Carisma - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Especial Tempo da Criação

Introdução

De 1º de setembro a 4 de outubro, os cristãos de diferentes denominações celebram o Tempo da Criação. Envolvidos pelo Jubileu da Esperança, pelos 10 anos da encíclica Laudato si’ e pelos 800 anos do Cântico das Criaturas, as reflexões e debates deste ano estão conectados ao tema: “Paz com a Criação”, baseado em Isaías (32,14-18).

“Porque o palácio está abandonado, a cidade tumultuosa, deserta; a fortaleza de Ofel e a torre de vigia estão convertidas para sempre em terras abandonadas, para delícia dos asnos selvagens e pastagem dos rebanhos. Até que, do alto, Deus nos dê novo alento. Então o deserto se converterá em pomar e o pomar será como uma floresta. O direito habitará nestas terras, agora desertas, e a justiça reinará no futuro pomar. A justiça produzirá a paz, e daí resultará para sempre tranquilidade e segurança. O meu povo habitará num oásis de paz, em moradas tranquilas e em lugares sossegados. (BPT09) ” (Guia de Celebração Tempo da Criação 2025).

De acordo com o Movimento Laudato si’, Isaías apresenta uma imagem nítida da criação ferida pela injustiça humana. “Esta visão ressoa em nós: nosso planeta está sofrendo e, ainda assim, acreditamos na promessa de renovação. Nosso chamado é sermos agentes ativos de mudança – orando, agindo e transformando nossa maneira de viver em comunhão com a criação e com o Criador.”

Observando o contexto bíblico no qual somos inseridos para imergir em diferentes realidades e, por meio de orações e atitudes, assumirmos o nosso compromisso como cristãos, é possível sentir o peso da cruz do Crucificado, pois Ele é a nossa principal referência de amor incondicional pela humanidade e por todas as criaturas. E é no seguimento de Jesus Cristo que deve se guiar a nossa caminhada.

Esse tempo de união a favor da vida e da criação começou com o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, instituído pelo Papa Francisco, na Igreja Católica, em 2015, de forma que todo 1º de setembro fosse conectado ao início do Tempo da Criação. Este ano o tema escolhido para o dia de oração é: “Sementes de Paz e Esperança”.

Antes dessa inciativa da Igreja Católica, a data já era celebrada pela Igreja Ortodoxa, que considera este o primeiro dia do ano litúrgico ou Ano Novo Eclesiástico bizantino, significando a formação do universo por Deus.

Em 1989, o então Patriarca Ecumênico Dimitrios, arcebispo da Igreja Ortodoxa Grega na América, aposentado em 1999, estabeleceu o primeiro dia do mês de setembro para a oração pela criação. Posteriormente, o Conselho Mundial de Igrejas estendeu a celebração até 4 de outubro, Festa de São Francisco de Assis. A prática também foi abraçada pela Comunhão Anglicana, pela Federação Luterana Mundial e pelo Movimento Laudato si’, entre outros.

Desde a publicação da encíclica Laudato si’, do Papa Francisco, a Igreja Católica tem encorajado todos à conversão ecológica, incentivando a participação nas iniciativas desse momento ecumênico.

Durante a celebração do Tempo da Criação, a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil se une à grande família de Deus para cantar, rezar e agir em favor da Casa Comum. Este período sagrado nos convida a escutar o cântico suave da criação e a reconhecer, com o Seráfico Pai Francisco, cada ser como dom e presença amorosa de Deus. O irmão sol, a irmã lua, a água e a terra fecunda nos recordam que tudo é graça e que somos chamados a viver em comunhão com toda a obra do Criador.

Inspirados pelo Pobrezinho de Assis, patrono da ecologia, somos chamados a olhar para dentro de nós como um espaço sagrado habitado por Deus. Sejamos como celeiros de sementes de esperança, prontas para serem lançadas e germinadas nos solos mais áridos, onde o ódio, a desesperança, a falta de solidariedade e de compaixão estão temporariamente instalados, porque o amor é capaz de romper todas as impetuosas manifestações contrárias à vida.

O contexto e o momento são perfeitos para que possamos esperançar, ou seja, colocar em prática, nas comunidades, na Igreja, na escola, na família e em outros espaços de convivência, ações que despertem a consciência e transbordem em atitudes capazes de transformar situações que prejudicam a criação e todas as criaturas de Deus.

O ano de 2025 possui um sentido profundo de unidade entre todos os irmãos e irmãs, sejam leigos, religiosos ou pertencentes a diferentes crenças, para abraçar a vida e caminhar em comunhão. O tom é dado pelo Cântico das Criaturas. Nesse hino, São Francisco canta a fraternidade universal: o irmão sol, que ilumina; a irmã lua e as estrelas, que embelezam a noite; o irmão vento e o ar, que sustentam a vida; a irmã água, humilde e preciosa; o irmão fogo, que aquece e ilumina; e a irmã mãe terra, que nos alimenta e governa. O Cântico não é apenas poesia, mas expressão de uma espiritualidade que reconhece toda a criação como reflexo do Criador.

Assim, o Tempo da Criação é um convite a redescobrir o carisma franciscano, que nos chama a viver a simplicidade, a fraternidade e o cuidado com todas as criaturas. Ao lado de São Francisco, somos desafiados a buscar a paz com a criação, aprendendo a ver no universo não um recurso a ser explorado, mas uma família a ser amada e respeitada.

Neste especial, trazemos a você textos que irão ajudar a refletir sobre este momento tão significativo para todos os irmãos.

Mensagem do Papa Leão XIV para o X Dia mundial de Oração pelo cuidado da Criação 2025

“Sementes de Paz e Esperança” foi o tema escolhido pelo Papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação deste ano, celebrado no dia 1º de setembro.

O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral comunicou, no mês de abril, o tema escolhido para a edição 2025, mostrando a unidade com o Tempo da Criação, que também tem início no primeiro dia do mês das flores, como é conhecido.

Isso significa que, até o encerramento desse tempo, no dia 4 de outubro, Festa de São Francisco de Assis, somos convidados a viver a primavera da esperança, cultivando a paz e o bem.

Conforme sublinhado no Magistério do Papa Francisco e de seus antecessores recentes, a ligação entre a paz e o cuidado da criação é muito estreita. Da mesma forma, há uma conexão muito próxima entre guerra e violência, por um lado, e a degradação da nossa Casa comum e o desperdício de recursos (destruição e armamentos), por outro.

A mensagem escrita pelo Papa Leão XIV, divulgada em junho, convida à oração para que se criem condições para uma paz duradoura, construída de forma conjunta e inspiradora de esperança. A metáfora da semente ressalta a necessidade de um compromisso a longo prazo. Além disso, a mensagem apresenta boas práticas e exemplos de sementes de paz e esperança em diferentes continentes.

Acompanhe a mensagem abaixo
—————————————-

Mensagem de Sua Santidade Papa Leão XIV para o X Dia mundial de Oração pelo cuidado da Criação 2025

[1º de setembro de 2025]

Sementes de paz e esperança

Queridos irmãos e irmãs!

O tema para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação deste ano, escolhido pelo nosso amado Papa Francisco, é “Sementes de Paz e Esperança”. No décimo aniversário da instituição deste Dia de oração, que coincidiu com a publicação da Encíclica Laudato si’, encontramo-nos em pleno Jubileu, “peregrinos de Esperança”. E é precisamente neste contexto que o tema adquire todo o seu significado.

Na sua pregação, Jesus usa com frequência a imagem da semente para falar do Reino de Deus e, na véspera da Paixão, aplica-a a Si mesmo, comparando-Se ao grão de trigo, que deve morrer para dar fruto (cf. Jo 12, 24). A semente entrega-se inteiramente à terra e aí, com a força impetuosa do seu dom, a vida germina, mesmo nos lugares mais inesperados, numa surpreendente capacidade de gerar um futuro. Pensemos, por exemplo, nas flores que crescem à beira da estrada: ninguém as plantou, mas elas crescem graças a sementes que foram parar ali quase por acaso e conseguem decorar o cinzento do asfalto e até mesmo penetrar na sua dura superfície.

Assim, em Cristo, somos sementes. Não só isso, mas “sementes de Paz e Esperança”. Como diz o profeta Isaías, o Espírito de Deus é capaz de transformar o deserto árido e ressequido num jardim, num lugar de repouso e serenidade: «Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma floresta. Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre. O povo de Deus repousará numa mansão serena, em moradas seguras e em lugares tranquilos» (Is 32, 15-18).

Estas palavras proféticas que, de 1º de setembro a 4 de outubro, acompanharão a iniciativa ecuménica do “Tempo da Criação”, afirmam com força que, junto à oração, são necessárias vontades e ações concretas que tornem perceptível esta “carícia de Deus” sobre o mundo (cf. Carta enc. Laudato si’, 84). Com efeito, a justiça e o direito parecem remediar a inospitalidade do deserto. Trata-se de um anúncio extraordinariamente atual. Em várias partes do mundo, já é evidente que a nossa terra está a cair na ruína. Por todo o lado, a injustiça, a violação do direito internacional e dos direitos dos povos, a desigualdade e a ganância provocam o desflorestamento, a poluição, a perda de biodiversidade. Os fenómenos naturais extremos, causados pelas alterações climáticas provocadas pelo homem, estão a aumentar de intensidade e frequência (cf. Exort. ap. Laudate Deum, 5), sem ter em conta os efeitos, a médio e longo prazo, de devastação humana e ecológica provocada pelos conflitos armados.

Parece ainda haver uma falta de consciência de que a destruição da natureza não afeta todos da mesma forma: espezinhar a justiça e a paz significa atingir principalmente os mais pobres, os marginalizados, os excluídos. A este respeito, o sofrimento das comunidades indígenas é emblemático.

E não basta: a própria natureza torna-se, por vezes, um instrumento de troca, uma mercadoria a negociar para obter ganhos económicos ou políticos. Nestas dinâmicas, a criação transforma- se num campo de batalha pelo controlo dos recursos vitais, como testemunham as zonas agrícolas e as florestas que se tornaram perigosas por causa das minas, a política da “terra queimada”, os conflitos que eclodem em torno das fontes de água, a distribuição desigual das matérias primas, penalizando as populações mais fracas e minando a própria estabilidade social.

Estas várias feridas devem-se ao pecado. Não era certamente isso que Deus tinha em mente quando confiou a Terra ao homem criado à sua imagem (cf. Gn 1, 24-29). A Bíblia não promove «o domínio despótico do ser humano sobre a criação» (Carta enc. Laudato si’, 200). Pelo contrário, «é importante ler os textos bíblicos no seu contexto, com uma justa hermenêutica, e lembrar que nos convidam a “cultivar e guardar” o jardim do mundo (cf. Gn 2, 15). Enquanto “cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, “guardar” significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza» (ibid., 67).

A justiça ambiental – implicitamente anunciada pelos profetas – já não pode ser considerada um conceito abstrato ou um objetivo distante. Ela representa uma necessidade urgente que ultrapassa a mera proteção do ambiente. Trata-se verdadeiramente de uma questão de justiça social, económica e antropológica. Para os que creem em Deus, além disso, é uma exigência teológica, que para os cristãos tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido.

Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade.

Chegou verdadeiramente o tempo de dar seguimento às palavras com obras concretas. «Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã» (ibid., 217). Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança. Por vezes, são precisos anos para que a árvore dê os primeiros frutos, anos que envolvem todo um ecossistema na continuidade, na fidelidade, na colaboração e no amor, sobretudo se este amor se tornar um espelho do Amor oblativo de Deus.

Entre as iniciativas da Igreja, que são como sementes lançadas neste campo, gostaria de recordar o projeto “Borgo Laudato si’”, que o Papa Francisco nos deixou como herança em Castel Gandolfo, uma semente que pode dar frutos de justiça e paz. Trata-se de um projeto de educação para a ecologia integral que visa ser um exemplo de como se pode viver, trabalhar e fazer comunidade aplicando os princípios da Encíclica Laudato si’.

Peço ao Todo-Poderoso que nos envie em abundância o seu «espírito do alto» (Is 32, 15), para que estas sementes e outras semelhantes possam dar frutos abundantes de paz e esperança.

A Encíclica Laudato si’ acompanha a Igreja Católica e muitas pessoas de boa vontade desde há dez anos: que ela continue a inspirar-nos, e que a ecologia integral seja cada vez mais escolhida e partilhada como caminho a seguir. Assim se multiplicarão as sementes de esperança, a serem “guardadas e cultivadas” com a graça da nossa grande e indefectível Esperança, Cristo Ressuscitado. Em seu nome, envio a todos vós a minha bênção.

Vaticano, 30 de junho de 2025, Memória dos Santos Protomártires da Igreja Romana.

LEÃO PP. XIV

________________

[1] Cf. Pontifício Conselho Justiça e Paz, Terra e Cibo, LEV 2015, 51-53

ACESSE O DOCUMENTO OFICIAL


Fonte: Vatican News

Descobrir a presença de Deus na criação para sermos responsáveis em protegê-la


No dia 2 de setembro, a Rede Mundial de Oração do Papa e divulgou um vídeo no qual o Papa Leão XIV destaca os 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis e dos 10 anos da Encíclica Laudato si’ do Papa Francisco, durante o Tempo da Criação. As imagens que acompanham a intenção de oração do mês dedicada à relação do ser humano com a criação foram produzidas com o apoio do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Oração inédita

O vídeo traz uma oração inédita do Pontífice, que pede a Deus que saibamos reconhecer a presença de Deus na criação. Uma continuidade do magistério do Papa Leão XIV ao de Francisco, autor da encíclica Laudato si’ (2015), especialmente evidenciada na referência a São Francisco:

Senhor, Tu amas tudo o que criaste,

e nada existe fora do mistério da tua ternura.

Cada criatura, por mais pequena que seja,

é fruto do teu amor e tem um lugar neste mundo.

 

Mesmo a vida mais simples ou mais breve é envolvida pelo teu cuidado.

Como São Francisco de Assis, hoje também queremos dizer:

“Louvado sejas, meu Senhor!”.

 

Através da beleza da criação,

Tu revelas-te como fonte de bondade. Nós te pedimos:

abre os nossos olhos para te reconhecer,

aprendendo com o mistério da tua proximidade a toda a criação

que o mundo é infinitamente mais do que um problema a resolver.

É um mistério a ser contemplado com gratidão e esperança.

 

Ajuda-nos a descobrir a tua presença em toda a criação,

para que, reconhecendo-a plenamente,

nos sintamos e saibamos responsáveis por esta casa comum

na qual nos convidas a cuidar, respeitar e proteger

a vida em todas as suas formas e possibilidades.

Abordagem e apresentação

A interpretação franciscana da intenção de oração do Papa é narrada através de algumas imagens do documentário São Francisco de Assis – Sinal de Contradição, cedidas à Rede Mundial de Oração do Papa pela produtora norte-americana 10th Hour Production. Já o aniversário da Laudato si’ está presente através da missa celebrada em 9 de julho, por Leão XIV, na “catedral natural” – como a definiu em homilia – do Borgo Laudato si’ em Castel Gandolfo; uma celebração que seguiu o formulário da Missa pro custodia creationis (Missa pelo cuidado da criação), acrescentada pelo Pontífice ao Missal Romano precisamente por ocasião do aniversário de 10 anos da Encíclica do Papa Francisco.

Todos somos responsáveis pela casa comum

Entre os concelebrantes daquela missa esteve o cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que apoiou a realização deste Vídeo do Papa. “O Jubileu da Esperança e o aniversário de 10 anos da Encíclica Laudato si’ nos convidam a viver um tempo de gratidão, compromisso e cuidado com a nossa casa comum”, sublinha o cardeal. E acrescenta: “todas as criaturas, mesmo as mais pequenas, são expressão do amor de Deus; na oração reconhecemos o valor e a sacralidade de toda a vida. O Santo Padre nos exorta a descobrir a presença de Deus na criação. Contemplando-a, somos chamados a protegê-la, a reconciliá-la, a viver em harmonia, a defendê-la com espírito profético, a respeitar todos os seres humanos e a promover uma paz duradoura e sustentável”.

Justiça ambiental, uma necessidade urgente

Na mensagem “Sementes de paz e esperança” para a X Jornada Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação (celebrada em 1 de setembro), o Papa Leão XIV afirma que a destruição da natureza, consequência do pecado humano, afeta sobretudo os mais pobres e vulneráveis. A justiça ambiental, escreve o Pontífice, “representa uma necessidade urgente que vai além da simples proteção do meio ambiente. Na realidade, trata-se de uma questão de justiça social, econômica e antropológica”, além de uma exigência teológica. Sendo os mais frágeis aqueles que sofrem com maior intensidade os efeitos das alterações climáticas e da deterioração ambiental: “o cuidado da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade”.

Nas pegadas de São Francisco

O diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, Pe. Cristóbal Fones, sublinha que a intenção deste mês “nos recorda a interligação deste mundo: não se pode separar o bem-estar humano do bem-estar dos outros habitantes da Terra e do “estado de saúde” do nosso planeta”. “Este mês – continua o Pe. Fones -, o Papa nos convida a refletir sobre como as nossas ações afetam a natureza, obra de Deus, e a procurar modos de vida que promovam a restauração do equilíbrio natural e a harmonia entre o ser humano e o meio ambiente. Num mundo tão competitivo, agitado e dominado pela dinâmica do consumo, grande parte da humanidade anseia profundamente por um modo de viver bom, mais próximo da natureza, mais respeitoso com ela; um estilo que nos permita contemplá-la num silêncio atento que nos leve ao encontro com nós mesmos, com Deus e com os outros”.

Para o presbítero, São Francisco pode nos inspirar neste caminho para uma vida “mais simples, menos consumista; uma vida baseada numa relação fraterna com os outros e com a natureza, e numa relação filial, de amor e gratidão a Deus”. Por fim, no contexto do Ano Santo de 2025, O Vídeo do Papa adquire uma relevância especial, pois divulga as intenções de oração que o Pontífice leva no coração. Para receber adequadamente as graças da indulgência jubilar, é necessário, precisamente, rezar pelas intenções do Papa.


Andressa Collet – Vatican News

Fonte:https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-09/papa-leao-xiv-video-intencao-de-oracao-setembro-2025-criacao.html

Canção de Reconciliação: Carta para o VIII Centenário do Cântico das Criaturas (1225-2025)

No dia 1º de setembro, a Ordem dos Frades Menores e a Família Franciscana publicaram o documento intitulado “Canto à Reconciliação”, por ocasião do VIII Centenário do Cântico das Criaturas (1225-2025).

O texto é assinado por Frei Massimo Fusarelli, Ministro Geral OFM; Frei Carlos Trovarelli, Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores Conventuais; Frei Roberto Genuin, Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos; e Frei Amando Trujillo Cano, Ministro Geral da Terceira Ordem Regular.

Esta celebração integra a sequência dos centenários que compõem o único Centenário Franciscano, passando por Fonte Colombo, Greccio, La Verna, São Damião e, finalmente, Santa Maria dos Anjos.

De acordo com o texto publicado no site da Ordem, entre a dor e o amor de La Verna — onde Francisco recebeu os Estigmas — e o seu encontro com a “Irmã Morte”, encontramos este cântico de louvor e reconciliação, que resume a visão de Francisco sobre Deus e o mundo, sobre as criaturas e os seres humanos, sobre si mesmo e o Todo-Poderoso. O Cântico é uma síntese da visão franciscana da realidade, e juntos queremos entoá-lo novamente com alegria de espírito!

Em 2025, Ano Santo e Ano do Cântico das Criaturas, desejamos redescobrir, juntos, a profundidade desta oração que atravessou os séculos e que ainda hoje fala ao coração da humanidade e da Igreja. Composto gradualmente por Francisco entre 1225 e 1226, o Cântico não é apenas um texto poético, mas o testemunho de uma visão abrangente de Deus Criador, da criação, da fraternidade universal e da ecologia integral — temas que o Papa Francisco retomou com vigor em sua encíclica Laudato si’.

Acompanhe a carta abaixo

PREMISSA

Queridos irmãos e irmãs da Família Franciscana no mundo,

Que o Senhor lhes dê a sua paz!

Com esta carta, desejamos compartilhar com vocês a alegria pelo VIII Centenário do Cântico das Criaturas, uma data que não podemos deixar passar despercebida. Esta celebração se insere plenamente na sequência dos Centenários que compõem o único e grande Centenário Franciscano: de Fonte Colombo a Greccio, passando pelo Alverne, por São Damião e, por fim, por Santa Maria dos Anjos.

Entre a dor e o amor vividos no Alverne, onde Francisco recebeu os Estigmas, e o encontro com a “Irmã Morte”, encontramos este cântico de louvor e reconciliação que resume o olhar de Francisco sobre Deus e o mundo, sobre as criaturas e os seres humanos, sobre si mesmo e sobre o Altíssimo. O Cântico é uma síntese do modo como Francisco percebia a realidade, e queremos, juntos, continuar a cantá-lo com alegria de espírito!

Em 2025, Ano Santo e Ano do Cântico das Criaturas, desejamos redescobrir juntos a profundidade dessa oração que atravessou os séculos e que, ainda hoje, fala ao coração da humanidade e da Igreja.

Composto gradualmente por Francisco entre 1225 e 1226, o Cântico não é apenas um texto poético, mas o testemunho de uma visão completa de Deus Criador, da criação, da fraternidade universal e da ecologia integral, temas que o Papa Francisco retomou com força em sua encíclica Laudato si’.

A. NO CAMIMHO DA IGREJA

Hino de Júbilo

Que louvor pode existir sem o canto? E qual canto pode existir sem um som que o acompanhe? “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas”.  O Cântico do Trovador de Deus é música, talvez até antes de ser palavra, pois Francisco desejava que, por meio do canto, se anunciassem o perdão e a paz aos poderes em conflito. Foi isso que aconteceu, posteriormente, com o movimento dos paceri, também conhecido como o movimento do Aleluia. O Cântico pertence ao gênero das laudas medievais e é, antes de tudo, um louvor. Não foi criado para ser lido em silêncio, mas para ser proclamado em canto.

Também o Jubileu começa com um som: o do shofar, o chifre de carneiro que, se íntegro e devidamente preparado, torna-se o yobel, a trombeta do jubileu. Que tipo de liturgia pode haver sem música? E que música pode existir sem a ajuda de um instrumento-, instrumento que somente a criação, obra das mãos de Deus, pode fornecer? Não se tratava de instrumentos mecânicos, mas de sopros e cordofones de arco, feitos com materiais animais e vegetais, que eram admitidos para expressar na liturgia a sublimidade do louvor a Deus, que é “o Bem, o Sumo Bem, Senhor Deus vivo e verdadeiro”. Como diz o Salmo “Desperta, cítara e harpa, eu vou despertar a aurora”. De fato, o ser humano não pode ser salvo sem a criação. Quando agimos contra a criação de Deus (opus Dei), fazemos mal a nós mesmos e à nossa aliança com o Criador. Segundo a tradição oriental, o ser humano que maltrata a natureza perde o sentido da beleza; quem não a cuida torna-se preguiçoso, e quem ignora sua alteridade natural cai na ignorância.

A espiritualidade do louvor acompanha Francisco de Assis desde a conversão até o encontro com a irmã morte, atravessando as dificuldades da existência humana, como aquelas descritas na parábola da “verdadeira e perfeita alegria”. “Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que… sustentam enfermidade e tribulação…”. Não pode haver reconciliação com os irmãos sem reconciliação com a terra, como exige o anúncio do Jubileu. É possível proclamar a libertação dos escravos sem eliminar a injustiça na posse da terra? Sim, libertação dos escravos, mas não sem o repouso da terra! “Grito da terra e grito dos pobres” Francisco não conhecia contraposição ou polarização. Na linguagem do Cântico, a diferença torna-se harmonia, e não antagonismo; complementariedade, e não dissonância. Até os gêneros gramaticais dos substantivos sinalizam o ritmo da reciprocidade: irmão Sol e irmã Lua, irmão Vento e irmã Água, irmão Fogo e irmã nossa mãe Terra. E não se trata apenas de uma peculiaridade estilística, mas de uma verdadeira visão teológica, amadurecida por Francisco ao longo do seu caminho evangélico. A irmandade cósmica que ele proclama não elimina as diferenças, mas as integra em uma ordem de respeito e reciprocidade, refletindo a ligação originária entre homem e mulher, entre céu e terra, entre luz e trevas. Assim, seu canto não apenas enumera as criaturas, mas as une em uma totalidade na qual até mesmo os contrastes mais radicais- dia e noite, frio e calorse reconciliam em uma unidade mais ampla. Nada está excluído dessa sinfonia, onde a diversidade do criado não é fragmentação, mas riqueza, e onde cada ser, em sua singularidade, é chamado a participar do comum louvor ao Criador: Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão Vento, … e pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e por todo tempo. Francisco aprendeu que unidade não é uniformidade, mas comunhão: uma interconexão de relações em que cada criatura existe não por si mesma, mas em relação com as demais, numa ordem de integração e reciprocidade que reflete a bondade divina.

Ao Altíssimo Bom Senhor

Tudo está conectado, tudo está em relação: tudo é trinitário. Deus é tudo, e tudo está em Deus. Como expressar o jubileu ao Altíssimo, onipotente e bom Senhor, que depois daquela noite de tormentos físicos e espirituais em São Damião, consolou novamente Francisco com a promessa da salvação eterna, mostrando-lhe uma visão semelhante a um maravilhoso jardim? Somente os sons, as cores, os sabores e os perfumes das criaturas permitem restituir plenamente o louvor ao Criador do universo. É apenas por meio da criação que recebemos linguagem e música para cantar a sua beleza: “Reconhece nas coisas belas aquele que é o mais Belo; todas as coisas boas lhe clamam: ‘Quem nos fez é o Melhor’”.

“Meu Deus e meu tudo! ”- Francisco repetira isso durante toda a noite na casa de Bernardo de Quintavalle. Era o grito de Jesus na cruz, unido à esperança de São Paulo: “para que Deus seja tudo em todos”. E também no Monte Alverne, como nos conta frei Leão, Francisco voltou a contemplar o abismo do amor de Deus: “Quem és tu, dulcíssimo Deus meu, e quem sou eu, vilíssimo verme e teu inútil servo? ”. Ali mesmo, no Monte Alverne, já sem hesitação, exclama: “Vós sois tudo, nossa riqueza em suficiência”.

Deus é tudo, e tudo está em Deus. Francisco não cessa de afirmar a infinita magnificência e bondade de Deus: “Vós, Senhor, […] sois o sumo e eterno Bem, do qual procede todo o bem, sem o qual não há nenhum bem”. Como poderia ele, assíduo leitor da Escritura, não reconhecer na própria criação o dedo de Deus, o livro que narra a Sua beleza? Como escreve Tomás de Celano, seu primeiro biógrafo:

Quem seria capaz de narrar a doçura que fruía ao contemplar nas criaturas a sabedoria, o poder e a bondade do Criador? Na verdade, a partir desta consideração, enchia-se muitas vezes de admirável e inefável alegria, quando olhava o sol, quando via a lua, quando contemplava as estrelas e o firmamento.

Tomás de Celano, com convicção, continua a lapidar sua narrativa sobre a origem e o princípio inspirador do Cântico, inclusive ao escrever o Memorial no desejo da Alma:

Toda aquela bondade fontal, que há de ser tudo em todos, já se manifestava a este santo como tudo em todos.

B. PARA UMA FRATERNIDADE UNIVERSAL

Com a ajuda das criaturas

“Altíssimo, onipotente, bom Senhor…”: não poderiam existir títulos mais sublimes para expressar a plenitude cósmica do Deus de Francisco!

Mas é justamente ao contemplar a incomensurável grandeza do Pai de todas as coisas que Francisco descobre o abismo do próprio nada. A visão da sublimidade do Altíssimo desperta nele a consciência da própria indignidade, o que o leva a invocar a ajuda das criaturas. A bondade excessiva desse Deus -o único verdadeiro digno de louvor- faz com que Francisco se sinta até mesmo incapaz de pronunciar o seu nome:

“Teus são o louvor, a glória e a honra e toda bênção. Somente a ti, ó Altíssimo, eles convêm, e homem algum é digno de mencionar-te”.

No louvor elevado a Deus pelos vinte e quatro anciãos do Apocalipse, Francisco identificava o ápice do seu itinerário espiritual: um caminho que vai do “conhecimento” de Deus- “todo bem, sumo bem, todo o bem”- ao “reconhecimento” da sua doçura, força e beleza, até chegar à “restituição” de tudo, por meio do louvor:

“E restituamos todos os bens ao Senhor Deus altíssimo e sumo e reconheçamos que todos os bens são dele e por tudo demos graças a ele, de quem procedem todos os bens”.

Se na Regra é Cristo quem socorrerá a humanidade- que “não é digna de proferir o vosso nome”- no Cântico, são as criaturas que emprestam suas vozes ao gênero humano. Essa é uma das grandes intuições de Francisco, retomada pelo Papa Francisco na Laudato si’, quando aponta o Santo do Cântico como modelo de ecologia integral:

“Acho que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade […]. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo”.

Pegadas da Palavra Feita Carne

É somente por meio das criaturas que o ser humano, indigno, encontra auxílio para restituir a Deus um louvor “como Lhe é agradável”.

Como recorda Francisco em suas Admoestações, as criaturas “servem, reconhecem e obedecem ao seu Criador melhor do que tu”. Essa não é uma invenção poética de Francisco, mas fruto de sua leitura atenta das Escrituras. Na liturgia, antes de tudo, as criaturas aparecem como um livro sonoro que proclama “a glória” do seu Criador: “Os céus narram a glória de Deus, o firmamento anuncia a obra de suas mãos”.

Muito se discutiu entre os estudiosos sobre o valor daquele “cum” (com) na expressão “Louvado sejas, meu Senhor, cum todas as criaturas”. Seria esse cum um complemento de companhia (“sejas louvado, Senhor, e contigo sejam louvadas também as criaturas”) ou um complemento de meio (“sejas louvado, Senhor, por meio de todas as criaturas”)?

A afirmação da indignidade do ser humano no início do Cântico parece favorecer esta segunda interpretação. Não encontrando em si mesmo uma voz digna de louvor, Francisco acolhe o apelo do Salmista:

“Que todas as tuas obras te louvem, Senhor”. Nos Escritos de Francisco, encontramos sempre, junto ao “com as tuas criaturas”, também o “pelas tuas criaturas”: por meio das quais Ele nos ilumina e sustenta. Afinal, não é a carne o ponto central da salvação?

No olhar poético

Que as criaturas não sejam fruto de um demiurgo maligno- como sustentava a heresia dos cátaros, contemporânea de Francisco-, mas sim fruto da beleza do Altíssimo, bom Senhor, torna- se evidente na estrofe dedicada à “mãe terra”. Ao ler atentamente o texto do Gênesis:

“A terra produza vegetação… plantas… A terra produza seres viventes, animais domésticos, animais selvagens… Deus formou o homem do pó da terra”.

Francisco reconhece a dimensão materna da terra, vendo-a como “co-geradora” de todas as demais criaturas, inclusive do próprio ser humano. A terra não só co-genera apenas no início do mundo, mas continua exercendo seu papel materno ao longo da história, nutrindo e governando cada ser vivente. A mãe terra governa porque nutre, realiza um serviço político porque veste o avental do serviço, à semelhança daquele que Jesus usou no lava-pés.

“…e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas”. Que a erva não seja apenas alimento, reduzida a uma função utilitarista, mas também criatura digna de admiração- junto com as flores coloridas- é uma intuição que nasce da genialidade poética de Francisco.

Também Tomás de Celano se maravilha com isso:

Quanta alegria julgas que a beleza das flores lhe trazia à mente, quando ele via a delicadeza da forma e sentia o suave perfume delas? E quando encontrava grande quantidade de flores, de tal modo lhes pregava e as convidava ao louvor do Senhor, como se elas fossem dotadas de razão”.

C. BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE SUPORTAM ENFERMIDADES E TRIBULAÇÃO

Na escada da criação

Ao final, chegamos a nós: os seres humanos. A entrada em cena do homen e da mulher parece provocar um “salto”, um sobresalto, uma elevação repentina no Cântico. É como se Francisco tivesse prepara- do, até aqui, o terreno para a novidade- ou a diferença- representada por este último motivo de louvor. A ecologia franciscana, para ser verdadeiramente integral, não pode deixar “de fora” o ser humano. Mas a verdadeira pergunta é: qual ser humano?

Até este ponto, o ser humano- expulso do jardim e emudecido, sem palavras para louvar o seu Deus- teve que apoiar-se em toda a criação, quase pedindo a ela mediação. Agora, está pronto para entrar em cena, tendo encontrado outras palavras. Quais palavras? Mesmo que o Cântico não possua uma composição unitária no tempo e no lugar, ele expressa uma coerente unidade de pensamento.

Os elementos naturais descritos até agora são louvados por aquilo que são por natureza, por aquilo que realizam em favor do ser humano. Reconhecer isso e louvar a Deus por esse dom já é um passo adiante. Mas Francisco não louva o ser humano do mesmo modo. Ele não o louva por suas características inatas, mas por algo que não é espontâneo: a capacidade de habitar o mistério da vida, mesmo que a partir das margens. Não foi o próprio Francisco quem compôs o Cântico justamente a partir de sua “margem” existencial? Francisco louva apenas “este homem”, e não todos os homens em geral. Ele louva o ser humano capaz de estar conscientemente também nas situações de conflito, na brecha, na ferida, na contradição, na aparente derrota. Francisco sabe bem que o contrário do amor não é o ódio, mas a posse, que, por sua vez, pode facilmente se transformar em ódio. Ele sabe que abraçar é diferente de reter: e Francisco não deseja mais possuir nada, nem a si mesmo, nem os próprios limites, nem as próprias fragilidades, nem os seus medos, nem o mal que os outros lhe fazem.

Os últimos degraus

O Cântico é, antes de tudo, cristológico: ele nos fala algo de Cristo e, por consequência, da antropologia franciscana, nos revela aquilo que o ser humano é chamado a ser, à imagem de Cristo. Se Jesus perdoou da cruz, é pela força desse mesmo perdão (“pelo Teu amor”) que o ser humano se torna verdadeiramente tal: porque, antes de tudo, é capaz de perdoar, mesmo em meio ao mal. Ele sabe responder de forma alternativa ao mal recebido, rompendo assim o ciclo.

É livre, porque possui a possibilidade de não aumentar o mal que já existe no mundo. A grandeza do ser humano, também ela à imagem de Cristo, está ainda na capacidade de acolher e dar sentido à enfermidade e à fragilidade- não vistas apenas como acidentes de percurso. Como diz um leproso em um episódio narrado nos Fioretti: “E que paz posso ter eu de Deus que me tirou a paz e todos os bens e me fez todo podre e asqueroso?”. A isso Francisco responde, depois de exortar os frades a cuidar do irmão enfermo: “E peço ao irmão enfermo que por tudo renda graças ao Criador; e que, da maneira como o Senhor o quer, assim deseje estar, são ou enfermo”.

Por fim, chegamos à acolhida da morte- de toda morte, inclusive aquela cotidiana- o rochedo onde se despedaça todo sonho nosso de onipotência, e a chamamos de “irmã”. Isso significa reconciliar-se com ela, quase como que perdoá-la. Desde que cheguemos a esse encontro vivos, plenamente e evangelicamente vivos. É uma ques- tão de vida, não de morte: encontrar a morte significa confrontar-se com o sentido profundo da vida. Somente depois de haver passado pelo perdão, pela acolhida da fragilidade humana e pela reconci- liação com a morte, aquele ser humano que, no início, não era se- quer digno de mencionar o nome do Senhor, pode finalmente ousar louvá-lo em plena voz, em coro com toda a criação! Porque esse é Francisco, e com ele, toda pessoa livre, pacificada, conforme a Cristo. Servir (preferir o último lugar, estar submetido a todos31, fazê-lo “com grande humildade”, seguir os passos de Cristo que “a cada dia se humilha”32 e, com todos, louvar, bendizer e agradecer) é isso que cada homem e cada mulher deveriam saber fazer de melhor, para continuar verdadeiramente humanos. Tanto é assim que o humilde Francisco prevê no Cântico a possibilidade de um “ai” solitário, reservado justamente àqueles seres humanos que não desejaram sê-lo.

D. NO CORAÇÃO DE DEUS

Se pensarmos bem…

O Cântico não foi escrito de uma só vez, mas no ritmo da própria vida de Francisco:

  • No outono de 1225, hospedado em São Damião e já quase cego, ele compõe as estrofes dedicadas às criaturas.
  • Em julho de 1226, durante sua permanência na residência do bispo de Assis, acrescenta a estrofe sobre o perdão e a paz.
  • E, já no fim de 1226, próximo da morte, inclui a estrofe dedicada à Irmã Morte.

O Cântico não é apenas fruto de uma reflexão interior, mas nasce de uma alma profundamente missionária. Nos versos sobre o per- dão e a paz, transparece o desejo de que os frades “fossem com ele por todo o mundo pregando e cantando os louvores do Senhor”33. A escolha da língua vernácula, em lugar do latim, mostra a intenção clara de que sua mensagem pudesse atingir todos os corações, sem barreiras culturais ou sociais. O Cântico é, em sua essência, um doce convite à conversão, não como um imperativo moral, mas como uma abertura à experiência de Deus presente no criado. Para entrar nessa lógica de louvor, Francisco oferece duas chaves essenciais: a pureza de coração e a pobreza de espírito.

Uma autêntica visão teológica

O Cântico encarna uma dinâmica litúrgica marcada por um duplo movimento: uma descida, na qual o olhar se abre para reconhecer a presença divina em cada criatura; e um retorno, no qual tudo o que existe é novamente oferecido ao Criador. É a mesma experiência cristã de Francisco que orienta esse olhar em direção à história da salvação, compreendida em um ritmo circular, que une e reconcilia. Francisco se faz voz de um cântico de descentralização, pois quem louva se despoja de si mesmo para reconhecer que o bem não é uma posse, mas dom recebido e partilhado.

O Cântico é expressão de uma visão redimida do mundo, que Fran- cisco amadureceu ao longo do seu caminho de fé. Ele canta a partir de uma profunda pacificação interior: reconciliado consigo mesmo, com os outros, com a criação e com o mistério da morte. Essa fraternidade universal nasce da certeza de que tudo o que Deus criou é bom. Seu olhar- longe de ser ofuscado pelo sofrimento que o afligia na época da composição- se abre à experiência pascal: na escuridão, o cego canta à luz; na enfermidade, o enfermo exalta a beleza da terra; na iminência da morte, o moribundo proclama a bem-aventurança eterna: “Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa morte corporal”.

No Cântico, Francisco manifesta uma visão na qual princípio e fim da criação se entrelaçam em um mesmo louvor, como um eco da justiça originária e uma antecipação da plenitude do Reino de Deus. Este hino, percebido com o olhar puro de quem aprendeu a ver o mundo com os olhos da fé, não apenas recorda a harmonia primor- dial- na qual tudo o que foi criado era bom- mas proclama também o cumprimento definitivo do desígnio divino, quando cada reali- dade, transfigurada pela graça, retomará a sua unidade em Deus. Assim, Francisco canta o passado e o futuro do sonho divino, em um hino que é memória e profecia, certeza e esperança, celebração e desejo. Seu louvor não é mero reconhecimento da beleza criada, mas uma confissão de fé Naquele que é bom com todos, e cuja ternura alcança todas as suas criaturas35, sustentando o cosmos com seu amor e conduzindo-o à sua última plenitude.

CONCLUSÃO

Queridos irmãos e irmãs da Família Franciscana,

Convidamos todos a celebrar com alegria o VIII Centenário do Cântico das Criaturas, no contexto do Ano Jubilar de 2025. Façamos nosso o olhar límpido e profético do Pobrezinho de Assis, capaz de reconhecer em cada criatura um vestígio do Criador e de nos chamar a uma fraternidade universal que abraça o cosmos por inteiro.

Num tempo em que as feridas da terra e o grito dos pobres se fazem ouvir com força, a voz de Francisco nos convida a redescobrir a beleza de sermos peregrinos e forasteiros neste mundo: custódios e não donos da criação, irmãos e irmãs de cada ser vivente. O seu canto nos impulsiona a tornar-nos artesãos da paz e do perdão, a viver a vulnerabilidade não como limite, mas como abertura ao outro, a integrar a morte no grande mistério da vida.

Com Francisco, aprendemos a acolher toda realidade- da mais luminosa à mais obscura- dentro de uma experiência de louvor e de restituição. O Cântico nos ensina que não existem vidas desprovidas de sentido, nem criaturas sem voz, nem situações fora do alcance da compaixão divina. Tudo é abraçado pela ternura do Pai, e tudo pode tornar-se ocasião de louvor.

Que esta celebração centenária nos ajude a recuperar o olhar puro de Francisco, capaz de ver além das aparências e de reconhecer a dignidade e a beleza de cada ser.

Possamos, assim, tornar-se como ele: cantores da reconciliação e da esperança para o nosso tempo, despertando nos corações a capacidade de maravilhar-se, agradecer e cuidar da casa comum.

Com gratidão e esperança, vos abençoamos no Senhor.

Fr. Massimo Fusarelli, OFM

Fr. Carlos Trovarelli, OFMConv

Fr. Roberto Genuin, OFMCap

Fr. Amando Trujillo Cano, TOR

Assis, 1º de setembro de 2025

ACESSE O DOCUMENTO OFICIAL


Fonte: https://ofm.org/canto-alla-riconciliazione.html

Tempo da Criação

O Tempo da Criação é um tempo para renovar a nossa relação com o nosso Criador e toda a criação através da celebração, da conversão e do compromisso coletivo. Durante o Tempo da Criação, nos unimos às nossas irmãs e irmãos da família ecumênica em oração e ação pela nossa casa comum.

O Patriarca Ecumênico Dimitrios I proclamou 1 de setembro como um dia de oração pela criação para os ortodoxos em 1989. De fato, o ano litúrgico da Igreja Ortodoxa começa nesse dia com a comemoração de como Deus criou o mundo.

O Conselho Mundial de Igrejas foi chave para transformar isto em um tempo, estendendo a celebração do dia 1 de setembro a 4 de outubro.

Seguindo a liderança do Patriarca Ecumênico Dimitrios I e o CMI, os cristãos ao redor do mundo abraçaram o tempo como parte do seu calendário anual. O Papa Francisco estabeleceu o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação na Igreja Católica Romana em 2015, e em 2019 começou a celebrar também o Tempo da Criação.

Nos últimos anos, declarações de líderes religiosos do mundo todo também encorajaram os fiéis a dedicarem tempo para cuidar da criação durante esta celebração de um mês.

O tempo começou no dia 1 de setembro, o Dia Mundial de Oração pela Criação, e termina dia 4 de outubro, a Solenidade de São Francisco de Assis, santo padroeiro da ecologia amado por tantas denominações cristãs.

Durante a celebração de um mês, os 2,2 bilhões de cristãos no mundo se unem pelo cuidado da nossa casa comum.

Acesse o Guia de Celebração Paz com a Criação

Assista ao vídeo com o chamado das lideranças religiosas para o Tempo da Criação 2025


Fonte: https://seasonofcreation.org/pt/about-pt/

Símbolo: O Jardim da Paz

O símbolo de 2025, o Jardim da Paz, apresenta uma pomba carregando um ramo de oliveira. Tal como a pomba de Noé regressou com um sinal de renovação após o dilúvio (Gênesis 6:13), também nós procuramos um mundo onde a paz floresça à medida que nos aproximamos uns dos outros e nos conectamos com toda a criação.

Sabemos que não há paz sem relacionamentos corretos. Hoje, algumas das nações mais vulneráveis ​​do mundo – as que sofrem os piores efeitos das mudanças climáticas – estão sobrecarregadas por dívidas paralisantes, o que as impede de se prepararem para tempestades mais fortes, aumento do nível dos mares e desertos crescentes. Ao mesmo tempo, muitas dessas nações forneceram os recursos naturais que os países desenvolvidos utilizaram para fazer crescer suas economias.


Fonte: https://seasonofcreation.org/pt/about-pt/

A humanidade está travando uma guerra contra a Criação

A humanidade vive em dores de parto com as inúmeras atrocidades que causa contra si mesma. Uma relação desequilibrada e automutiladora faz com que a vida, a cada dia, se torne nos vales tenebrosos e profundos, gerando guerras, fomes, desmatamentos e desequilíbrio total. Nessa mesma relação, nós, os humanos, achando-nos dotados de inteligência, imaginamos ser os sustentadores e o centro de um planeta que, na verdade, exige uma relação diferente. Ao invés de mesas quadradas, em que um toma conta da reunião, é necessário sermos cavaleiros da Távola Redonda, dentro da corte do Rei da Criação.

A cada ano, de 1º de setembro – Dia Mundial de Oração pela Criação – até 4 de outubro – Solenidade de nosso Pai Seráfico São Francisco de Assis –, celebramos o Tempo da Criação, momento em que somos convidados a nos intensificar em orações, celebrações e ações práticas para o cuidado da casa comum. Um tempo forte e necessário.

Neste ano de 2025, o Tempo da Criação tem como temática principal: A Paz com a Criação, uma vez que a humanidade está sendo o maior propagador da guerra contra si mesma, por entender ser o único agente, segundo suas próprias intenções, a ser o criador.

Com a base bíblica de Isaías 32,14-18: “ Porque o palácio está abandonado, a cidade tumultuosa, deserta; a fortaleza de Ofel e a torre de vigia estão convertidas para sempre em terras abandonadas, para delícia dos asnos selvagens e pastagem dos rebanhos. Até que, do alto, Deus nos dê novo alento. Então o deserto se converterá em pomar e o pomar será como uma floresta. O direito habitará nestas terras, agora desertas, e a justiça reinará no futuro pomar. A justiça produzirá a paz, e daí resultará para sempre tranquilidade e segurança. O meu povo habitará num oásis de paz, em moradas tranquilas e em lugares sossegados. ”  O profeta retrata uma Criação desolada, desprovida de paz devido à injustiça e à ruptura da relação entre Deus e os homens. Cidades devastadas e terrenos baldios refletem o impacto destrutivo que as atividades humanas podem ter na Terra. Os animais deslocam-se rapidamente e reclamam partes do que outrora era um habitat exclusivamente humano, como se a colonização humana os tivesse privado de espaço suficiente. Embora a alegria de ter um pasto para os animais (Is 32,14) seja, sem dúvida, algo bom em si mesmo, só se consegue à custa da deslocação humana devido a conflitos.

Apesar de o plano de Deus para a Criação estar enraizado na justiça e na paz, o pecado humano o perturba, deixando-a em ruínas — desde palácios ricos até terras agrícolas pobres, florestas e oceanos. Isaías descreve vividamente os resultados do afastamento humano da Criação. Além disso, a torre de vigia e o palácio abandonados e em ruínas (ou cidadela, em algumas traduções) sugerem que a guerra é, em última análise, frustrada por Deus.

A paz é mais do que a simples ausência de guerra. Na Bíblia hebraica, shalom representa um conceito muito mais profundo — que se estende para além da ausência de conflito até à restauração total de relações quebradas, como ilustrado na visão de Isaías. Esta restauração engloba a nossa relação com Deus, conosco próprios, com a família humana e com o restante da Criação.

A nossa esperança: a Criação encontrará a paz quando a justiça for restabelecida

“O direito habitará nestas terras, agora desertas, e a justiça reinará no futuro pomar” (Isaías 32,16).

Há esperança para uma Terra pacífica. Biblicamente, a esperança é ativa — envolve oração, ação e reconciliação com a Criação e com o Criador, através do arrependimento (metanoia) e da solidariedade. Isaías 32,14-18 prevê uma Criação pacífica, onde o povo de Deus vive apenas quando a justiça é alcançada.

A justiça conduz à paz e restaura a fertilidade da terra:

“A justiça produzirá a paz, e daí resultará para sempre tranquilidade e segurança. O meu povo habitará num oásis de paz, em moradas tranquilas e em lugares sossegados” (Isaías 32,17-18).

A Criação é uma dádiva sagrada de Deus, confiada ao nosso cuidado. Os cristãos são chamados a proteger e nutrir a Criação em paz, trabalhando em parceria com outros e transmitindo esta responsabilidade às gerações futuras. Sua profunda interligação torna a paz tanto essencial quanto frágil.

O Papa Francisco desafia-nos: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer? ” (Laudato si’, 160).

Origem do Tempo da Criação

A ideia nasceu em 1989, quando o Patriarca Ecumênico Dimitrios I (Igreja Ortodoxa) instituiu o 1º de setembro como o Dia de Oração pela Criação. Em 2000, o Conselho Mundial de Igrejas apoiou e ampliou a celebração para todo um período. Em 2015, o Papa Francisco, inspirado pela encíclica Laudato Si’, instituiu oficialmente o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação na Igreja Católica.

Desde então, consolidou-se um tempo litúrgico anual, celebrado de 1º de setembro a 4 de outubro (dia de São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia). Portanto, o Tempo da Criação é uma iniciativa ecumênica que surgiu no final do século XX e hoje é vivida mundialmente, unindo cristãos na oração e no compromisso pelo cuidado da Terra.

800 anos do Cântico das Criaturas: O louvor equilibrado de Francisco – homem da paz – para com a o Criador e as criaturas

O Cântico das Criaturas, também chamado Cântico do Irmão Sol (Laudato si’), foi composto por São Francisco de Assis por volta de 1225, perto do fim de sua vida. Nele, Francisco expressa um louvor profundo a Deus por meio das criaturas, que ele chama de “irmãos” e “irmãs”: sol, lua, estrelas, vento, água, fogo, terra e até a “irmã morte corporal”. Francisco não adora a criação, mas louva a Deus através dela.

Ele reconhece que tudo vem do Criador e, ao mesmo tempo, percebe a dignidade e a beleza das criaturas como reflexo do amor divino. É um louvor equilibrado porque une espiritualidade e respeito ecológico, sem cair nem no desprezo pela matéria nem na idolatria da natureza.

O Cântico também nasceu em um contexto de reconciliação e paz. Há registros de que Francisco escreveu parte dele em agradecimento após um momento de tensão com o bispo de Assis, promovendo a reconciliação entre autoridades religiosas e civis. Ele entendia que a paz com os irmãos humanos e a paz com a criação são inseparáveis.

Francisco se coloca como irmão universal: não no centro da criação, mas como parte dela. Ele reconhece a grandeza de Deus, mas também a dignidade de cada criatura. Assim, o Cântico inspira uma visão de fraternidade cósmica, que hoje ressoa no ensinamento da Igreja (como na encíclica Laudato si’, do Papa Francisco).

Cantar a poesia franciscana como a esperança dos trovadores do Arauto Rei

Francisco não escreveu o Cântico das Criaturas em latim (língua culta e litúrgica de sua época), mas em úmbrio, o dialeto popular da região. Hoje podemos afirmar que isso foi uma escolha poética e pastoral: tornar o louvor acessível, simples e próximo do coração do povo, como um canto da fraternidade.

O Cântico segue um estilo de versos curtos, ritmados e repetitivos, parecido com os Salmos bíblicos. O refrão “Louvado sejas, meu Senhor…” cria cadência e musicalidade, reforçando a dimensão de oração cantada. A poesia aqui serve como recurso mnemônico (para decorar) e litúrgico (para rezar em assembleia).

A linguagem poética de Francisco transforma os elementos da natureza em irmãos e irmãs. Não é apenas descrição da criação, mas uma personificação afetiva: “irmão sol”, “irmã lua”, “irmã morte”. Essa forma de expressão cria proximidade e fraternidade com o mundo criado.

O estilo do Cântico tem inspiração nos Salmos de louvor (cf. Sl 148), que também enumeram elementos da criação chamando-os a bendizer a Deus. A poesia bíblica influenciou Francisco, mas ele a reinterpretou com sua sensibilidade poética única, que valoriza tanto o espiritual quanto o natural.

Francisco acreditava que a poesia e o canto eram modos privilegiados de se aproximar de Deus. A forma poética não é só estética, mas teológica: expressa a beleza da criação como reflexo da Beleza divina.


Frei Franklin Matheus Costa

REFERÊNCIAS

BÍBLIA SAGRADA. Petrópolis: Editora Vozes, Ed. 51º, 2012.

FRANCISCO, Papa. Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum. Vaticano 24 maio 2015. Disponível em: site oficial do Vaticano. Acesso em: 29 ago. 2025.

FONTES FRANCISCANAS E CLARIANAS, organizadas por Frei Celso Márcio Teixeira OFM. Fontes Franciscanas e Clarianas. Petrópolis: Editora Vozes, 2004.

MOVIMENTO LAUDATO SI’ et al. Subsídio Tempo da Criação 2025. In: Season of Creation [site]. Tema 2025: “Símbolo Jardim da Paz” – pomba com ramo de oliveira. Disponível em: seasonofcreation.org/pt. Acesso em: 29 ago. 2025

Cântico do Irmão Sol ou Louvores das Criaturas

São Francisco de Assis

1. Altissimo, onipotente, bom Senhor, Teus são o louvor, a glória, a honra e toda a bênção (cf. Ap 4,9-11).

2. Somente a ti, ó Altíssimo, eles convêm, e homem algum é digno de mencionar-te.

3.Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, (ef Tb 8,7) especialmente o meu senhor irmão Sol, o qual é dia, e por ele nos ilumina.

4. E ele é belo e radiante com grande esplendor, de Ti, Altíssimo, traz o significado.

5. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmā lua e pelas estrelas (cf Sl 148,3), no céu as formastes claras e preciosas e belas.

6. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento, e pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e por todo o tempo, pelo qual às tuas criaturas dás sustento.

7. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água (cf Sl 148,4.5). Que é muito útil e humilde e preciosa e casta.

8. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo (ef Dn 3,66), pelo qual iluminas a noite (cf Sl 77,14). e ele é belo e agradável e robusto e forte.9

9 .Louvado sejas, meu Senhor, pela irmā nossa, a mãe terra (of Dn 3,74), que nos sustenta e governa e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas (cf Sl 103,13.14).

10. Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam (cf Mt 6,12) pelo teu amor, e suportam enfermidade e tribulação.

11. Bem-aventurados aqueles que as suportarem em paz porque por ti, Altissimo, serão coroados.

12. Louvado sejas, meu Senhor, por irmā nossa, a morte corporal, da qual nenhum homem vivente pode escapar:

13. Ai daqueles que morrerem em pecado mortal: bem-aventurados os que ela encontrar na tua santíssima vontade, porque a morte segunda (cf Ap 2,11; 20,6) não lhes fará mal.

14. Louvai e bendizei ao meu Senhor (ef Dn 3,85), e rendei-lhe graças e servi-o com grande humildade.


Fonte:  “Canta minha irmã cigarra, E louva com júbilo ao Senhor, teu criador” – José Luiz Cruz Duarte e Frei Estevão Ottenbreit . 

O legado franciscano para a Justiça, Paz e Integridade da Criação

Fundamentada no profeta Isaías, a celebração do Tempo da Criação 2025 está voltada para elementos da Justiça, da Paz e da Integridade da Criação, que são essencialmente os aspectos que guiam a presença franciscana no mundo.

Na publicação “Instrumentos de Paz: Subsídio Franciscano sobre Justiça, Paz e Integridade da Criação”, traduzida e lançada pela Editora Vozes, em 2000, São Francisco de Assis é exaltado como importante inspiração para a humanidade:

“Dentre os numerosos santos que ilustraram a história do cristianismo, Francisco de Assis é um dos que ainda hoje exerce um maior impacto e consegue atrair mais simpatias. Sua projeção vai além da esfera cristã. Pertence a todos. Realmente, aparece ‘como um botão de flor aberto prematuramente’, deixando entrever o esplendor oculto que deseja manifestar-se em cada um de nós. Acreditavam ver nele ‘um homem novo e do outro mundo’, escreve o seu primeiro biógrafo Tomás de Celano. Também não é de estranhar que, no meio do desconcerto atual, muitos recorram a ele para pedir-lhe o segredo desta sabedoria que tão bem soube desenvolver e que se caracteriza por uma qualidade de presença no mundo. Portanto, o dom mais precioso que Francisco podia ter dado aos homens foi este novo tipo de presença. Uma presença profundamente humana, evangélica e, ao mesmo tempo, cósmica. Uma presença total e que possui o dom ‘de transformar qualquer hostilidade numa atração fraterna no interior da unidade da criação’ (Paul Ricoeur).”

Da mesma forma, o primeiro capítulo do livro chama a atenção para a postura de São Francisco diante da necessidade de manter a esperança, mas também de agir diante das ameaças sofridas por todas as criaturas de Deus, sempre guiado pela sua fidelidade ao Evangelho.

As referências históricas apresentadas a partir dos exemplos deixados pelo Santo Seráfico permanecem atuais e se entrelaçam com os dramas do mundo contemporâneo, revelando que a humanidade ainda não aprendeu a necessidade urgente de mudança e de reconciliação com a vida e com a própria existência:

“A questão é vital para nós. A nossa civilização industrial está num beco sem saída. Com toda razão, nos sentimos orgulhosos de nossos progressos científicos e tecnológicos: eles nos converteram em ‘donos e proprietários da natureza’, segundo o desejo de Descartes. Mas hoje constatamos que o preço a pagar é caro, muito caro. Por uma parte, o nosso meio ambiente e, consequentemente, a qualidade de vida estão ameaçados pelo domínio crescente do homem e de suas técnicas sobre a natureza. De outra parte, a exploração tecnológica, cada vez mais impulsionada pelos recursos naturais, tendo como única lei o benefício, traz à tona graves problemas humanos a nível do emprego, da justiça social e das relações norte-sul. As situações de exclusão multiplicam-se no seio da comunidade humana com o risco de comprometer profundamente a paz. Até o presente momento, o homem da civilização industrial só pensou em dominar e possuir. Agora, ele precisa aprender, num contexto de preocupação pela paz e pela justiça, a confraternizar-se com a natureza como se faz com um semelhante. Sobre este tema, Francisco de Assis, o ‘Irmão Universal’, tem algo essencial a nos dizer.”

O texto ainda salienta a postura firma de Francisco frente às questões que desolam a vida em sociedade:

“Para que se entenda bem, é preciso superar uma certa imagem do pobre de Assis. Fez-se dele uma espécie de príncipe encantador da criação. Pode ser encantador, mas desesperadamente superficial. O verdadeiro Francisco tem uma estatura e inspiração diferentes. Foi um dos inovadores mais atrevidos de toda a história do cristianismo. Por fidelidade ao Evangelho, rompeu com o sistema político-religioso de seu tempo: senhorios da Igreja, guerras santas e cruzadas. Também se recusou a compactuar com o novo ídolo da sociedade moderna: o dinheiro. Quanto à sua atitude fraterna em relação às criaturas inferiores, longe de cair num sentimentalismo, estava inspirada numa concepção lúdica e profunda da criação.”

O subsídio franciscano também aborda outras particularidades que ajudam os frades franciscanos a se inspirarem para o agir e para a mobilização de todos os filhos e filhas de Deus que, assim como Francisco, acreditam que somos únicos, preciosos e fazemos parte de um todo interligado e interdependente.

É justamente essa postura que tanto a Ordem dos Frades Menores quanto a Família Franciscana sugerem, na carta Canto à Reconciliação, na qual se afirma que o Cântico das Criaturas é uma síntese do modo como Francisco percebia a realidade, convidando a todos para continuar a cantá-lo com alegria de espírito:

“Composto gradualmente por Francisco entre 1225 e 1226, o Cântico não é apenas um texto poético, mas o testemunho de uma visão completa de Deus Criador, da criação, da fraternidade universal e da ecologia integral, temas que o Papa Francisco retomou com força em sua encíclica Laudato si’.”

Como mensageiros da esperança, que possamos fazer a verdadeira comunhão guiados pelo Espírito e animados pela convicção de que, para cantar o Cântico das Criaturas, precisamos estar unidos pela fé e pelo amor a todas as criaturas.


Adriana Rabelo Rodrigues

Fonte: Instrumentos de Paz: Subsídio sobre Justiça, Paz e Integridade da Criação

A voz profética dos Pontífices

Não é a natureza que está doente, mas o ser humano. Ou melhor, a natureza adoeceu, por causa do homem, como resultado da grave doença que afeta o homem (RUBIO, Afonso G. Unidade na Pluralidade, 2001, p. 539-542). O homem vive uma crise ética e moral.

Vaticano II: o homem pode e deve amar as próprias coisas criadas por Deus; Deus destinou a terra para o uso de todos os homens e povos, com equidade, sob as regras da justiça, inseparável da caridade; que se estabeleça o justo equilíbrio entre as necessidades atuais de consumo, individual e coletivo (Gaudium Spes 37, 69,70).

João XXIII: O progresso da ciência e as invenções da técnica evidenciam que reina uma ordem maravilhosa nos seres vivos e nas forças da natureza. Demonstram, antes de tudo, a infinita grandeza de Deus, criador do universo e do homem. (Pacem in terris-1963)

Paulo VI: A medida que o horizonte do homem se modifica,…, uma outra transformação começa a fazer-se sentir, consequência tão dramática quanto inesperada da atividade humana. De um momento para outro, o homem toma consciência dela: por motivo da exploração inconsiderada da natureza, começa a correr o risco de destrui-la e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação, criando assim, para o dia de amanhã, um ambiente global, que poderá tornar-se insuportável. (Octagesima Adveniens 21, 1971).

João Paulo II: “O respeito pela vida e pela dignidade da pessoa humana inclui também o respeito e o cuidado pelo universo criado, que está chamado a unir-se com o homem para glorificar a Deus”.

“Ao lado do problema do consumismo, e com ele estritamente ligada, é a questão ecológica. O homem, tomado mais pelo desejo do ter e do prazer, do que pelo de ser e de crescer, consome de maneira excessiva e desordenada os recursos da terra e da sua própria vida (Centesimus annus 37-1991)

Parece que estamos cada vez mais cônscios de que a exploração da terra, do planeta em que vivemos, exige um planejamento racional e honesto. Ao mesmo tempo, tal exploração para fins não somente industriais, mas também militares, … trazem muitas vezes consigo a ameaça para o ambiente natural do homem, alienam-no nas suas relações com a natureza e apartam-no dela. Redemptoris Hominis 15-1979)

A sociedade hodierna não encontrará solução para o problema ecológico, se não revir seriamente o seu estilo de vida (Sollicitudo rei social-1987).

Bento XVI: É necessária uma real mudança de mentalidade que nos induza a adotar novos estilos de vida, nos quais a busca do verdadeiro, do belo, do bom e a comunhão com os outros homens para um crescimento comum sejam os elementos que determinem as opções dos consumos, das poupanças e dos investimentos (Caritas in Veritate 51).

Papa Francisco: Se a crise ecológica é uma expressão ou uma manifestação externa da crise ética, cultural e espiritual da modernidade, não podemos iludir-nos de sanar a nossa relação com a natureza e o meio ambiente, sem curar todas as relações humanas fundamentais (Laudato Si 119).

Papa Leão XIV: Os fenômenos naturais extremos, causados pelas mudanças climáticas provocadas pelo homem, estão aumentando de intensidade e frequência, sem levar em conta os efeitos, a médio e longo prazo, de devastação humana e ecológica provocada pelos conflitos armados”.


Fonte:  “Canta minha irmã cigarra, E louva com júbilo ao Senhor, teu criador”, com atualização da fala do Papa Leão XIV.

No Tempo da Criação: Província da Imaculada cultiva cuidado e compromisso

Estamos vivendo o Tempo da Criação, período de reflexão e de unidade entre os filhos e filhas de Deus, na busca por caminhos que promovam um mundo mais justo e igualitário. É um tempo especial de diálogo, que nos convida a um encontro profundo com Deus e ao cuidado com a Casa Comum.

Desde 1º de setembro, quando foi celebrado o X Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, as fraternidades da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil têm se dedicado, de forma mais intensa, a ações em favor da humanidade e do meio ambiente. Em preparação para a Festa de São Francisco de Assis, em 4 de outubro — data que também marca o encerramento do Tempo da Criação —, os frades e os fiéis mantêm os corações voltados para o Criador e os pés firmes na realidade em que vivem, para que possam colocar em prática iniciativas que realmente transformem vidas e gerem sementes de esperança para o futuro.

Sementes de paz e esperança da Província da Imaculada Conceição do Brasil

Quando o Papa Leão XIV apresenta em sua mensagem para o X Dia Mundial de Oração pela Criação as diferentes ações da Igreja, chama-nos atenção também os diversos projetos realizados pelos frades franciscanos no empenho de transformar realidades por meio de ações concretas à luz do Evangelho.

“O reino de Deus é como um homem que lança a semente à terra. Dorme, levanta-se, de noite e de dia, a semente brita e cresce, sem ele o perceber. Pois a terra por si mesma produz, primeiro a planta, depois a espiga e, por último, o grão abundante na espiga. Quando o fruto amadurece, ele mete-lhe a foice, pois é chegada a hora da colheita. ” (Mc 4, 26-29)

Antônio Bispo dos Santos, conhecido como Nêgo Bispo, filósofo, escritor, professor, líder quilombola disse em uma de suas palestras sobre o seu livro ‘A terra dá, a terra quer’, que “a humanidade precisa aprender a se relacionar com o meio ambiente, pois é ele quem cuida de nós”. Em sua simplicidade, Nêgo Bispo repete, a partir de seu conhecimento, a mesma essência apresentada pelo evangelista Marcos.

Papa Francisco nos deixou a Encíclica Laudato si’ para nos mostrar que essa relação com o ambiente é possível e necessária de ser retomada, sem a arrogância e a prepotência do Homo sapiens, mas como criaturas de Deus.

“A Laudato si’ não é apenas uma carta apostólica ou um documento, ela é uma conscientização, pois Evangelizar é conscientizar. O Papa Francisco revela em seu escrito a humanidade a partir do que ela é: criatura. Isso é muito franciscano. Ser criatura com as criaturas. Para a Igreja, para a humanidade e para o planeta, essa Encíclica é um resgate da grande virtude moderna: o cuidado.  E o que devemos cuidar? Do toda, da vida e de cada um de seus detalhes”, disse Frei Vitorio Mazzuco, coordenador do Núcleo de Pastoral Universitária da USF.

Segundo ele, a importância da Laudato si’ na eclesialidade é porque ela vem recuperar a dimensão forte de um carisma que, mesmo sem usar o tema, criou a mentalidade de uma ecologia integral, de pensar o mundo no seu todo. “Ela marca a ousadia de um Papa em escrever uma encíclica para sua Igreja, sem imaginar que ela poderia ultrapassar as fronteiras e atingir um mundo de crentes e não crentes, católicos e não católicos. É uma encíclica ecumênica de diálogo inter-religioso, porque trabalha elementos que não estão apenas no espaço de uma hierarquia religiosa, mas está no quintal da nossa casa, no ar que respiramos, na vida que sentimos”.

Frei Vitorio ainda reforçou que “ser Igreja como carisma franciscano é reconstruir a casa da nossa identidade, a casa da ética, dos valores dos princípios e reconstruir o Oikos, ou seja, a casa que habitamos. Ser Igreja é se preocupar com a unicidade das coisas e pela sua verdade. Sabemos que a terra é única e temos que cuidar daquilo que é nosso. Papa Francisco veio resgatar dentro da Igreja e carisma franciscano”.

E foi justamente nesse despertar de consciência que as ações franciscanas da Província, ganharam ainda mais força, empenho e engajamento nos últimos anos.

Diante da missão franciscana de difundir o Evangelho no seguimento de Jesus Cristo, a partir dos exemplos de São Francisco de Assis, as frentes de Evangelização buscam confluências entre a Palavra e as ações concretas, buscando a sintonia entre o espírito e aquilo que é terreno, ou seja, que integra a nossa relação e nosso relacionamento com Deus, os outros e o mundo.

Vivendo a ecologia integral na prática

“Ninguém fica para semente”, assim é a expressão muito usada popularmente que significa que as pessoas não vivem para sempre, pois todos morrem. Sim! Sabemos que nossa vida neste mundo é breve e que, um dia, todos partiremos para a vida eterna. Temos a consciência de que não ficaremos nesta terra, mas podemos deixar sementes que, se bem cuidadas, podem render muitos e bons frutos no futuro, mesmo sem a nossa presença.

Em sua história a Província sempre se empenhou em propagar o carisma e a espiritualidade franciscana por meio de ações evangelizadoras e concretas que, como sementes, brotaram em solos férteis de seu território e em outras localidades.

Ao longo de seus 350 anos, muitos frutos de caridade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo foram colhidos. Da mesma forma, muitas foram as sementes lançadas que impactaram diretamente na formação intelectual de muitos leigos e religiosos, pelo fato de sempre estarem permeadas pela missão evangelizadora dos frades atuantes nas diferentes frentes de evangelização.

Assim como o Papa Leão tomou como referência o projeto “Borgo Laudato si’”, neste texto vamos citar parte das ações concretas nos espaços educacionais e sociais que cambem às Frentes de Evangelização: Educação e Solidariedade.

O Grupo Educacional Bom Jesus, presente nos Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, tem um papel histórico de compromisso com a sociedade, que se destaca também por ações junto à comunidade voltadas ao carisma franciscano, base também da Encíclica Laudato si’.

Da mesma forma, a FAE e o Centro Universitário e a Universidade São Francisco (USF) também lançam sementes que rompem as barreiras do tempo e geram frutos a favor do Cuidado com a Criação.

Na mensagem de abertura do Relatório Social do Grupo Educacional, o Presidente, Frei João Mannes, explicou:

“Os projetos Bom Jesus Social e FAE Social se inspiram em Francisco de Assis que, impulsionado pela força divina e pelo amor misericordioso de Jesus Cristo aos pobres e doentes, não ficou indiferente diante do sofrimento de pessoas que vivenciam algum tipo de desamparo por parte da sociedade”.

O frade ainda esclareceu que todas as atividades desenvolvidas nos projetos materializam um dos aspectos essenciais da missão educadora do Grupo Educacional Bom Jesus, já que contribuem efetivamente para a construção de um humanismo integral e solidário e, em consequência, para a transformação da sociedade. Ele ainda salientou que, além de inspirar-se nos valores e atitudes franciscanas, o grupo é signatário do Pacto Global das Nações Unidas (ONU), de modo que a Instituição também está alinhada com os princípios desse Pacto, que reforçam nosso propósito de construir um mundo mais justo, próspero, solidário, sustentável e feliz.

São ações voltadas à comunidade, aos estudantes e trabalhadores das quase 40 unidades, que têm como principal objetivo a promoção da vida, em todas as suas esferas e da dignidade humana, a partir de princípios cristãos de amor ao próximo e a todas as criaturas.

No meio universitário, a USF também tem desempenhado importantes ações sociais, com seus alunos e professores, junto à comunidade, mas também está fortemente presente nas atividades evangelizadores e catequéticas.

Segundo o professor Lucas da Silveira Andrade, coordenador do Núcleo Relações Internacionais e História, bem como assessor para as ações sociais e eclesiais da instituição, ao longo de 2024 e 2025, a USF tem intensificado sua caminhada em torno da Ecologia Integral, por meio do Projeto Interuniversitário Jornada Laudato si’. “Trata-se de uma proposta que não nasce do nada, mas ecoa processos formativos e experiências já vivas na universidade, como os projetos de extensão, entre eles o Projeto Rondon, e as iniciativas de integração com comunidades locais. Essa jornada vem potencializando o protagonismo estudantil e docente em temas que tocam diretamente o nosso tempo: o cuidado com a vida, com a Casa Comum e com as relações humanas”, explicou.

O docente mencionou ações como as participações nas reuniões da Sub-Região Pastoral 1 da CNBB Regional Sul 1. A partir desses encontros, foi formada uma equipe interna para pensar uma proposta institucional conectada aos princípios da ecologia integral, com a participação do professor Allan da Silva Coelho e do Frei Thiago Alexandre Hayakawa. O resultado o encontro formativo e a abertura da Campanha da Fraternidade 2025, promovida pela Diocese de Bragança Paulista, no Campus da USF.

A Semana Laudato Si’, realizada virtualmente, foi outro momento forte das atividades programadas, além das atividades voltadas à formação pedagógica, previstas para o segundo semestre. Professor Lucas ressaltou que todo esse processo tem contado com o apoio e incentivo do Frei Daniel Dellandrea, OFM, Diretor-Presidente da CNSP-ASF, e do Frei Alvaci Mendes da Luz, OFM, Reitor da USF, além pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão, professor Dilnei Giseli Lorenzi, que reafirmam a importância estratégica do projeto para a missão institucional da universidade e para a construção de um caminho formativo que una fé, ciência e compromisso socioambiental.

De acordo com Frei Vitorio Mazzuco, em vista dos cuidados com a criação, a Pastoral Universitário da USF procura evidenciar que “a nossa Casa Comum é a nossa Causa Comum”, e que o dom de existir está nesta casa, onde devemos nos sentir bem e cuidar com harmonia.

Ele mencionou que a universidade, dentro de seus planejamentos estratégicos desenvolve ações voltadas à reciclagem e à questão ambiental. Mas, a Pastoral procura mostrar que estar no mundo é refazer o cuidado com a vida como um itinerário de existência. “Tudo é um caminho que sai e retorna para o lugar sagrado, assim o livro do Gênesis que nos revela um movimento do espírito para compreender a realidade”.

Na esfera de ações junto à comunidade também são desenvolvidos trabalhos de atendimento nos quais alunos e professores, por meios de projetos pedagógicos de extensão, promovem atendimentos nas diferentes áreas de formação oferecidas pela instituição.

Esperança e caridade

Podemos afirmar que a Província da Imaculada vive em sua essência as chagas de São Francisco de Assis, amando sem ser amado, pois assim exerce o dom da gratuidade a favor da vida, da paz e do bem.

O Sefras – Ação Social Franciscana, é uma organização social que tem como missão acolher, cuidar e defender os mais vulneráveis, provendo a justiça socioambiental à luz dos valores franciscanos. Essa descrição objetiva que envolve as ações que impactam a vida de milhares de pessoas, está presente no texto do Frei Vagner Sassi, Diretor-presidente da organização, no material que apresenta a “Fundamentação do Trabalho Socioeducativo”.

O frade esclarece que para atingir seus objetivos o Sefras promove, entre outras ações com projetos voltados para pessoas em situação de vulnerabilidade como: idosos, crianças, adolescentes pessoas em situação de rua ou que sofrem a violência do preconceito e migrantes.

O ponto de partida para engrandecimento da figura humana, do ambiente, com olhar para o Cuidado da Criação a favor da vida em sua plenitude, o Sefras desenvolve um trabalho Socioeducativo, que perante as compreensões fragmentadas e reducionistas do ser humano, parte de uma antropologia que traduz em um humanismo integral e solidário. Segundo o material de orientação, “este define-se como ‘um humanismo à altura do desígnio de amor de Deus sobre a história, capaz de animar uma nova ordem social, econômica e política, fundada na dignidade e na liberdade de toda a pessoa humana, a se realizar na paz e na solidariedade’ (DSI, n.19,p.14)”.

Tomando como referência a citação do Papa Leão XIV, trouxemos alguns exemplos de ações concretas da Província da Imaculada Conceição do Brasil, sabendo que no território provincial outras inciativas inspiradas também pela Encíclica Laudato si’, que visam promover a educação em ecologia integral e a sustentabilidade, estão em execução. Todas cumprem a missão de propagar o Evangelho por meio de obras que visam a valorização da vida e do meio ambiente.

Sabemos que estamos unidos a toda a criação, pois também somos criaturas de Deus e, como sementes, temos a missão de germinar, florescer e gerar frutos de paz e esperança.

ACESSE AQUI A ENCÍCLICA LAUDATO SI’


Adriana Rabelo Rodrigues