Carisma - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Capítulo Provincial 2024

Peregrinos da Esperança

Que o Senhor nos dê a paz!

A vida franciscana é repleta de momentos de peregrinações que nos conduzem para uma única direção: o seguimento de Jesus Cristo, filho de Deus, que percorreu sua trajetória até a cruz para nos mostrar que, na dor, na entrega e na obediência, o amor prevalece.

Como se estivéssemos diante de um espelho, podemos facilmente perceber o que queremos refletir a partir da opção que fizemos quando, ainda muito jovens, decidimos “imitar”, ser reflexo de São Francisco, o Poverello de Assis, nosso Pai Seráfico, homem que foi chamado por Deus para ser sinal da Paz e do Bem. Sua alegria, determinação e amor incondicional a Jesus Cristo e ao seu povo, especialmente aos mais pobres e desvalidos, agiu em nossos corações como um encantamento, um chamado.

Imaginemos a nossa Fraternidade Provincial como uma grande floresta na qual somos as árvores. Fazemos uso dessa analogia, pois, como franciscanos, entendemos que somos parte de um todo e não estamos separados das demais criaturas de Deus, as quais São Francisco nos apresentou como irmãos e irmãs. Do ponto de vista científico, já sabemos que as plantas, especialmente as árvores, quando se sentem ameaçadas, são capazes de comunicar-se pelas suas raízes. Esse é o sentido, esse é o caminho, pois é na Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil que estamos com nossas raízes fincadas e precisamos comunicar a Boa Nova também entre nós: pés no chão, olhos e coração voltados para o Mestre de Nazaré.

Diante das realidades apresentadas pelo mundo, dos desafios, das angústias e da nossa persistência em continuar seguindo a caminhada, sendo reflexos de Paz e Bem para as futuras vocações, assim como para os mais pobres e excluídos, para as comunidades onde estamos, somos chamados a sermos peregrinos da esperança. E, para cumprir com a nossa missão evangelizadora, precisamos “rever, atualizar e anunciar”, pois, assim como as árvores, temos o compromisso de gerar sementes, para que delas brotem novas árvores e novos frutos. Essa é a maravilha da vida franciscana: a capacidade de fecundar a fé por meio de ações carregadas da presença viva do Evangelho.

Movidos pela busca recorrente do encontro especial com Deus, pela esperança de promover mudanças na vida de irmãos e irmãs em Cristo e na expectativa de estar unidos em fraternidade, estamos próximos de viver, entre os dias 4 e 12 de novembro, nosso Capítulo Provincial, no Seminário Santo Antônio, em Agudos (SP).

Neste ano de 2024, serão 121 capitulares de todas as fraternidades que, movidos pela presença do Espírito, terão momentos profundos de reflexões, debates e comunhão em Cristo. E será neste movimento, sob o sopro do mesmo Espírito, que os frades buscarão revisar sua atuação evangelizadora e se dedicarão à eleição dos novos membros do Definitório provincial que, junto com o Ministro provincial, animarão a Província ao renovado compromisso com o que esta foi chamada a ser na Igreja e no mundo.

Durante nove dias, estaremos imersos em três linhas de reflexões determinantes: Formação, Evangelização e, ainda, Economia e Administração. Voltaremos nossa atenção para o presente da Província, para que seja possível estruturar as medidas necessárias para o futuro da nossa grande fraternidade dos frades e dos locais onde a missão franciscana se faz presente, para levar a Palavra de Deus por meio do carisma e da espiritualidade franciscana.

Como árvores iluminadas pelos raios de sol e pela brisa dos ventos, deixemos que o Espírito Santo aja sobre nós.

Sigamos para Agudos e para o nosso Capítulo Provincial!


Da Comissão Preparatória

Por que "Rever", "Atualizar" e "Anunciar"?

Pressupostos à preparação e à celebração do Capítulo Provincial 2024

A primeira reunião da Comissão Preparatória do Capítulo Provincial em 06/02/2024 teve início com um intenso momento de oração. A finalidade da oração naquele momento não poderia ter sido outra do que evocar a presença e a manifestação do Espírito Santo sobre nós, ali convocados, a discernir espiritualmente – entre diversas prioridades – o tema e o lema do Capítulo Provincial previsto para acontecer em novembro próximo. Após um tempo considerável de oração e de escuta do Espírito, as intuições fraternas foram se manifestando e convergindo para o que já é do conhecimento de todos: Capítulo Provincial 2024 – rever, atualizar, anunciar (tema); Chagados pelo Amor – peregrinos da esperança primeira reunião da Comissão Preparatória do Capítulo   Provincial em 06/02/2024 teve início com um intenso momento de oração.

A finalidade da oração naquele momento não poderia ter sido outra do que evocar a presença e a manifestação do Espírito Santo sobre nós, ali convocados, a discernir espiritualmente – entre diversas prioridades – o tema e o lema do Capítulo Provincial previsto para acontecer em novembro próximo. Após um tempo considerável de oração e de escuta do Espírito, as intuições fraternas foram se manifestando (lema). Por que “rever”, “atualizar”, “anunciar”? E também por que “chagados pelo amor, peregrinos da esperança”?

Porque “rever”, “atualizar”, “anunciar” remete-nos para o dinamismo tanto de “revisitar cuidadosamente” como de “remoçar” em nós tão esplêndida Inspiração Divina que um dia nos desinstalou a seguir o Mestre de Nazaré na mesma simplicidade e alegria de viver, testemunhada por São Francisco de Assis. E, todas as vezes que somos capazes de remoçar em nós tal Inspiração, nascemos mais amplamente do Espírito (cf. Jo 3,5); tornamo-nos ressonâncias admiráveis das criaturas que mobilizaram São   Francisco de Assis a tecer louvores ao “Altíssimo” e ao “Bom Senhor”.

A pré-disposição e o encantamento para nos unir enquanto Província em 2024 no dinamismo de “rever”, “atualizar”, “anunciar” pressupõem compreender a Evangelização como um modo sui generis de acolher, de conviver, de conhecer, de servir e de promover a formação cristã, católica e franciscana à vida em plenitude da humanidade contemporânea. Evangelização que em nossos dias pressupõe, assim como em cada época da história da Ordem Franciscana, anunciar a Boa-Notícia do Reino de Deus em e como Fraternidade. Evangelização que consiste em convidar a todos a palmilhar o caminho da fé, da penitência (conversão), da sobriedade, da alegria e da ousadia de se promover a solidariedade[1] aos mais necessitados[2], animação vocacional[3] por excelência, desde que incluamos os jovens em cada uma das nossas presenças em tais ousadias da fé e da promoção do bem.

Não é novidade alguma definir o contexto onde estamos inseridos a promover a Evangelização como um certame em constantes mudanças e, por isso, exigente, complexo e desafiador. Eis porque evangelizar pressupõe, dentre várias precauções e tratativas, uma constante análise de conjuntura (histórica, eclesial, cultural, política, econômica, sociológica etc.). Pressupõe interlocução com os que somam forças nas Frentes de Evangelização da Província. Interlocução permeada pela escuta, pelo diálogo, pelo respeito às alteridades[4], pela troca de troca de percepções e intuições, pela partilha de conhecimentos e de iniciativas promissoras em vista da transformação da realidade. Interlocução capaz de romper com comodismos, com apegos às mentalidades egoístas e de abrir caminho à proatividades de cunho evangélica, a começar pelos mais pobres da sociedade e pelas demandas do cuidado da Casa Comum[5]. Interlocução essa, diga-se de passagem, impregnada de alma franciscana, de humildade, de alegria, de amor, de com- prometimento e de bom humor que tanto notabilizaram São Francisco, antes e depois de se aperceber em 1224 “chagado pelo Divino Amor” e, bem mais do que antes, “peregrino da esperança”.

Queremos tantas vezes se fizer necessário –enquanto Frades Menores, “chagados pelo Divino Amor” e “peregrinos da esperança”–    “rever”, “atualizar”, “anunciar” com maior assertividade a Inspiração Divina que um dia nos alcançou no anonimato da vida que levá-lo vamos em âmbito familiar e social, visto que se “grandes coisas prometemos ao Senhor”, maiores hão de ser as que nos serão concedidas agora e por todo o sempre! Queremos “rever”, “atualizar”, “anunciar” para mais amplamente disseminar a sabedoria existencial oriunda das “tradições filosóficas, teológicas, místicas e artísticas” inerentes ao Movimento Franciscano e à “nossa missão de pregar o Evangelho por palavras e obras, no meio da cultura contemporânea”[6]! Queremos “rever”, “atualizar”, “anunciar” as Bem-Aventuranças Evangélicas, sem quaisquer receios ou demoras, privilegiando modos genuinamente franciscanos de acolher, de amar, de cuidar e de servir os menos favorecidos de hoje, desvalidos do mais elementar e do acesso a uma vida digna aos olhos de Deus, feridos por tantas situações de violência e de indiferenças! Queremos “rever”, “atualizar”, “anunciar” os ensinamentos de Jesus Cristo e os valores franciscanos, apontando para a relevância da reverência ao Sagrado, do cultivo da comunhão[7] fraterna, do respeito à alteridade, da minoridade, do cuidado da Casa Comum, da cortesia, da proximidade com os que sofrem, da justiça e da paz!

Tanto quanto for possível, queremos “rever”, “atualizar”, “anunciar” para propiciar aos homens e às mulheres de hoje a vivência da espiritualidade franciscana[8], oportunizando-lhes uma formação integral[9], alinhada aos princípios éticos imprescindíveis à construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e sócio ambientalmente responsável. Queremos “rever”, “atualizar”, “anunciar” para – bem mais do que até então – permear significativamente cada pessoa da sociedade contemporânea, gestando em todos os espaços de nossas presenças uma nova cultura da paz, do encontro, da proximidade[10], do diálogo com as diferentes culturas e crenças, da solidariedade para com os empobrecidos, pelo testemunho profético dos valores evangélicos e franciscanos.

Queremos também ser frades exímios na ousadia de “rever”, “atualizar”, “anunciar” para – em e como Fraternidade Provincial – somar forças com inúmeros colaboradores[11] na missão, isentos de clericalismos, em vista da consolidação do Reino de Deus no mundo em que vivemos. Queremos, sim, com todas as nossas forças e potencialidades “rever”, “atualizar”, “anunciar” os princípios evangélicos enquanto balizadores de uma consciência crítica que ousa a atuar como contraponto[12] à cultura do relativismo prático, do descartável, do materialismo, do secularismo e da desigualdade social.

Sem prescindir de invocarmos a cada instante a presença e a luz do Divino Espírito, que o “Altíssimo” e “Bom Senhor” nos congregue como Província, principalmente em função de estarmos cada vez mais aptos:

  • a rever os caminhos traçados pela Província para atualizar nossa forma de vida fraterna e anunciar novos caminhos;
  • a considerar os ambientes da formação, evangelização e administração dos bens da Província como espaço privilegiado de testemunho;
  • a rever/atualizar o Projeto Fraterno de Vida e Missão das Fraternidades, o Plano Operacional das Frentes e Serviços à luz das Prioridades do Sexênio 2022-2027, respondendo às interpelações da Igreja e do mundo;
  • a disseminar a esperança de dias melhores onde, “chagados pelo amor”, nos foi dado evangelizar e construir o Reino de Deus ao modo de São Francisco de Assis.

Frei Claudino Gilz – Em nome da Comissão Preparatória

[1] “A vocação à solidariedade convida as pessoas do século XXI a confrontarem-se com os desafios da convivência multicultural. Nas sociedades globais convivem diariamente cidadãos de tradições, culturas, religiões e concepções de mundo diferentes, e daí surgem muitas vezes incompreensões e conflitos. […] A cultura do diálogo não significa simplesmente conversar para se conhecer, de modo a facilitar o encontro entre cidadãos de diferentes culturas.” (CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. Educar ao humanismo solidário – para construir uma ‘civilização do amor’: 50 anos após a Populorum Progressio. Roma: Institutos de Estudo, 2017, n. 11-12).

[2] “A inclusão ou exclusão da pessoa que sofre na margem da estrada [cf. Parábola do Bom Samaritano, Lucas 10:25-37] define todos os projetos econômicos, políticos, sociais e religiosos. Dia a dia enfrentamos a opção de ser bons samaritanos ou viandantes indiferentes que passam ao largo.” (PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Fratelli Tutti – sobre a fraternidade e a amizade social (n. 69). Assis (Itália), 3 de outubro de 2020).

[3] “As instituições educativas e formativas não são apenas o lugar onde os jovens passam a maior parte do tempo, mas são, sobretudo, um espaço existencial que a sociedade coloca à disposição para o seu crescimento intelectual e humano e sua orientação vocacional.” (SÍNODO DOS BISPOS – XV Assembleia Geral Ordinária. Os jovens, a fé e o discernimento vocacional Instrumentum laboris / Cidade do Vaticano – 2018 / n. 18).

[4] O Franciscanismo, tal como o “humanismo solidário precisam ser vividos e testemunhados, […] num mundo assinalado por múltiplas diferenças culturais, atravessado por visões heterogéneas […] e caracterizado pela convivência de diferentes crenças.” (CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. Educar ao humanismo solidário – para construir uma ‘civilização do amor’: 50 anos após a Populorum Progressio. Roma: Institutos de Estudo, 2017, n. 2).

[5] “[…] a reação de Francisco, sempre que olhava o sol, a lua ou os minúsculos animais, era cantar, envolvendo no seu louvor todas as outras criaturas. […] A sua reação ultrapassava de longe uma mera avaliação intelectual ou um cálculo econômico, porque, para ele, qualquer criatura era uma irmã, unida a ele por laços de carinho. Por isso, sentia-se chamado a cuidar de tudo o que existe.” (PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum, maio de 2015, n. 11).

[6] OFM. O Senhor nos fala no caminho – documento do Capítulo geral extraordinário, 2006. In: OFM – Ide e ensinai: Diretrizes Gerais para a Educação Franciscana, Roma, 2009, p. 8.

[7] Criar comunhão “significa proporcionar lugares de encontro e diálogo […] com cidadãos provenientes de outras culturas, tradições, religiões diferentes”. Criar comunhão significa inclusive unir pessoas por meio de “um programa de vida e experiência, capaz de educar para a reciprocidade entre gerações diversas.” (PAPA FRANCISCO. Discurso aos membros da fundação “Gravissimum Educationis”. Sala do Consistório, Roma, 25/6/2018).

[8] Cf. artigo “Protagonismo dos leigos na Evangelização franciscana” (no prelo), tema esse já contemplado e discutido durante a reunião do SIFEM-CFMB, ocorrido em Salvador em 15 de maio de 2018; Cf. KAZUMA, Cesar. Leigos e Leigas – força e esperança da igreja no mundo. 2.ª ed. São Paulo: Paulus, 2009.

[9] “[…] a reação de Francisco, sempre que olhava o sol, a lua ou os minúsculos animais, era cantar, envolvendo no seu louvor todas as outras criaturas. […] A sua reação ultrapassava de longe uma mera avaliação intelectual ou um cálculo econômico, porque, para ele, qualquer criatura era uma irmã, unida a ele por laços de carinho. Por isso, sentia-se chamado a cuidar de tudo o que existe.” (PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum, maio de 2015, n. 11).

[10] “A recente pandemia permitiu-nos recuperar e valorizar tantos companheiros e companheiras de viagem que, no medo, reagiram dando a própria vida. Fomos capazes de reconhecer como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns que, sem dúvida, escreveram os acontecimentos decisivos da nossa história compartilhada: médicos, enfermeiros e enfermeiras, farmacêuticos, empregados dos supermercados, pessoal de limpeza, cuidadores, transportadores, homens e mulheres que trabalham para fornecer serviços essenciais e de segurança, voluntários, sacerdotes, religiosas… compreenderam que ninguém se salva sozinho.” (PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Fratelli Tutti – sobre a fraternidade e a amizade social (n. 54). Assis (Itália), 3 de outubro de 2020).

[11] “A grande maioria dos leigos vive a sua fé no cotidiano, nas tarefas mais humildes, no voluntariado, nos gestos de caridade e solidariedade. Este trabalho escondido no cotidiano, no dia a dia, é um precioso testemunho de fé […]. No cotidiano, os leigos são sal, luz, fermento na massa. Vivem o ordinário de modo extraordinário, agindo com fé e amor nas lutas de cada dia, na família, no trabalho e na vida social.” (BRANDES, Orlando. Laicato – vocação e missão. São Paulo: 2018, p. 23).

[12] “Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. É o santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos.” (PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum, maio de 2015).

Pedido de Orações pelo Capítulo Provincial

Caros irmãos e irmãs, que o Senhor lhes conceda a paz!

Nossa Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil se encontra mais uma vez em preparação para a graça da celebração de um Capítulo Provincial. Sendo um Capítulo intermediário, esta celebração se apresenta como oportunidade para revisão dos trabalhos realizados no primeiro triênio (2022-2024) para colocar em prática as intuições, orientações e mandatos do último Capítulo Provincial de 2021, que havia elegido como prioridades para a Província:

  • Redescobrir o valor da vida fraterna;
  • Consolidar a Animação Vocacional como responsabilidade permanente de cada frade e fraternidade;
  • Reforçar a importância da Formação Inicial e Permanente dos frades;
  • Definir a sinodalidade como dimensão transversal da vida fraterna e ação evangelizadora.

A fim de prosseguir com a caminhada da Província à luz destas prioridades, celebraremos o Capítulo Provincial nos dias 4 a 12 de novembro de 2024, no Seminário Santo Antônio, de Agudos (SP). A Assembleia Capitular será formada por mais de 100 irmãos que, guiados pelo Espírito Santo, buscarão dar resposta fraterna aos sinais dos tempos e às interpelações do mundo, como Igreja. Nossas orações, reflexões e discussões serão norteadas pelo tema: “Rever, atualizar e anunciar” e o lema “Chagados pelo amor, peregrinos da esperança”, bebendo da espiritualidade do Ano Santo da Esperança no qual se abrirá o novo triênio.

Assim, como irmãos e irmãs que partilham de um mesmo sonho divino de viver a partir do Evangelho, nós nos confiamos às orações de sua comunidade, para que o Espírito Santo, verdadeiro Ministro de toda a Ordem, se sirva de nossas ações e decisões para fazer com que a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil dê este novo passo de sua história que, pela graça, completará 350 anos de criação no próximo ano.

Despeço-me com a bênção de Deus sob intercessão de nosso Seráfico Pai São Francisco de Assis.

Fraternalmente,

Frei Paulo Roberto Pereira, OFM

Ministro provincial

Acesse o pedido de oração para o Capítulo Provincial 2024

A arte que identifica o Capítulo

A arte criada para o Capítulo Provincial 2024, é inspirada no trabalho artístico desenvolvido por Frei Benedito Geraldo Gomes Gonçalves (Frei Dito), frade da Província da Imaculada Conceição do Brasil, para marcar as celebrações do VIII Centenário Franciscano, ou seja, os 800 anos dos momentos mais simbólicos da história do Movimento Franciscano.

Mesmo vivendo em meio a crises e tensões na fraternidade que criou, Francisco continuou o seu projeto de viver, em primeiro lugar, o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. E os últimos anos de sua vida, que nos levaram a celebrar com os jubileus, são luzes para uma Igreja em saída, como pede o Papa Francisco que se inspirou no Pobrezinho de Assis.

Em 2023, a Família Franciscana celebrou os Jubileus dos 800 anos da Regra de Vida e os 800 anos do Natal de Greccio.

Neste ano revivemos os Estigmas do Santo Seráfico, e já nos preparamos para, em 2025, celebrarmos o Cântico das Criaturas e, por último, a Páscoa de São Francisco de Assis.

A partir dos recortes da obra de Frei Dito, podemos compreender a relevância dessa criação para a história da nossa Província e o quanto a arte, pelas mãos deste frade também é capaz de conversar com os mais lindos elementos representativos da vida de São Francisco, sua entrega ao amor a Deus e a todas as criaturas, especialmente os mais pobres e excluídos.

Para recordar esse importante trabalho, pontuamos os significados e a intenção do seu autor.

Todos os Jubileus

 

Celebrar a Regra | 1223-2023 |

Todos os membros da Família Franciscana professam uma Regra que se torna uma forma de vida e que consiste em observar o Evangelho. Celebrar a Regra Bulada lembra-nos que, para São Francisco de Assis, o núcleo dele é o Evangelho, como afirma: “A Regra e a vida dos frades menores é esta: observar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo…”. Nenhum membro da Família Franciscana professa a sua Regra em privado, porque é chamado a viver o Evangelho na fraternidade. É importante recordar que Francisco compõe a Regra Bulada durante um período da sua vida em que tem de enfrentar numerosas tensões e crises em nível fraterno, mas ele não renuncia à profecia de viver como irmão de todos e convida-nos a fazer o mesmo.

 

Celebrar o Natal de Greccio | 1223-2023 |

Celebrar como Família Franciscana o centenário do Natal de Greccio é um convite a parar diante do mistério da encarnação para contemplar a grandeza do amor divino pela humanidade. Segundo Frei Regis Daher, frade desta Província, quando São Francisco de Assis, em sua intuição original recriou no presépio de Greccio, a expressão poética do Natal, desejava experimentar e reviver na própria carne, o mistério e o encantamento, o amor e a dor, a contradição da glória divina revelada na pobreza do Filho de Deus. “Desde então, compor um presépio com figuras e materiais comuns e ordinários, tornou-se um ato de fé, vislumbrando a presença do Deus encarnado em tudo aquilo que constitui a vida. Para contemplar o presépio e nele descobrir a revelação divina no cotidiano humano, há uma condição: é preciso mudar o coração e o olhar, porque o mundo tornou-se presépio”, ensina o frade.

Na carta que o Papa escreveu (Admirabile signum), ele diz que São Francisco de Assis, ao criar o presépio pela primeira vez em Greccio, em 1223, fez uma grande obra de evangelização.

Celebrar o dom dos Estigmas | 1224-2024 |

Depois de receber os sagrados Estigmas, “Francisco desceu do monte, trazendo consigo a imagem do Crucificado, não esculpida em blocos de pedra ou de madeira por qualquer mão habilidosa, mas reproduzida na própria carne pelo dedo do Deus vivo” (Legenda Maior 13, 5). E assim como foi tocado pelo dedo de Deus, agora ele próprio vai ao encontro dos pobres, dos doentes e dos necessitados para tocá-los, para lhes transmitir o amor divino. O encontro com o Crucificado leva Francisco ao encontro com os crucificados da história.

Celebrar o Cântico das Criaturas | 1225-2025 |

Cuidar da casa comum sem cuidar da casa interior, o nosso coração, não é o caminho certo: precisamos de uma conversão ecológica e integral ao mesmo tempo, porque “a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior” (Laudato si’ 217). De fato, a última estrofe do Cântico lembra-nos que só aqueles que têm um coração livre, capaz de parar a lógica do ódio e da vingança através do perdão, podem tornar-se instrumentos de reconciliação e harmonia, profecia de fraternidade, como o próprio Francisco, que viveu “numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo” (Laudato si’ 10).

Celebrar a Páscoa de Francisco de Assis | 1226-2026 |

A Páscoa de Francisco lembra-nos que todos os dias é uma oportunidade para recomeçar, para renovar a nossa resposta ao apelo do Senhor que nos envia ao mundo inteiro, como irmãos e irmãs, para dar testemunho com as palavras e as ações, de modo a atrair todos ao amor de Deus (cfr. Paráfrase do Pai Nosso 5)

Inspirados por São Francisco de Assis, vamos viver o Capítulo Provincial 2024 confiantes de que, assim como o Santo Seráfico, temos a missão de levar à toda nossa Província a alegria e o amor de Paz e Bem!

Definitório Provincial

Ministro Provincial

Frei Paulo Roberto Pereira

Vigário Provincial

Frei Gustavo Wayand Medella

Definidores

Frei Alex Sandro Ciarnoski

Frei Daniel Dellandrea

Frei Fidêncio Vanboemmel

Frei João Francisco da Silva

Frei Marcos Antonio de Andrade

Frei Robson Luiz Scudela

Secretário Provincial:

Frei Rodrigo da Silva Santos

Entenda como se organiza a Província da Imaculada

A Província Franciscana da Imaculada Conceição está presente no Brasil e em Angola. No Brasil, tem fraternidades nos Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, agrupadas em 12 Regionais.

Em âmbito provincial, a animação e coordenação da vida e missão dos frades são feitas pelo Capítulo Provincial, pelo Ministro Provincial com seu Definitório, pelo Conselho de Animação Provincial e pelos Secretariados e Serviços.

Esta tarefa de governo conta com uma Secretaria, os Serviços de Comunicação e Arquivo, a Administração Econômico Financeira e uma Assessoria Jurídica.

As Frentes- Toda a ação evangelizadora está organizada em 5 grandes Frentes de Evangelização, a saber: Solidariedade com os empobrecidos, Comunicação, Educação, Missão e Paróquias e Santuários.

Os serviços – Animação Vocacional (SAV) e Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) – são órgãos de assessoria do Governo Provincial para reforçar e coordenar algumas dimensões relevantes da vida e missão dos frades.

Secretariado da Evangelização

Ele tem como missão congregar, animar e orientar na missão os frades engajados nas diferentes frentes de evangelização da Província, exprimindo e fortalecendo a comunhão, a co-responsabilidade e a organicidade, promovendo capacitação, discernimento e planejamento, para que, imbuídos dos valores inerentes ao nosso carisma, respondam adequadamente aos desafios que o mundo de hoje coloca para a evangelização.

Secretariado da Formação e Estudos

Ele tem a missão de promover, a execução e revisão dos programas da Formação Permanente, do Serviço de Animação Vocacional, da Formação Inicial e dos Estudos da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil (cf. CCGG, art 126 e 127).

A sede do Capítulo: Seminário Santo Antônio

Berço das vocações

O Seminário Santo Antônio, em Agudos (SP), iniciou suas atividades no dia 31 de janeiro de 1950, quando quatro frades e 70 alunos começaram a fazer história. Em 1953, o Seminário já tinha 210 alunos. Em 1954 era erguida a terceira ala e, no dia 11 de setembro de 55, os frades abençoavam a igreja, construída com mármores da Itália. Ela foi dedicada à Imaculada Conceição. Neste ano, o Seminário funcionava completo: com 4 séries ginasiais e 3 colegiais.

Com instalações modernas, o grande conjunto arquitetônico é ideal para retiros, congressos, conferências, cursos e encontros. O local, no meio rural, possui áreas de lazer que prezam, principalmente, pela paz e tranquilidade dos hóspedes.

A fraternidade local atualmente é composta de dez frades que se dividem entre os trabalhos de acolhimento das pessoas, na administração da fazenda e no atendimento pastoral da Paróquia São Paulo Apóstolo.

Espaço histórico de reflexões

Atualmente, o tradicional Seminário Santo Antônio de Agudos é a principal casa de encontros da Província da Imaculada Conceição. As atividades de formação e estudos como Seminário Menor foram encerradas em 2011 e a esta etapa passou a ser feita no Seminário São Francisco de Assis, em Ituporanga (SC).

O que é um Capítulo Provincial

Qual o sentido e o alcance do Capítulo Provincial? As Constituições Gerais dizem que a autoridade suprema da Ordem Franciscana é o Capítulo Geral e, da Província, o Capítulo Provincial ( CCGG – Art. 173). Numa definição simples, o “Capítulo” foi uma forma encontrada pelos institutos de vida religiosa, como assembléia institucionalizada, reunindo os membros convocados em seus diferentes níveis, para abordar questões relacionadas com a forma de vida professada(Dicionário Franciscano, verbete Capítulo).

A Ordem Franciscana, desde seus inícios, consagrou os Capítulos, quer Geral, Provincial ou Local, com particulares características de fraternidade, conscientes do carisma. Os Capítulos sempre tiveram importância na vida da Ordem, para não perderem de vista o espírito primitivo fundacional. Já de início, São Francisco exigia de seus frades encontros fraternos como condição fundamental de vida.

Quando a Fraternidade tinha atingido o número de oito frades, Francisco os reuniu e lhes falou muitas coisas do Reino de Deus, da conversão pessoal, da abnegação de si mesmo, depois os separou dois a dois e os enviou para os quatro cantos do mundo, para que anunciassem a paz e a penitência. A segunda reunião aconteceu no retorno deles, quando prestavam conta de seus atos e se penitenciavam por não terem sido suficientemente fiéis. Desses dois encontros já se depreende com facilidade os elementos constitutivos de um capítulo: vida espiritual, organização da vida em comum e organização da vida apostólica. “Reuniam-se com prazer e gostavam de estar juntos” ( 1CeI 39). Porque eram peregrinos e itinerantes, viam a reunião fraterna como uma forma de consolidação do projeto de comunhão de vida consagrada ao seguimento de Jesus Cristo.

  • Em 1212, Francisco determinou dois capítulos anuais: um em Pentecostes e outro em setembro, na festa de São Miguel (em torno de 300 frades);
  • Em 1216, Jacques de Vitry afirmava que os frades se reuniam uma vez por ano, em lugar marcado, para se alegrarem no Senhor, comerem juntos, para formular e promulgar leis;
  • Em 1217, a Ordem é dividida em Províncias, peloaumento do número dos Frades e para facilitar o governo. Começam os Capítulos Gerais, formados com os Ministros Provinciais (RnB 18), e o Capítulos Provinciais, com a mesma dinâmica dos Capítulo Geral;
  • Em 1223, prescreve-se o CG de três em três anos, em Pentecostes;
  • Em 1239, ao encerrar o mandato de Frei Elias, foram promulgadas as primeiras Constituições Gerais;
  • Para São Francisco, o Capítulo Provincial era esperado com ansiedade, pela importância que tinha na vida da Ordem (LM 4,10).
  • Após o Concilio Vaticano 2º, as ConstituiçõesGerais preveem a possibilidade de Capítulo Provincial Extraordinário em fidelidade às estruturas de governo da Ordem.
  • Os Capítulos Locais tiveram início por volta de 1217, quando os frades começaram processo de sedentarização em Fraternidades e eremitérios. Sentiam também necessidade de organização da vida de oração, da vida comunitária e da vida apostólica própria de cada casa.
  • A espiritualidade da Fraternidade é que dá sustento a todo tipo Capítulo na Ordem Franciscana e que anima os que a compõem.

O que dizem os documentos oficiais

O que dizem os Estatutos Gerais e as Constituições Gerais da Ordem

Segundo os Estatutos da Ordem dos Frades Menores (OFM), o Capítulo é uma instituição da maior importância para a direção da vida e da missão dos irmãos na Província ou na Custódia.

Os Estatutos particulares determinam o modo ou a forma de participação dos irmãos no Capítulo, observando as normas do Direito Canônico, das Constituições Gerais e dos Estatutos Gerais quanto aos requisitos para a validade das eleições e das decisões.

O Capítulo Provincial, que será realizado em Agudos de 6 a 12 de novembro, é chamado de Capítulo Provincial Ordinário e é celebrado de três em três anos. Nele serão eleitos apenas os Definidores para compor o novo governo provincial com o Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, e o Vigário Provincial, Frei Estêvão Ottenbreit.

Abaixo o que dizem as Constituições Gerais da Ordem sobre o Capítulo Provincial:

Art. 215

Parágrafo1º. Compete ao Capítulo provincial analisar o estado atual da vida e atividade dos irmãos da Província, procurar e propor meios oportunos para seu crescimento e emenda, deliberar e, de comum acordo, tomar decisões sobre novas iniciativas e assuntos de maior importância, bem como realizar as eleições.

Parágrafo 2º. Compete ao Capítulo provincial elaborar os Estatutos particulares da Província, os quais, no entanto, necessitam da aprovação do Definitório geral; os outros Estatutos peculiares da Província são elaborados pelo Capítulo Provincial com autoridade própria.

Art. 216

Parágrafo 1º. O Capítulo provincial rege-se por estas Constituições e também pelos Estatutos gerais, pelos particulares e por um Regimento.

Parágrafo 2º. Determine-se nos Estatutos particulares tudo quanto se refereà composição, convocação e celebração do Capítulo provincial, e também às eleições a fazer no Capítulo, salvo o que se estabelece nestas Constituições e nos Estatutos gerais.

Art. 217

No prazo de três meses após o Capítulo, a não ser que nos Estatutos se preveja outra coisa, no tempo determinado pelo Presidente do Capítulo com o Definitório da Província, realize- se o Congresso capitular para a colação dos cargos vacantes.

Art. 218

Para tratar de assuntos de grande importância pode-se instituir um Conselho plenário da Província, que se rege pelas normas dos Estatutos gerais e particulares.

O Capítulo nas Fontes Franciscanas

Regra Bulada Cap. 8

Em 1209, Francisco escreve breve Regra e vai a Roma com os onze. Obtém a aprovação do Papa Inocêncio III, só oralmente. No dia 29 de novembro de 1223, Honório III aprova, com bula papal, a Regra definitiva, ainda hoje em vigor.

Da eleição do Ministro Geral desta Fraternidade e do Capítulo de Pentecostes

1. Todos os irmãos devem ter sempre um dos irmãos desta Ordem como ministro e servo desta fraternidade. E estão rigorosamente obrigados a obedecer-lhe. 2. Saindo este, faça-se a eleição de seu sucessor pelos ministros provinciais e custódios, no Capítulo de Pentecostes, ao qual deverão sempre comparecer, onde quer que for determinado pelo ministro geral; 3. e isto, de três em três anos ou em prazo maior ou menor, conforme for ordenado pelo referido ministro. 4. Se, em qualquer tempo, parecer à totalidade dos ministros e custódios, que o dito ministro não seja idôneo para o serviço e comum utilidade dos irmãos, têm os ditos irmãos, aos quais cabe o direito de eleição, o dever de, em nome do Senhor, eleger um outro como guardião. 5. Depois do capítulo de Pentecostes, podem os ministros e os custódios, se o quiserem e lhes parecer conveniente, convocar uma vez os irmãos para, durante o mesmo ano, celebrarem capítulo em suas custódias.

Regra Não-Bulada Cap. 18

Em 1221, no Capítulo Geral de Pentecostes, Francisco apresenta a segunda Regra (Não Bulada ou não aprovada por bula papal), que Frei Cesário de Espira, versado em Sagrada Escritura, adornou com muitos textos bíblicos.

Como se devem reunir os ministros

1.Todo ano pode cada ministro reunir-se com os seus irmãos, na festa de São Miguel Arcanjo, onde lhes aprouver, para tratar com eles das coisas que se referem a Deus. 2. Todos os ministros, porém, que residirem nos países ultramarinos e ultramontanos, compareçam uma vez em três anos, e os demais ministros uma vez por ano, na festa de Pentecostes, ao capítulo que se reúne junto à igreja de Santa Maria da Porciúncula, 3. a não ser que o ministro e servo de toda a fraternidade o determine de modo diferente.

Legenda Maior, 4,10

No fim do primeiro triênio do generalato de Frei Boaventura, reuniu-se o capítulo geral da Ordem em 1260 e incumbiu o Ministro Geral de escrever nova biografia de São Francisco. A Legenda “Maior” é a biografia longa e “Menor” é a biografia resumida para uso litúrgico.

Progresso da Ordem

10.Com o passar dos anos e crescendo o número dos irmãos, o solícito pastor começou a reuni-los no local chamado Santa Maria da Porciúncula para o capítulo geral, a fim de repartir entre eles, por sorte, a terra ou propriedade de sua pobreza e dar a cada qual a porção que a obediência determinasse. Mais de cinco mil irmãos aí se reuniram e faltava tudo nesse lugar. Mas Deus, em sua bondade, veio-lhes em socorro, concedendo-lhes o suficiente para as forças do corpo e a alegria do espírito. Aos capítulos provinciais Francisco não podia assistir pessoalmente, mas a sua presença era marcada por diretivas solícitas,oração contínua e com sua bênção eficaz. E às vezes mesmo, por virtude do poder de Deus, ele aparecia visivelmente. Um dia, por exemplo, quando o glorioso confessor de Cristo, Antônio, estava pregando aos irmãos no Capítulo de Arles acerca do título da cruz: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”, certo religioso de virtude comprovada, de nome Monaldo, movido por instinto interior e divino, dirigiu os olhos para a porta da sala onde se celebrava o capítulo, e cheio de admiração viu ali, com os olhos corporais, o seráfico Pai, que, elevado no ar e de mãos estendidas em forma de cruz, abençoava seus religiosos. Todos experimentaram naquela ocasião tanta e tão extraordinária consolação de espírito, que em seu interior não lhes foi possível duvidar da real presença do Seráfico Pai, confirmando-se depois nesta crença não só pelos sinais evidentes que haviam observado, como também pelo testemunho que verbalmente lhes deu o próprio santo. Devemos admitir que a mesma força onipotente de Deus que permitiu outrora ao santo bispo Ambrósio assistir aos funerais do glorioso Martinho, para que venerasse com piedoso afeto aquele santo pontífice, essa mesma providência quis igualmente que seu servo Francisco estivesse presente à pregação de Santo Antônio, grande arauto do Evangelho, para que aprovasse a verdade daquela doutrina, sobretudo no que se refere à cruz de Cristo, cujo ministro e embaixador fora constituído.

Os primeiros Capítulos da Ordem

                                Frei Sandro Roberto da Costa

Desde os inícios da Ordem, os momentos de encontro fraterno mais intensos ocuparam um lugar importante na vida dos irmãos, seja pela necessidade de pensar e organizar juntos os rumos da fraternidade e da missão, seja pelo prazer de se encontrar, conversar, comer, se alegrar juntos. Francisco sempre tomou as decisões mais importantes da fraternidade junto com seus irmãos. Depois de 1209, quando o papa Inocêncio III deu a aprovação oral para a Regra, os irmãos se espalharam por todas as regiões da Itália, e o seu número cresceu rapidamente. Sentiu-se a necessidade de uma reunião mais articulada para avaliar a caminhada e fixar algumas normas mais precisas. Em 1212 Francisco reuniu seus frades nos arredores de Assis, próximo ao mosteiro de São Verecundo. Diz o cronista do mosteiro: “Nos últimos tempos, o bem-aventurado Francisco pobrezinho freqüentes vezes se hospedou no mosteiro de São Verecundo… E nas imediações do mesmo mosteiro, o bem-aventurado Francisco realizou um capítulo dos trezentos primeiros irmãos, e o abade e os monges, generosamente, como puderam, doaram as coisas necessárias. Houve grande abundância de pão de cevada, de sêmola, de trigo, de milho, água potável límpida e vinho de maçã diluído em água para os mais fracos, como atestava o velho senhor André, que esteve presente; e houve grande abundância de favas e legumes” (Legenda da Paixão de São Verecundo, Fontes Franciscanas e Clarianas, 1449).

Entre estes momentos de encontro de todos os frades, destaca-se aquele que aconteceu em Assis, na festa de Pentecostes, no ano de 1217, que passou para a história como o Capítulo das Esteiras. É São Boaventura quem nos dá uma idéia desta grande reunião fraterna: “Também, já multiplicados os irmãos no decorrer do tempo, o solícito pastor começou a convocá-los ao Capítulo geral no eremitério de Santa Maria da Porciúncula, a fim de distribuir a cada um deles a porção da obediência, segundo a medida da distribuição divina na terra da pobreza (cf. Sl 77,54; Gn 41,52). Aí, embora houvesse penúria de todas as coisas necessárias – e uma vez se reunisse uma multidão de mais de cinco mil irmãos -, no entanto, com a ajuda da divina clemência, havia suficiência de alimento, acompanhava uma boa saúde corporal, e fluía a alegria espiritual”. (Legenda Maior IV, 10, 1-2, Fontes Franciscanas e Clarianas 576).

Imaginemos os frades se preparando para a viagem: hábito surrado, numa das mãos uma sacola com o mínimo necessário, na outra um cajado, sandálias aos pés ou descalços, punham-se a caminho. A festa de Pentecostes ocorre geralmente entre o fim do inverno e o início da primavera na Europa. A neve começa a derreter, aparecem os primeiros brotos nas árvores, as beiras das estradas se enfeitam de flores, os pássaros enchem os ares com seus cantos, festejando a vida que renasce. Os frades viajavam a pé, em grupo ou dois a dois, cruzando vales e montanhas, estradas poeirentas, sujeitos a assaltos, às intempéries. Mas viajavam contentes, pois iriam se encontrar com Francisco, aquele que lhes tinha mostrado o caminho do seguimento de Cristo e do seu Evangelho. Muitos frades iriam encontrá-lo pela primeira vez. Ver Francisco, abraça-lo, ouvi-lo, conversar com ele, saciar-se na fonte de sua santidade e sabedoria, poder partilhar com ele as angústias, dúvidas, incertezas e vitórias, valia qualquer sacrifício.

Calos nos pés, faces cansadas, hábitos empoeirados e suados, tudo o que os frades desejavam quando chegavam a Assis para o Capítulo era um leito macio, um banho quente, um prato de sopa. Como acomodar todos esses homens? Onde alojá-los? Como alimenta-los? Os habitantes de Assis não tiveram dúvida. Organizaram-se e, generosamente, ofereceram aos frades o que tinham de melhor. Como abrigo, esteiras. Daí o título de Capítulo das Esteiras. A mesa era frugal, mas farta. O cronista Jordão de Jano, um dos primeiros frades a ser enviado para a missão na Alemanha, nos dá um relato de um desses Capítulos, realizado em 1221: “… no ano do Senhor de 1221, no dia 23 de maio… no santo dia de Pentecostes, o bem-aventurado Francisco celebrou o Capítulo geral em Santa Maria da Porciúncula. A este Capítulo, conforme o costume então existente na Ordem, compareceram tanto os professos quanto os noviços; e os irmãos que compareceram foram calculados em três mil irmãos. A este capítulo esteve presente o senhor Rainério, cardeal diácono, com muitos outros bispos e religiosos. Por ordem dele, um bispo celebrou a missa. E acredita-se que o bem-aventurado Francisco então tenha lido o Evangelho, e outro irmão a epístola.

No entanto, como os irmãos não tivessem casas para tantos irmãos, acomodavam-se sob esteiras em campo espaçoso e cercado, comiam e dormiam em vinte e três mesas dispostas de maneira ordenada… Neste Capítulo, o povo da terra servia com espírito de prontidão, fornecendo pão e vinho, alegres por uma reunião de tantos irmãos e pelo regresso do bem-aventurado Francisco. Neste Capítulo, o bem-aventurado Francisco, tendo tomado o tema “Bendito o Senhor meu Deus que adestra minhas mãos para o combate” (cf. Sl 18,35), pregou aos irmãos, ensinando as virtudes e admoestando à paciência e aos exemplos a dar ao mundo. De modo semelhante era feito o sermão ao povo: e tanto o povo quanto o clero ficavam edificados. Quem poderia explicar quanta caridade, paciência, humildade, obediência e alegria fraterna existiam naquele tempo entre os irmãos? De fato, não vi na Ordem um Capítulo como este, tanto pela multidão dos irmãos quanto pela solenidade dos que serviam.

E embora fosse tão grande a multidão dos irmãos, no entanto, o povo fornecia tudo tão alegremente que, após sete dias de Capítulo, os irmãos foram obrigados a fechar a porta e a nada receber e a permanecer dois dias a mais para consumirem as coisas oferecidas e recebidas” (Crônica de Jordão de Jano, Fontes Franciscanas e Clarianas, 1270-1271).

Uma vez terminado o Capítulo, os irmãos retornavam para suas casas, levando na mente e no coração as palavras e ensinamentos de Francisco, mas também o carinho e o exemplo de generosidade e doação dos habitantes de Assis, que tanto amavam Francisco e seus frades.


Frei Sandro Roberto da Costa é professor de História da Igreja e de Patrística no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). É doutor em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Origem e desenvolvimento dos Capítulos

A primitiva experiência da forma de vida proposta por Francisco aos seus frades reclamava, espontaneamente, a realização do encontro fraterno, como exigência intrínseca. A reunião que concretiza esse encontro está na origem daquilo que mais tarde haveria de ser denominado de Capítulo.

Tomás de Celano atesta o fato com bastante clareza na Primeira Vida de São Francisco ao se referir às fases das duas originais e famosas reuniões da primitiva fraternidade franciscana.

Assim é descrita a primeira reunião: “Quando a Fraternidade tinha atingido o número de oito frades, “São Francisco chamou-os todos a si e, tendo-lhes falado muitas coisas sobre o Reino de Deus, o desprezo do mundo, a abnegação da própria vontade e a mortificação do corpo, separou-os dois a dois pelas quatro partes do mundo, e lhes disse: ‘Ide, caríssimos, dois a dois, por todas as partes do mundo, anunciando aos homens a paz e a penitência para a remissão dos pecados…’.”

A segunda reunião é descrita nestes termos: “Pouco tempo depois, São Francisco desejou revê-los e orou ao Senhor, que congrega os dispersos de Israel, que se dignasse reuni-los outra vez em pouco tempo. Assim aconteceu que, bem depressa, de acordo com sua vontade e sem que ninguém os chamasse, eles se encontraram dando graças a Deus. Reunidos, manifestaram a sua grande alegria por rever o piedoso pastor e se admiraram de terem tido todos o mesmo desejo ao mesmo tempo. Contaram depois as coisas boas que o misericordioso Senhor lhes tinha feito e pediram correção e castigo ao santo Pai pelas negligências e ingratidões que pudessem ter cometido, cumprindo-os diligentemente”.

Comentando o fato, Celano assim se exprime: “…era isso que costumavam fazer todas as vezes que chegavam a ele… então o bem-aventurado Pai, abraçando seus filhos com muita caridade, começou a manifestar-lhes seu pensamento e o que o Senhor lhe havia revelado”(1Cel 29;30).

Fácil detectar nas duas descrições o significado fundamental do encontro fraterno que caracterizava as respectivas reuniões. Vemos facilmente presentes os temas da formação espiritual, da organização da vida em comum e da vida apostólica. Por tais razões, essas reuniões se tornaram modelo de todas as subsequentes reuniões fraternas e capitulares.

A reunião comunitária torna-se logo expressão normal do desejo de comunhão que animava os frades que “tendo desprezado todas as coisas terrenas e estando livres do amor-próprio, consagravam todo o seu afeto aos irmãos, oferecendo-se a si mesmos para atender às necessidades fraternas. Reuniam-se com prazer e gostavam de estar juntos”(1Cel 39).

O aguçado senso de fraternidade que se respirava na nova forma de vida religiosa tinha criado estrutura expressiva na reunião fraterna. No início, tendo excluído de sua forma de vida a stabilitas loci, característica das ordens monásticas, os frades viviam, na reunião fraterna, válido instrumento de expressão e consolidação de sua comunhão de vida consagrada ao seguimento de Jesus Cristo.

Origem e Desenvolvimento do Capítulo Geral

Logo depois do nascimento de sua Ordem, os Frades Menores sentiram que se tornava impossível a frequência inicial dos encontros fraternos, surgindo a necessidade de normas organizacionais mais precisas e a fixação de assembleias bem determinadas, mais articuladas e com datas precisas. O encontro fraterno se transformou em verdadeiro e próprio Capítulo da fraternidade. Isto aconteceu por volta de 1212, quando “Francisco determinou que se celebrasse o Capítulo duas vezes por ano: em Pentecostes e na festa de São Miguel, em setembro” (LTC, 57).

O primeiro documento histórico que atesta tal instituição com caráter de Capítulo da fraternidade propriamente dito se encontra na Legenda S. Verecundi militis et martyris. O cronista do mosteiro dedicado ao santo mártir e situado nos arredores de Assis afirma: “Nos arredores deste mesmo mosteiro o bem-aventurado Francisco reunira o Capítulo dos primeiros trezentos frades… Assim nos relatou um sacerdote chamado André que esteve presente” (Paixão SV 6).

No decorrer do Capítulo de Pentecostes de 1217, devido ao crescimento numérico e geográfico da Ordem, impôs-se a necessidade de dividi-la em províncias para facilitar o governo. Como consequência, dada a impossibilidade, reconhecida por todos, de reunir todos os frades em Capítulo, impôs-se também a necessidade de transformar o Capítulo da Fraternidade em Capítulo de todos os ministros.

A deliberação capitular aparecerá codificada na Regra não Bulada 18, prescrevendo um Capítulo dos Ministros das Províncias italianas a ser celebrado uma vez por ano e um Capítulo de todos os ministros da Ordem de três em três anos. No ano de 1223, a Regra Bulada 8 prescreve apenas um Capítulo dos Ministros provinciais a ser celebrado em Pentecostes com frequência trienal, podendo ser antecipado ou retardado de acordo com o parecer do Ministro da fraternidade.

A participação é obrigatória para os Ministros, mas não é vedada a mais alguns frades; a participação dos Custódios é prevista somente quando se deve proceder a eleição de um novo Ministro geral. A partir de 1230 participa do Capítulo Geral somente um Custódio de cada Província por determinação de Gregório IX.

No Capítulo Geral de 1239, que encerrou o generalato de Frei Elias, foram promulgadas as primeiras Constituições da Ordem. Baseando-se nelas houve a determinação de que o Capítulo Geral fosse trienal, irrevogavelmente celebrado de três em três anos. Também a syndicatio a respeito do Ministro foi ligada ao Capítulo trienal, porque nesta época o Ministro era eleito sem ter definido o término de seu mandato.

As Constituições de Narbona em 1260 confirmam a frequência trienal obrigatória do Capítulo Geral, determinando também a syndicatio e a participação de outros frades, ministros e custódios, admitindo também a presença de representantes das Províncias, os chamados “discretos” e eleitos nos capítulos provinciais de suas regiões.

As sucessivas Constituições, substancialmente, confirmaram as mesmas normas, até a divisão da Ordem (1517). Depois da divisão, as Constituições das singulares Famílias Franciscanas, em diversos tempos, introduziram a frequência sexenal do Capítulo Geral; e regulamentaram posteriormente a composição.

Origem e desenvolvimento do Capítulo Provincial

Pode-se determinar com certeza a data do surgimento da instituição do Capítulo Provincial: é consequência da divisão da Ordem em Províncias decretada pelo Capítulo Geral de 1217. Nos primeiros tempos de sua existência, o Capítulo Provincial já se apresenta regulamentado através de normas prescritas na Regra não Bulada 18 e na Regra Bulada 8, no que se refere à sua composição, convocação e frequência.

Segundo a Regra não Bulada, sua composição reflete a mesma dinâmica do Capítulo Geral da fraternidade. Com efeito, trata-se de um Capítulo que reúne, em torno do Ministro, todos os frades da área circunscricional da Província e também toda a fraternidade provincial. Sua convocação anual é deixada a critério da autoridade e do discernimento dos Ministros Provinciais que podem convocá-lo se julgarem conveniente e oportuno. São Francisco, segundo o testemunho de São Boaventura na LM (4,10), atribuía uma tal importância para a vida e o desenvolvimento da Ordem ao Capítulo Provincial, que sua realização anual era um acontecimento sempre muito esperado, ligando-o com a celebração anual da festa de São Miguel, data em que bem primitivamente se celebrava o Capítulo Geral.

A Regra Bulada afirma que o Capítulo Provincial pode ser celebrado no mesmo ano em que se realiza o Capítulo Geral, prescrevendo que, em tal caso, o primeiro seja celebrado depois do segundo. São Boaventura comenta esta prescrição dizendo que tem como objetivo facilitar a promulgação dos Atos do Capítulo Geral e que não veta a celebração de Capítulos provinciais nos outros três anos.

Sua frequência anual é pressuposta tendo por base uma prática já vigente e bem consolidada. Não se fala mais de conexão entre o Capítulo Provincial e a festa de São Miguel. Às prescrições e aos critérios práticos foram surgindo exceções e mudanças que aos poucos se tornaram norma estável.

Somente depois da divisão da Ordem, as Constituições de cada família adotaram a frequência trienal do Capítulo Provincial, instituíram outros organismos subsidiários como as assim chamadas Congregações Intermediárias ou os Definitórios Plenários. Atualmente, as Constituições das Ordens Franciscanas, resultado da adaptação aos decretos do Vaticano II, preveem a possibilidade de Capítulos Provinciais extraordinários em fidelidade às estruturas de governo tradicionais.

“Dicionário Franciscano”, Vozes e Cefepal, 1993, Pg. 77 ss

Todos os ministros eleitos na Província

1677 – 1681 – Frei Eusébio da Expectação

1681 – 1684 – Frei Cristóvão da Madre de Deus Luz

1684 – 1687 – Frei Agostinho da Conceição

1687 – 1691 – Frei Eusébio da Expectação (2ª vez)

1691 – 1694 – Frei Antônio do Vencimento Sá

1694 – 1697 – Frei Cristóvão da Madre de Deus Luz (2ª vez )

1697 – 1699 – Frei João da Conceição Sanches. Faleceu no ano de 1699.

Frei Miguel de São Francisco foi eleito Vigário Provincial até 1701.

1701 – 1704 – Frei Miguel de São Francisco

1704 – 1707 – Frei Boaventura de Jesus

1707 – 1710 – Frei Alberto do Espírito Santo

1710 – 1713 – Frei Serafino de Santa Rosa

1713 – 1716 – Frei Miguel de São Francisco ( 2ª vez )

1716 – 1719 – Frei Boaventura de Santa Catarina

1719 – 1723 – Frei Plácido de Santa Maria

1723 – 1725 – Frei Francisco da Conceição. Faleceu no ano de 1725.

Frei Tomás dos Santos foi eleito Vigário Provincial até 1726.

1726 – 1732 – Frei Fernando de Santo Antônio

1732 – 1735 – Frei Luís de Santa Rosa

1735 – 1738 – Frei José do Nascimento

1738 – Frei José de Jesus Maria. No mesmo ano Dom Frei Antônio de Guadalupe, OFM, bispo diocesano do Rio de Janeiro e reformador da Província, nomeou novo Provincial, a saber:

1738 – 1742 – Frei Lucas de São Francisco.

1742 – 1745 – Frei Francisco das Chagas

1745 – 1748 – Frei Antônio da Conceição

1748 – 1751 – Frei Agostinho de São José

1751 – 1754 – Frei Manuel de São Roque

1754 – 1757 – Frei Antônio de Sá

1757 – 1761 – Frei Francisco da Purificação

1761 – 1764 – Frei Manuel da Encarnação

1764 – 1767 – Frei Inácio da Graça

1767 – 1770 – Frei José dos Anjos

1770 – 1773 – Frei Inácio de Santa Rita Quintanilha

1773 – 1777 – Frei Cosme de Santo Antônio

1777 – 1780 – Frei José de Jesus Maria Reis. Deposto pelo governo civil.

1780 – 1781– Frei Antônio de São Vicente Ferrer foi eleito Vigário Provincial

1781 – 1784 – Frei José dos Anjos Passes

1784 – 1787 – Frei Fernando de São José Menezes

1787 – 1790 – Frei José do Desterro

1790 – 1793 – Frei Lourenço Justiniano de Santa Teresa

1793 – 1796 – Frei João de Sant’Ana Flores

1796 – 1799 – Frei Joaquim de Jesus Maria Brados. Faleceu no ano de 1799. Frei Inácio da Anunciação foi eleito Vigário Provincial

1799 – 1802 – Frei Antônio de Bernardo Monção

1802 – 1805 – Frei João do São Francisco Mendonça

1805 – 1808 – Frei Joaquim das Santas Virgens Salazar

1808 – 1811 – Frei Antônio de Santa Úrsula Rodovalho. Eleito bispo de Angola, renunciou.

Frei Antônio Agostinho de Sant’Ana foi eleito Vigário Provincial

1811 – 1814 – Frei Alexandre de São José’ Justiniano

1814 – 1818 – Frei Francisco Solano Benjamim

1818 – 1821 – Frei José Carlos de Jesus Maria Desterro

1821 – 1823 – Frei Angelo de São José Mariano. Faleceu no ano de 1823. Frei Antônio de Santa Mafalda foi eleito Vigário Provincial até o ano de 1825.

1825 – 1828 – Frei João de Parma

1828 – 1831 – Frei Joaquim de São Daniel

1851 – 1834 – Frei Henrique de Sant’Ana

1834 – 1837 – Frei Antônio de Santa Mafalda. Faleceu no ano de 1837.

Frei Joaquim de São Jerônimo Sá foi eleito Vigário Provincial até 1838.

1838 – 1841 – Frei Joaquim de São Jerônimo Sá

1841 – 1847 – Frei Prilidiano do Patrocínio

1847 – 1850 – Frei Teotônio de Santa Humiliana

1850 – 1853 – Frei Miguel de Santa Pita

1853 – 1854 – Frei Francisco de São Diogo. Resignou no ano de 1854. Frei Teotônio de Santa Humiliana, eleito Vigário Provincial, resignou no mesmo ano. Frei Antônio do Coração de Maria e Almeida, foi eleito Vigário Provincial até 1856.

1856 – 1870 – Frei Antônio do Coração de Maria e Almeida. Faleceu no ano de 1870. Os poucos frades que restavam da Província elegeram a Frei João do Amor Divino Costa (foto) comoVigário Provincial, que, a partir do ano de 1886, ficou sozinho. Faleceu em 1909.

A RESTAURAÇÃO

1891 – 1893 – Frei Amando Bahlmann -Comissário Provincial

1893 – 1895 – Frei Irineu Bierbaum – Comissário Provincial

1895 – Frei Gregório Janknecht – Comissário Provincial

1895 – 1897 – Frei Lulo Muss – Comissário Provincial

1987 – 1899 – Frei Herculano Limpinsel – Comissário Provincial

1899 – Frei Hipólito Zurek – Comissário Provincial

1899 – 1901 – Frei Herculano Limpinsel -Comissário Provincial

1901 – 1904 – Frei Herculano Limpinsel

1904 – 1907 – Frei Lucínio Korte

1907 – 1911 – Frei Celso Dreiling

1911 – 1914 – Frei Crisólogo Kampmann

1914 – 1917 – Frei Crisólogo Kampmann (2ª vez)

1917 – 1920 – Frei Marcelo Baumeister

1920 – 1923 – Frei Crisólogo Kampmann (3ª vez)

1923 – 1926 – Frei Crisólogo Kampmann (4ª vez)

1926 – 1929 – Frei Celso Dreiling ( 2ª vez)

1929 – 1932 – Frei Celso Dreiling ( 3ª vez)

1932 – 1934 – Frei Felipe Niggemeier

1934 – 1937 – Frei Marcelo Baumeister (2ª vez)

1937 – 1941 – Frei Marcelo Baumeister (3ª vez)

1941 – 1945 – Frei Mateus Hoepers

1945 – 1948 – Frei Ludovico Gomes Mourão  de Castro

1948 – 1952 – Frei Ludovico Gomes Mourão de Castro ( 2ª vez )

1952 – 1956 – Frei Heliodoro Mueller

1956 – 1962 – Frei Heliodoro Mueller ( 2ª vez )

1962 – 1968 – Frei Walter W. Kempf

1968 – 1973 – Frei Walter W. Kempf ( 2ª vez )

1973 – 1979 – Frei Antônio Alexandre Nader

1979 – 1985 – Frei Basílio Prim

1985 – 1991 – Frei Estêvão Ottenbreit

1991 – 1994 – Frei Estêvão Ottenbreit (2ª vez)

1994 – 1999 – Frei Caetano Ferrari

2000 – 2002 – Frei Caetano Ferrari (2ª vez)

2002 – 2003 – Frei Augusto Koenig

2003 – 2009 – Frei Augusto Koenig (2ª vez)

2009 – 2012 – Frei Fidêncio Vanboemmel

2012 – 2015 – Frei Fidêncio Vanboemmel (2ª vez)

2016 – 2018 – Frei Fidêncio Vanboemmel (3ª vez)

2019 – 2021 – Frei César Külkamp

2021- 2021 – Frei Fidêncio Vanboemmel

2022- atual – Frei Paulo Roberto Pereira (em exercício)

A criação e restauro da Província

A primeira Missa celebrada nas “Terras de Santa Cruz” foi presidida por um frade franciscano, Frei Henrique Soares de Coimbra, coadjuvado por mais sete confrades da mesma Ordem. Desde então, vários filhos de São Francisco aportaram esporadicamente nas novas terras, ainda antes da chegada dos jesuítas, em 1549. O ingresso oficial dos franciscanos se deu somente no dia 12 de abril de 1585, quando o Ministro Geral, cedendo aos insistentes apelos das autoridades e dos colonos, enviou a Olinda um grupo de oito religiosos, provenientes da Província de Santo Antônio dos Currais, em Portugal.

A Custódia de Santo Antônio do Brasil, como passou a se chamar a entidade, cresceu rapidamente. Trabalhos não faltavam, seja entre os colonos seja entre os índios e os escravos. A partir da sede, em Olinda, vários conventos foram sendo fundados, a maioria na extensa costa litorânea. Em novembro de 1589 chegavam a Vitória, no Espírito Santo, e em 1592 já faziam visitas ao Rio de Janeiro, onde se instalaram oficialmente em 1608.

As imensas distâncias a serem percorridas exigiam uma reorganização administrativa. Em 1649, os superiores brasileiros conseguiram que a Custódia se tornasse independente da Província de Portugal. O próximo passo foi transformar a Custódia em Província, o que foi conseguido em 1657. Na mesma ocasião, a Província conseguiu que os conventos do Sul formassem uma entidade autônoma, constituindo a Custódia da Imaculada Conceição. O passo seguinte se deu após intensas negociações em Portugal e Roma: no dia 16 de julho de 1675, pelo breve Pastoralis Officii, do Papa Clemente X, a Custódia da Imaculada era ereta em Província autônoma, com o título de Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.

A nova entidade tinha sua sede no Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, cidade que aos poucos se destacava no cenário colonial. Também no Sul do Brasil, os franciscanos tiveram um vasto campo de atuação, trabalhando nas missões com os índios, atuando como capelães das forças do governo, auxiliando os párocos na cura d’almas, ou simplesmente atendendo aqueles que os procuravam nas suas igrejas, para a celebração da eucaristia, sempre com uma palavra amiga nas portarias ou um conselho oportuno no confessionário.

O século XVIII, com as ideias iluministas, eivadas de anticlericalismo, trouxe mudanças importantes na vida da colônia e, consequentemente, também na vida dos religiosos, principalmente após a descoberta do ouro nas minas. O controle exercido pelo Estado absolutista se torna mais severo sob o governo do Marquês de Pombal. A partir de 1764, as recepções de noviços começam a ser controladas pelo governo, que limita o número ou até mesmo proíbe a recepção de novos membros.

Mesmo sob o rígido controle do Estado, a Província da Imaculada teve religiosos de renome entre seus membros. Frei Fabiano de Cristo, o beato Frei Galvão, Frei Veloso, Frei Sampaio, Frei Francisco do Monte Alverne são apenas alguns dos que se destacam na história nacional, religiosa, civil e científica. Além desses representantes famosos, muitos trabalharam no anonimato e deixaram suas marcas não nos anais e arquivos da história, mas no coração e na vida das pessoas que entraram em contato com eles.

Entre fins de 1700 e inícios de 1800, a vida nos conventos já não refletia o brilho do passado. Muitos religiosos se acomodavam, buscavam privilégios ou escolhiam o claustro para fugir das dificuldades da vida civil. O governo, interessado no fim dos religiosos, facilitava a vida daqueles que buscavam meios de se furtar à disciplina interna e à obediência dos superiores. Em meados de 1800, a vida religiosa, não apenas franciscana, estava agonizando. Um “aviso” do Ministério da Justiça, de 19 de maio de 1855, suspendendo, em definitivo, o ingresso de novos membros em todas as ordens religiosas no Brasil, deveria ser o golpe de misericórdia. A Província, que contava então com apenas 25 religiosos para cuidar de treze conventos, estava fadada a desaparecer.

Em março de 1886 restava apenas um religioso, Frei João do Amor Divino Costa. Se este viesse a falecer, todos os bens da entidade passariam às mãos do governo. Mas o tempo tem uma lógica que o ser humano não controla. E, se a Providência tinha permitido à Província que resistisse até então, quem iria desaparecer seria o governo imperial. Com a proclamação da República, a história toma um novo rumo, abrindo novos e esperançosos horizontes para a tricentenária Província da Imaculada.

A Província da Imaculada Conceição, criada em 15 de julho de 1675, teve sua sede no Convento Santo Antônio do Rio de Janeiro, que também abrigava os estudos de filosofia e teologia. Era do Convento Santo Antônio que os frades partiam em missão pelo território hoje abrangido pelos Estados do Rio e Minas, pelo Sul da Bahia e pelo Vale do Paraíba, sem esquecer algumas missões específicas no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso, às vezes acompanhando as tropas como capelães, às vezes integrando delegações oficiais de reconhecimento do território brasileiro.

Missionários alemães encontram solo fértil no Brasil

Depois de florescer em santidade e trabalhos apostólicos (chegou a ter, em 1777, 305 frades) e frutificar abundantemente (teve papel fundamental na independência do Brasil), a Província entrou em decadência forçada por muitas causas, chegando a um único frade sobrevivente no momento em que se proclamou a República, em 1889. Veio a nova Província, não qual fênix renascida das próprias cinzas, mas reconstruída pelo ardor missionário da Província de Santa Cruz da Saxônia, Alemanha. Os primeiros missionários (Frei Amando Bahlmann, Frei Xisto Meiwes, Frei Humberto Themans e Frei Maurício Schmalor, foto ao lado) começaram a obra de restauração no vilarejo de Teresópolis, em Santa Catarina, hoje apenas Capela da paróquia de Santo Amaro da Imperatriz. Começaram com os pés no chão, a esperança em Deus e o mais quente zelo apostólico.

Outras levas de Frades alemães foram assumindo Lages, Blumenau, Rodeio, Gaspar. Todo o Estado pertencia ainda à Diocese do Rio de Janeiro. Não estranha, então, que, em 1896, tenham aceito Petrópolis, cidade vizinha do Rio, fundada por alemães. Com a criação da diocese de Curitiba, os frades acolheram, em 1905, o convite para fundar um Convento na cidade. Aos poucos, pela necessidade de pouso nas missões itinerantes, pela convocação de bispos, pelo convite promissor de algumas cidades pastoralmente necessitadas, foi-se estendendo a rede da presença franciscana no Sul do Brasil.

Os missionários alemães encontraram aqui a terra boa para o plantio. Os Estados do Sul estavam sendo beneficiados pelos colonos alemães, italianos e poloneses. Os frades se afinaram muito com eles. Bem, logo chegaram as vocações de dentro daquelas famílias. A Província abriu um seminário em Blumenau, transferido nos anos 20 para Rio Negro, no Paraná. Abriu o noviciado em Rodeio, onde permanece até hoje e, anualmente, com novos noviços. Abriu o curso de filosofia em Curitiba, e o curso de teologia em Petrópolis. Nos anos 40 e 50 se precisaram novos seminários e surgiram os de Guaratinguetá, Luzerna, Rodeio (depois transferido para Ituporanga) e Agudos. Como as colônias eram carentes de escola, os seminaristas tinham a possibilidade de fazer os últimos dois primários, o ginásio e o colegial no seminário, dando-lhes tempo de maturar a vocação, crescer numa fé sadia e fazer livremente a escolha.

Característica dos missionários alemães era a preocupação com a escolaridade. Éramos um país sem escolas. Antes de construir a igreja, os franciscanos tinham o costume de levantar a escola da comunidade. Fundou-se até uma Congregação de Irmãs (as Catequistas) para as escolas rurais.

Algumas escolas cresceram muito, como o Colégio S. Antônio de Blumenau, o Diocesano de Lages, o Bom Jesus de Curitiba. Há um fato curioso: a Escola gratuita São José, de Petrópolis, gerou o Instituto dos Meninos Cantores e a Editora Vozes. Não se pode escrever a história da Igreja no Brasil, sem citar a Editora Vozes, fundada em março de 1901, com uma finalidade específica: fornecer livros escolares, manuais de catequese e de reflexão científico-religiosa.

Neste ano, a Província conta com 372 membros. E certamente foi e continua sendo protegida por seus muitos filhos que já estão na eternidade, particularmente aqueles que morreram em fama de santidade, como Frei Galvão, Frei Fabiano de Cristo, Frei Rogério Neuhaus, Frei Bruno Linden, Frei Silvério Weber e tantos outros.


Texto: Frei Sandro (1ª parte) e Frei Clarêncio Neotti (2ª parte)