da Indulgência Plenária a todos os fiéis que visitarem uma igreja sob os cuidados pastorais dos franciscanos e cumprirem as habituais exigências para lucrar a graça, entre os dias 8 de dezembro de 2023 (Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria) e 2 de fevereiro de 2024 (Festa da Apresentação do Senhor), detendo-se, por um momento, em oração diante de um presépio.
A Indulgência do Presépio de Greccio se encaixa perfeitamente na relação especial entre São Francisco e a Igreja, quando este solicitou ao Papa a Indulgência para aqueles que visitassem a Porciúncula, e é ocasião de comunhão e de renovação espiritual para todos os irmãos e irmãs.
SIGNIFICADO E NORMAS PARA OBTENÇÃO DA INDULGÊNCIA PLENÁRIA
Segundo a nota da Penitenciaria Apostólica “O Dom da Indulgência” (2000), a indulgência manifesta a plenitude da misericórdia de Deus, que é expressa em primeiro lugar no sacramento da Penitência e da Reconciliação. Esta antiga prática, acerca da qual não faltaram incompreensões históricas, deve ser bem compreendida e acolhida.
A reconciliação com Deus, embora seja dom da Sua misericórdia, implica um processo em que o fiel está envolvido no seu empenho pessoal, e a Igreja, na sua missão sacramental. O caminho de reconciliação tem o seu centro no sacramento da Penitência, mas também depois do perdão do pecado, obtido mediante esse sacramento, o ser humano permanece marcado por aqueles “resíduos” que não o tornam totalmente aberto à graça, e precisa de purificação e daquela renovação total do homem em virtude da graça de Cristo, para cuja obtenção o dom da indulgência lhe é de grande ajuda.
Entende-se por indulgência a “remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições pela ação da Igreja que, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1471).
Seguindo as orientações dadas pela Igreja, seguem as circunstâncias a serem atendidas para que a indulgência seja
concedida a um fiel:
• celebração da confissão sacramental, rejeitando qualquer apego ao pecado, mesmo que seja venial;
• comunhão eucarística, preferencialmente na Santa Missa;
• oração nas intenções do Papa, por exemplo, um Pai Nosso e uma Ave Maria, mas podendo ser outras orações conforme a piedade e devoção;
• visitar uma igreja sob cuidado dos franciscanos e rezar diante de um presépio no período em que a graça for concedida.
É conveniente, mas não necessário, que a Confissão sacramental e, em especial, a sagrada Comunhão e a oração pelas intenções do Papa, sejam feitas no mesmo dia em que se visita a igreja franciscana. Basta que estes ritos sagrados e orações se cumpram dentro de alguns dias (cerca de 20 dias), antes ou depois da visita. A oração segundo a intenção do Papa é deixada à escolha do fiel, mas sugere-se um “Pai Nosso” e uma “Ave Maria”.
É possível lucrar diversas Indulgências plenárias, mas apenas uma por dia. Neste caso, é suficiente uma única Confissão sacramental no período, mas, para cada indulgência requer-se uma distinta sagrada Comunhão e uma distinta prece, segundo a intenção do Santo Padre.
TEXTO DO CARTA DE COMUNICAÇÃO DA INDULGÊNCIA
Irmãos e irmãs da Família Franciscana
Indulgência plenária por ocasião do Oitavo Centenário do “Natal de Greccio” vivido por São Francisco de Assis
Queridos irmãos e irmãs,
O Senhor vos dê a paz!
Escrevemos a vocês de Assis, onde estamos reunidos por ocasião das celebrações do nosso Seráfico Pai, para compartilhar com todos um grande dom e privilégio que o Santo Padre quis conceder nos por ocasião dos 800 anos do Natal vivido em Greccio. Aqui São Francisco desejou recordar o nascimento do Senhor, iniciando com um presépio, para chegar à celebração eucarística, onde Jesus Cristo se faz presente no Pão e no Vinho.
Dentro do Centenário, no dia 17 de abril de 2023, nós enviamos ao Santo Padre o seguinte pedido: “com o fim de promover a renovação espiritual dos fiéis e incrementar a vida de graça, pedimos que do dia 8 de dezembro de 2023, Solenidade da Imaculada Conceição da Bem aventurada Virgem Maria, até o dia 2 de fevereiro de 2024, Festa da Apresentação do Senhor, que todos aqueles que visitem alguma das igrejas que pertencem à família franciscana de todo o mundo e que por um momento permaneçam em oração diante de um presépio, que possam lucrar a Indulgência plenária seguindo as habituais condições. Assim como também aqueles que estão enfermos ou impossibilitados fisicamente, possam igualmente usufruir do dom da Indulgência plenária, oferecendo os seus sofrimentos ao Senhor ou cumprindo práticas de piedade”.
A Penitenciaria Apostólica respondeu de maneira positiva à nossa solicitação, concedendo a faculdade de anunciá-la publicamente.
Portanto, em todas as igrejas a nós confiadas para a cura pastoral, será possível lucrar a Indulgência plenária por parte de todos os fiéis, seguindo as habituais circunstâncias, de 8 de dezembro de 2023 a 2 de fevereiro de 2024.
Recomendamos a divulgação em todas as nossas igrejas deste “privilégio” que se encaixa perfeitamente na relação especial entre São Francisco e a Igreja, quando solicitou ao Papa a Indulgência para aqueles que visitassem a Porciúncula, e desejamos que seja para a inteira Família Franciscana ocasião de comunhão e de renovação espiritual para cada irmão e irmã.
Que o Senhor sustente sempre os nossos passos, e volte para nós a sua misericórdia!
Os seus Ministros gerais e Presidente
Frances Duncan, OSF – Presidente IFC-TOR
Tibor Kauser, OFS – Ministro Geral
Massimo Fusarelli, OFM – Ministro geral
Roberto Genuin, OFMCap – Ministro geral
Carlos Alberto Trovarelli, OFMConv – Ministro geral
Amando Trujillo Cano, TOR – Ministro geral
800 anos de Greccio: como receber a Indulgência Plenária
Por ocasião do 800º aniversário do “Natal de Greccio”, a Penitenciária Apostólica concedeu indulgência plenária a todos os fiéis que, de 8 de dezembro de 2023 (solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria) a 2 de fevereiro de 2024 (festa da Apresentação no Templo de Nosso Senhor Jesus Cristo) visitarem um presépio numa igreja confiada aos frades franciscanos de todo o mundo.
A Família Franciscana encaminhou o pedido ao Santo Padre no passado dia 17 de abril, “para promover a renovação espiritual dos fiéis e aumentar a vida de graça”, lê-se na petição enviada à Penitenciária Apostólica. “Ao parar em oração diante dos presépios, os fiéis podem obter a indulgência plenária nas condições habituais. Da mesma forma, aqueles que estão doentes ou incapazes de participar fisicamente podem igualmente beneficiar-se do dom da indulgência plenária, oferecendo os seus sofrimentos ao Senhor ou realizando práticas de piedade”.
Além das igrejas franciscanas da Província da Imaculada Conceição dos Frades Menores, os fiéis podem visitar todas as igrejas sob os cuidados pastorais da Família Franciscana.
INDULGÊNCIA DE GRECCIO
promoção da graça e auxílio pastoral
Como é de conhecimento de todos, o Papa Francisco, através da Penitenciaria Apostólica, concedeu, a pedido dos superiores da Família Franciscana, a possibilidade de que, nas igrejas ligadas aos conventos e casas religiosas franciscanos e sob seus cuidados pastorais em todo o mundo, todos os fiéis que se colocarem diante de um presépio exposto e ali se entregarem a um tempo de devota oração, poderão lucrar a graça da Indulgência Plenária de Greccio. Tal graça será concedida entre os dias 8 de dezembro de 2023 (Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria) e 2 de fevereiro de 2024 (Festa da Apresentação do Senhor).
As já conhecidas disposições para a aquisição da Indulgência de Greccio, além da visita a uma igreja franciscana e um momento de oração diante do presépio, são:
- celebrar a Confissão sacramental;
- participar da sagrada Comunhão, preferencialmente na Santa Missa;
- rezar pelas intenções do Papa, sugerindo-se o Pai Nosso e a Ave Maria, mas podendo ser qualquer oração à escolha do fiel.
Importa recordar que estas disposições não precisam, necessariamente, ser cumpridas no dia da visita à igreja e ao presépio, mas podendo ser algum tempo antes ou depois – cerca de 20 dias.
Estas são as disposições práticas que, certamente, sem a devida consciência e instrução, podem se tornar meras regras a serem cumpridas passo-a-passo sem que sejam assumidas como um modo de viver o processo de conversão ao Evangelho, de identificação com a vida de Jesus e transformação da pessoa à semelhança com Deus, especialmente no seu modo de estabelecer relação com a humanidade marcado pelo amor, misericórdia e comunhão. Não sem motivo, as três disposições para lucrar a Indulgência Plenária se relacionam com estas três dimensões.
Assim, para auxiliar na ação evangelizadora em nossas presenças, de modo que a promoção da graça da Indulgência de Greccio seja marcada por uma consciente e saudável experiência cristã, importa ressaltar alguns aspectos da doutrina sobre as indulgências.
Nas indulgências se manifesta a plenitude da misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos com o seu amor, manifesto principalmente no perdão das culpas. Este perdão é concedido ordinariamente por meio do sacramento da Penitência quando o fiel celebra sua confissão sacramental. Isso porque o pecado grave separa o fiel da vida da graça com Deus, não porque Deus o puna, mas porque o fiel assim escolheu viver, afastando-se da santidade a que é chamado. A Igreja, ao ser dotada por Cristo com a graça de perdoar em seu nome, é no mundo, a presença viva do Seu amor que se inclina sobre toda a fraqueza humana para a acolher no abraço da sua misericórdia aqueles que O buscam.
O sacramento da Penitência oferece ao pecador uma nova possibilidade de se converter e ser inserido novamente na plena participação da vida da Igreja. Perdoado, ele recupera a comunhão com o Pai e com a Igreja, especialmente com a retomada da participação da Eucaristia. Entretanto, a Igreja está convencida de que o perdão, concedido gratuitamente por Deus, implica como consequência uma real mudança de vida, o compromisso de progressivamente romper com o mal interior renovando a própria existência. O ato sacramental, deste modo, deve ser acompanhado por um ato existencial. Se o sacramento da Penitência perdoa a culpa diante da decisão de pecar, a indulgência auxiliará na cura da pena temporal consequente do pecado, que se dá pelo compromisso e busca do fiel pela conversão, mas que é auxiliada pela graça de Deus que não nos deixa sozinhos nesta caminhada.
Importa reafirmar este último aspecto. O fiel não está sozinho em seu caminho de conversão. Em Cristo e por Cristo, a sua vida encontra-se ligada por um vínculo misterioso à vida de todos os outros cristãos na unidade do Corpo místico de Cristo. Se Cristo, através da Igreja, nos concede o auxílio sobrenatural no processo de conversão através das indulgências, elas não são lucradas apenas em favor de um único indivíduo, mas se tornam patrimônio de bens espirituais a ser compartilhado por todos os membros da Igreja em virtude do qual a santidade de um é de proveito aos outros numa medida muito superior ao dano que o pecado de um pôde causar aos demais. Há pessoas que deixam atrás de si uma espécie de saldo de amor, sofrimento suportado, pureza e verdade, que atrai e sustenta os outros. Cada passo neste caminho de conversão, portanto, é possibilidade de auxílio às outras pessoas em seu próprio processo de conversão.
Uma imagem que ilustra bem o suficiente esta doutrina é a de um belo vitral que enche os olhos de todos que o contemplam e que, por algum motivo, alguém decide arremessar uma pedra e destruir parte da obra de arte. A decisão e o gesto foi individual, mas o dano atingiu a contemplação de todos. Uma vez arrependido de seu ato, aquele que provocou o estrago se dispõe a pedir perdão ao Dono do vitral que, movido pela bondade, não se nega a perdoá-lo. Entretanto, a cura da culpa não significa, ainda, que o dano causado foi reparado. Aquele que se arrependeu fará uso do que lhe for possível para consertar o vitral e restaurar sua beleza. Ciente de que as ferramentas do Dono do vitral são as mais adequadas e mais eficientes para o trabalho, fará uso das mesmas para alcançar seu intento, não por obrigação, mas por querer ver a plena beleza do vitral outra vez não apenas para seus olhos, mas para todos. E seus esforços, assim como toda sua história de transformação, será testemunho e contributo a todos que dela souberem, sendo beneficiados não somente por poder contemplar a beleza da obra de arte outra vez, mas também por saberem, agora, que é possível restaurar os danos que cada um possa, por sua vez, ter provocado e do qual se arrepende.
A partir destes aspectos torna-se evidente que as indulgências não são atos a serem cumpridos pro forma em vista de um bem exclusivo e mágico, mas expressão graciosa daquilo que todos buscamos viver e testemunhar quando livremente decidimos ser e permanecer membros da Igreja e discípulos de Jesus Cristo.
Na prática pastoral, a fim de não se incentivar uma piedade pouco saudável e por demais intimista, seria aconselhável dedicar algum tempo a explicar o que a Igreja entende por indulgências e, talvez ajude, reafirmar que estas são apenas uma das práticas possíveis à caminhada cristã. Certamente, aqueles que as praticam e buscam gozam do auxílio divino por adotarem para si as práticas propostas pela Igreja Universal a todos os seus membros, todas elas capazes de conceder indulgências como a oração do terço, a leitura e meditação da Palavra de Deus, a visita ao cemitério e a oração pelos fiéis defuntos, assim como outras obras de misericórdia…
Portanto, a Indulgência de Greccio, assim como outras formas de participar da graça das indulgências, é rica oportunidade, expressão da generosa missão salvífica de Cristo da qual a Igreja participa, concedida aos fiéis para prosseguir em sua caminhada de conversão de vida em fidelidade à vocação de santidade que todos partilhamos pelo Batismo e muito querida e desejada por nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis para todos os homens e mulheres do mundo.
O decreto
Prot. N. 03142/2023-413/23/I
DECRETO
A Penitenciaria Apostólica, desejando incrementar a piedade dos fiéis e a salvação das almas, em virtudes das faculdades a ela concedidas de modo especialíssimo por Sua Santidade, Francisco, Nosso Pai em Cristo e pela Divina Providência, Papa, levando em consideração as súplicas recentemente apresentadas pelos Reverendíssimos Padres Ministros Gerais da Conferência da Família
Franciscana, no octingentésimo aniversário da representação do Presépio que São Francisco criou por primeira vez em Greccio no ano de 1223, recorrendo aos celestes tesouros da Igreja, concede benignamente a Indulgência Plenária seguindo as condições habituais (Confissão sacramental, Comunhão eucarística e oração segundo as intenções do Santo Padre) a ser lucrada pelos fiéis arrependidos e movidos pelo amor Divino, a partir da Solenidade da Imaculada Conceição da Beata Virgem Maria, dia 8 de dezembro de 2023, até o dia solene da Apresentação do Senhor, no dia 2 de
fevereiro de 2024, que podem ser aplicadas, em modo de sufrágio, também pelas almas dos fiéis que estão no Purgatório, se visitam como peregrinos qualquer Igreja franciscana em todo o mundo, em grupo ou individualmente, e participem devotamente aos ritos jubilares, ou pelo menos que contemplem o Presépio aí preparado, transcorrendo um período de tempo em pia meditação, concluindo com o
Pater Noster, o Símbolo da Fé e as invocações à Sagrada Família de Jesus, Maria, José e São Francisco de Assis.
Os anciãos, enfermos e aqueles que por grave motivo não podem sair de casa, poderão igualmente lucrar a Indulgência Plenária se, com o completo desapego de coração de qualquer pecado e com a intenção de cumprir, assim que seja possível, as três condições habituais, participem espiritualmente das celebrações jubilares, com a oferta a Deus misericordioso das suas orações, dores e sofrimentos da própria vida.
Para que o acesso ao perdão divino, por meio da Igreja, se realize de maneira mais abundante, esta Penitenciaria exorta vivamente aos Padres da Família Franciscana que se esforcem com ânimo resoluto e generoso às celebrações da Penitência.
O presente Decreto é válido, não obstante quaisquer disposições em contrário daquilo que foi escrito.
Dado em Roma, na sede da Penitenciaria Apostólica, no dia 14 de novembro do ano do Senhor de MMXXIII.
IGREJAS E CONVENTOS DA PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO
EM SÃO PAULO
PARÓQUIA SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Rua Borges Lagoa, 1209 – A
Vila Clementino
São Paulo – SP
CEP. 04038-033
CONVENTO E SANTUÁRIO SÃO FRANCISCO
Largo São Francisco, 133 – Centro
CEP: 01005-010
PARÓQUIA SANTO ANTÔNIO DO PARI
Praça Padre Bento, s/n, Pari
São Paulo – SP
CEP: 03031-050
PARÓQUIA BOM JESUS DOS AFLITOS
Rua Péricles Pilar, 80
Sorocaba – SP
CEP. 18020-100
FRATERNIDADE E POSTULANTADO FREI GALVÃO
Av. Integração, 151
Guaratinguetá – SP
CEP. 12522-030
SANTUÁRIO FREI GALVÃO
Av. José Pereira da Cruz, 53
Jardim do Vale I
Guaratinguetá – SP
CEP 12519-411
PARÓQUIA SANTO ANTÔNIO
Rua Afonso Simonetti, 11-40
Bauru – SP
CEP. 17060-456
FRATERNIDADE DO SEMINÁRIO SANTO ANTÔNIO
Estrada de Piratininga, km 4
Acesso Frei Gregório Jonhscher
Agudos – SP
CEP. 17120-000
NO ESPÍRITO SANTO
PARÓQUIA SANTA CLARA DE ASSIS
Rua Joaquim Lucas Sobrinho, nº 55
Bairro de São Vicente – Colatina (ES)
CEP. 29700-433
PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
VILA VELHA – ES
Rua Cabo Aylson Simões, 762
Vila Velha – ES
CEP: 29107-034
CONVENTO DA PENHA
Rua Vasco Coutinho, s/n – Prainha
CEP: 29100-231
Vila Velha (ES)
NO RIO DE JANEIRO
PARÓQUIA SÃO JOÃO BATISTA
Praça Getúlio Vargas, s/n
São João de Meriti
CEP. 25520-580
PARÓQUIA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Rua Montecaseros, 95 – CEP 25685-005
Petrópolis – RJ
CEP 25689-900
PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM
Estrada da Gávea, 445 – Bairro da Rocinha
CEP 22451-265
CONVENTO SANTO ANTÔNIO
Largo da Carioca, s/n – Centro
CEP. 20050-020
Rio de Janeiro – RJ
PARÓQUIA PORCIÚNCULA DE SANT’ANA
Avenida Roberto Silveira, 265 – Icaraí
Niterói – RJ
CEP: 24230-151
PARÓQUIA NOSSA SENHORA APARECIDA
Av. Mirandela, 773
CEP. 26520-331
Nilópolis – RJ
PARÓQUIA SANTA CLARA DE ASSIS
Rua Batista de Oliveira, Q. 68, L.04
CEP: 25266-210
Vila Ema – Imbariê
Duque de Caxias – RJ
PARÓQUIA SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Praça Carmem Domingos Pinto
Lote 5, Quadra 2, Campos Elíseos
Duque de Caxias (RJ)
CEP. 25225-174
NO PARANÁ
PARÓQUIA BOM JESUS DOS PERDÕES
Praça Rui Barbosa, 149 – Centro
Cep 85301-420
Curitiba – PR
Fone: (41) 3281-7700
PARÓQUIA SÃO PEDRO APÓSTOLO
Rua Tocantins, 2265
CEP. 85501-272
PARÓQUIA SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Endereço: Av. 15 de Novembro, 3593
CEP. 85560-000
Chopinzinho – PR
EM SANTA CATARINA
PARÓQUIA IMACULADA CONCEIÇÃO
Praça da República, s/n
Curitibanos – SC
CEP: 89520-000
PARÓQUIA SANTO AMARO DA IMPERATRIZ
Praça São Francisco, 50
CEP. 88140-000
Santo Amaro da Imperatriz – SC
PARÓQUIA SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Rua Frei Bruno, s/n, Centro
Rodeio – SC
CEP. 89136-000
PARÓQUIA SÃO JOÃO BATISTA
Rua Rui Barbosa, 160
CEP. 89609-000
Luzerna – SC
CONVENTO PATROCÍNIO DE SÃO JOSÉ
Rua Lauro Müller, 298
CEP: 88501-130
Lages – SC
PARÓQUIA SÃO LUIZ GONZAGA
Rua da Matriz, 54
XAXIM – SC
CEP. 89825-000
PARÓQUIA SANTO ESTÊVÃO
Praça Frei Gabriel, 148
CEP: 88400-000
Ituporanga – SC
PARÓQUIA SANTO ANTÔNIO
Rua Padre Schuler, 81
Florianópolis – SC
CEP. 88010-310
PARÓQUIA PATROCÍNIO DE SÃO JOSÉ
Rua Iguaçu, 790
CEP. 89840-000
Coronel Freitas – SC
PARÓQUIA SANTA INÊS
Rua 1400, 492
CEP. 88330-530
Balneário Camboriú – SC
PARÓQUIA SÃO PEDRO APÓSTOLO
Rua Aristiliano Ramos, s/n
Gaspar – SC
PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
CONCÓRDIA – SC
Rua Marechal Deodoro, 473
CEP. 89700-000
PARÓQUIA NOSSA SENHORA APARECIDA
Rua Paris, 150 – Itoupava Norte
CEP. 89052-510
Blumenau – SC
Exposição Franciscana no Convento Santo Antônio (vídeo)
Exposição Internacional de Presépios no ITF
São Francisco de Assis é o criador do presépio, uma das mais belas tradições natalinas – e ela está completando 800 anos de existência neste Natal. O Pobrezinho de Assis começou a recriar o nascimento de Jesus em 1223. O local do primeiro presépio foi a pequena localidade de Greccio, a cerca de 90 quilômetros de Roma.
A biblioteca do Instituto Teológico Franciscano (ITF), recebe a Exposição Internacional de Presépios, em comemoração aos 800 anos do presépio de Greccio.
A exposição é composta por esculturas que fazem parte da Coleção da Província Franciscana, dentre elas a maioria provém de artistas populares, de estados do Brasil e da América Latina. Também obras de Angola, Itália, Espanha e Bélgica.
A exibição de presépios foi inaugurada no dia 30 de novembro e estará aberta ao público até o dia 05 de janeiro. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 8h até às 12h / 14h às 17h.
Além de visitar a exposição, o público poderá conhecer a histórica biblioteca do Instituto Teológico que se destaca pela sua qualidade de conteúdo, beleza arquitetônica e quantidade de informações e pela conservação do acervo.
1ª Exposição de Presépios em Duque de Caxias
A Paróquia São Francisco de Assis, em Campos Elíseos, na cidade de Duque de Caxias (RJ), inaugurou, no dia 2 de dezembro de 2023, a 1ª Exposição Franciscana de Presépios, que tem a curadoria de Frei Paulo Roberto Santos Santana.
Foi realizada uma missa de abertura, e estiveram presente o pároco Frei Paulo Roberto Santos Santana; vigário paroquial Frei José Antonio dos Santos, Frei David Belineli, Frei Claudio César Broca e o Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira.
O tema desta 1ª edição do evento foi: “O Verbo se encarnou para anunciar o Amor e a Paz (Jo 1,14) e o Lema: “O Amor não é amado” (São Francisco). A exposição, reúne cerca de 20 presépios e os visitantes puderam conhecer composições feitas de diferentes materiais para retratar o nascimento de Jesus.
Foi em 1223 que São Francisco de Assis criou, em Greccio, o primeiro presépio da história, ao vivo, reunindo moradores da pequena localidade representando o Menino Jesus na manjedoura, Maria, São José, os Reis Magos, os pastores e os anjos. Os animais também eram reais, como o boi, o burrico, as ovelhas. A partir dessa iniciativa de São Francisco, tornou-se um costume armar os presépios nas épocas natalinas no mundo inteiro.
A Exposição também marca o Centenário Franciscano, que em 2023 celebra 800 anos do primeiro presépio em Greccio, na Itália.
Para visitar a exposição, os interessados devem ir ao Salão da Comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que fica localizada Praça Carmem Domingues Pinto Lt. 5 Qd. 2, em Campos Elíseos, Duque de Caxias/RJ.
A Exposição poderá ser visitada até 03 de fevereiro de 2024, de terça a sexta-feira, das 9h às 11h e de 14h às 16h, e aos sábados e domingos, das 8h às 11h e 14h às 18h. Haverá um espaço gourmet para venda de doces e pães da Padaria da Solidariedade e uma lojinha de artigos religiosos. A entrada é franca.
Pascom da Paróquia São Francisco de Assis
Celebrações presididas pelo Papa Francisco no Tempo do Natal
No domingo, 24 de dezembro, a Missa da noite de Natal será presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro às 19h30min locais. O Calendário das Celebrações Litúrgicas Pontifícias foi publicado esta terça-feira, 28 de novembro, pela Sala de Imprensa da Santa Sé. Também este ano o Pontífice manterá, portanto, o horário antecipado que foi adotado em 2020, devido às restrições impostas pela Covid, depois confirmado também em 2021 e 2022.
Urbi et Orbi
No dia seguinte, segunda-feira, 25 de dezembro, Natal do Senhor, o Papa concederá a bênção Urbi et Orbi da sacada central da Basílica de São Pedro às 12 horas. No domingo, 31 de dezembro, às 17 horas, na Basílica Vaticana, o Santo Padre presidirá a celebração das Primeiras Vésperas e do Te Deum em ação de graças pelo ano transcorrido.
Celebrações de janeiro
Na segunda-feira, 1º de janeiro, que também é o LVII Dia Mundial da Paz, Francisco celebrará a Missa na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, novamente na Basílica Vaticana, às 10h. Também na Basílica de São Pedro, no dia 6 de janeiro, celebrará a Missa na Solenidade da Epifania, às 10h. Por fim, no dia 7 de janeiro, o Pontífice presidirá, às 9h30, uma celebração na Capela Sistina na festa do Batismo do Senhor, durante a qual batizará algumas crianças.
Presépio: uma escola
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Neste Natal, celebramos os 800 anos de criação do presépio – uma escola do Evangelho, um Evangelho vivo, nascido da intuição de São Francisco de Assis, em 1223. A celebração destes oito séculos de história inspirou o Papa Francisco na redação de uma Carta Apostólica sobre o significado e o valor do presépio, considerado um sinal admirável, com especial importância na vida dos cristãos. Uma tradição, com a força da criatividade artística, que conquista a admiração de diferentes gerações. Ao representar o nascimento de Jesus, com simplicidade e alegria, o presépio ensina sobre o mistério da Encarnação do Verbo. Com adornos próprios de artes variadas, concebidas na singularidade de cada cultura, constitui uma “escola” que educa sobre o caminho espiritual. E a tônica espiritual forte, ensinada pelo presépio, é a humildade d’Aquele que Se fez homem para Se encontrar com cada pessoa, proporcionando a fascinante descoberta do amor maior, o amor de Deus.
O Papa Francisco indica a importância e a riqueza da belíssima tradição de se organizar presépios, em preparação para o Natal do Senhor, nas igrejas, nos lares, nas escolas, nos hospitais, nos cárceres, nos ambientes de trabalho e nas praças, inspirando criativa imaginação com peças que ensinam sobre o exercício da humildade. Esta virtude tem força de remédio para curar todo tipo de orgulho e mesquinhez. Importa, então, se dedicar à preparação de presépios, escola para aprender o Evangelho. Muitas pessoas testemunham, desde o tempo da infância, sobre a importância de se contemplar, de modo orante, o presépio, para conquistar essencial sensibilidade. Cada presépio anuncia o Evangelho – oportuno lembrar a cena descrita por São Lucas: Maria envolvendo seu filho em panos e o recostando em uma manjedoura, por não haver lugar para a Sagrada Família na hospedaria. Manjedoura é praesepium na língua latina.
Em seu nascimento, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer – acontecimento que revela muitos mistérios da vida de Jesus. Esta cena inspirou a preparação de São Francisco de Assis para o Natal, em 1223, quando estava em Gréccio. O Papa Francisco, em sua Carta Apostólica, rememora a origem dos presépios, a partir de fontes franciscanas: São Francisco chamou um homem daquela terra e solicitou a sua ajuda para que pudessem reconstituir a cena do nascimento de Jesus. A ideia era retratar as dificuldades sofridas pelo Menino nascido em Belém, em razão da falta de estruturas básicas indispensáveis ao acolhimento de um recém-nascido. O pequenino, Filho de Deus, foi reclinado na palha, entre o boi e o burro. O plano de São Francisco deu certo, alcançando o seu auge no dia de Natal. Muitas pessoas se reuniram diante da cena recriada sobre o nascimento de Jesus, procurando, assim, contemplar a grandeza do amor de Deus. A experiência de São Francisco promoveu especial alegria, com a participação de muita gente que se congregou em festa.
Assim nasce uma tradição com força de alavancar a evangelização, capaz de enlevar mentes e comover corações, por fazer compreender que Deus se abaixa, no seu amor redentor, até a condição humana. Jesus, fonte e sustento da vida, vem como irmão, oferecido à humanidade pelo Pai. A chegada do Menino-Deus concede ao ser humano a oportunidade para trilhar novo rumo, com razões para se investir no amor. Um investimento que redime a humanidade do pecado, perdoando-a e salvando-a. A pobreza do lugar onde Jesus – Filho de Deus – nasce, retratada em cada presépio, desconcerta o ser humano, combatendo o terrível orgulho. Ensina que o despojamento guarda lições essenciais para fazer da vida um dom, levando à adoção da misericórdia como a razão da própria vida.
As lições na escola do presépio são muitas. O céu estrelado e o silêncio da noite fazem pensar na escuridão que envolve a vida. Ao mesmo tempo, permitem reconhecer a luz da presença de Deus, que não abandona o ser humano. O Pai ajuda cada um de seus filhos a encontrarem respostas para problemas que inquietam o coração. A relação do presépio com as cidades, marcadas pelas contradições e cenários degradantes, pode ajudar muitos a se abrirem ao amor e a melhor enfrentarem situações de exclusão. Jesus é a novidade que renova o mundo decaído, pois é a única resposta para recuperar o esplendor do amor.
Todos estão convidados à experiência de contemplar presépios, na força de sua arte, para vivenciar autenticamente a espiritualidade do Natal, com força maior que as luzes, as cores e os enfeites desta época do ano. Nas lições transmitidas pelo presépio está o amor aos pobres, que são exemplares no reconhecimento do amor de Deus. O desapego, ensinado na escola do presépio, contribui para que o ser humano resista à ilusão de buscar felicidade no que é efêmero. Neste tempo de preparação para o Natal, vale visitar e contemplar presépios para cultivar, pela oração e pela beleza, o amor que salva. Prepare presépios, visite-os, deixe-se “encharcar” com o amor de Deus.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Vamos a Belém
Segunda Exposição da Paróquia Nossa Senhora do Rosário – Concórdia.
Precisamos recordar com todo respeito e admiração o que fez São Francisco, no dia de Natal, no povoado de Greccio, há 800 anos.
“Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”. (São Frâncico de Assis)