Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

3º Domingo do Tempo Comum

Terceiro domingo do Tempo Comum

É hora de nos fazermos amor

 

Frei Gustavo Medella

Ternura e compaixão eternas. Misericórdia e bondade sem limites. Os atributos de Deus apresentados no Salmo 24, ao mesmo tempo que animam e consolam, também constrangem. Coloca-nos como destinatários de algo que recebemos por graça e não conquistamos por mérito. Acreditar firmemente nesta verdade faz perder o sentido de grande parte de nosso orgulho, de nossa prepotência e de nosso espírito de competição. Todos somos, da parte de Deus, igualmente amados e abençoados.

Apesar de ser maravilhosa, tal constatação, se buscamos ser de fato consequentes em relação ao que cremos, nos leva a uma consciência salvífica que não nos deixa ficar parados. O amor que o Senhor revela por nós e por todos, passamos a desejar que de fato alcance a todos. Foi este o convite que seduziu os primeiros Apóstolos a quem Jesus convidou enquanto realizavam suas atividades cotidianas. Ao ouvirem a voz do Mestre, Simão, André, Tiago e João foram capazes de escutar, num só convite a declaração do Amor de Deus por eles e a convocação para serem portadores deste mesmo Amor.

Num mundo marcado por fortes experiências de dor e de desamor, sentir-se amado por Deus é privilégio e também compromisso. Se, em Cristo, o Amor se fez um de nós, agora é hora de nos fazermos amor uns para os outros, de acordo com as urgências e circunstâncias, quando este amor encarnado pode se tornar um prato de comida, uma sacola de mantimentos, um gesto de gentileza, um minuto de atenção, uma dose de vacina…


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.


Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Leituras bíblicas para este domingo

Primeira Leitura: Jn 3,1-5.10

1A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, pela segunda vez: 2“Levanta-te e põe-te a caminho da grande cidade de Nínive e anuncia-lhe a mensagem que eu te vou confiar”.

3Jonas pôs-se a caminho de Nínive, conforme a ordem do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande; eram necessários três dias para ser atravessada. 4Jonas entrou na cidade, percorrendo o caminho de um dia; pregava ao povo, dizendo: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída”.

5Os ninivitas acreditaram em Deus; aceitaram fazer jejum e vestiram sacos, desde o superior ao inferior. 10Vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-se e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez.


Salmo Responsorial (Sl 24)

— Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,/ vossa verdade me oriente e me conduza!

— Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,/ vossa verdade me oriente e me conduza!

— Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,/ e fazei-me conhecer a vossa estrada!/ Vossa verdade me oriente e me conduza,/ porque sois o Deus da minha salvação.

— Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura/ e a vossa compaixão que são eternas!/ De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia/ e sois bondade sem limites, ó Senhor!

— O Senhor é piedade e retidão,/ e reconduz ao bom caminho os pecadores./ Ele dirige os humildes na justiça,/ e aos pobres ele ensina o seu caminho.


Segunda Leitura: 1Cor 7,29-31

29Eu digo, irmãos: o tempo está abreviado. Então que, doravante, os que têm mulher vivam como se não tivessem mulher; 30e os que choram, como se não chorassem, e os que estão alegres, como se não estivessem alegres; e os que fazem compras, como se não possuíssem coisa alguma; 31e os que usam do mundo, como se dele não estivessem gozando. Pois a figura deste mundo passa.


A pregação de jesus
Evangelho: Mc 1,14-20

* 14 Depois que João Batista foi preso, Jesus voltou para a Galileia, pregando a Boa Notícia de Deus: 15 «O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Notícia.»

16 Ao passar pela beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e seu irmão André; estavam jogando a rede ao mar, pois eram pescadores. 17 Jesus disse para eles: «Sigam-me, e eu farei vocês se tornarem pescadores de homens.» 18 Eles imediatamente deixaram as redes e seguiram a Jesus.

19 Caminhando mais um pouco, Jesus viu Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes. 20 Jesus logo os chamou. E eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados e partiram, seguindo a Jesus.

* 14-15: São as primeiras palavras de Jesus: elas apresentam a chave para interpretar toda a sua atividade. Cumprimento: em Jesus, Deus se entrega totalmente. Não é mais tempo de esperar. É hora de agir. O Reino é o amor de Deus que provoca a transformação radical da situação injusta que domina os homens. Está próximo: o Reino é dinâmico e está sempre crescendo. Conversão: a ação de Jesus exige mudança radical da orientação de vida. Acreditar na Boa Notícia: é aceitar o que Jesus realiza e empenhar-se com ele.
* 16-20: O chamado dos primeiros discípulos é um convite aberto a todos os que ouvem as palavras de Jesus. Simão e André deixam a profissão; Tiago e João deixam a família… Seguir a Jesus implica deixar as seguranças que possam impedir o compromisso com uma ação transformadora.

Bíblia Sagrada – Edição Pastoral

Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus

3º Domingo do Tempo Comum

 Oração: “Deus eterno e todo-poderoso, dirigi a nossa vida segundo o vosso amor, para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras”.

  1. Primeira leitura: Jn 3,1-5.10

Os ninivitas afastaram-se do mau caminho.

Com o exílio na Babilônia, Israel aprendeu a conviver com povos de cultura e religião diferente. Nesta convivência, como povo vencido, eram tentados a considerar o deus Marduk dos babilônios mais poderoso do que o Deus de Israel, Javé, vencido. Por isso os profetas (Is 40–55) pregavam que o único Deus verdadeiro era Javé, o Deus de Israel, criador do céu e da terra, salvador apenas de Israel. Surgiu até certo desprezo pelos povos pagãos. O livro de Jonas, no entanto, critica a pretensa superioridade dos judeus em relação a outros povos. O autor conta a história, ou parábola, do profeta Jonas que Deus envia aos habitantes da grande cidade de Nínive, a fim de pregar a conversão de seus habitantes. Caso contrário, Nínive, a capital do Império Assírio seria destruída. Os assírios eram odiados porque destruíram o reino de Israel e dominaram por dezenas de anos o reino de Judá. Jonas, a contragosto, aceitou a missão. Nínive era tão grande que eram necessários três dias para atravessá-la a pé. Em nome de Javé, o profeta anunciou o castigo para Nínive: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída”. Bastou um dia de pregação e todos os habitantes se converteram e, por isso, Deus os perdoou e suspendeu o castigo. Israel e Judá, porém, tiveram muitos profetas que pediam a conversão do povo e não foram atendidos. Por isso os dois reinos foram destruídos e o povo levado para o exílio. Deus quer a conversão e a salvação de todos os povos. Nós não somos melhores do que outros povos por terem uma religião diferente da nossa. O que importa é fazer a vontade de Deus (cf. Mt 12,41; Lc 11,29-30).

Salmo responsorial: Sl 24

Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,

vossa verdade me oriente e me conduza!

  1. Segunda leitura: 1Cor 7,29-31

A figura deste mundo passa.

Paulo vive na expectativa da parusia iminente, ou seja, a vinda do Senhor no fim dos tempos. Em vista disso, as diferentes situações da vida não devem ser supervalorizadas. Vivendo nossa vida como casados ou solteiros, alegres ou tristes, usando honestamente dos bens deste mundo, nunca devemos perder o foco, que é o nosso encontro definitivo com o Cristo Ressuscitado, nosso juiz e nosso Salvador. Jesus também diz: “Procurai o Reino de Deus e as outras coisas vos serão dadas de acréscimo”. Quem encontra um tesouro no campo ou uma pérola preciosa deve fazer todo o possível para adquiri-la.

Aclamação ao Evangelho

O Reino do Céu está perto!

Convertei-vos, irmãos, é preciso!

Crede todos no Evangelho!

  1. Evangelho: Mc 1,14-20

Convertei-vos e crede no Evangelho!

O profeta Jonas começou sua pregação, anunciando o juízo divino em Nínive, capital do Império Assírio. Todos os habitantes de Nínive, ouvindo a pregação de Jonas, logo se converteram e escaparam do castigo. Jesus inicia sua pregação na periferia, na Galileia. Não anuncia desgraças como Jonas, mas a boa-nova do Reino de Deus. João Batista pedia a conversão e batizava para o perdão dos pecados. Jesus anunciava a boa-nova de Deus, “o Evangelho de Deus”, isto é, a irrupção do Reino de Deus: “Completou-se o tempo, e o reino de Deus está próximo”. Pedia a conversão e a fé: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. A conversão que Jesus pede é acolher com alegria o Evangelho, isto é, a boa-nova do Reino de Deus. A conversão dos ninivitas se expressava pelo jejum e pelas cinzas; a conversão para o Reino de Deus pede um seguimento generoso de Jesus. O anúncio do Reino era urgente e deve ter causado grande impacto. Se o reino de Deus está próximo Jesus não podia pregar sozinho. Por isso, como auxiliares nesta inadiável missão, Jesus chama os primeiros discípulos, duas duplas de irmãos pescadores: Simão (Pedro) e seu irmão André, e os filhos de Zebedeu, Tiago e João. E pede-lhes para mudarem de profissão: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. E eles largaram tudo, para seguir a Jesus.


FREI LUDOVICO GARMUS, OFMé professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.

Missão universal à beira de um lago

Frei Clarêncio Neotti

Marcos é o único Evangelista a chamar seu texto de evangelho logo no início (Mc 1,1). E em poucos parágrafos confirma a missão e a divindade de Jesus por meio da voz profética de João Batista (Mc 1,1-8), por meio da autoridade do Pai, à beira do Jordão (Mc 1,12-13), e por meio dos anjos (Mc 1,12-13), porta-vozes de Deus. Logo em seguida, Marcos fixa o tempo e o lugar do começo da vida pública. O tempo é marcado pela prisão de João Batista. Sabe-se que foi Herodes Antipas (filho de Herodes, o Grande, da matança dos meninos de Belém) quem prendeu João Batista e o matou (Mc 6,14-29). O mesmo Herodes a quem Pilatos enviou Jesus antes da condenação (Lc 23,6-12).

O local é a Galileia, a parte norte da Palestina, onde, aliás, em torno do lago de Genesaré, Jesus passou a maior parte de sua vida pública. Talvez porque, nascido em Belém da Judeia, se criara em Nazaré da Galileia e conhecia bem a região. Talvez porque as margens do lago, sobretudo a faixa norte, eram bem povoadas e havia grande movimento de gente. Talvez porque fosse muito perigoso começar por Jerusalém ou pela Judeia, bem controlada pelos romanos, repleta de descontentes e revoltosos, onde ninguém sabia de que lado alguém estava. Talvez porque a Galileia era habitada por uma mescla de raças, embora prevalecesse a hebreia, e Jesus tinha necessidade de abrir portas ao universalismo de sua mensagem de salvação. O fato é que Marcos faz Jesus passar na Galileia os 10 primeiros capítulos dos 16 que compõem o seu Evangelho. E é na Galileia também que o encerra (Mc 16,7).


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

Como o tempo é breve!

Frei Almir Guimarães

Converter-se é “libertar a vida” eliminando medos, egoísmos, tensões e escravidões que nos impedem de crescer de maneira sadia e harmoniosa. A conversão que não produz paz e alegria não é autêntica. Não está nos aproximando do reino de Deus.
José Antonio Pagola

♦ As leituras da liturgia de hoje giram em torno do tema do tempo: na palavra de Jonas se os ninivitas não se converterem a cidade será destruída em quarenta dias; Paulo, aos Coríntios, lembra que o tempo é curto; Jesus afirma que com sua vinda o tempo já se completou. Saber viver no tempo, não perder tempo. O tempo de Jesus precisa nos envolver porque é um tempo que não tem fim. Associando-nos a ele, apontamos para a vida que não acaba.

♦ O tempo é invenção. O que existe é a vida com suas estações. Vivemos. Há o tempo que éramos crianças. Tempo da espontaneidade, transparência. Correr, brincar, fazer pirraças. Que não façam das crianças adultos antes do tempo. Depois vem o tempo da adolescência e juventude. Tempo das dúvidas sobre o próprio corpo. Um homenzinho todo vaidoso. Uma menina que se olha no espelho o tempo todo. Como tudo é breve…Cuidado para não estragar o tempo da vida: drogas, superficialidades amorosas, capacidade de olhar a fase seguinte…

♦ Juventude… Tempo em que nos perguntamos tanto a respeito de tantas coisas. O amor, a amizade, a poesia. Há mocinhos mais técnicos: tentam inventar máquinas. Há gênios no tempo da adolescência. Numerosos, por exemplo, no caso de escritores, músicos, ciências matemáticas. Aproveitar os talentos… porque o tempo é curto. Depois é tarde. Estudar não visando apenas passar de ano. Gostar de história, ter curiosidade nas coisas da botânica e escrever por escrever… pelo prazer de escrever…. viver o tempo. O tempo é breve.

♦ Chegam as outras estações: maturidade… não dizer que ama alguém quando de se ama-se a si mesmos, aproveitar os primeiros anos de casamento, dar ao prazer de sentar-se à mesa em família… olhar carinhosamente o filho mais velho que vai ser pai. O tempo é breve. E depois vem o tempo da velhice… o tempo de saborear os frutos suculentos plantados em outras estações.

♦ Precisamos viver, viver intensamente. Deus belo e bom nos inspira uma mudança interior. Segundo Jonas a Nínive foi dado o prazo de quarenta dias. Jesus fala de conversão e fé no Evangelho. Isto quer dizer que tempo da vida precisamos buscar o que nos constrói e constrói um mundo segundo coração de Deus. Famílias unidas e não fechadas. Tempo de olhar nos olhos dos outros. Tempo para fazer a experiência mais fundamental de amar e ser amado.

♦ Atravessando os caminhos da vida deixar-se encantar pela pessoa de Jesus: quando ele se retira para estar como o seu e nosso Pai na oração, quando diz o mais importante não é deixar de lavar o copo, mas lavar o próprio interior, quando tem rosto iluminado no alto da montanha, quando me chama de amigo. Viver a festa da conversão porque o tempo e breve. Mudar-se olhando o espelho que é Jesus.

♦ Marcos traz o relato do chamado dos apóstolos. “E, logo, deixando as redes, eles o seguiram”. Não demorar em responder ao convite…

♦ Não nos apegarmos ao que é passageiro: os que choram, como se não chorassem, os que compram como senão possuíssem, os que se alegram como não se alegrassem…o tempo é breve. Viver, viver em plenitude. Fazer que nosso peito cante a vida que Deus nos dá, viver sem se deixar escravizar pelo ego, viver sendo bom. O tempo é curto.


Para refletir

Ir devagar para poder ir depressa. Mesmo que a lentidão tenha perdido o estatuto nas nossas sociedades modernas e ocidentais, ela continua a ser um antídoto contra a rasura normalizadora. A lentidão ensaia uma fuga ao quadriculado; ousa transcender o meramente funcional e utilitário; escolhe mais conviver com a vida silenciosa; anota os pequenos tráficos de sentido, as trocas de sabor e as suas fascinantes minúcias, o manuseamento diversificado e tão íntimo que pode ter luz (José Tolentino Mendonça, Libertar o tempo, p.21).


Os que andam cansados de caminhar

O tempo devora o homem… Há quem esteja cansado de caminhar demais; há quem se viu repentinamente posto à margem, como detrito inútil; há os que foram lançados fora pela engrenagem social: anciãos, doentes crônicos, excepcionais, esquizofrênicos. A sociedade tecnológica não tem tempo para eles, porque não são úteis ao processo de produção. Para estes constroem-se casas de saúde, hospitais, abrigos e asilos. O importante é que não sejam estorvo. Tempo de desgosto e de tristeza para os marginalizados, os que se reconhecem um “peso”. Desejo do ancião de sair de seu meio, ou tentativas por parte da família de convencê-lo de que na casa de saúde “tudo é mais adequado a ele”: a sociedade se recusa a ser comunidade terapêutica, na qual o doente seja curado sem ser cortado do contexto social em que vive (Missal Dominical da Paulus, p.881).


Uma prece

Em certo sentido estamos sempre viajando,
e viajando como se não soubéssemos para onde vamos.
Em outro sentido já chegamos.
Não podemos alcançar a posse perfeita de Deus nesta vida;
por isso estamos viajando e nas trevas.
Mas já o possuímos pela graça e, por conseguinte, nesse sentido já chegamos e residimos na luz. Mas ó! Quão longe tenho que ir para Te encontrar, muito embora já tenha chegado a Ti (Thomas Merton).


FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

Colaborar no projeto de Jesus

José Antonio Pagola

Quando o Batista foi preso, Jesus veio para a Galileia e começou a “proclamar a Boa Notícia de Deus”. Marcos resume assim sua mensagem: “Completou-se o tempo”, já não se deve olhar para trás. “O reino de Deus está próximo’, porque ele quer construir um mundo mais humano. “Convertei-vos”, não podeis continuar como se nada estivesse acontecendo; mudai vossa maneira de pensar e de agir. “Crede nesta Boa Notícia”, pois este projeto de Deus é a melhor notícia que podeis ouvir.

Depois deste solene resumo, a primeira atuação de Jesus é buscar colaboradores para levar adiante seu projeto. Jesus vai “passando junto ao lago da Galileia”. Ele começou seu caminho. Não é um rabino sentado em sua cátedra, que busca alunos para formar uma escola religiosa. É um profeta itinerante que busca seguidores para fazer com eles um percurso apaixonante: viver abrindo caminhos para o reino de Deus. Ser discípulo de Jesus não é tanto aprender doutrinas quanto segui-lo em seu projeto de vida.

Quem toma a iniciativa é sempre Jesus. Ele se aproxima, fixa seu olhar naqueles pescadores e os chama a dar uma orientação nova à sua existência. Sem sua intervenção, não nasce nunca um verdadeiro discípulo. Nós crentes precisamos viver com mais fé a presença viva de Cristo e o olhar que ele lança sobre cada um de nós. Se não é ele, quem pode dar uma orientação nova às nossas vidas?

Por isso, o mais decisivo é escutar a partir de dentro seu chamado: “Vinde atrás de mim”. Não é tarefa de um dia. Escutar este chamado significa despertar a confiança em Jesus, reavivar nossa adesão pessoal a ele, ter fé em seu projeto, identificar-nos com seu programa, reproduzir em nós suas atitudes e viver animados por sua esperança no reino de Deus.

Este poderia ser hoje um bom lema para uma comunidade cristã: ir atrás de Jesus; colocá-lo à frente de todos; recordá-lo cada domingo como o líder que vai à nossa frente; gerar uma nova dinâmica; centrar tudo em seguir de perto Jesus Cristo. Nossas comunidades cristãs se transformariam. A Igreja seria diferente.


JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

Pescadores de gente

Pe. Johan Konings

Muitos jovens dentre aqueles que demonstram sensibilidade aos problemas dos seus semelhantes encontram-se diante de um dilema: continuar dentro do projeto de sua família ou dispor-se a um serviço mais amplo, lá onde a solidariedade o exige…

Foi um dilema semelhante que Jesus causou para seus primeiros discípulos (evangelho). Jesus estava anunciando o reinado do Pai celeste, enquanto eles estavam trabalhando na empresa de pesca do pai terrestre. Jesus os convidou a deixarem o barco e o pai e a se tornarem pescadores de gente.

O Reino de Deus precisa de colaboradores que abandonem tudo, para catarem a massa humana, que necessita o carinho de Deus. Deus quer proporcionar ao mundo seu carinho, sua graça. Não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva. Provocar tal conversão na maior cidade do mundo de então, em Nínive, tal foi a missão que Deus confiou ao “profeta a contragosto”, Jonas ( 1ª leitura). Também Jesus convida à conversão, porque o Reino de Deus chegou (Mc 1, 14-15). Para ajudar, chama pescadores de gente. Tiramos daí três considerações:

– Deus espera a conversão de todos, para que possam participar de seu reino de amor, fr justiça e de paz.

– Para proclamar a chegada do seu reinado e suscitar a conversão, o coração novo, capaz de acolhê-lo, Deus precisa de colaboradores, que façam de sua missão a sua vida, inclusive às custas de outras ocupações (honestas em si);

– Mas além dos que largam seus afazeres no mundo, também os outros – todos – são chamados a participar ativamente na construção desse Reino, exercendo o amor e a justiça em toda e qualquer atividade humana.

É este o programa da Igreja, chamada a continuar a missão de Jesus: o anúncio da vontade de Deus e de sua oferta de graça ao mundo; a vocação, formação e envio de pessoas que se dediquem ao anúncio; e a orientação de todos a participarem do Reino de Deus, vivendo na justiça e amor.

Jesus usou a experiência dos pescadores como base para elevá-los a outro nível de “pescaria”. A Igreja pode seguir o mesmo modelo: partir da experiência humana, profissional, social, cultural, para orientar as pessoas à grande pescaria. Sem essa base humana, os anunciadores parecem cair de paraquedas no mundo ao qual eles são enviados, parecem extraterráqueos. Mas se aproveitam a experiência de vida que têm, “conhecendo o mar do mundo”, poderão recolher gente para Deus. Para Paulo, ser apóstolo é fazer da própria vida um anúncio do Evangelho: “Ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9,16). Ele não faz apostolado, oito horas por dia, fim de semana livre, férias e décimo terceiro… Ele é apóstolo, “apóstolo 24 horas”. Faz até coisas que não precisaria fazer: ganhar seu pão com o próprio trabalho manual, dispensar a companhia de uma mulher etc. Faz tudo de graça, para não provocar a suspeita de proveito próprio. Porque sua maior recompensa é a felicidade de anunciar o Evangelho gratuitamente. O Evangelho é sua vida.


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella