Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Trindade, o batismo e o sinal da Cruz: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,16-20)

25/05/2024

O evangelho sobre o qual vamos refletir é Mt 28,16-20, cuja temática é a Trindade. Vamos procurar elucidar o sentido da Trindade, sua história de fé, a relação com o batismo e o sinal da cruz. Desde pequeno, o cristão aprende a fazer o sinal da cruz sobre a fronte. Esse sinal é o modo utilizado por nós para pedir as bênçãos de Deus. Ele está associado à Trindade e ao pedido de Jesus para os apóstolos de batizar em nome da Trindade.

Segundo a tradição, o Imperador Constantino (272-337E.C.), após sua mãe Helena ter encontrado, em Jerusalém, uma cruz que foi identificada com a cruz da crucifixão de Jesus, viu uma cruz no céu e uma voz que lhe dizia: “Com essa cruz vencerás”. Os cristãos passaram a ser chamados de os “Devotos da Cruz”.

Os cristãos orientais fazem o sinal da cruz de forma diferente dos católicos. Eles fecham a mãos, unem os dedos polegar, indicador e médio para indicar a união da Trindade, bem como o anular e o mínimo na palma da mão para simbolizar as naturezas humana e divina de Jesus.

Os católicos fazem o sinal da cruz com a mão aberta para simbolizar as cinco chagas de Jesus e a criação da natureza. Outro detalhe importante, em ambas as tradições, a testa simboliza o céu e a sabedoria, o peito o amor infinito de Deus, já os ombros o poder de Deus e o Espírito Santo. Os católicos traçam a cruz nos ombros da esquerda para a direita e os ortodoxos o contrário. Duas razões motivam essa diferença: os ortodoxos, ao tocar o ombro direito, professam a fé em Jesus, pois como atesta a fé nos Credo Apostólico e Niceno-Constantinopolitano, Jesus está sentado à direita do Pai, isto é, ele tem poder. Ouvi, certa vez, na Grécia, que o lado direito representa o poder de Constantinopla, quando da divisão (Cisma) com Roma, em 1054, já que Roma, na

cartografia, está à esquerda. Portanto, primeiro o poder de Constantinopla. Outra motivação é que o fiel espelha o sinal feito pelo sacerdote, no altar, da esquerda para a direita.

Após os esclarecimentos sobre o sinal cruz, vejamos o sentido do substantivo Trindade e sua relação com o número três. Trindade vem do latim (trinitas) e quer dizer tríade ou três. A tríplice menção do Pai, do Filho e do Espírito Santo e sua relação com o batismo, conforme Mt 28,16-20, fez da Trindade a marca de todo cristão batizado. Trata-se de um só Deus que se revela em três formas distintas. Quem usou pela primeira vez o termo Trindade foi Tertuliano (160-220 E.C.)

Em tudo está o três. Deus deixou a sua marca na criação com o número três. Nós somos formados de corpo, espírito e mente; a natureza é formada pelos reinos animal, vegetal e mineral; o átomo é dividido em prótons, elétrons e nêutrons; no cristianismo, Deus é Pai, Filho e Espírito Santo; o hinduísmo tem três divindades: Brahma, Shiva e Vishnu; no judaísmo, o três representa o divino: céu, firmamento e Xeol; também no judaísmo, o fazer três vezes uma coisa significa que ela é durável, firme em toda a vida. Por isso, o judeu teria que ir três vezes ao Templo de Jerusalém durante o ano, nas festas das Tendas, da Páscoa e de Pentecostes. Ah! Outro detalhe, a Bíblia dos judeus, o Primeiro Testamento, está dividido em três partes (Torá, Profetas e Escritos); três são os amores: o do desejo erótico, o de filho e o fraterno; Pedro negou Jesus três vezes; o diabo tentou Jesus três vezes; três são os reis magos; a sagrada família é formada por José, Maria e Jesus; com 33 anos, Jesus morreu às três horas da tarde e ressuscitou no terceiro dia; o credo de fé judaico convoca o fiel a amar a Deus com o coração, a alma e o dinheiro (Dt 6,4-9); Jesus ensinou que a religião deve ser vivida a partir das práticas da oração, do fazer esmola e do jejum. Na missa, três vezes é cantado: “Senhor, tem de piedade de nós”, e “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Três horas da manhã é o momento em que as nossas energias estão em profunda sintonia com o universo. A nossa vida é constituída de passado, presente e futuro, assim como de princípio, meio e fim; nascemos, vivemos e morremos.

Poderíamos continuar citando inúmeros outros modos de usar o três na Bíblia, mas já basta para dizer como esse modo de pensar judaico propiciou a fé cristã na Trindade.

Difícil para entender? Pode ser. Saiba que, para a Igreja, também não foi fácil chegar ao dogma, a fé na Trindade. Foram séculos de discussão. A declaração trinitária ocorreu no Concílio de Niceia, em 325 E.C., e foi reafirmada no Concílio de Constantinopla, em maio e junho de 381, pelos bispos. Ainda nos séculos adiante, muitas heresias, controvérsias trinitárias, foram rechaçadas pela Igreja.

A relação trinitária é a da unidade na diversidade. Para entender isso, permita-me outro exemplo. A comparação da Trindade com a água. Conforme sua temperatura, podemos encontrar a água em três estados: líquido, sólido(gelo) e gasoso (vapor). Trata-se, no entanto, da mesma água em formas diferentes. O líquido é o Pai, que é a base de tudo, que está em toda parte, com a sua manifestação plena. O gelo é a manifestação de Deus-Pai no Filho, no Jesus histórico. O vapor, a brisa é a manifestação de Deus-Pai no Espírito Santo que nos dá o vigor, o frescor da vida, embalado pela presença do Pai e do Filho. Em qualquer estado, a água sempre será água. Viu, agora, como assim é fácil entender esse mistério de fé?

Uma última consideração. Se a Trindade é, essencialmente, a unidade na diversidade das pessoas, isto é, um é o mesmo Deus que nos desinstala e nos coloca sempre em ação, haveremos de reconhecer que vivemos num mundo plural, na diversidade de dons, de opiniões, e de modos de ver o mundo na Igreja, na sociedade e na política. O grande desafio do ser trinitário é respeitar as diferenças. O princípio trinitário é o amor que nos une nas diferenças.

Por fim, o batismo é a vivência da fé na comunidade, pela ação do Espírito Santo que nos impulsiona para a missão. A partir da ressurreição de Jesus, voltamos para a casa do Pai, de onde viemos. Na eternidade do tempo, somos amor, somos trinitários.


Frei Jacir de Freitas Faria

Doutor em Teologia Bíblica pela FAJE-BH. Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de exegese bíblica. Membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Autor de doze livros e coautor de quatorze. Os murais do Santuário de Santo Antônio, de Divinópolis (MG) na perspectiva do Três na Trindade e na Crucifixão de Jesus (Pronvici2024)). Caso se interesse por aulas sobre Bíblia e apócrifos, inscreva-se no nosso canal no YouTube: Frei Jacir Bíblia e Apócrifos.

 

Download WordPress Themes
Premium WordPress Themes Download
Download WordPress Themes
Download WordPress Themes Free
free download udemy paid course
download samsung firmware
Free Download WordPress Themes
download udemy paid course for free