Carisma - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Congresso Continental para formadores OFM

“Acompanhamento na Vida fraterna” é tema de Congresso Franciscano em São Paulo

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – A Formação Permanente está no centro dos estudos e palestras do Congresso Continental da Ordem dos Frades Menores, que tem início neste domingo, 3 de setembro, em São Paulo. “Este é o segundo Congresso da Ordem neste ano e vai reunir os formadores da América Latina e Caribe, já que o primeiro congresso foi realizado na Indonésia, em julho passado, para os países da Ásia”, explica o Vice-Secretário para Formação e Estudos, Frei Sinisa Balajic, que representa a Cúria Geral no evento junto com o Secretário Geral para a Formação e Estudos, Frei Cesare Vaiani.

Este Congresso, que tem o apoio da Província da Imaculada Conceição, reúne três frades representantes das províncias e custódias que fazem parte das Conferências Brasileira, Bolivariana, Guadalupena e Cone Sul. Por cada província ou custódia participa o Secretário para a Formação e Estudos, o Moderador para a Formação Permanente e o Animador Vocacional, num total de 67 participantes.

O tema escolhido é o “Acompanhamento na Vida Fraterna” no contexto da Formação Permanente. No próximo ano, haverá mais dois congressos continentais: um para os países de língua inglesa (EUA, Canadá, Inglaterra etc.) e um para a Europa do Oeste (Espanha, Portugal, Itália, Europa Central e Custódia de Terra Santa). Em 2019, todos os Continentes serão contemplados com os dois eventos que faltarão: um para a África e outro para a Europa do Leste (Polônia, Eslováquia, Croácia etc.).

congresso_010917_2

Frei Cesare Vaiani, Secretário Geral

Segundo Frei Cesare, a formação permanente é a base da formação inicial e da animação vocacional. “Também as nossas Constituições Gerais, quando falam de formação, citam antes a formação permanente e depois a inicial. Muitos perguntam por quê? Cronologicamente temos a formação inicial e depois a formação permanente, mas a primeira é apenas uma fase da formação permanente. Acreditamos que o grande desafio para nós, hoje, seja o da formação permanente, porque é um problema com o qual nos confrontamos, principalmente na passagem dos jovens frades da formação inicial à formação permanente”, explica Frei Cesare, um dos principais escritores da Ordem sobre franciscanismo e formação religiosa.

Segundo o Secretário, o problema desta “passagem” não está na formação inicial. “O problema é a vida que se vive nas casas ou fraternidades, que muito frequentemente não correspondem àquilo que foi proposto na formação inicial. Por muitas razões, os frades estão muito empenhados – e isso é bom – nos trabalhos pastorais, apostólicos, mas estão menos presentes, por exemplo, na vida fraterna, na oração de cada dia, nos encontros diários da fraternidade, como, por exemplo, nas refeições. Estes momentos são muito importantes para que a nossa vida seja fraterna. Vemos muitos frades brilhantes como “manager” (administradores) pastorais mas pouco presentes na fraternidade. Por esta razão, a formação permanente é o ponto para se trabalhar mais hoje”, acrescenta Frei Cesare, natural de Milão e professor de História da Espiritualidade e Teologia Espiritual.

Segundo o frade, a formação inicial não é um “serviço militar” para passar depois à outra fase. “Isso não é bom. Devemos trabalhar na formação permanente para fazer a passagem correta entre a formação inicial e a formação permanente”, enfatizou. O frade também questionou a forma com que se pensa a animação vocacional. “Hoje, muitas províncias pensam que o animador vocacional é o encarregado da animação vocacional. É, de fato, e isso deve continuar. Mas o primeiro anúncio da nossa vocação ao jovem é tarefa de todos os frades. É preciso mudar esta mentalidade e lembrar a todos os frades na formação permanente que são eles os primeiros animadores vocacionais. Depois o animador vocacional vai ajudar no discernimento da pessoa que se apresenta”, destacou.

Ao falar do tema, Frei Cesare se deteve sobre a palavra “acompanhamento”. “Nós usamos essa palavra ‘acompanhar’ para indicar a formação à maneira franciscana. Neste conceito, aquele que acompanha, não está à frente nem atrás, mas caminha ao lado, como um companheiro ajudando na formação. O protagonista principal na formação, dizem nossos documentos, é o frade mesmo. Eu sou protagonista da minha formação. Outro protagonista fundamental é o Espírito Santo. O formador ajuda na mediação entre a pessoa e o Espírito Santo na tomada de decisão sob a luz de Deus. A formação para nós é esse acompanhamento. Não substitui você, não decide por você, mas o ajuda a tomar a decisão na direção certa. A palavra ‘acompanhamento’, talvez, exprime bem este modelo formativo proposto por nossos documentos”, explicou.

A FORMAÇÃO DOS FORMADORES

Para preparar adequadamente os formadores para essas etapas, a Ordem possui alguns cursos, mas Frei Sinisa diz que ela enfrenta um desafio sobretudo nos países onde temos um crescimento numérico vocacional, como na África. “Ali, temos muitos, muitos ingressos de jovens e frades na etapa formativa, e poucos, muitos poucos formadores. Por isso, é um desafio grande e uma necessidade que enfrentamos”, adianta. Entre os cursos que cita, está o Master para Formadores criado pela Universidade Antonianum de Roma e que  já dura dez anos. “Mas ultimamente tornou-se pouco frequentado em nível mundial porque também deixamos de sugerir aos Provinciais e Visitadores que mandem frades a este Master. São dois anos que oferecem um percurso integrador de toda a formação”, adiantou.

Segundo o frade, em diversos continentes tem-se procurado criar centros que possam oferecer um percurso formativo para os formadores. “Temos nas Filipinas, que atende aos países da Ásia. É feito na língua inglesa, fundamental para um curso em nível mundial. Depois, no próximo ano, oferecemos um curso, juntamente com os Frades Capuchinhos e Conventuais, para todos os formadores das três famílias da Primeira Ordem, tendo em vista a necessidade da África. Este ano já teve um modelo na Nigéria e no ano que vem será organizado em Zâmbia. Seguramente vamos sugerir, neste Congresso, aos nossos formadores, que busquem, em nível provincial ou de conferência, que organizem este curso. Sabemos bem que algumas conferências já organizam este curso para refletir sobre os desafios concretos de sua própria região”, completou Frei Sinisa.

congresso_010917_1

Frei Cesare citou o congresso para formadores que a Conferência Brasileira organiza a cada dois anos e adiantou que neste Congresso Continental um outro tema será a formação de guardiães na perspectiva da formação permanente. “O guardião é um formador natural em cada convento ou fraternidade, tendo presente que hoje, diferentemente de 20 anos atrás, ele comandava e o frade obedecia. Era tudo muito simples. Agora não é assim. O guardião tem hoje o papel de animar a fraternidade. Mas isto não é fácil, requer competência, requer formação. Então, falar de formação de guardião significa falar de formador fundamental da vida de todo frade e sobre isso trataremos neste congresso”, adiantou.

CONTEXTO DA AMÉRICA LATINA

Ao falar sobre as perspectivas da Ordem na América Latina, Frei Cesare foi mais enfático ainda. O frade destaca a presença, a força e o testemunho dos frades na América Latina, mas vê com preocupação a diminuição do número de vocações. “Um desafio real creio seja o da perseverança, porque nos preocupa não só o número de ingressos mas de egressos da Ordem, embora este seja um problema em toda Ordem. É um problema com o qual nos confrontamos, sobretudo, na formação permanente porque é esta que tem o papel de acompanhar os frades e evitar a saída deles da Ordem. Outro dado preocupante para a Ordem e muito significativo é que um terço dos frades que saem da Ordem o fazem para se tornarem sacerdotes diocesanos. Isso nos questiona, porque evidentemente o problema é a vida fraterna.

Esses frades continuam com o ministério mas não querem continuar na vida fraterna. Quero dizer que este ponto, o da vida fraterna, deveremos trabalhar mais. Porque a finalidade da formação inicial é ajudar os frades jovens a compreenderem a diferença entre a escolha de nossa vida e a de um sacerdote diocesano, com todo respeito pelo sacerdote diocesano, evidentemente, mas são duas vocações diferentes. E a diferença está, sobretudo, no tema da vida fraterna, que é a nossa característica”, insistiu.

Frei Cesare, contudo, lembrou que cada país da América Latina tem sua história, sua tradição, seus problemas. “É difícil fazer um discurso geral para todos os países. Há uma situação formativa no Brasil, por exemplo, outra na Argentina, no Chile, no México, na Colômbia, no Equador. Há uma notável diferença em relação aos cinco países da América Central, que são Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicaragua e Panamá. Cada um desses países é diferente dentro de uma única Conferência. São diversas dificuldades em diversas regiões no Continente Latino-americano. Depois, uma última coisa diz respeito à nossa Ordem, que é muito descentralizada e cada Província responde pela formação. O Secretariado Geral para a Formação e Estudos pode ajudar, desde que queiram ajuda, mas também podemos sugerir àqueles que não querem ajuda. Raramente podemos intervir diretamente, porque estamos longe e o princípio de solidariedade pede que sejamos solidários com eles”, completou, reafirmando a importância deste Congresso.

Os frades serão acolhidos neste domingo, 3 de setembro, no Centro de Formação Sagrada Família, no bairro do Ipiranga, onde permanecerão até o próximo sábado, dia 9.

congresso_010917PROGRAMAÇÃO

No dia 4, o encontro se inicia com as Laudes e a Eucaristia, presidida por Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro da Província da Imaculada Conceição do Brasil, que faz as saudações iniciais logo em seguida. Depois, às 11 horas, haverá a primeira palestra de Frei Cesare com o tema “O acompanhamento recíproco na vida fraterna”. A tarde será destinada para os trabalhos em grupos, ficando às 17h30 reservado o horário para a apresentação e plenário dos grupos.

No dia 5, Frei Bernardo Brandão, Ministro Provincial da Província Nossa Senhora da Assunção, preside a Eucaristia. O tema deste dia é “A formação permanente como acompanhamento na vida ordinária”, que será apresentado por Frei Sinisa Balajic. À tarde, os frades se reúnem em grupos e fazem o plenário no final da tarde.

No dia 6, o Definidor Geral Frei Valmir Ramos preside a Eucaristia e Frei Brandão aborda o tema do dia: “O guardião que ordinariamente acompanha a Formação Permanente: seu papel, sua formação”. A tarde é reservada para os trabalhos em grupos e discussões em plenário.

No dia 7, Frei Ramiro de la Serna, da Província de São Francisco Solano, da Argentina, preside a Eucaristia e aborda o tema do dia: “Os que acompanham a promoção vocacional: todos irmãos e animadores provinciais. Alguns elementos do primeiro anúncio vocacional”. Continuam os trabalhos em grupos e as conclusões.

No dia 8, Frei Cesare Vaiani preside a Eucaristia e o Comitê Diretivo apresenta em Assembleia uma declaração que resume os trabalhos em grupo. À tarde, os frades farão uma visita ao Centro antigo da cidade de São Paulo, incluindo o Convento São Francisco, que neste ano celebra 370 anos de fundação, além do Mosteiro da Luz, onde conhecerão o túmulo do primeiro santo brasileiro, Frei Galvão. O encontro termina no sábado, 9 de setembro, com a Eucaristia, presidida por Frei Sinisa.

1º DIA Qual é a vida que damos aos jovens que vêm a nós?

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – O questionamento de Frei Cesare Vaiani,  o Secretário Geral para a Formação e Estudos, foi só um dos que foram feitos aos formadores do Congresso Continental Latino-americano da Ordem dos Frades Menores nesta segunda-feira, 4 de setembro, no Centro da Sagrada Família, no bairro do Ipiranga (SP).

Ao falar do tema “Acompanhamento recíproco na vida fraterna”, Frei Cesare animou e provocou os 67 participantes que vieram das Conferências Brasileira, Bolivariana, Guadalupana e Cone Sul. Explicou que o termo “acompanhamento” está no documento da Formação Franciscana (Ratio Formationis Franciscanae), que diz que “o ministério do cuidado espiritual e a guarda fraterna da comunidade e de cada um dos irmãos e candidatos, devem ser exercidos continuamente e não apenas pelos Ministros”.

congresso_040917_6

Frei Cesare Vaiani

Segundo o frade, “acompanhamento” define  bem a formação franciscana.  “Um nome que enfatiza a modalidade fraterna que nos caracteriza, nesta ou em outras dimensões. Nosso nome, Frades Menores, de fato lembra que nossas características específicas são a fraternidade e a minoridade”.

Para ele, a forma mais envolvente e cotidiana de acompanhamento é a nossa vida fraterna. “Se pensarmos nos irmãos que compõem nossas fraternidades … nem todos os companheiros de nosso caminho são belos ou simpáticos”, ressalvou, mas lembrou que é preciso um olhar olhar de fé: cada irmão é um acompanhante que o Senhor coloca ao nosso lado.

Frei Cesare ainda lembrou que algumas formas de acompanhamento mais significativas, e inclusive mais seguras, são os ministros, guardiães e animadores vocacionais. “No entanto, me parece realista e significativo pensar em cada um dos irmãos como um acompanhante de minha vocação”.

Para ele,  quando se fala em fraternidade, a palavra testemunho é a primeira e mais fundamental forma cristã de propaganda. “O irmão me acompanha, mais do que com palavras, com o testemunho de sua vida; e, claro, também posso acompanhar o meu irmão não tanto por pregar para ele, mas sobretudo pelo testemunho da minha vida”. O frade lembrou ainda que, durante toda a sua vida, Francisco viveu uma relação com Deus que passava através da mediação dos irmãos e uma relação com os irmãos que continuamente falavam de Deus.

O frade, contudo, destacou que existe uma diferença entre testemunho e ensino: “Enquanto o ensino é a transmissão objetiva de algum conteúdo, o testemunho é sempre subjetivo porque me envolve no que digo. Eu torno credíveis os conteúdos que eu também transmito com a minha vida se minha vida for credível”, disse, explicando que em todas as comunicações existem pelo menos três elementos: o falante, o ouvinte e os conteúdos transmitidos.

congresso_040917_1

“No testemunho, o orador tem uma relação especial e imediata com os conteúdos que ele propõe, porque ele tem experiência direta e pode se apresentar como uma testemunha ocular”. Assim é o testemunho cristão, dado através de um relacionamento íntimo com o Senhor Jesus e seu Evangelho.

“Nosso acompanhamento recíproco é dado sob a forma de testemunho”, enfatizou, lembrando que a reciprocidade é a comunicação não em uma direção, mas sempre em duas direções: de mim para o outro e do outro para mim. “Esta reciprocidade é, muitas vezes, expressa como um diálogo: a palavra diálogo evoca uma troca, onde eu falo e escuto, presumo que sou aceito pelo que sou e aceito o outro pelo que é”, enfatizou.

Para ele, a vida fraterna, precisamente por ser fraterna,  precisa dessa reciprocidade.

congresso_040917_5

JOVENS IRMÃOS

Para o Secretário Geral da Ordem, um problema sério em nossa formação é o fosso entre a formação inicial e o tempo após a profissão solene e eventualmente após a ordenação sacerdotal. “Todos sabemos que, em todas as Províncias e Custódias, quando um jovem frade sai da casa de formação e chega a uma fraternidade ‘normal’, ele deve ser acompanhado de uma maneira particular, porque esse passo pode ser traumático”, enfatizou.

Muitas vezes, segundo o frade, nas chamadas casas “normais” se vive de forma bastante individualista, talvez se dedicando com muito zelo ao seu próprio trabalho, mas cada um ao seu modo. “Os momentos comuns de oração e refeições comuns muitas vezes faltam, as reuniões comunitárias são muitas vezes escassas ou não frequentadas. Neste contexto, o jovem irmão encontra uma vida diferente daquele a que ele estava acostumado e, acima de tudo, encontra pouco apoio e acompanhamento fraterno, porque na realidade há pouca vida fraterna”, lamentou.

congresso_040917_7E foi mais crítico ainda: “Hoje tenho medo de que a mensagem que damos aos jovens irmãos seja a seguinte: ‘Aguente agora fazendo um longo serviço militar de sete ou oito anos e logo você fará o que quiser, como estamos fazendo’. Nossos jovens captam muito bem esta mensagem, que não é manifestada em palavras, mas nasce da vida que levamos se esta é demasiada diferente da que exigimos deles. E todos sabemos que a formação não se dá tanto com as palavras ou com belos discursos, mas especialmente com testemunho de vida”, reforçou.

Frei Cesare citou o Capítulo II da Regra em que diz: “Se alguns quiserem abraçar essa vida e vieram a nossos irmãos, enviá-los aos ministros provinciais … etc.” Segundo ele, seria mais correto traduzir por “aceitar, receber esta vida”:  “Trata-se de receber uma vida que nos entregam aqueles que já a vivem. Minha pergunta é: qual é a vida que damos aos jovens que ainda vêm até nós?”, questionou, enfatizando que sem formação permanente não pode existir uma formação inicial. “A formação permanente  é o húmus da formação inicial”, citou Ratio Formationis Franciscanae.

O frade apresentou ainda a metodologia de Emaús, onde o formador é companheiro de viagem. “Alguém que está ao seu lado. Não vai à frente como um guia, nem para trás com uma bagagem ou um peso a ser arrastado, mas como companheiro e irmão que compartilha aquele caminho que necessitam descobrir e fazer juntos”, ensinou Frei Cesare.

O Secretário Geral terminou sua palestra frisando que o acompanhamento fraterno não vive sem o testemunho e a reciprocidade. “Essa é a responsabilidade para com as novas gerações que esperam de nós a transmissão de uma vida, não de uma teoria”, completou, desejando que esse Congresso “ajude a exercitar nosso acompanhamento recíproco na vida fraterna”.

congresso_040917_4

FREI FIDÊNCIO ABRE O CONGRESSO

Com a Celebração Eucarística, às 7 horas, presidida pelo Ministro Provincial da Imaculada Conceição, Frei Fidêncio Vanboemmel, e concelebrada por Frei Cesare Vaiani e o Vice-Secretário para Formação e Estudos, Frei Sinisa Balajic, teve início o Congresso Continental.

Frei Fidêncio acolheu a todos com alegria e cantou, puxando a assembleia, a música de Pe. Zezinho para homenageá-los. “Eu venho do Sul e do Norte, do Oeste e do leste, de todo lugar. Estradas da vida eu percorro, levando socorro…”.

congresso_040917_3“Sim, viemos do Norte e do Sul, aqui nos reunimos como um dia Jesus reuniu na sinagoga de Nazaré, consciente da força do Espírito do Senhor. Conscientes da presença do Espírito Santo de Deus sobre cada um de nós e sobre todos nós, invocamos sobre nós este mesmo Espírito e queremos que o Espírito do Senhor possa nos ungir e a todas as nossas entidades, províncias e custódias, mas particularmente na missão específica que nós exercemos nas nossas entidades, como animadores da formação permanente, secretário para formação e estudos e o serviço para a animação vocacional”, pediu.

“Também São Francisco de Assis nos orienta a não extinguirmos o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar. Perder este espírito é perder a unção para a missão. A missão profética para o qual nós somos chamados nos nossos dias”, destacou.

Na sala de reuniões, os frades da Conferência Brasileira lembraram os 300 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida saudando a nossa Padroeira com a música “Romaria”.

Frei Fidêncio deu as boas vindas aos participantes e se colocou, como anfitrião, à disposição dos congressistas. Em seguida, cada representante das quatro Conferências fez uma apresentação das entidades. Depois da apresentação de Frei Cesare, os frades se dividiram em seis grupos para estudos e trabalhos durante toda a tarde, refletindo sobre dois pontos dados por Frei Cesare:

  1. Confrontar a ideia de formação como acompanhamento da situação da sua Província / Custódia: Os formadores se comportam como companheiros ou seguem outros modelos de formação? Você tem alguma proposta para melhorar a qualidade do acompanhamento?
  2. Na sua Província / Custodia, a vida fraterna realmente consegue acompanhar a vida dos irmãos? Você vê o apoio oferecido pela vida fraterna? Você tem alguma proposta para melhorar a qualidade da vida fraterna? Às 17h30, foram apresentadas as conclusões dos grupos.

Este Congresso, que tem o apoio da Província da Imaculada Conceição, reúne três frades representantes das províncias e custódias que fazem parte das Conferências Brasileira, Bolivariana, Guadalupana e Cone Sul. Por cada província ou custódia participa o Secretário para a Formação e Estudos, o Moderador para a Formação Permanente e o Animador Vocacional, num total de 67 participantes.

Neste dia 5, Frei Bernardo Brandão, Ministro Provincial da Província Nossa Senhora da Assunção, preside a Eucaristia. O tema deste dia será “A formação permanente como acompanhamento na vida ordinária”, que será apresentado por Frei Sinisa Balajic. À tarde, os frades se reúnem em grupos e fazem o plenário no final da tarde.

2º DIA Simplicidade e alegria marcam dia dos formadores

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – Os frades formadores que participam do Congresso Continental da Ordem dos Frades Menores, que está em andamento no Centro Sagrada Família, no bairro Ipiranga, em São Paulo, nesta terça-feira (5/9), ouviram duas palavras inspiradoras durante o dia: simplicidade e alegria. Primeiro,  Frei Bernardo Brandão, Ministro Provincial da Província Nossa Senhora da Assunção (Brasil), disse, durante a Eucaristia, que a vocação e missão do frade menor só existe com alegria. Depois, Frei Sinisa Balajic, vice-secretário Geral para Formação e Estudos, lembrou aos frades que a formação não necessita de momentos especiais, mas da vida comum da fraternidade, com as coisas “normais” da vida de oração, dos capítulos, dos retiros, da refeição em comum, da recreação, do trabalho doméstico, do trabalho evangelizador etc.

Neste segundo dia do Congresso, que vai até o sábado (9/9), Frei Sinisa falou sobre o principal tema: “A formação permanente e o acompanhamento na vida comum”. Tomando por base o documento da Formação Franciscana (Ratio Formationis Franciscanae), disse que o objetivo da “Formação Permanente é animar, nutrir e sustentar o caminho da fé /fidelidade, ajudando a amadurecer um olhar que seja capaz de reconhecer a presença de Deus em nossa própria história de vida e na vida de nossos irmãos /fraternidades para a missão da Ordem”.

segundodia_050917_3Segundo o frade, deveríamos colocar um pouco mais de atenção para o fato que cada dia da vida pode e deve ser formativo, porque nossa formação tem a ver diretamente com as coisas da vida cotidiana. “Encontrar a força formativa no meio do cotidiano, nos momentos normais da vida, significa levar a sério a lógica da Encarnação, na qual Deus escolheu participar da vida da humanidade, da sua vida e da minha vida”, acrescentou.

Para o frade, é preciso trabalhar dois níveis para que a vida fraterna, todos os dias, se converta em lugar formativo: o nível pessoal e o nível fraterno.

“O propósito da formação para toda a vida é uma forma de ‘voltar /restituir’ através do serviço que abraça todos os aspectos de nossa vida: não apenas uma oração, mas também palavras, obras, emoções, relações, saúde e doença, vitórias e fracassos … Este ‘retorno’ não se expressa apenas externamente e com realizações, mas toca a parte mais profunda do ser e as motivações centrais de cada frade”, explicou, citando a Ratio Formationis, que diz que o “frade deve se sentir responsável, em primeiro lugar, pelo seu próprio caminho de crescimento”. Mas deixou uma interrogação ao abordar este ponto: Como se pode “despertar”  tal responsabilidade pessoal na formação?

Frei Sinisa terminou sua apresentação dando ênfase para a fraternidade como um lugar formativo. E citou o artigo 127 da Ratio Formationis com a descrição das condições que são necessárias para que a fraternidade seja realmente formativa: Alegria da vida fraterna e da oração; Disponibilidade para caminhar juntos e entrar em relação direta com os irmãos candidatos em formação; Um projeto de vida fraterna como resultado do discernimento em comunidade; Disposição para lidar com conflitos e encontrar soluções, valendo-se – se a situação assim exigir – de ajuda por parte de especialistas.

“Em nível fraterno, isso significa que a vida fraterna depende da existência de hábitos que se estabelecem juntos ou de ‘regras’ formais que nos permitam forjar o encontro, rezar juntos, discutir, comer, etc”, indicou.

“Temos que acolher em nossa vida como frades, uma concepção diferente do outro, isto é, não como qualquer presença, mas como uma mediação da presença de Deus. E o que recebi como presente de outros irmãos deve se tornar o tema da minha oração, traduzida na minha própria experiência pessoal, reconhecida como parte da minha identidade”, acrescentou, completando: “A história de vida de cada fraternidade com seu tempo, espaço, dramas, seus santos – importante notar – é o sinal da presença do mistério de Cristo e uma verdadeira fonte de formação”.

CONCLUSÃO DAS REFLEXÕES

À tarde, os frades se dividiram em seis grupos para estudos e trabalhos e, às 17 horas, retornaram para apresentar as conclusões tendo como base as perguntas propostas por Frei Sinisa: Como criar uma atmosfera fraterna, boa e saudável, onde se facilite a discussão e a comunhão no interior da fraternidade? Como funciona a formação permanente em sua entidade? É composta por certos momentos (reuniões ou retiros) durante o ano ou se trata realmente da vida cotidiana dos irmãos? Os irmãos compreendem e aceitam verdadeiramente a ideia de formação permanente como uma formação que tem a ver com a vida cotidiana? Como e que formas expressivas-comunicativas podemos encontrar, que podem moldar ou melhorar esse aspecto (natureza fraterna de nossas vidas) para o crescimento de todos? O que se pode pedir aos irmãos em formação permanente para estarem motivados e conscientes de suas responsabilidades na formação?

segundodia_050917_7

VOCAÇÃO E MISSÃO COM ALEGRIA

Na Celebração Eucarística, às 7 horas, Frei Bernardo preparou o espírito dos frades para um novo dia formativo. Refletiu sobre a alegria na vida do frade menor. “Para nós, franciscanos, quem vive com alegria a sua vocação tem autoridade em sua missão. Quem não vive com alegria na sua missão não tem autoridade”, disse.

Frei Bernardo, contudo, perguntou como ter essa alegria e fazê-la transbordar para a Ordem e para a Igreja, que tem o Papa Francisco como timoneiro da esperança.

segundodia_050917_5

“Uma primeira palavra que nos faz entender o significado da verdadeira alegria é ser discípulos de Jesus. E discípulos missionários. Jesus é discípulo por excelência do Pai”, disse, recordando o exemplo de São Francisco, como discípulo itinerante.

“Outra palavra muito importante para nós é o serviço. A verdadeira alegria está naquele que se coloca a serviço dos irmãos. A nossa vocação é um dom para toda a Igreja”, observou, lembrando a missão de servir que Francisco recebeu aos pés do Crucifixo de São Damião. “Muitas vezes, presos em nossas dores e sofrimentos, esquecemos que não estamos neste mundo para nós mesmos, mas para servir nossos irmãos. Somos uma Ordem a serviço de toda a humanidade”, enfatizou.

E como terceira palavra, segundo o frade, que é fonte de alegria e que nos dá autoridade na nossa missão, é o martírio. “Talvez não tenhamos o martírio como foi vivido pelos primeiros mártires franciscanos na Terra Santa, mas o martírio no cotidiano, a fidelidade dos nossos votos no cotidiano de nossa vida”, acentuou.

“Por isso, meus irmãos, neste dia, queremos ser discípulos, nos colocar a serviço e queremos pedir a graça de doar a nossa vida, muitas vezes no martírio de cada dia, mas sem perder a alegria”, completou, citando o evangelho do dia, quando Jesus expulsa os demônios, e lembrando São Francisco: “A maior vitória do inimigo é quando nos tira a alegria”.

segundodia_050917_2

FRANCISCANOS PELA AMAZÔNIA

No Dia da Amazônia, os franciscanos reunidos no Congresso Continental para a Formação Franciscana,  fizeram uma pausa em protesto ao decreto que extinguiu a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca) e que no momento foi suspenso pelo governo depois dos protestos dos ambientalistas, políticos, religiosos, artistas etc.

A reserva está localizada entre os estados do Amapá e Pará e compreende uma área de aproximadamente 47 mil quilômetros quadrados (Km²), onde há registros da presença de cobre, ouro, manganês, ferro e outros minérios. Os ambientalistas argumentam que a extinção da Renca deixará uma área intocável da floresta amazônica sujeita a diversas ilegalidades.

segundodia_050917_8

O outro protesto dos franciscanos foi contra o Congresso boliviano, controlado pelo partido no poder, que aprovou uma lei para construir uma rodovia que cruzaria uma reserva ecológica, apesar da rejeição dos nativos do Parque Nacional Isiboro Sécure do Território Indígena (TIPNIS). O decreto aprovado cancela outro de 2011 aprovado pelo mesmo presidente Evo Morales para preservar o local de mais de um milhão de hectares, no centro do país, e onde vivem cerca de 50 mil nativos.

3º DIA - Dinheiro e clericalismo, ameaças para a Ordem

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – Está nas mãos, especialmente, dos formadores franciscanos evitar duas ameaças para a Ordem Franciscana no futuro. A constatação que parece, à primeira vista, ter uma conotação apocalíptica, foi feita com tranquilidade e serenidade pelo Definidor Geral para a América Latina, o brasileiro Frei Valmir Ramos, convidado a deixar uma mensagem aos 67 participantes do Congresso Continental para Formadores da Ordem dos Frades Menores, no Centro da Sagrada Família, no bairro do Ipiranga (SP). Antes, às 7 horas, Frei Valmir presidiu  a Santa Missa. Ele esteve também no Encontro de Justiça Paz e Integridade da Criação, em Anápolis (GO), e trouxe de Roma uma saudação especial do Ministro Geral, Frei Michael Perry, para os formadores neste terceiro dia (6/9) do evento.

A primeira ameaça, segundo o frade, é o dinheiro, e São Francisco já havia alertado para esse perigo no seu tempo. “Por isso, São Francisco disse que dinheiro é esterco de burro. Vocês sabem que o esterco de burro é muito fraco. Não serve para nada, nem para biogás. É diferente do esterco do gado ou da galinha. O dinheiro é uma ameaça porque ele corrompe, mesmo que digam que não é ele o problema, mas a vontade de ter independência e poder aquisitivo. Podemos colocar tudo que envolve essa questão, porém o fato é que o dinheiro é uma ameaça para a Ordem”, lamentou.

terceiro_060917_1

A outra ameaça para a Ordem hoje, falando de mundo e da América Latina, é o clericalismo. “Nós não somos clérigos. Nossa Ordem nasceu forte entre irmãos. E todos sabemos disso. Vocês sabem! Nós lemos ‘a Regra e a Vida dos Frades Menores’ e não ‘a Regra e a vida dos Padres Maiores’. Porque como frades menores somos irmãos. O clericalismo acaba com a Ordem. Ele não permite que nós sejamos irmãos entre irmãos”, destacou.

Para o Definidor Geral, contudo, há algumas vantagens em alguns lugares. “Nós chamamos os confrades de frei. Não falamos assim: ‘bom, este frei não é sacerdote, então ele é frei; aquele frei é sacerdote, então ele é padre. Então, você é frei, você é padre…’ Nós chamamos frei em muitos lugares. Isto pode ser um sinal muito simples, mas também é indicativo, porque onde existe clericalismo, o frei sacerdote não admite ser chamado de frei. E aí já estamos quase fora da intuição de São Francisco. E tem também uma outra questão de nomenclatura que está ligada à Igreja e nós estamos dentro da Igreja, que é a função de superior. Então, ‘eu sou o seu superior, vocês são todos seus inferiores. Vocês, inferiores, obedecem’. Isso não é de São Francisco, absolutamente. Se eu não tiver enganado, porque li nas obras de Frei Cesare, especialmente na de Teologia Espiritual dos Escritos, que São Francisco não usa a palavra superior. Mas usa as palavras ministro e guardião. O ministro é o que serve e o guardião é a mãe. Também nós não encontramos nos escritos de São Francisco, quando ele fala do acompanhamento dos irmãos, o termo governo. Superior ou superiores maiores, isto não é próprio do franciscanismo. São Francisco só usa a palavra governo para se referir a organizações externas. Então, são questões muito simples, imperceptíveis, mas que podem entrar na Ordem e destruí-la. A tendência, cada vez maior, é do clericalismo. Nós somos irmãos. Então, se queremos uma Ordem de Irmãos, que tem aqueles com a vocação sacerdotal e aqueles com a vocação laical, devemos formar a Ordem de Irmãos, crescer juntos e sermos testemunho para o dia de hoje e para o futuro”, constatou, pedindo um olhar e cuidado especiais.

terceiro_060917_3

Como responsáveis pela animação da Ordem, Frei Valmir fez o seguinte questionamento: Que tipo de frades nós queremos? “Essa pergunta não é nova, mas ela é importante para direcionarmos as nossas ações e também a nossa ação como guardiães, ministros, formadores. Que tipo de frades nós queremos? Se nós queremos frades burgueses, que trabalhem com os ricos, nós vamos formá-los burgueses trabalhando com os ricos; se nós queremos frades clérigos, que trabalham celebrando missas, batizados, casamentos e não saem da sacristia, vamos formá-los assim; se nós queremos frades que se preocupam mais com o estomago, nós vamos formá-los assim; então, me diga que frades nós queremos”, perguntou.

Na sua reflexão, durante a Missa, também abordou a formação franciscana. “É muito importante que todas as etapas da formação, a partir da animação vocacional que acolhe o vocacionado, estejam em fraternidades que vivam o mais autenticamente possível o carisma franciscano. Nenhuma etapa de formação pode ser colocada, ser transferida ou ser inserida em situação onde existem dúvidas a respeito do carisma franciscano”, observou.

Frei Valmir citou o querido Ministro Geral, Frei Giacomo Bini, que dizia que quando acolhemos um jovem, ou formamos ou deformamos. “Por isso, acolher um jovem que, às vezes tem 18, 20 ou 35 anos, não importa muito a idade, que não tem claro o carisma franciscano pode colocar em risco a fraternidade e até o carisma”.

terceiro_060917_5

OS ROSTOS DA ORDEM

Segundo Frei Valmir, estamos tempo de mudanças e a primeira mudança visível, e que Frei Michael Perry (Ministro Geral) tem refletido constantemente, é a  do rosto da Ordem. “Então, a Ordem está mudando de cor. A Ordem não é mais da cor europeia, nem da cor norte-americana. Dentro de 20 anos terá mudado ainda mais. A cor da Ordem é latino-americana, africana e asiática. Esta mudança nos faz refletir a respeito da nossa responsabilidade também diante das mudanças. As mudanças que acontecem no mundo, na vida das pessoas, da sociedade de um modo geral, que vai acontecendo na Igreja – e aí tem uma mudança significativa -, isso nos dá uma responsabilidade grande. Para nós, latino-americanos, a primeira responsabilidade é exatamente da formação em todas as suas etapas, porque quanto mais nós vivermos autenticamente o carisma franciscano mais nossos jovens latino-americanos vão procurar responder ao chamado de Deus na Ordem Franciscana. Do contrário, não. Se não vivermos o carisma franciscano, os jovens não terão a coragem de responder ao chamado de Deus”, alertou, lembrando que a Ordem não pode mais pensar em vocações onde não há mais jovens e os fiéis são pessoas acima dos 60 anos.

terceiro_060917_pLembrando que o Ministro Geral pede responsabilidade para acolher e acompanhar aqueles que respondem ao chamado de Deus, Frei Valmir disse que hoje é preciso ir ao encontro do vocacionado.  “Nós não podemos mais contar com os colégios seráficos, que ajuntavam tantos meninos. Eles não vêm mais. Hoje é preciso ir ao encontro do vocacionado. Depois deste encontro, contudo, não se deve esquecer do vocacionado. Não é possível deixar de responder ao contato de um vocacionado, seja por alguma forma dos novos meios de comunicação ou pela forma antiga dos Correios. É necessário responder. É preciso ser como o pescador, que pega o peixe e não permite que ele vá embora”, ensinou.

Frei Valmir insistiu muito na sua reflexão que a função na Ordem de guardião, de formadores, ministros etc é colocar-se a serviço como pedia São Francisco. “Também gostaria de recordar com vocês a importância de vivermos bem, ou ao menos fazer todo o esforço possível, para vivermos bem o nosso carisma, a fim de que sejamos também acompanhadores dos nossos confrades, independente, vamos dizer assim, da condição deles, seja ele nosso guardião ou seja o nosso confrade que trabalha conosco na paróquia, na obra social etc. Nós temos a responsabilidade de nos acompanharmos, sermos de fato irmãos e de percebemos aqueles sinais que indicam que alguma coisa não está bem com o meu irmão. E nós somos assim: co-responsáveis uns pelos outros”, completou.

terceiro_060917_6

O GUARDIÃO E A FORMAÇÃO PERMANENTE

Frei Bernardo Brandão, Ministro Provincial da Província Nossa Senhora da Assunção, foi o assessor do tema do dia: “O guardião que ordinariamente acompanha a Formação Permanente: seu papel, sua formação”. O frade partiu de uma fundamentação espiritual para desenvolver o tema, indicando que o guardião vigia para que o óleo não venha a faltar e que essa ação de vigilância é feita pelo próprio Cristo, que zela pelo projeto do Pai. O guardião, segundo o frade, tem como tarefa principal “manter viva a esperança” dos irmãos.

terceiro_060917_2Ao tocar num ponto crucial do encargo de guardião, disse Frei Bernardo  que longe de ser autoritário e longe do gosto de mandar nos irmãos, a verdadeira autoridade é uma força interior. “Ela cria um clima de confiança entre os irmãos, promove mais comunicação, derruba barreiras e bloqueios e resolve mais fácil alguns conflitos”, garantiu.

Para este serviço, Frei Bernardo lembra que é muito aconselhável que o guardião se prepare bem. “Cada guardião – junto com o capítulo local – decide o que se executa do projeto comum e o que e viável em situações concretas”, observou, lembrando que o guardião é figura decisiva entre o discurso e a prática dos frades.

Frei Bernado abordou com detalhes a importância da formação do guardião, o seu papel de formador e o trabalho nas casas de formação. “Na casa de formação moram normalmente frades de várias gerações e o guardião é o superior de todos. Facilmente, ele se percebe diante de um conflito de gerações e de um sútil jogo de poder na própria casa e ele vai reconhecer que cada geração interpreta o carisma franciscano diferentemente”, indicou, orientando: “Nestas situações, ele não deve polarizar e criar frentes, mas garantir, como mediador, o amor fraterno entre os irmãos”.

Em seis grupos, os frades refletiram sobre as seguintes perguntas propostas por Frei Bernado sobre o tema: O guardião  é só o coordenador da fraternidade ou ele é essencialmente algo mais? Até que ponto a confiança entre os irmãos é o fundamento de um bom trabalho de um guardião? Quando e como o guardião deve manter o sigilo? (fórum interno e externo do frade e da fraternidade); Quando e como ele deve exercer sua função de autoridade na fraternidade?  Que valor e que limites tem um curso organizado pela Ordem ou pela Conferência?  Que importância se dá à vida de oração de um guardião, quando ele deve exercer um constante “habitus” de discernimento?

Neste dia 7 de setembro, feriado nacional, os frades continuam os trabalhos no Congresso. Frei Ramiro de la Serna preside a Celebração Eucarística, às 7 horas, e abordará em seguida o tema: “Os que acompanham a promoção vocacional: todos os irmãos e animadores provinciais. Alguns elementos do primeiro anúncio vocacional”.

terceiro_060917_7

4º DIA Animação vocacional: Uma igreja próxima não produz rejeição

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – Não foi feriado, neste 7 de setembro, para os 67 formadores franciscanos que participam do Congresso Continental da Ordem dos Frades Menores, no Centro da Sagrada Família, no bairro do Ipiranga (SP). O Dia da Pátria foi lembrado em muitos momentos do dia com orações, especialmente na Santa Missa presidida pelo frade argentino Ramiro de la Serna. No altar, a imagem de Nossa Senhora Aparecida e a Bandeira do Brasil lembraram a data festiva nacional.

Depois de se debruçarem sobre temas como acompanhamento na vida fraterna, a formação dos frades depois dos votos solenes, o guardião e a formação de seus frades, neste quarto dia os congressistas ouviram Frei Ramiro falar sobre a promoção vocacional e, durante a tarde, trabalharam o tema em grupos .

Frei Ramiro de la Serna ingressou na Ordem dos Frades Menores aos 22 anos. Foi formador de religiosos jovens e logo se tornou Provincial dos frades da Província São Francisco Solano. Desde 2008 integra a Fraternidade da Casa de Jovens “Hermano Francisco”, em Moreno, dedicada especificamente à pastoral juvenil, e também faz parte da Fundação Franciscana, expressão de presença e compromisso social com muitos jovens leigos na região metropolitana da capital argentina. Lançou o livro “Desenterrando Deus”, e todo o dinheiro da venda desta obra foi revertido para a Fundação.

feriado_070917_2

Para começar a falar sobre o tema, Frei Ramiro fez uma recapitulação detalhada dos documentos que emergiram da Ordem para esta importante fase da vida religiosa consagrada. “Ao longo do tempo, vimos a constante preocupação e intervenção dos diferentes governos gerais em relação ao tema da Formação Permanente e da Pastoral das Vocações. Se detivermos nos últimos 50 anos, veremos que a Ordem insistiu de muitas maneiras, com diferentes meios, na abordagem dessas duas realidades”, disse.

Para Frei Ramiro, esses documentos possibilitaram à Ordem um reencontro com as Fontes e é inegável o crescimento interno dela, além de um maior diálogo com o contexto eclesial, social e histórico em que nos movemos. “Não duvido que avançamos muito, mas devemos recuperar a reflexão, a vida compartilhada e também nos perguntar por que algumas indicações são repetidas ao longo dos anos, sem produzir a transformação esperada”, observou.

Segundo o frade, sem a formação permanente não existe possibilidade real de uma verdadeira vocação pastoral e de uma profunda experiência na proposta vocacional. “Pode haver vocações que sustentem a instituição, mas não há garantia que sustentem e transmitam o carisma”.

Frei Ramiro partiu da dinâmica do “venham e vejam” (Jo 1, 39), para fundamentar sua proposta: “Temos de construir, apoiar, fortalecer pequenas experiências, ‘estruturas que dão sentido'”, disse. Para ele, são fraternidades que expressam paixão pela vida consagrada, paixão pela vida entregue a Deus e aos irmãos. “Não falo de fraternidades perfeitas ou santas, falo de estruturas fraternas dinâmicas que dão vida, que refletem o sentido de consagração. Não será isso que intuiu o grande ex-Ministro Geral Giácomo Bini, quando ele terminou o seu generalato, e constituiu a fraternidade de Palestrina como uma fraternidade de ‘doadora de sentido’? Ele não se dedicou a palestras e pautas de animação, mas estabeleceu uma fraternidade medular, doadora de sentido”, explicou, definindo essas fraternidades como medulares.

“Podem ser fraternidades que aprofundam a dimensão contemplativa, missionária, capaz de receber o jovem e o irmão que busca. Fraternidades que ‘refresquem e descansem’ a vida provincial”, acrescentou, reforçando: “Pequenas fraternidades que expressem paixão pela vida, uma vida que contagia, que se irradia (não que se prega ou se faz por panfletos)”.

feriado_070917

Segundo o frade, o trabalho vocacional é atrair o jovem para essas fraternidades e espaços medulares, que o ajudarão a se questionar e a experimentar o que a Fraternidade quer apresentar a ele.

Frei Ramiro abordou vários pontos do tema, mas também enfatizou muito a proximidade com os jovens. Mostrou através de dados estatísticos que o jovem dá mais valor à fé do que à religião. Ele citou o sociólogo espanhol Javier Elzo para lembrar que “se confia mais na Igreja quanto mais contato se tem com ela”. Para Elzo, “a rejeição da igreja é diretamente proporcional ao seu afastamento”.

“Isso mostra que quanto mais se está perto do povo, mais aceitação e valorização tem o consagrado. Os jovens que mais desvalorizam o eclesial são aqueles que tiveram menos contato”, observou Frei Ramiro.

Para ele, uma Igreja próxima não produz rejeição. Mas ressaltou que é preciso estar perto e visivelmente. “Deveríamos reformar profundamente os sinais de visibilidade”, propos o frade, exemplificando com o fato ocorrido aqui no Brasil quando perguntaram a ele, vendo-o com o hábito, se era da Toca de Assis.

“Perto e visível como um irmão menor e pobre. Talvez seja hora de passar de uma Igreja Mãe e Mestra para uma Igreja irmã e companheira. Uma igreja próxima. Um consagrado próximo produz aceitação, é valorizado”, enfatizou.

Para Frei Ramiro, todos sabemos que a vocação é um dom, mas “também uma resposta que se constrói diariamente”.

Nos grupos, Frei Ramiro propôs as seguintes perguntas para estudos: Que estratégias, atitudes, propostas temos para os jovens que nos procuram? Que estratégias, atitudes, propostas temos para sair ao encontro dos jovens.  Na sua Província / Custodia seria possível uma dessas fraternidades medulares? As conclusões foram apresentadas às 17h00.

Amanhã, dia 8, Frei Cesare Vaiani preside a Eucaristia e o Comitê Diretivo apresenta em Assembleia uma declaração que resume os trabalhos em grupo. À tarde, os frades farão uma visita ao Centro antigo da cidade de São Paulo, incluindo o Convento São Francisco, que neste ano celebra 370 anos de fundação, além do Mosteiro da Luz, onde conhecerão o túmulo do primeiro santo brasileiro, Frei Galvão. O encontro termina no sábado, 9 de setembro, com a Eucaristia, presidida por Frei Sinisa Balajic, o Vice-Secretário Geral para Formação e Estudos.

Último dia: O exemplo de acompanhamento recíproco de Nazaré

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – Acompanhamento foi a palavra-chave deste Congresso Continental de Formadores da Ordem dos Frades Menores. A começar pelo tema – Acompanhamento na vida fraterna -, esta palavra foi a base das reflexões com Frei Cesare Vaiani no primeiro dia e fechou os trabalhos durante a manhã desta sexta-feira, 8 de setembro, no Centro Sagrada Família, no Ipiranga (SP). Ao falar do papel de Maria e José na vida de Jesus, Frei Cesare fez uma belíssima reflexão teológica sobre o acompanhamento.

“Este Evangelho de hoje (Lc 1, 1-16) que nos fala da fé de José e de Maria, coincide com o último dia do nosso Congresso, e queremos acolher também este convite de fé. Da fé temos necessidade constantemente, porque nestes dias dissemos que a formação permanente é um caminho de fé. É uma renovação diária daquele ato de fé que nunca pode terminar e que exige ser cultivado e nutrido a cada dia. A fé, como a formação, pode ser somente permanente. Ninguém pode pensar que se possui a fé de uma vez por todas, assim como ninguém pode pensar que já não tem necessidade de formação. Nossa formação permanente, no fundo, não é senão o meio para sustentar nossa fé, ou seja, a nossa relação fundamental com Deus”, refletiu Frei Cesare.

“A fé de José e Maria é geradora porque acolhe o Senhor Jesus e O permite nascer no mundo. Também nossa fé é geradora, como a fé deles. São Francisco em sua ‘Carta aos Fiéis’ nos diz que a fé na ação do Espírito do Senhor nos permite chegar a ser filhos do Pai e esposos, irmãos e mães de Jesus. Segundo Francisco, podemos ser realmente geradores e convertermo-nos, como Maria, em mães de Jesus. Ele disse que ‘somos suas mães, quando O levamos em nosso coração e em nosso corpo, pelo amor divino e a consciência pura e sincera'”, explicou.

quinto_080917_2

Segundo o frade, neste caminho de fé e de formação não estão sozinhos: “Como nós dissemos nestes dias, estamos acompanhados por nossos irmãos e nós mesmos os acompanhamos. Nesta festa me agrada pensar também na família de Nazaré como um modelo de acompanhamento recíproco: José, Maria e Jesus exerceram mutuamente um serviço de acompanhamento. Me impressiona pensar que também o Filho de Deus, vindo a este mundo, escolheu ser acompanhado como todos os homens por uma mãe e por um pai que estavam ao seu lado com respeito e com amor. Maria, ao anúncio de que chegaria a ser mãe para acompanhar o caminho do Filho de Deus neste mundo, prosseguiu buscando também o acompanhamento de José naquele misterioso caminho. E José, que como todo homem justo tinha o sonho de uma mulher e um filho, aceitou o plano de Deus, que realizava seu sonho de uma maneira misteriosa, com aquela mulher e aquele filho que haveriam de ser seus extraordinários acompanhantes e a quem ele, por sua vez, havia de acompanhar, primeiro, no Egito e logo depois em Nazaré, oferecendo a eles o pão ganho com seu trabalho”, considerou.

Frei Cesare pediu a Deus que a fé e a formação na Ordem sejam verdadeiramente geradoras, para o bem do mundo em que vivemos e para nossos irmãos e irmãs. “Queremos gerar frutos de justiça e de paz para o mundo de nosso tempo, ferido por tantas injustiças, pela violência e a exploração indiscriminada dos recursos naturais. Peçamos ao Senhor Jesus que aprendamos com Ele, Maria e José a acompanhar e a ser acompanhado”, completou.

quinto_080917_7

DOCUMENTO FINAL E AGRADECIMENTOS

A manhã desta sexta-feira foi dedicada à elaboração e aprovação do documento final deste encontro. Segundo Frei Cesare Vaiani, que é Secretário Geral para a Formação e Estudos, ele irá se juntar aos documentos de mais quatro congressos continentais no mundo. Com este da América Latina e Caribe já são dois, uma vez que o primeiro foi realizado na Ásia. Faltam os encontros para os países da língua inglesa, dois do continente europeu e um da África. O documento deste Congresso foi aprovado pelos 67 participantes e seguirá para a redação final.

Também foi uma manhã de avaliações e todos os frades participantes foram unânimes em elogiar o evento e a anfitriã Província Franciscana da Imaculada Conceição, que começou com muita antecedência a preparar este Congresso.

quinto_080917_1

Na quinta-feira, feriado, os congressistas participaram de uma Noite Cultural, onde os frades puderam mostrar um pouco de sua cultura e tradições. Sempre com muita alegria e fraternidade.

“Esse Congresso Continental para a Formação e os Estudos foi um momento de graça também para a nossa Província. Como frades anfitriões, acolhemos com muita gratidão o Vice-Secretário para Formação e Estudos, Frei Sinisa Balajic, que representou a Cúria Geral no evento junto com o Secretário Geral para a Formação e Estudos, Frei Cesare Vaiani. Esse Congresso também exigiu de todos nós, da Província, uma boa preparação na logística, para prepararmos e acolhermos bem os frades. O meu agradecimento especial a Frei Walter de Carvalho, que desde o início esteve sempre em contato com a Cúria Geral para acertar todos os detalhes, bem como às Fraternidades da cidade de São Paulo que estiveram na retaguarda, especialmente na recepção e traslados nos aeroportos, e as demais pessoas que nos ajudaram nesta logística, especialmente nossa funcionária Cláudia Kuhnen”, disse Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial da Província da Imaculada.

Para Frei Fidêncio, este Congresso foi muito significativo. “Nós estivemos aqui reunidos no Centro de Formação Sagrada Família, no bairro Ipiranga (SP), da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Creio que Santa Paulina, que viveu o seu profetismo no seu tempo, não distante de São Francisco no cuidado e na atenção às pessoas fragilizadas, também esteve na retaguarda como santa a interceder por nós junto de Deus pelo bom êxito do Congresso”, disse, fazendo um agradecimento especial às irmãs pelo acolhimento.

quinto_080917_4

“Creio que nesses dias nós vivemos a graça daquilo que São Francisco disse no Testamento: ‘O Senhor me deu irmãos!’. Irmãos que compartilharam a sua própria vida, irmãos que trouxeram as experiências vividas nas diferentes entidades de toda a América Latina e do Caribe. Creio que foi um momento de graça onde compartilhamos nossos anseios, nossas preocupações que se referem à formação e os estudos, especialmente à animação vocacional, a formação em si mesma no seu processo formativo e um olhar todo particular sobre a formação permanente. Então, Deus seja louvado por tudo, por esse momento histórico para os frades e também para a nossa Província”, agradeceu Frei Fidêncio, que reuniu os funcionários e as irmãs para repetir este agradecimento a todos antes do almoço.

Este Congresso reuniu três frades representantes das províncias e custódias que fazem parte das Conferências Brasileira, Bolivariana, Guadalupana e Cone Sul. Por cada província ou custódia participou o Secretário para a Formação e Estudos, o Moderador para a Formação Permanente e o Animador Vocacional, num total de 67 participantes.

À tarde, os frades fizeram uma visita ao Centro antigo da cidade de São Paulo, incluindo o Convento São Francisco, que neste ano celebra 370 anos de fundação, além do Mosteiro da Luz, onde conheceram o túmulo do primeiro santo brasileiro, Frei Galvão. Neste sábado, 9 de setembro, a despedida será com a Eucaristia, presidida por Frei Sinisa, às 7 horas.

quinto_080917_5

Documento final

I. Introdução

 A todos os irmãos da América Latina e do Caribe: Paz e bem!.

Reunidos na acolhedora cidade de São Paulo (Brasil) por ocasião do Congreso Continental para Formadores, com o tema: “Acompanhamento na vida fraterna”, congregamos 65 irmãos, acompanhados e animados pelo Secretário e Vice-secretário para Formação e Estudos da Ordem e por nosso Definidor Geral, Frei Valmir Ramos.

Compartilhamos quatro temas importantes, que foram bem desenvolvidos e depois discutidos amplamente em grupos. O clima fraterno que vivemos nestes dias nos convida a proclamar, do mais profundo dos nossos corações: “O Senhor foi grandioso conosco e estamos alegres!”

O trabalho foi intenso, mas agradável e reconfortante. Cada um retorna ao seu país com uma riqueza de vivências compartilhadas e as linhas de ação que nos ajudarão a melhorar nosso serviço formativo.

IIDescrição e propostas

Compartilhamos com vocês algumas linhas de ação que desejamos transformá-las em compromissos para melhorar nossa Formação Permanente, isto é, para sermos melhores Frades Menores.

1. Acompanhamento mútuo na vida fraterna.

 a) Descrição

O acompanhamento é o nome franciscano da formação. O acompanhamento necessita e fomenta a consciência de que o verdadeiro formador é o Espírito Santo e que o primeiro responsável de sua formacão é o próprio frade[1], e o papel do formador é o de caminhar ao lado, oferecer alento e ajuda para discernir os sinais vocacionais e pessoais e como Deus fala através dos acontecimentos da vida ordinária[2]. O acompanhamento enfatiza a relação fraternal que nos caracteriza como “Frades Menores”[3].

O acompanhamento tem lugar na nossa vida fraterna ordinária[4], onde cada irmão e a fraternidade o experimentam, em especial pela mediacão dos acompanhantes “institucionais”, Ministros, Guardiães, acompanhantes espirituais e formadores da Formação Inicial ou  Permanente[5].

O acompanhamento é sempre recíproco[6] e sua forma mais própria e o testemunho[7].

b) Propostas

  • Que cada irmão da Província/Custódia se sinta responsável, com o seu testemunho de vida, pelos irmãos na Formação Inicial, tendo presente a realidade e o contexto da sociedade atual, onde o processo formativo inicial deve se realizar com experiências concretas.
  • Que, através do projeto de vida pessoal e fraterno, se dê resposta às diversas exigências e necessidades ao longo do intinerário formativo e se possa acompanhar a cada irmão.
  • Criar um centro de atenção e acompanhamento integral em nível das conferências para ajudar os irmãos em dificuldades.
  • Que em nossas provincias/custodias se promovam irmãos que se qualificam em estudos do nosso carisma franciscano.

2.2 Formacão Permanente 

  1. a) Descrição

A Formacão Permanente acontece na vida cotidiana[8]. Não está unicamente interessada em ter bons programas e reuniões extraordinárias, mas se fundamenta, principalmente, no bom discernimento da vida cotidiana[9], a partir da  perspectiva da fé.

A Formação Permanente estimula e fortalece a qualidade das nossas relacões fraternas, criando uma mentalidade e uma atitude comum na vida cotidiana. Este enfoque requer diálogo profundo e compromisso mútuo. Isso cria espacos para a partilha fraterna, garante e oferece o contexto concreto que nos permite reunir, discutir, trabalhar juntos e partilhar. Este compromisso comum na vida cotidiana cria a fraternidade que estimula o crescimento de cada irmão[10].

  1. b) Propostas
  • Fazer da nossa vida quotidiana em fraternidade o espaço próprio para nossa Formação Permanente.
  • Elaborar no Capítulo local nosso Projeto de Vida Fraterno, seguindo os critérios básicos da nossa espiritualidade e as estruturas fundamentais que nos ajudam a viver “enamorados” de Deus e do “Povo de Deus”, atentos aos gestos fraternos, como uma mãe atenta.
  • Criar espaços (encontros, formação,grupos, etc.) nos quais se fortificam o sentido de confiança, as relaçoes interpersonais e a correção fraterna na vida quotidiano dos irmãos da provincia/custodia para construir fraternidades mais saudaveis.
  • Criar um centro de estudos superiores para a aprofundação da espiritualidade franciscana ao nivel da UCLAF.

2.3 Formação dos Guardiães

  1. a) Descrição

Se a Formacão Permanente se realiza na vida diária da fraternidade, o Guardião tem um papel central, no qual, antes de tudo, o caráter espiritual. Inspirado por Deus, o Guardião de Israel[11], ele anima a fraternidade a viver na espera vigilante do dia do Senhor[12]. Entendido, assim, que a fraternidade é una obra divino-humana, encontram-se nela além destes fundamentos espirituais, muitas responsabilidades humanas. É importante que o Guardião também tenha um bom conhecimento de si mesmo, que o permita cuidar de si e dos outros, como também precisa  cultivar o sentido da alteridade, fundamento de uma verdadeira autoridade. Uma das tarefas mais difíceis e importantes do Guardião é a correção fraterna e a promoção do perdão mútuo entre os irmaõs. Para realizar tal servico, requer-se muita humildade. Ao tratar das estruturas concretas de nossas vidas, o Guardião não deve perder de vista o “kairós” de que é necessário em um  momento específico, usando o bom senso, um sadio discernimento e sua experiência de vida. Para executar bem seu serviço, o Guardião necessita de uma formação adequada, que o ajude a assumir o “habitus” do discernimento contínuo e o permita ser um formador da sua fraternidade.

  1. b) Propostas
  • Promover uma constante formação dos irmãos Guardiães, especialmente daqueles que iniciam este ofício. Cremos que seja conveniente que esta formação se realize interprovincialmente ou por Conferência.
  • Recuperar os espaços e a dinâmica da correcão fraterna, que faz dos Guardiães realmente os responsáveis pelo caminho formativo dos irmãos e nos faz todos responsáveis como fraternidade.

2.4 Cuidado pastoral das vocações (CPV)

  1. a) Descrição

Relendo os documentos da nossa Ordem em relacão ao CPV podemos evidenciar algumas constantes.

  1. O CPV é responsabilidade de todos os irmãos e de todas as fraternidades.
  2. Esta responsabilidade, indelegável, manifesta-se, antes de tudo, no testemunho de vida. O primeiro  anúncio vocacional deve ser, então, viver como frades menores.
  3. A vocação é sempre um dom de Deus e resposta do homem, que são duas liberdades que se encontram. Devemos ter propostas para evangelizar o momento da decisão vocacional nos jovens.
  4. É necessário uma real proximidade ao mundo dos jovens e
  5. o discernimento vocacional deve ser concebido como um processo.

Sem FP não há posibilidade real de uma verdadeira pastoral vocacional, e de uma vivência profunda da proposta vocacional. Pode até existir vocações que sustentam a instituição, mas  não garantem que sustentam e transmitem o carisma.

É necessário seguir dando espaço a novas fraternidades (“fraternidades medulares”) que expressem paixão por nossa vida, vida que contagia, que se irradia e que atrai. 

  1. b) Propostas
  • Continuar o processo de conscientização de que todos os irmãos são responsáveis pela animação vocacional.
  • Usar os meios necessários para constituir uma fraternade nova, dedicada à evangelização dos jovens e que torne mais visível o nosso carisma.
  • Priorizar nas nossas entidades a formação dos irmãos para o acompanhamento espiritual.

Pedindo a Nossa Mãe Aparecida e ao nosso irmão Santo Antonio de Galvão, compartilhamos com vocês nossas reflexões e nossa esperança.

O Senhor nos abençoe e nos acompanhe!

[1] CCGG 137 § 1; RFF 40; 61.

[2] Cf RFF 94; 148 *8.

[3] Cf. RFF 95.

[4]  Cf. RFF 96.

[5]  Cf. RFF 92.

[6]  Cf RFF 72; 102; Han sido llamados a la libertad 23-24.

[7] Cf RFF 140.

[8] Cf. RFF 109; Han sido llamados a la libertad 25.

[9] Cf. Han sido llamados a la libertad 5-6.

[10] Cf. Han sido llamados a la libertad 30.

[11] Sal 121; 127,1.

[12] Prov. 8, 34; Mt 25, 1-13; 1 Th 5,6; Ap 3,2.

CONGRESSO CONTINENTAL DOS FORMADORES DE AMERICA LATINA

3-9 setembre, São Paulo, Brasil