Santa Clara: “plantinha” do carisma franciscano
- A grande “plantinha” do carisma franciscano
- Carta dos Ministro Gerais da Primeira Ordem por ocasião da Solenidade de Santa Clara
- Clara de Assis, um clamor de paz
- Clara, defensora de Assis
- Cronologia da Vida de Santa Clara
- Fontes Clarianas
- A Ordem de Santa Clara
- A Graça da Fraternidade
- Oração a Santa Clara
- Missa em louvor a Santa Clara
- Clara de Assis...
- Festa de Santa Clara na Província
A grande “plantinha” do carisma franciscano
Santa Clara nasceu em Assis, em 1194. Em 18 de março de 1212, saiu de casa e se consagrou a Deus na igrejinha de Nossa Senhora dos Anjos, a Porciúncula. De 1212 até a sua morte, aos 11 de agosto de 1253, viveu no silêncio e na contemplação em São Damião.
O saudoso frade capuchinho Frei José Carlos Pedroso, em entrevista a este site, explicava o significado do título “Plantinha de São Francisco”, que gerou uma leitura equivocada desta grande mulher. “Trata-se de uma leitura desajeitada. Costumam entender que ela seria como um vaso querido de São Francisco, que ele punha na janela e regava todo dia. Seria uma criança. Mas quem conhece os textos das Fontes sabe que plantinha, em latim plântula, é o que nós chamamos de muda. Quando um mosteiro fundava outro, o fundador era chamado de plantador e o fundado era a muda, ou plantinha, porque no início da vida dependia dos cuidados do outro. Nas suas biografias, São Francisco é chamado de plantador da Ordem dos Menores. A Ordem de Santa Clara também foi plantada por ele. Uma das coisas que surpreende em Santa Clara é que, depois de ser obrigada a seguir a Regra de São Bento, a Regra de Hugolino e a Regra de Inocêncio IV, ela pôde finalmente fazer a dela. É notável a sua maneira de ser livre”, explica Frei José Carlos.
Segundo o Dicionário Franciscano, os elementos fundamentais do novo estilo de vida estão sintetizados na Bula de aprovação da Regra de Santa Clara, que fala da união dos espíritos e da altíssima pobreza, como também da vontade de viverem juntas na clausura. Estamos diante de aspectos exteriores de uma realidade interior centralizada no amor do pobre Crucificado.
“Sem sombra de dúvida, a pedra angular de todo o edifício religioso, de toda a vida espiritual de Clara e de suas irmãs é estarem ligadas com afeto pessoal a Jesus Cristo, amor esse ardente e apaixonado. Por causa de Cristo, perto de Cristo, junto de Cristo se realizam todas as suas experiências e se constrói sua vida em sua totalidade”.
A família espiritual de Santa Clara está presente no mundo inteiro. Em todos os continentes existem mosteiros de clarissas. Atualmente as Clarissas chegam a cerca de dezoito mil no mundo, em cerca de 900 mosteiros. Permanecem nove denominações de Clarissas, conforme a Regra ou as Constituições que observem: Clarissas (com a Forma de Vida de Santa Clara), as Clarissas Urbanistas, Clarissas Coletinas, Clarissas Capuchinhas, Clarissas Sacramentinas, Clarissas da Adoração Perpétua (com a Regra de Santa Clara ou com a de Urbano IV), Clarissas Capuchinhas Sacramentinas, e Clarissas da Divina Providência.
No Brasil, atualmente, dezoito Mosteiros de Clarissas fazem parte da Federação Sagrada Família. Segundo o Papa Francisco, na Constituição Apostólica Vultum dei Quaerere sobre a vida contemplativa feminina, a federação é uma estrutura importante de comunhão entre mosteiros que partilham o mesmo carisma, para que não permaneçam isolados. O objetivo principal é promover a vida contemplativa nos mosteiros que fazem parte dela, segundo as exigências do seu próprio carisma, e assegurar ajuda na formação permanente e inicial, bem como nas necessidades concretas através do intercâmbio de monjas e da partilha dos bens materiais; em função destes objetivos, deverão elas ser favorecidas e multiplicadas.
Em 1677, a 9 de maio, chegavam ao Brasil as pioneiras: foram também as primeiras religiosas a se estabelecerem em nossa Terra de Santa Cruz. Vieram de Évora, Portugal, para fundar o Mosteiro do Desterro, em Salvador, na Bahia. Este desenvolveu-se rapidamente e chegou a ter numerosas monjas. Mas, aos 19 de maio de 1855, o decreto do Ministério da Justiça, deploravelmente, fechou todos os noviciados das casas religiosas do Brasil e de Portugal.
A comunidade foi se extinguindo aos poucos e, em 1915 falecia a última Clarissa Urbanista do Brasil, com oitenta e quatro anos de idade. Por doze anos não houve mais Clarissas em todo o país. Mas, em 1928, de Dusseldorf, Alemanha, partiram para o Brasil 8 irmãs clarissas, que fundaram o Mosteiro Nossa Senhora dos Anjos, no Rio de Janeiro.
Neste Especial você encontrará informações relevantes sobre essa grande serva de Deus.
Carta dos Ministro Gerais da Primeira Ordem por ocasião da Solenidade de Santa Clara

Às Irmãs
da Ordem de Santa Clara
da Ordem de Santa Clara Urbanistas
das Clarissas Capuchinhas
Caríssimas Irmãs Pobres de Santa Clara,
Que de muitas partes e províncias sois congregadas,
Nós, os Ministros Gerais franciscanos, desejamos que
O Senhor vos dê a Sua Paz!
Neste Ano Santo de 2025, celebramos não apenas o oitavo centenário da composição do Cântico das Criaturas, mas também daquelas “palavras com melodia para as Pobres Damas de São Damião”, conhecidas como Ouvi, pobrezinhas, que São Francisco compôs “para a sua maior consolação”, no inverno de 1225. Os dois textos são singularmente próximos no tempo e na experiência de vida de Francisco. Podemos dizer que quase se entrelaçam e se iluminam mutuamente.
Dada a importância desse acontecimento para toda a Família Franciscana- e ainda mais para vós-, nós, Ministros Gerais Franciscanos, nos dirigimos a todas vós em conjunto, “com grande amor”, oferecendo-vos algumas chaves de reflexão inspiradas nas próprias palavras de Francisco, convencidos de que, mesmo depois de 800 anos, elas conservam toda a sua força e permanecem profundamente relevantes para a vossa vida contemplativa franciscano-clariana de hoje.
“Ouvi, Pobrezinhas, pelo Senhor chamadas”: a vossa identidade
Com as duas primeiras palavras que dão nome a todo o poema, Francisco, como um pai amável e um sábio mestre, convida as Irmãs de São Damião a escutar, isto é, a acolher profundamente, no íntimo do próprio coração, as palavras com as quais “quis manifestar a elas brevemente a sua vontade, no momento presente e sempre”. E a primeira vontade de Francisco foi a de confirmar a identidade de Clara e de suas irmãs: a de “Pobrezinhas”, chamadas e geradas pelo Pai na Igreja “para seguir a pobreza e a humildade do seu amado Filho e da Virgem, sua gloriosa Mãe”. “Pobrezinhas” é, portanto, uma expressão que exprime bem a vossa identidade mais profunda, que “sintetiza admiravelmente um estilo de vida, um modo de estar diante de Deus e na Igreja”; é, portanto, “a essência da vossa Forma de Vida, apaixonadamente vivida e defendida por Clara durante toda a sua vida. E é esta a vossa identidade: a de Irmãs Pobres” cujo “verdadeiro mosteiro é a humanidade do Senhor Jesus pobre e humilde”; mulheres totalmente dedicadas a Deus na contemplação, que se caracterizam, sobretudo, por uma vida de humildade e pobreza vividas em fraternidade, que hoje deve ser cada vez mais plenamente recuperada e refletida na vida de cada irmã, de cada comunidade e de cada uma de vossas Ordens. A isto, pelo Senhor, vós sois chamadas!
“Que de muitas partes e províncias sois congregadas”: a santa unidade
Desde os primórdios, a comunidade de São Damião acolheu mulheres- nobres ou não- não apenas de Assis, mas também de várias outras regiões. Entre elas, havia irmãs de culturas muito diferentes, como testemunham as correspondências de Clara com Inês de Praga e Ermentrude de Bruges. Assistimos hoje com maior evidência a uma transformação das nossas Ordens e das vossas em comunidades, sempre mais internacionais e multiculturais. Em uma simples comunidade ou Federação, convivem agora irmãs de diferentes regiões de uma mesma nação, de países diversos, com origens étnicas e culturais variadas e provenientes de contextos sociais heterogêneos. Essa diversidade constitui, antes de tudo, um dom precioso, pois enriquece a expressão do carisma comum, que, enraizado no Evangelho, é tão vasto e profundo que não pode ser plenamente manifestado por meio de uma única perspectiva cultural. Contudo, essa realidade representa também um significativo desafio, que nos convida a um acolhimento recíproco e profundo, à integração de nossas diferenças e à superação de prejuízos que, por vezes, nos influenciam mesmo sem que tenhamos consciência disso. Além disso, nos impulsiona a um discernimento atento, para avaliar constantemente quantos e quais elementos culturais específicos estão em harmonia com a mensagem evangélica. Portanto, é importante nunca deixar de buscar e conservar, em todos os níveis, a “santa unidade”, que jamais deve ser confundida com uma uniformidade que nivela, ou com uma diversidade buscada a qualquer custo, mas que exige considerar tudo a partir da conexão mais profunda que vos une: a inspiração divina que vos moveu a abraçar a mesma Forma de Vida.
“Vivei sempre em verdade, para que em obediência morrais”: o seguimento de Cristo
No cristianismo, a verdade não é simplesmente um conceito ou uma teoria, mas uma pessoa, Jesus Cristo, que se autodefine como “a Verdade, e com a qual somos chamados a viver uma relação, uma experiência de encontro e de conhecimento sempre mais profundos. Viver “na verdade” significa, antes de tudo, aprofundar-se continuamente na relação pessoal com Deus- única e insubstituível- a partir da qual descobrimos a nossa autêntica identidade, nossa essência mais profunda. Significa também conformar-se à verdade da encarnação do Filho de Deus, marcada pela pobreza e humildade, seguindo sempre “a vida e a pobreza do altíssimo Senhor nosso Jesus Cristo e da Sua santíssima Mãe”. Mais do que uma adesão teórica a um conjunto de verdades dogmáticas, viver “na verdade” nos conduz ao coração da espiritualidade de Francisco e Clara: seguir Cristo pobre e humilde; observar o seu Evangelho nos diversos contextos comunitários, culturais e sociais em que estamos inseridos- em outras palavras, na concretude e autenticidade das nossas específicas situações de vida. Fica claro que a vida “na verdade”, da qual nos falam Francisco e Clara, representa um profundo acolhimento e uma adesão total à revelação de Deus em Jesus Cristo, uma adesão que exige uma “obediência” radical a Ele e à sua mensagem. Uma obediência que deve acompanhar-nos não apenas no viver mas também no morrer; uma fidelidade que nos sustenta por toda a existência, observando “em perpétuo a pobreza e humildade de nosso Senhor Jesus Cristo e da Sua santíssima Mãe e o santo Evangelho”, pois “felizes são aqueles a quem foi dado andar por ele e perseverar até o fim”.
Tocamos aqui a uma realidade delicada: os pedidos de saída das nossas Ordens por parte de irmãs e de irmãos, mesmo após longos anos de vida consagrada. Essa realidade nos levanta muitas perguntas, com as quais precisamos nos confrontar seriamente, especialmente no que diz respeito ao nosso sentido pessoal de pertença ao Senhor e ao seu Evangelho, sobre a qualidade da nossa vida fraterna e sobre a profundidade da nossa formação.
“Não olheis para a vida exterior, pois aquela do espírito é melhor”: a autenticidade de vida
Notamos, antes de tudo, que Francisco não estabelece uma simples oposição entre a “vida externa” e a “vida interna”, que, em uma leitura superficial, poderia ser interpretada como o contraste entre a existência secular- da qual Francisco se distanciou com a sua conversão e a experiência de clausura vivida por Clara em São Damião. Francisco, na verdade, contrapõe a “vida externa” à “vida do espírito”, sugerindo que a verdadeira distinção não está entre o “externo” e o “interno”, mas entre o “viver segundo a carne” e o “viver segundo o espírito”, entre o “espírito da carne” e o “Espírito do Senhor”. Trata-se de duas modalidades existenciais fundamentalmente distintas: uma guiada pelo predomínio do ego (carne), e a outra pelo primado de Deus (espírito). Dessas duas perspectivas nascem também diferentes modos de viver a vida cristã e religiosa. Como Francisco explica: “o espírito da carne quer e se esforça muito por ter as palavras, mas pouco por fazer as obras, e procura não a religião e a santidade interior do espírito, mas quer e deseja ter a religião e santidade que aparecem exteriormente aos homens”. A escolha que somos chamados a renovar continuamente é entre uma vida cristã e religiosa superficial- feita de exterioridade e formalismos- e uma experiência cristã autêntica e coerente, permeada pelo mistério pascal de Cristo, desejosa, acima de tudo, “de ter o Espírito do Senhor e sua santa operação”16. Todos devemos, portanto, vigiar contra o risco da “mundanidade espiritual”, que o Papa Francisco denunciava, na qual “se esconde por trás a aparência de religiosidade e inclusive de amor pela Igreja, e busca, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal”.
“Eu vos peço, com grande amor, que tenhais discrição a respeito das esmolas que vos dá o Senhor”: o discernimento contínuo
Um claro indício do caminho segundo o Espírito é a atitude de discrição e discernimento constantes que, no caso de Clara, Francisco aplica à questão da esmola. A severa austeridade de Clara levava-a a privar-se até mesmo dos bens essenciais à sobrevivência. Por isso, “com grande amor” e preocupação por sua saúde, Francisco, junto com o Bispo de Assis, lhe impôs que “não deixasse passar um só dia sem tomar para sustento pelo menos uma onça e meia de pão. Essa mesma discrição também nos alerta contra o excesso oposto: uma permissividade que leva ao desperdício dos recursos naturais, cedendo às tentações hedonistas e consumistas. Em uma de suas Admoestações, Francisco afirma que “onde há misericórdia e discernimento, aí não há nem superfluidade nem rigidez”.
Podemos estender essa recomendação de discrição/discernimento não apenas à nossa relação com os bens materiais, mas também a todas as outras “esmolas”, isto é “a todos os dons que recebemos do Pai de toda misericórdia, a começar pelo mais precioso: a nossa vocação”. Como a vocação é um dom que continuamos a receber d’Ele, torna-se necessário um discernimento permanente- tanto pessoal quanto comunitário- para avaliar como estamos cultivando e respondendo a esse dom tão inestimável. Além disso, é necessária a discrição também nas nossas relações interpessoais, começando pelas irmãs da própria comunidade, evitando qualquer forma de abuso. A Igreja hoje nos pede uma particular sensibilidade em nossas relações com todas as pessoas, inclusive no modo como interagimos por meio das novas tecnologias de comunicação. Com efeito, vivemos hoje imersos em uma cultura digital que exige formação adequada e discernimento constante quanto ao seu impacto na vida contemplativa.
“Aquelas que estão atormentadas por enfermidade e as outras que por elas sofrem fadigas, todas vós, suportai-as em paz, pois vendereis muito caro esta fadiga”: a recíproca suportação
Entre as realidades nas quais haver discrição, ou seja, que requerem de nós um bom discernimento, está a da enfermidade, algo comum na comunidade de São Damião, a começar pela própria Clara, que permaneceu acamada por longos anos. Também entre nós, a realidade da enfermidade está presente e, às vezes, impõe grandes sofrimentos às irmãs e irmãos que enfrentam situações de saúde muito graves. Somos testemunhas da grande fortaleza de ânimo de tantas irmãs nas enfermarias que, apesar de seus sofrimentos, mantém a serenidade e também a alegria do coração. São irmãs que vivem o carisma em sua plenitude, pois se deixam transformar inteiramente no Cristo crucificado/ressuscitado que contemplam. A elas se unem tantas outras irmãs – e inteiras comunidades- que, não sem fadiga, se revezam para oferecer às irmãs doentes os cuidados necessários e, sobretudo, o afeto fraterno e o sustento espiritual. Parece-nos que, justamente por ver isso acontecer na comunidade de São Damião, Francisco, no “Ouvi, Pobrezinhas”, amplia a bem-aventurança que, no Cântico das Criaturas, era reservada àqueles que suportam enfermidades e tribulações, incluindo também aquelas que se fatigam pelas irmãs enfermas. Sim, Irmãs, também vós sois verdadeiramente felizes quando vivem a enfermidade e o cuidado das doentes na perspectiva da fé!
No entanto, em certo sentido, podemos dizer que todos nós somos enfermos, ou seja, que todos temos necessidade de ser cuidados e suportados pelos outros, pois em muitos momentos nos deparamos com nossos limites, nossas fragilidades, nosso pecado. Esses momentos deveriam ser considerados, por nós, como momentos de graça, pois nos recordam nossa verdadeira condição: a de pessoas sempre necessitadas da força e da misericórdia de Deus, e também do suporte dos irmãos e irmãs, de alguém que nos ajude a carregar o peso da vida. É então que essas situações tornam-se ocasiões privilegiadas para realizar a lei de Cristo. E isto não se dá apenas dentro das comunidades locais, mas também entre as comunidades das vossas Federações e das vossas Ordens. Isto requer, muitas vezes, o redimensionamento das presenças nos diversos territórios, a fim de que a todas as irmãs seja garantido o direito de viver, até o fim, uma vida contemplativa franciscana plena e digna.
“Cada uma será rainha no céu, coroada com a Virgem Maria”: a esperança escatológica
A bem-aventurança da enfermidade- seja da própria irmã ou daquelas que cuidam dela- isto é, ser feliz mesmo em situações de grande fragilidade, só é possível quando se vive em vista de um valor maior que a própria saúde ou o bem-estar pessoal: algo que dê verdadeiro sentido a tudo e pelo qual valha a pena oferecer tudo. E para nós cristãos, aquilo que pode dar pleno sentido à vida- o tesouro escondido ou a pérola preciosa pela qual vale a pena vender tudo23-, não pode ser outra coisa senão o amor de Cristo, derramado em nossos corações por meio do Espírito Santo, nisso consiste o Reino de Deus e a sua justiça. O Reino de Deus já está no meio de nós, porém ainda não plenamente; está neste mundo, mas não é deste mundo, vai além dele, pois possui uma dimensão escatológica que, para vós, segundo aquilo que pensou Francisco, possui uma forte conotação mariana. Com efeito, já naquele que foi seu primeiro escrito às Senhoras Pobres, conhecido como a “Forma de Vida”, Francisco via a vida de Clara e de suas irmãs como uma continuação da experiência de Maria: a filha e serva por excelência do Pai, a Esposa do Espírito Santo e a discípula mais perfeita de Cristo. Assim, aquelas que perseveram até o fim no seguimento da vida e da pobreza do Altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua santíssima Mãe, são destinadas a participar do mesmo destino da Mãe de Deus: tornar-se rainhas, coroadas no céu com a “Senhora Santa Rainha”30, a Virgem Maria. Portanto, na eternidade, cumpre-se na vida das irmãs a passagem de Pobrezinhas a Rainhas: eis a grandeza da vossa vocação, eis a esperança escatológica à qual sois chamadas!
Queridas Irmãs, que neste Ano Jubilar da Esperança possais renovar a fé nesta grande esperança: participar da plenitude da vida em Deus, para a qual Maria vos precedeu, tendo percorrido neste mundo o mesmo caminho- o da obediência, da pobreza e do serviço. E, enquanto vos agradecemos pelo vosso testemunho de vida contemplativa franciscana, pela vossa proximidade às nossas Ordens e por vossas preciosas orações, invocamos sobre cada Irmã e todas as vossas comunidades as mais abundantes bênçãos d’Aquele que é o nosso “Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor”31 e que deseja ver-vos todas “rainhas”.
Fraternalmente,
Fr. Massimo Fusarelli, OFM
Fr. Carlos Trovarelli, OFMConv
Fr. Roberto Gebuin, OFMCap
Santuário de São Damião, 1º de agosto de 2025
Início do Perdão de Assis
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Fonte: https://ofm.org/
Clara de Assis, um clamor de paz

Santa Clara de Assis, admirada e conhecida como fiel discípula de São Francisco que, por sua vez, a iniciou no seguimento do caminho do Filho de Deus, foi a grande mulher orante, contemplativa e intercessora, recolhida com as suas Irmãs Pobres no estreito convento do Mosteiro de São Damião de Assis. Ela escolheu viver uma vida “segundo a perfeição do santo Evangelho” (RSC VI 3) e abraçou a santíssima vida de pobreza, morando à beira da estrada, fora da segurança dos muros de Assis. Clara jamais se isolou das aflições e dores dos homens e das mulheres do seu tempo: sejam as pessoas que habitavam na segurança fortificada da cidade de Assis, como as que, como ela, viviam do “lado de fora” a sorte dos pobres, leprosos, marginalizados e de todos que depositavam sua única e última confiança na providência de Deus.
Mesmo vivendo no recolhimento de um pequeno campo, distante do ruído do mundo, em diferentes momentos Clara viveu as contrariedades da vida que muitas vezes causaram insegurança, apreensão e medo, consequências das tensões políticas e religiosas da época. Basta citar as aspirações de Frederico II, o imperador do Sacro Império Romano-Germânico que, de um lado, alimentava a ambição de consolidar seu domínio sobre a Itália, incluindo os territórios controlados pelo papado. E, do outro lado, estava o Papa Gregório IX que via nas ações de Frederico II uma afronta à sua autoridade, especialmente no que dizia respeito aos territórios da Igreja e à interferência imperial nos assuntos eclesiásticos. Paralelamente a estes conflitos, houve o ataque de um grupo de “sarracenos” que, além de assombrar a cidade de Assis, ameaçou a integridade daquelas mulheres pobres e indefesas, tão vulneráveis e expostas que habitavam no Mosteiro de São Damião.
Irmã Francisca, uma das testemunhas no Processo da Canonização de Santa Clara, assim narrou: “Respondeu que uma vez, tendo os sarracenos entrado no claustro do mosteiro, a senhora pediu que a carregassem até a porta do refeitório e pusessem diante dela uma caixinha onde estava o santo Sacramento do Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Prostrou-se por terra em oração e orou com lágrimas, dizendo estas palavras entre outras: “Senhor, guardai Vós estas vossas servas, porque eu não as posso guardar. Então a testemunha ouviu uma voz de maravilhosa suavidade que dizia: “Eu te defenderei para sempre”. Então a senhora orou também pela cidade, dizendo: “Senhor, que vos apraza defender também a esta vossa cidade”. A mesma voz soou: “A cidade sofrerá muitos perigos, mas será defendida”. Então a senhora se voltou para as Irmãs e lhes disse: “Não fiquem com medo, porque eu sou a sua garantia de que não vão passar nenhum mal, nem agora nem no futuro, enquanto se dispuserem a obedecer aos mandamentos de Deus”. Os sarracenos foram embora sem fazer mal ou causar prejuízo” (PC 9, 2).
Este testemunho da Irmã Francisca faz eco nas palavras das outras irmãs que, individualmente, deram o seu depoimento no Processo de Canonização de Santa Clara: Irmã Benvinda (PC 2, 20), Irmã Filipa (PC 3,18), Irmãs Inês (PC 10, 9), Irmã Beatriz (PC 12,8), e o senhor Messer Rainério que assim testemunhou: “E firmemente creem todos os cidadãos que, pelas orações e méritos da predita senhora Santa Clara, o mosteiro foi defendido e a cidade foi libertada de seus inimigos” (PC 18,6).
As perguntas que aqui faço são: A atitude de Santa Clara diante do ataque e ameaça violenta da tropa de Vital de Aversa e dos sarracenos tem algo a nos dizer nos dias atuais? De onde Clara tirou todas as energias para transmitir serenidade às Irmãs e invocar a proteção divina sobre o mosteiro e a sua cidade de Assis? Clara também abraçou a “legação da paz” (1Cel 24) abraçada por Frei Bernardo e primeiros companheiros de São Francisco: o que significa esta missão de paz?
Sem dúvida, a ressonância dos dois episódios medievais não difere daquilo que hoje o mundo vivencia, certamente com maior sutilidade e agressividade. Vejamos:
1. Podemos afirmar que a ganância e a sede pelo poder que cega o homem, o desejo insaciável pela riqueza ou status, o egoísmo predatório que fere a vida e a natureza, a prepotência e a autorreferencialidade, etc., entra em crise quando se depara com uma realidade oposta, isto é, a absoluta e santa pobreza vivida em São Damião. Nada de valores materiais, apenas nobres mulheres revestidas com a armadura da santa pobreza que afasta e envergonha toda a avareza humana: “O Senhor libertou dos inimigos o mosteiro e as Irmãs. E os sarracenos que já tinham entrado foram embora” (PC 2,20). Se confirma aqui uma das admoestações de São Francisco: “Onde há pobreza com alegria, aí não há nem ganância nem avareza” (Adm XXVII,3).
2. A mulher, tão estigmatizada na Idade Média por ser considerada inferior física e intelectualmente ao homem e, quando não, vista como figura do maligno e das desgraças do homem, na audácia de Santa Clara de Assis recupera a nobreza de um livramento de todos os preconceitos, particularmente os atuais atos de violência e discriminação na questão de gênero, com o objetivo de causar danos físicos, psicológicos, sexuais, morais ou patrimoniais à grandeza da alma feminina. Clara de Assis, sem dúvida, é a grande mulher aliada às pessoas que combatem todas as formas de misoginia e prepotência machista. Clara, mesmo descrevendo a sua comunidade feminina como um grupo “frágil e fisicamente sem forças” (TestC 27), diante da ferocidade dos sarracenos, busca no Senhor uma força sobrenatural de resistência: “E foi tanta a força dessa oração que os inimigos sarracenos foram embora sem fazer mal algum, como se tivessem sido expulsos, tanto que não tocaram em ninguém da casa” (PC 3,18).
3. A formação de Clara, orientada pela compreensão do casamento na nobreza e da consequente responsabilidade que deveria assumir para ser mulher forte e determinada, também se mostrou evidente nessa encruzilhada entre a fragilidade física e a coragem para não dar espaço ao fracasso ou à derrota diante das ameaças e ataques dos homens impiedosos e rudes. Aliás, experiência já vivida no seu processo de conversão e na fuga da sua irmã Catarina (Irmã Inês). Clara, mãe-pastora das Irmãs, assume sua responsabilidade no cuidado daquele pequeno rebanho (cf. PC VI,2) e de ser, ao mesmo tempo, “auxiliar do próprio Deus, sustentáculo dos membros vacilantes de seu corpo inefável” (3CtIn 8) da sua própria cidade natal: “Pois Deus por suas orações defendeu o mosteiro dos sarracenos e a cidade de Assis do assédio dos inimigos” (PC 12,8).
4. Santa Clara, invocada como padroeira e intercessora da cidade de Assis, também fez ecoar seu clamor pelo bem da paz aos seus concidadãos diante das ameaças de Vital de Aversa, descrito pela Legenda de Santa Clara como “homem cobiçoso de glória e intrépido nas batalhas, moveu contra Assis o exército imperial, que comandava. Despiu a terra de suas árvores, assolou todos os arredores e acabou pondo cerco à cidade […] Quando Clara, a serva de Cristo, soube disso, suspirou veementemente, chamou as Irmãs e disse: Filhas queridas, recebemos todos os dias muitos bens da cidade. Seria muita ingratidão se, na hora em que precisa, não a socorrêssemos como podemos. Mandou trazer cinza, disse às irmãs que descobrissem a cabeça. E, primeiro, espalhou cinza sobre a cabeça nua. Colocou-a depois também sobre as cabeças delas. Então disse: Vão suplicar a nosso Senhor com todo o coração a libertação da cidade” […]. Na manhã seguinte, Deus misericordioso deu a saída para o perigo: o exército debandou, e o soberbo, contra os planos, foi embora e nunca mais oprimiu aquelas terras” (LSC 23).
Mais uma vez a prepotência dos destruidores da vida e da natureza, os promotores da desgraça alheia, são vencidos por um ritual penitencial de cinzas e orações, semelhante às preces e penitência dos ninivitas (Jn 3,5). Prece que chegou aos céus e tocou profundamente os habitantes de Assis que passaram a ver em Clara e suas Irmãs as restauradoras da paz e da esperança por dias melhores. Assim, também para os nossos dias, Santa Clara nos provoca a buscar no Senhor a verdadeira paz para promovermos a paz no mundo.
Concluindo, podemos afirmar que Santa Clara de Assis, ao lado de São Francisco, é a mais nobre inspiração feminina de um mundo que busca a paz. Ela nos ensina a cultivar a paz interior em Deus e com Deus e, assim integrada, provoca-nos a buscar uma verdadeira justiça social da qual as mulheres exercem o seu protagonismo, a busca harmônica de direitos e deveres entre os filhos e filhas de Deus, buscando tornar o mundo mais justo, sustentável e inclusivo, focado na “economia de Francisco e Clara”, para o bem-estar da nossa Mãe-Terra que nos sustenta e governa.
São Paulo, na festa de Santa Clara de 2025.
Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM.
Clara, defensora de Assis
Conta-nos a Legenda de Santa Clara, no parágrafo 23: “Em outra ocasião, Vital de Aversa, homem cobiçoso de glória e intrépido nas batalhas, moveu contra Assis o exército imperial, que comandava. Despiu a terra de suas árvores, assolou todos os arredores e acabou pondo cerco à cidade. Declarou ameaçadoramente que de nenhum modo se retiraria, enquanto não a tivesse tomado. De fato, já havia chegado o ponto em que se temia a queda iminente da cidade.
Quando Clara, a serva de Cristo, soube disso, suspirou veementemente, chamou as Irmãs e disse: “Filhas queridas, recebemos todos os dias muitos bens desta cidade. Seria muita ingratidão se, na hora em que precisa, não a socorrêssemos como podemos”.
Mandou trazer cinza, disse às Irmãs que descobrissem a cabeça. E, primeiro, espalhou muita cinza sobre a cabeça nua. Colocou-a depois também sobre as cabeças delas. Então disse: “Vão suplicar a nosso Senhor com todo o coração a libertação da cidade”.
Para que contar detalhes? Que direi das lágrimas das virgens, de suas preces “violentas”? Na manhã seguinte, Deus misericordioso deu a saída para o perigo: o exército debandou e o soberbo, contra os planos, foi embora e nunca mais oprimiu aquelas terras. Pouco depois o comandante guerreiro foi morto a espada”.
E, também, lemos no Processo de Canonização, nº 14: “A testemunha também disse que, temendo as Irmãs a chegada dos sarracenos, tártaros e outros infiéis, pediram à santa madre que insistisse muito diante do Senhor para que o mosteiro fosse defendido contra eles. E a madre santa lhes respondeu: ” Irmãs e filhas minhas, não fiquem com medo, porque o Senhor as defenderá. E eu quero ser a sua garantia. Se os inimigos chegarem até o mosteiro, coloquem-me diante deles”. Assim, pelas orações de tão santa madre, o mosteiro, as Irmãs e os objetos não sofreram dano algum”.
Estamos em Assis entre 1239 e 1241. Há tensão na cidade. Cavaleiros, mercadores, voluntários, populares, soldados, todos se posicionam para defender a cidade que tanto amam. Às portas da cidade se acampam os guerreiros sarracenos comandados por Frederico II, que se bate contra os “minori”, conseqüentemente contra o Papa. No dia 3 de junho de 1239 acontece um eclipse do sol, um fenômeno natural; mas o povo interpreta de um modo apocalíptico aquela escuridão que permite ver estrelas de dia. O medo sempre antecipa o fim do mundo.
No mosteiro de São Damião, Clara e suas Irmãs rezam pela cidade. A prece e penitência contra as armas da guerra. Aquele lugar seguro de paz pode virar fortaleza de combate.
Na Ordem dos Frades Menores, Frei Elias quer mediar o conflito entre o exército imperial e o exército pontifício, escreve uma carta e encarrega o Geral da Ordem, Frei Alberto de Pisa, para entregar ao Imperador. Um frade é usado como mensageiro e desaparece no caminho juntamente com o documento. O Papa não aceita que Frei Elias tenha dirigido-se ao Imperador e excomunga-o. A Ordem sofre com isso e Clara também.
O momento é grave, o conflito é grave e a saúde de Clara é frágil. Sua vontade é que está forte, firme e resistente. A hora da provação é a grande oportunidade de reanimar a fé em São Damião e em todo o povo de Assis.
Vital de Aversa comanda com crueldade o exército de Frederico II. Ali ajuntam-se mercenários, muçulmanos, guardas imperiais, bandoleiros, tártaros, sarracenos. É um momento de pilhagens, ruínas, prisões, incêndios, violência que arrasa igrejas, mosteiros, castelos, casas e burgos. Clara monta guarda com professas e noviças. Pela palavra e pelo exemplo é a hora da mais fervorosa oração. Oração de mãe é segurança e proteção.
Já haviam destruído os mosteiros de São Bento de Satriano, Santo Angelo de Panzo e São Vitorino de Tescio. Será que chegara a hora de São Damião? Será que era o momento do martírio?
O ideal de Francisco e a paz que vem do Evangelho estão postos à prova. Clara ama o mosteiro, suas Irmãs e Assis. É hora de oferecer-se por todos. Clara chama as Irmãs, abençoa cada uma com o sinal da cruz. As tropas que estão nas portas do mosteiro jamais poderão vencer este escudo de amor e oração.
Pede que se busque a caixa de marfim onde está o Santíssimo Sacramento. Pede ao Senhor que guarde e proteja as Pobres Damas e a cidade a elas confiada. Com a força do espírito, o rosto resplandecendo da beleza da graça, Clara segura firme a Hóstia e vai em direção aos invasores. Os soldados surpreendem-se com a presença da frágil mulher mostrando o sacramento da sua fé, afastam-se surpresos entre pavor e misteriosa reverência. É um verdadeiro milagre! Toda a cidade de Assis comenta no outono inteiro. O coração pleno de amor e cuidado, a presença convicta de mãe Clara afastara todo perigo.
Conta-nos Frei José Carlos Pedroso no seu livro Santa Clara de Assis: “Por causa desse fato, até hoje as figuras mais comuns de Santa Clara mostram-na como uma freira segurando uma custódia. Custódia é aquela roda dourada, cheia de raios, que se usa nas adorações e nas procissões do Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Mas as Irmãs que assistiram ao fato disseram que a Eucaristia foi levada em uma caixinha de marfim e prata, como era comum naquele tempo. As custódias ainda não estavam em uso”.
Não importa se era um ostensório, uma custódia, uma caixinha de marfim, o que importa é que São Damião e Assis foram salvos pela oração de libertação: prece, penitência, cinza na cabeça e a certeza da presença do Cristo Eucarístico. O certo é que até hoje a cidade de Assis, no dia 21 de junho, faz a Festa del Voto, pois acredita que ali houve o milagre e a certeza de que não é possível derrotar uma mulher e um povo que crê!
Frei Vitório Mazzuco Filho
Cronologia da Vida de Santa Clara
– 1193-1194 – Nascimento de Clara Offreduccio de Favarone, emAssis
– 1198 -A Família de Clara se refugia no Castelo de Cocorano.
– 1203-1205 Exílio em Perugia, juntamente com outras famílias nobres que combatem contra o município de Assis
– 1210 – Clara assiste às pregações de Francisco
– 1212 – Noite de Domingo de Ramos, Consagração de Clara na Porciúncula (Santa Maria dos Anjos). Breve período junto às beneditinas. Fixação definitiva em São Damião.
– 1214 – Irmã Balvina, companheira de Clara, funda uma comunidade de damianitas em Spello.
– 1215 – Clara recebe o título de Abadessa.
– 1216 – Obtém do Papa o privilégio da máxima pobreza.
– 1218-1219 Clara e as suas irmãs recebem a Constituição do Cardeal Hugolino com a Regra de São Bento. Algumas damianitas emigram para Sena, Luca, Florença, onde Inês, irmã de Clara, torna-se Abadessa.
– 1220 – Segundo a Tradição, tem lugar a fundação de Reims, o primeiro mosteiro de França.
– 1224 – Início da doença de Clara.
– 1227 – O Papa confirma a assistência dos frades para as irmãs de São Damião.
– 1228 – Primeira comunidade de diamianitas na Espanha: Pamplona. Na Itália existem, pelo menos, 24 comunidades. O Papa visita Clara em São Damião.
– 1234 – Santa Inês, filha do rei da Boêmia, funda um convento em Praga e lá vive. Primeira carta de Clara a Inês.
– 1238 – Um convento de damianitas na Eslovênia: Trnava.
– 1240 – Sarracenos em São Damião: proteção milagrosa da comunidade.
– 1241 – (22 de junho) Pela oração das irmãs, a cidade de Assis foi libertada do cerco dos exércitos do imperador.
– 1242 – A beata Cunegundes funda um mosteiro em Olomuc, Moravia.
– 1245 – A beata Salomé funda um mosteiro na Polônia, em Zawichost.
– 1247 – Regra de Inocêncio IV: as damianitas são associadas à Ordem Franciscana e deixam a Regra de São Bento.
– 1253 – IV e última carta conhecida de Clara para Inês de Praga.
– 1253 – O Papa visita Clara e aprova a sua Regra.
– No dia 11 de agosto morre Clara.
– 1253 – (novembro) Morte de Santa Inês de Assis (irmã de Clara)
– 1255 – Canonização de Santa Clara. Celano escreve a sua biografia (Vida).
– 1260 – Traslado do corpo de Clara e transferência da comunidade de São Damião para o atual mosteiro de Santa Clara de Assis.
– 1263 – Regra de Urbano IV. A Ordem de São Damião toma o nome de Ordem de Santa Clara
Fontes Clarianas
No link que estamos disponibilizando, você encontrará informações sobre os seguintes assuntos:
- Forma de Vida – Regra de Santa Clara
- Bênção
- Carta 1, 2, 3 e 4 a Inês de Praga
- Legenda de Santa Clara
- Legenda Menor (1,2,3)
- Legenda Versificada
- Processo de Canonização
A Ordem de Santa Clara
Quando Santa Clara morreu, a Ordem iniciada por ela já havia se espalhado por terras bem distantes.
Só documentados, sabemos de uns cem mosteiros de fundação ou inspiração no ideal de Santa Clara de Assis, na Itália, França, Alemanha, Boêmia, Espanha e Oriente.
Praticamente, os mosteiros não possuíam uma denominação única, pois alguns as chamavam de Irmãs Pobres Reclusas, por viverem na clausura; outros as chamavam de Damianitas, devido ao fato de terem tido origem no Mosteiro de São Damião, onde residiam Clara e suas primeiras discípulas; outras vezes, eram denominadas Irmãs Menores, em paralelo com os Frades Menores.
São Francisco, no seu espírito cavalheiresco, as chamava de Damas Pobres ou Pobres Damas. Santa Clara, na sua Forma de Vida, simplesmente as chama de Irmãs Pobres.
Após a morte de Santa Clara, o Papa Urbano IV quis unificar as denominações e determinou que todos os mosteiros se chamassem da Ordem de Santa Clara (OSC). Passaram a ser chamadas popularmente de Irmãs Clarissas, nome que atualmente ainda perdura e as identifica.
O que fazem as Clarissas?
Frequentemente alguns perguntam, ou por simples curiosidade, às vezes num tom de desafio, e muitos por um sincero interesse, amizade e desejo de conhecer melhor suas Irmãs Clarissas: “Irmãs, o que é que vocês fazem?” Talvez haja na pergunta ou na resposta alguma ambiguidade, pois fazer e ser misturam-se muitas vezes.
Respondemos humildemente: “Somos contemplativas”. Nossa missão na Igreja é ser orantes. Grande parte do dia e algumas horas da noite estamos em nosso porto de sentinelas vigilantes, na contemplação silenciosa de nosso grande Deus, na adoração amorosa a Jesus Sacramentado exposto em nossa capela interna, no canto coral do Ofício Divino ou Liturgia das Horas, integralmente rezado, e na Celebração Eucarística diária. Sempre em súplica intercessora junto de Deus.
É isto que esperam de nós as muitas pessoas que vêm até o Mosteiro, pedindo para rezar nas mais variadas intenções possíveis.
E o Mosteiro das Clarissas se torna um coração aberto para todas as lutas, alegrias, vitórias e sofrimentos que atingem a humanidade. Há sempre uma irmã disponível para atender, ouvir e dar a certeza de que todos os problemas, anseios e dores são levados a Deus em forma de prece.
Além dessa vida de oração propriamente dita, continuamos a oração da vida: o trabalho. Este, preferencialmente manual, de modo a deixar a mente e o coração livres para mais facilmente estar em Deus.
Os trabalhos são muito diversificados. Dentro de nossas possibilidades, de acordo com as necessidades da comunidade eclesial que integramos.
Confeccionamos paramentos sacros, túnicas e estolas litúrgicas e demais alfaias para o culto divino. Gostamos deste trabalho, muito de acordo com nossa vocação contemplativa. É lindo pensar que em tantos altares, muitíssimos sacerdotes e outros ministros celebram a Palavra, a Eucaristia, os Sacramentos, usando trabalhos que ocultamente fizemos para a glória de Deus, num ato de amor, de adoração e súplica, para que o Reino de Deus chegue ao coração de todos os homens.
Há também o trabalho junto à natureza, na horta e no jardim, identificando-nos com tantos de nossos irmãos, que colaboram com Deus no sustento próprio e dos outros.
Trabalhamos com serigrafia, imprimindo cartões com mensagens de paz, harmonia e esperança. Confeccionamos cartazes que marcam presença em tantos acontecimentos, igrejas, comunidades…
Há também trabalhos de artesanato: modelagem em gesso e pintura de imagens, confecção e decoração de velas, caligrafia artística para cartões e impressos, flores artificiais…
Existem ainda os trabalhos domésticos, feitos quanto possível, por todas as irmãs, em familiar solidariedade.
No Mosteiro, o problema não é o que fazer, mas como dar conta de tantas coisas a serem feitas.
Santa Clara deixou em sua Forma de Vida a norma de trabalhar, para uma Clarissa: “As irmãs a quem Deus deu a graça de trabalhar trabalhem sem perder o espírito de santa oração e devoção, ao qual devem subordinar-se todas as coisas”.
A clausura
“Um mosteiro é uma realidade desconcertante”, já disse alguém. João Paulo 2º advertia: “É uma necessidade vital para a Igreja”. Um mosteiro é uma realidade questionante.
Por que jovens, cheias de vida, de entusiasmo de ideal, se fecham num mosteiro? Por que o contato com elas nos revela que são pessoas tão felizes, tão normais, transbordando alegria e paz em todo o seu ser?
Não existe resposta humana. Existe o mistério do absoluto: Deus, que é capaz de fascinar uma vida em todo o seu sentido.
A clausura, as grades, clamam por si! Clamam que existe algo maior, que está além do que se vê, que existe o transcendente, o indizível, o infinito… E pensar que este Deus se fez tão próximo, que habita entre nós, que quer a intimidade de sua criatura…
Sim, vale a pena uma vida reclusa, de silêncio e solidão, na busca de responder a tão grande amor de Deus! E todo simbolismo de grades, de separação, querem dizer apenas: Deus existe! Nós podemos encontrá-lo Vale a pena deixar tudo pelo Tudo!
“Clara, permanecendo encerrada no segredo de seu convento, irradiava fora raios resplandecentes; reclusa, iluminava fora; enquanto permanecia escondida, sua vida era conhecida”.
As etapas para ser uma clarissa
O primeiro sinal de vocação está no querer: “Eu quero ser Clarissa”. Par isso, exige-se algumas qualidades consideradas indispensáveis: alegria, espírito de sororidade e fraternidade e de serviço, gosto pela oração, saúde física e equilíbrio psíquico.
Qual o primeiro passo a ser dado para ser clarissa?
Entrar em contato com algum Mosteiro, escrevendo, telefonando ou visitando pessoalmente.
Quais as etapas para ser clarissa?
Candidata – A jovem vocacionada deve manter contato com o mosteiro até o ingresso. É uma fase importante de discernimento em que terá um acompanhamento vocacional, e poderá fazer um pequeno curso vocacional. A jovem pode escrever, telefonar ou visitar o Mosteiro. Este tempo perdura quanto for necessário, e a jovem não tem nenhum compromisso com o Mosteiro, pois está discernindo a vocação.
Estágio ou experiência – Se quer mesmo viver a vida clariana, ao ingressar no Mosteiro, fará um mês de estágio ou de experiência dentro do claustro. Concluído este tempo, decidirá se deseja avançar. A comunidade também faz a sua avaliação em relação à jovem, depois deste período.
Postulante – O postulantado marca um tempo de preparação para o início da vida religiosa clariana, e tem a duração de um ano, em geral; pode ser prolongado, se for necessário.
Noviça: Concluído o tempo do postulantado, numa cerimônia familiar, a jovem recebe o hábito clariano, marrom, com o véu branco, a corda sem os nós, e a coroa franciscana. Inicia o noviciado, que é um tempo de aprofundamento na espiritualidade e no ideal abraçado, e uma preparação mais intensa para a profissão dos votos na Ordem de Santa Clara. A Irmã noviça já faz parte da família clariana.
Profissão temporária (juniorista) – Terminado o noviciado, que dura dois anos (e pode ser prolongado por algum tempo), a noviça, com plena liberdade, fará os votos temporários de pobreza, castidade e obediência e clausura, por três anos. Este período de juniorato poderá ser prolongado por mais três anos.
Profissão perpétua de votos solenes: Enfim, chega a última etapa. Com este período a irmã é integrada definitivamente na Ordem de Santa Clara, prometendo perpétua fidelidade como resposta ao amor incondicional de Deus. A irmã costuma permanecer até o fim de suas vidas no mosteiro que ingressou. Somente deixa o local no caso de ser transferida para uma nova fundação ou prestar auxílio em outro mosteiro.
Texto do livro “Nas pegadas de Clara de Assis”, das Clarissas do Mosteiro de Nazaré em Lages (SC)
A Graça da Fraternidade
O dom mais alto que a experiência contemplativa de Clara ofertou à Igreja e a todo o mundo, é o testemunho de uma fraternidade evangélica comparada intensamente àquela vivida pela primeira comunidade cristã, feita “um só coração e uma só alma” (At 4,32) no apaixonado seguimento do Senhor Jesus.
Francisco e Clara propriamente não pensam em seguidores; agarrados pelo idêntico Amor, formados um nele, deixaram-se suspender pelo vento impetuoso do Espírito, e só de repente se apercebem que se estendeu o contágio de sua utopia.
Entre “as irmãs que o Senhor lhe deu”(Testamento de Santa Clara 25), Clara se põe então como serva, irmã e mãe, consciente de que verdadeiramente no interior daquela humanidade concreta e variada se encarna para ela o Verbo amante e crucificado. Contemplar não é sentimentalismo ou poesia, não é perder-se em representações vazias de um relacionamento romântico, pessoa a pessoa com o Onipotente, como se fosse possível atingi-lo em comunicação direta.
Não, Deus não se deixa tocar como um objeto, nem pelos sentidos humanos. Ele caminha sobre a terra, mas como um incógnito; o ser humano O pode encontrar somente no ser humano desde que, em Cristo, assim escolheu encontrar-se com Ele.
E é sob aqueles despojos miseráveis e grandes que solicita a fé e o amor de cada um.
Alguém pode crer de amar a Deus embalando-se nas imagens de sua fantasia religiosa ou nos ardores da sensibilidade facilmente emocionável diante do “magnífico” natural como do “sacro” litúrgico, mas não está seguro do engano de que seja somente a projeção de seu desejo de grandeza e beleza e potência e infinidade.
Clara, crescida na escola de Francisco, sabe que quando se consegue ler na criatura humana – talvez desfigurada pelos limites inevitáveis do egoísmo, da superficialidade, da ignorância, do pecado –o rosto do Amor traído, “desprezado, injuriado, e em todo o corpo repetidamente flagelado” (Segunda Carta a Santa Inês de Praga, 20) e posto à morte, então se pode gritar com certeza: “Nós temos conhecido e crido no amor”. (IJo 4,16).
Não há muito para crer se a pessoa a quem se diz “te amo”, com a qual se reparte com alegria o pão da vida e se inebria do vinho da familiaridade, é aquela que parece saciar plenamente o vazio da existência e que gratifica com a evidente, incessante oferta de si.
Mas há tudo para crer quando se diz “te amo”, lá onde não há algo de amável, onde parece perder o próprio dom numa mão furada e de desperdiçar a água da generosidade; é ali que se aprende verdadeiramente o que é o “dispêndio amoroso”, o segredo da pródiga liberalidade do Amor.
Sobre esta fé, Clara não teme de lançar-se com as irmãs no único fogo devorador da paixão de Deus, que dos diversos elementos aos quais se une faz uma só chama incandescente para a festa de todos.
E porque não se pode conservar escondido um incêndio nem conter o respirar do bem no seu efundir-se, Clara pede às irmãs de serem uma para a outra uma manifestação de Deus: “aquele amor que tendes no coração demonstrai-o externamente com os atos”. (Testamento de Santa Clara 59) Mas a vida fraterna é uma graça.não tanto por aquilo que dá a cada uma, de segurança, de sustento imediato, de ajuda física e moral; é uma graça sobretudo por aquilo que pede de si.
Se é somente no relacionamento que o ser humano conhece a si mesmo, se é pela ação dos outros que se livra da casca limitada em que se esconde a pérola da verdade, como não render graças a quem, estando perto, o provoca àquele amor que, exigindo o tudo e o em toda parte do dom silencioso e gratuito da vida, o faz autenticamente viver e saborear a sua liberdade?
A fraternidade é o termômetro que verifica o grau em que uma criatura é pobre, casta, obediente, porque alguém não sabe, até que é só, se está andando para cima ou descendo pelo caminho. Mas é quando o vizinho o despoja das forças e do tempo, dos bens exteriores e das pretensões interiores de bem, que pode medir a densidade de sua pobreza. É quando a fome de amor do outro o arranca à satisfeita pureza de um coração mantido em gelo e lhe pede o comprometimento até o espasmo, que aprende a conhecer o valor da castidade.
É quando obriga-o a ver com os olhos de um míope aquilo que ele crê de perscrutar com lucidez, que sabe as exigências abismais de sua obediência. E ignora o que seja a beatitude exaltante de alcançar somente os solitários cumes do espírito quem não desce a se aquecer na lareira da fraternidade.
Clara, porém, é demasiado mulher amante e concreta para iludir-se que uma semelhante graça não custe o esforço paciente e renovado de toda uma vida. Por isso, quer as irmãs “solícitas em conservar sempre reciprocamente a unidade da incansável caridade”(Forma de Vida de Santa Clara 10,7)
Então, fraternidade é alegria de condivisão total, onde isto não significa dizer que tudo “é meu”, mas é dizer do próprio, também o mais íntimo, `é teu’. É alegria de fazer-se novos todo dia um para o outro no generoso perdão recebido e doado. É alegria de ser continuamente salvos pelo Amor e de ascender juntos no tempo, mantendo cada uma bem viva a pequena chama de sua fidelidade, rumo ao reino dos céus onde o amor não tem mais sombras nem demoras.
Do livro “Como Fonte Selada”, tradução de Ir. Sandra Maria, das Irmãs Clarissas do Mosteiro Nazaré de Lages (SC)
Oração a Santa Clara
Clara, santa cheia de claridade,
Irmã de São Francisco de Assis,
Intercede pelos teus devotos
Que querem ser puros e transparentes.
Teu nome e teu ser
Exalam o perfume das coisas inteiras
E o frescor do que é novo e renovado.
Clareia os caminhos tortuosos
Daqueles que se embrenham
Na noite do próprio egoísmo
E nas trevas do isolamento.
Clara, irmã de São Francisco,
Coloca em nossos corações
A paixão pela simplicidade,
A sede pela pobreza,
A ânsia pela contemplação.
Te suplico, Irmã Lua,
Que junto ao Sol de Assis
No mesmo céu refulge,
Alcança-nos a graça que,
Confiantes vos pedimos.
Santa Clara, ilumina os passos
Daqueles que buscam a claridade!
Amém!
Missa em louvor a Santa Clara
Letra: dos Escritos de Santa Clara
Adaptação métrica e Música de Frei José Luiz Prim
1 – ENTRADA
1. “Plantinha do nosso santo pai Francisco”
Quisestes chamar-vos com graça e ternura.
No caminho estreito seguistes o Cristo
Humilde e pobre e de coração puro.
Refr.: Senhor, vos louvamos por nossa mãe Clara,
Porque de Francisco seguindo o exemplo
Em Santa Maria dos Anjos prostrada
Entregou sua vida a Vós consagrada.
2. Deus vos enfeitou com as gemas mais lindas.
Vos deu a coroa de ouro marcada
Com a santidade, sinal dos eleitos
E vos recebeu em sua santa morada.
3. A grande humildade e a força da fé
Bem como os braços da alta pobreza
Levaram a esposa de Cristo a abraçar
Tesouro escondido de rara beleza.
4. Que troca melhor e o que mais louvável?
Deixar deste mundo as honras terrenas
Pra então receber esperadas riquezas:
Do céu recompensa e a vida perene.
2. – ATO PENITENCIAL
Cel.: Ame com todo coração a Deus e a seu Filho Jesus, crucificado por nós pecadores, sem permitir que se ausente de sua recordação. Trate de meditar sempre nos mistérios da cruz e nas dores de sua Santa Mãe, que estava ao pé da cruz. (Pausa)
Recitado:
Cel. – 1 – O homem, pela tentação das glórias passageiras e falazes, tenta aniquilar o que é maior que o céu – a vida interior em Deus, que nele habita. Por isso pedimos perdão.
Cantado: Senhor, tende piedade de nós.
2 – O orgulho causa a perdição da natureza humana e a vaidade torna estultos os corações. Por isso pedimos perdão.
Cristo, tende piedade de nós.
3 – Muitos perdem a cabeça com as imagens vazias do mundo enganador. Outros são envolvidos pela amargura e o desânimo. Por isso pedimos perdão.
Senhor, tende piedade de nós.
Cel.: – Deus todo poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.
Todos: Amém.
HINO DE LOUVOR: À escolha.
3. – SALMO DE RESPOSTA (Sl 44)
Refrão: Eis que vem o esposo / ide ao encontro do Cristo Senhor.
1. Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto:
“Esquecei vosso povo e a casa paterna!
Que o Rei se encante com vossa beleza!
Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!
2. O povo de Tiro vos traz seus presentes.
Os grandes do povo vos pedem favores.
Majestosa, a princesa real vem chegando,
Vestida com ricos brocados de ouro.
3. Em vestes vistosas ao Rei se dirige,
E as virgens amigas lhe formam cortejo;
Entre cantos de festa e com grande alegria,
Ingressam então no palácio real ”.
4. – ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Aleluia, aleluia, aleluia.
V/ – Vinde, vós que sois / esposa digníssima de Jesus Cristo, / e por isso rainha nobilíssima.
5. – CANTO DAS OFERENDAS
Refrão: Esta é a sublimidade
Da altíssima pobreza
Que vos fez do céu herdeiras:
Contemplai esta riqueza.
1. Pobres sois , não tendes bens,
Sublimadas em virtudes.
Consagradas como ofertas
Proclamai: “Meu Deus, meu tudo”.
2. Esta é a forma de vida
Que Francisco nos doou:
Viver a santa pobreza
Que aos eleitos coroou.
3. Esta é a santa oferta
Que por Deus sempre é querida.
Ao Amor, vocação certa,
Consagramos nossa vida.
6. – CANTO DE COMUNHÃO
Refrão: Abrace o Cristo pobre,
Você, de estirpe nobre.
E não perca de vista
Seu ponto de partida.
1. Jesus é o esplendor,
Do Pai eterno a glória.
Seu brilho, puro amor
Já é nossa vitória.
2. Quem ama o Cristo é casto
E quem o toca é limpo.
O seu poder é forte
Sua graça, elegante.
3. Pois Ele tem beleza
Que sol e lua admiram.
Seus prêmios todos
grandes, são belos, preciosos.
4. Esta doçura infinda
Por Deus foi escondida,
Por Ele reservada
Pra aqueles que O amam.
5. Na Santa Eucaristia
Encontro meu Esposo.
Ele é minha alegria
E meu eterno gozo.
6 Um dia, que perigo!
Invade o inimigo.
Mas o Cristo apresento
E fogem como vento.
7. Coloque a sua alma
No esplendor da glória.
Transforme-se inteira
Pela contemplação.
8. Olhe bem no espelho
Que é o próprio Cristo
E sempre veja nele
Seu rosto que é bem-quisto.
9. Pois nele resplandecem
Pobreza e humildade,
Amor do próprio Deus
Infinda caridade.
10. Contemple este espelho
Por toda a eternidade.
E no esplendor da glória
Feliz seja em verdade.
7. – LOUVOR FINAL
Seja pois fiel pra sempre
1. Pois está comprometida.
Será Ele a coroá-la
Ao chegar à eterna vida.
2. Aqui, nossa dor é breve
No além, o prêmio eterno.
Cristo que deu o começo
Acompanha de olhar terno.
3. E contemple apaixonada
Obra que já começou.
Não será abandonada:
Deus por filha a adotou.
8. – CANTANDO COM CLARA DE ASSIS
Para celebrações, meditações e encontros
1. Ao Crucificado bem firmes servi
Pois lhe consagrastes vosso amor ardente.
Por nós suportou a paixão e a cruz
Venceu o inimigo e levou-nos à frente.
2. Tomemos cuidado, portanto porque
Se em Cristo escolhemos o caminho estreito
Não nos afastemos por qualquer motivo,
Nem por nossa culpa, nem passo mal feito.
3. Bem-aventurada é a santa pobreza
Pois aos que a amam, àqueles que a abraçam,
Concede o Pai a eterna riqueza
A glória e a vida que nunca mais passam.
4. Sabeis que o Reino dos Céus Deus promete
Àquele que é pobre e que nele confia.
Pois quando amamos as coisas do mundo
Perdemos o tempo e o dano é profundo.
5. Só uma das coisas nos é necessária,
E esta confirmo pro seu bem viver.
Esposa escolhestes ser de Jesus Cristo,
E assim sois rainha de nobre saber.
6. Desprezível veja como Ele se fez
Por você e todos que o amor seduz.
Agora você desprezível se faça
E o siga no duro caminho da cruz.
7. E com o desejo de só imitá-lo
Contemple, observe seu querido esposo
Ele é o mais belo dos filhos dos homens
E para salvá-la aceitou forma vil.
8. E por nós ferido ele foi desprezado
Seu corpo chagado por nós entregou
Na cruz imolado por nossos pecados
Tormentos horríveis por nós suportou.
9. Com ele sofrer é com ele reinar.
Quem chora, com ele se vai alegrar.
Com ele na cruz e na tribulação
Terá recompensa e a celeste mansão.
10. Porque os bens terrenos que são transitórios
Deixando-os no mundo você desprezou,
Terá sua parte no reino da glória
Pois bens já maiores você conquistou.
11. Seguir com valor da virtude os caminhos
A Deus entregar fielmente a promessa.
Olhar para o céu, aceitar os espinhos,
Seguindo o caminho de Cristo depressa.
12. Verdade, me alegro, e agora ninguém
A minha alegria vai poder tirar.
Porque já alcancei este meu maior bem:
Ser a sua Esposa e só Ele amar.
9. – CONTEMPLANDO COM CLARA DE ASSIS
Para celebrações, meditações e encontros
1. Conserve o que tem
Faça o que está fazendo
Em rápida corrida
Com passo bem ligeiro.
2. E se alguém quiser
Desviá-la do caminho,
Do Deus que a tem chamado:
Não siga o seu conselho.
3. Mas em ninguém confie,
E não consinta em nada
Se alguém quer afastá-la
Dessa proposta amada.
4. Contemple seu espelho
Por toda a eternidade.
No esplendor da glória
Feliz seja em verdade.
5. Preste muita atenção
No começo do espelho:
Contemple a pobreza
De quem ‘stá no presépio.
6. Que grande humildade
Eloquente pobreza:
O Rei dos Anjos pobre
Repousa em manjedoura.
7. No meio do espelho
Contemple a humildade
A vida em pobreza
De quem pregava o Reino.
8. “Raposas têm suas tocas
E as aves têm seus ninhos.
Mas o Filho do Homem
Sem nada no caminho.”
9. E no fim desse espelho
Contemple a caridade
Com que quis padecer
Na cruz por nós pregado.
10. A todos que passavam
Deixava este clamor:
“Oh vinde, vede todos
Se há tamanha dor?”
11. E todos respondamos
Ao que gritando está:
“Quero lembrar-te sempre
Contigo desmaiar.”
12. E ame por inteiro
A quem se entregou
E inteiro por amor
A vida consumou.
13. Amando umas às outras
Com vossas boas obras
Vós mostrareis ao mundo
O vosso amor profundo.
14. E a Virgem, a Mãe santa
Que o Cristo ao mundo trouxe
Ensina e nos encanta:
Que o mundo inteiro a ouça.
15. Arrasta-me, Senhor
Atrás de teu amor.
Eu quero teu perfume
Esposo, meu amor.
16. E sempre vou correr
Atrás de ti, Senhor,
Até me introduzires
Na adega, em teu amor.
17. Então tua mão esquerda
Repousará em mim
Enquanto a direita
Abraça-me sem fim.
18. E em toda a eternidade
Terei felicidade
Porque meu bom Senhor
Será meu grande Amor.
Observações sobre esta Missa:
– Os escritos de Santa Clara de onde foi extraída a letra foram:
As Cartas a Santa Inês de Praga, o Testamento, a Forma de Vida (Regra) e a Legenda de Santa Clara.
– Muitos pensamentos que Clara dedicou a Santa Inês de Praga estão aqui dirigidos a ela mesma, devido às semelhanças de ideal e de vida.
– As melodias e ritmos são inspirados em “constâncias da Música Brasileira”: cantigas de roda, toadas sertanejas, canções do folclore. Dali a “simplicidade franciscana” de certas melodias, que podem até parecer ingênuas. Mas o trabalho foi feito de forma consciente, pensando também em facilitar o aprendizado.
– Foi respeitado o texto original. Por isso o tratamento das pessoas muitas vezes está na forma feminina. Nada impede que a Missa seja cantada por fraternidades masculinas, bastando mudar o gênero de adjetivos e pronomes, quando for o caso.
Clara de Assis...
Clara de Assis…
Clara filha de Hortolana e Favarone
Clara irmã de Catarina e Beatriz
Clara que veio ao mundo para ser luz
Clara que é natural de Assis
Clara de coração dócil
Clara que amava os pobres
Clara nobre em virtudes
Clara que tinha um espírito servil
Clara que queria falar das coisas de Deus
Clara que queria experienciar o Amor de Deus
Clara que ouviu falar de Francisco de Assis
Clara que inspirada por Deus o quis logo ver e ouvir
Clara a quem Francisco exortou que se convertesse a Jesus
Clara que a tudo renunciou para seguir a Jesus
Clara que abandonou o lar e a cidade
Clara a quem Francisco com tochas acesas a acolheu plena de luz
Clara a quem Francisco na Porciúncula o cabelo cortou
Clara que de livre e espontânea vontade penitente se tornou
Clara que de caráter e personalidade forte, por amor tudo suportou
Clara que com força e dor o seu caminho encontrou
Clara que com alegria entrou em São Damião
Clara pedra primeira e nobre fundamento de sua Ordem
Clara que quanto mais elevada se viu, mais se fez vil aos próprios olhos
Clara que de modo particular a pobreza tanto amou
Clara que estava sempre alegre no Senhor
Clara que dia e noite era vigilante na oração
Clara mansa de palavra e doce nas atitudes
Clara cujo rosto parecia mais claro que a luz do sol
Clara que ensinou suas filhas a servirem a Deus em santidade
Clara cuja santidade de vida e honestidade dos costumes a todos santificou
Clara que antes de sua morte bendisse a Deus dizendo:
bendito sejais Vós, Senhor, que me criastes!
Santa Clara que foi nobre de família segundo a carne,
mas, foi muito mais nobre de vida segundo o Espírito, intercedi por nós!
Frei Marco Antonio dos Santos, ofm





