26º Domingo do Tempo Comum
- 26º Domingo do Tempo Comum
- Leituras bíblicas deste domingo
- Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus
- Respeitar os que estão a caminho
- Um estilo de vida alternativo
- Pensamento inclusivo
- Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella
26º Domingo do Tempo Comum
Lutamos pela mesma causa
José Antonio Pagola
Frequentemente, nós cristãos não superamos uma mentalidade de religião privilegiada, que nos impede de apreciar todo o bem que se promove em âmbitos afastados da fé. Quase inconscientemente tendemos a pensar que nós somos os únicos portadores da verdade, e que o Espírito de Deus só atua através de nós.
Uma falsa interpretação da mensagem de Jesus nos levou às vezes a identificar o reino de Deus com a Igreja. De acordo com esta concepção, o reino de Deus só se realizaria dentro da Igreja, e cresceria e se estenderia na medida em que cresce e se estende a Igreja.
E, no entanto, não é assim. O reino de Deus se estende para além da instituição eclesial. Não cresce só entre os cristãos, mas entre todos aqueles homens e mulheres de boa vontade que fazem crescer no mundo a fraternidade.
De acordo com Jesus, todo aquele que “expulsa demônios em seu nome” está evangelizando. Todo homem, grupo ou partido capaz de “expulsar demônios” de nossa sociedade e de colaborar na construção de um mundo melhor está, de alguma maneira, abrindo caminho ao reino de Deus.
É fácil que também a nós, como aos discípulos, nos pareça que eles não são dos nossos, porque não entram em nossas igrejas nem assistem aos nossos cultos. No entanto, de acordo com Jesus, “quem não está contra nós está a nosso favor”.
Todos os que, de alguma maneira, lutam pela causa do homem estão conosco. “Secretamente, talvez, mas realmente, não existe um só combate pela justiça – por mais equívoco que seja seu pano de fundo político – que não esteja silenciosamente em relação com o reino de Deus, embora os cristãos não o queiram saber. Onde se luta pelos humilhados, pelos esmagados, pelos fracos, pelos abandonados, ali se combate na realidade com Deus por seu reino. Quer o saibamos ou não, ele o sabe” (Georges Crespy).
Nós cristãos precisamos valorizar com prazer todos os sucessos humanos, grandes ou pequenos, e todos os triunfos da justiça alcançados no campo político, econômico ou social, por modestos que nos possam parecer.
Os políticos que lutam por uma sociedade mais justa, os jornalistas que se arriscam para defender a verdade e a liberdade, os operários que conseguem uma maior solidariedade, os educadores que se desvelam por educar para a responsabilidade, embora nem sempre pareçam ser dos nossos, “estão a nosso favor”, porque estão trabalhando por um mundo mais humano.
Longe de acreditar-nos portadores únicos de salvação, nós cristãos precisamos acolher com alegria e com prazer essa corrente de salvação que abre caminho na história dos homens, não só na Igreja, mas também junto a ela e para além de suas instituições. Deus está atuando no mundo.
JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos
Leituras bíblicas deste domingo
Primeira Leitura: Números 11,25-29
Naqueles dias, 25 o Senhor desceu na nuvem e falou a Moisés. Retirou um pouco do espírito que Moisés possuía e o deu aos setenta anciãos. Assim que repousou sobre eles o espírito, puseram-se a profetizar, mas não continuaram. 26 Dois homens, porém, tinham ficado no acampamento. Um chamava-se Eldad, e o outro, Medad. O espírito repousou igualmente sobre os dois, que estavam na lista, mas não tinham ido à tenda, e eles profetizavam no acampamento. 27 Um jovem correu a avisar Moisés que Eldad e Medad estavam profetizando no acampamento. 28 Josué, filho de Nun, ajudante de Moisés desde a juventude, disse: “Moisés, meu senhor, manda que eles se calem!” 29 Moisés respondeu: “Tens ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito!”
Palavra do Senhor.
Sl 18(19)
A lei do Senhor Deus é perfeita, alegria ao coração.
A lei do Senhor Deus é perfeita, / conforto para a alma! / O testemunho do Senhor é fiel, / sabedoria dos humildes. – R.
É puro o temor do Senhor, / imutável para sempre. / Os julgamentos do Senhor são corretos / e justos igualmente. – R.
E vosso servo, instruído por elas, / se empenha em guardá-las. / Mas quem pode perceber suas faltas? / Perdoai as que não vejo! – R.
E preservai o vosso servo do orgulho: / não domine sobre mim! / E assim puro eu serei preservado / dos delitos mais perversos. – R.
Segunda Leitura: Tiago 5,1-6
1 E agora, ricos, chorai e gemei, por causa das desgraças que estão para cair sobre vós. 2Vossa riqueza está apodrecendo, e vossas roupas estão carcomidas pelas traças. 3 Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados, e a ferrugem deles vai servir de testemunho contra vós e devorar vossas carnes como fogo! Amontoastes tesouros nos últimos dias. 4 Vede, o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, que vós deixastes de pagar, está gritando, e o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso. 5 Vós vivestes luxuosamente na terra, entregues à boa vida, cevando os vossos corações para o dia da matança. 6 Condenastes o justo e o assassinastes; ele não resiste a vós.
Palavra do Senhor.
Quem está a favor de Jesus?
Evangelho: Mc 9,38-43.45.47-48
* 38 João disse a Jesus: «Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lhe proibimos, porque ele não nos segue.» 39 Jesus disse: «Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. 40 Quem não está contra nós, está a nosso favor. 41 Eu garanto a vocês: quem der para vocês um copo de água porque vocês são de Cristo, não ficará sem receber sua recompensa.
* 42 E se alguém escandalizar um destes pequeninos que acreditam, seria melhor que ele fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço. 43 Se a sua mão é ocasião de escândalo para você, corte-a. É melhor você entrar para a vida sem uma das mãos, do que ter as duas mãos e ir para o inferno, onde o fogo nunca se apaga. 45 Se o seu pé é ocasião de escândalo para você, corte-o. É melhor você entrar para a vida sem um dos pés, do que ter os dois pés e ser jogado no inferno. 47 Se o seu olho é ocasião de escândalo para você, arranque-o. É melhor você entrar no Reino de Deus com um olho só, do que ter os dois olhos e ser jogado no inferno, 48 onde o seu verme nunca morre e o seu fogo nunca se apaga.
* 38-41: Jesus não quer que o grupo daqueles que o seguem se torne seita fechada e monopolizadora da sua missão. Toda e qualquer ação que desaliena o homem é parte integrante da missão de Jesus.
* 42-50: Pequeninos são os pobres e fracos que esperam confiantes uma sociedade fraterna e igualitária. Eles ficariam escandalizados se os seguidores de Jesus andassem à busca de poder e formassem casta privilegiada. Isso seria trair a missão de Jesus, mal que deve ser cortado pela raiz.
Bíblia Sagrada – Edição Pastoral
Reflexão do exegeta Frei Ludovico Garmus
26º Domingo do Tempo Comum
Oração: “Ó Deus, que mostrais vosso poder sobretudo no perdão e na misericórdia, derramai sempre em nós a vossa graça, para que, caminhando ao encontro das vossas promessas, alcancemos os bens que nos reservais”.
- Primeira leitura: Nm 11,25-29
Tens ciúmes por mim?
Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta.
O texto que ouvimos retoma a questão da partilha do poder como serviço, em vista do bem do povo (Ex 18,13-27). Na caminhada pelo deserto, o povo queixava-se que no Egito tinham alimentos em abundância e no deserto, apenas o maná. Moisés, cansado de ouvir as reclamações, recorre a Deus. Não queria mais bancar a babá do povo, que não era seu, mas de Deus. Em resposta, na leitura de hoje Deus manda escolher 70 homens, líderes do povo, para ajudá-lo. Moisés convocou os 70 anciãos e colocou-os em volta da tenda de reunião. Deus retirou um pouco do espírito de Moisés e o deu aos anciãos. Então eles começaram a profetizar, mas logo pararam. Enquanto isso acontecia na tenda, dois homens estavam profetizando no acampamento, fora da tenda. Josué, servo e possível sucessor de Moisés, protestou porque eles não estiveram na tenda de reunião entre os 70. E Moisés respondeu: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta”.
O relato mostra que o espírito não é monopólio de Moisés, e sim um dom de Deus, parte do qual ele retira e dá aos anciãos. O espírito de Deus não pode ser monopolizado pelo poder humano, nem por Moisés, nem pelo grupo dos setenta. O espírito do Senhor é como o vento, sopra onde e quando quer. O espírito é um dom de Deus, um carisma partilhado como serviço para o bem de todo o povo. O dom de Deus é concedido não para dividir, mas para unir a comunidade. Paulo diz muito bem que os dons do Espírito unificam a Igreja num só corpo, pelo vínculo do amor (cf. 1Cor 12–13). Uma Igreja fechada em sua tenda apaga o espírito (Evangelho).
Salmo responsorial: Sl 18
A lei do Senhor Deus é perfeita, conforto para a alma.
- Segunda leitura: Tg 5,1-6
Vossa riqueza está apodrecendo.
Tiago já havia criticado a discriminação entre ricos e pobres na comunidade cristã (2,1-5). Na leitura deste domingo, mais uma vez, tece duras críticas contra alguns cristãos ricos de seu tempo. Para esses anuncia o juízo de Deus iminente: De que serve o acúmulo de bens se a riqueza vai apodrecer, as roupas luxuosas serão carcomidas pelas traças, o ouro e a prata irão enferrujar? E denuncia a riqueza amontoada à custa de salários não pagos, a justiça que se vende e acaba condenando os pobres à morte. Enfim, um cristão rico, que se fecha em suas riquezas, não vive a proposta do reino de Deus, pregada por Jesus: “Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6,24). E Lucas diz: “Como é difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus” (Lc 18,24)! Entrar no reino de Deus, seguir a Jesus Cristo como discípulo, exige arrancar o “olho grande” para as riquezas e cego para com os pobres (evangelho). É um convite para olharmos os pobres com os olhos de Jesus. Bilhões de dólares viram cinza no jogo especulativo das bolsas. A riqueza não partilhada com os pobres vira pó e cinza.
Aclamação ao Evangelho:
Vossa Palavra é verdade, orienta e dá vigor;
na verdade santifica vosso povo, ó Senhor!
- Evangelho: Mc 9,38-43.45.47-48
Quem não é contra nós é a nosso favor.
Se tua mão te leva a pecar, corta-a!
Domingo passado, Jesus explicava aos discípulos que sua missão como Messias era a do Servo Sofredor. Não veio para ser servido e cortejado como rei, mas para servir aos mais pobres e dar a vida por todos. Enquanto isso, os discípulos discutiam quem deles seria o maior no reino, em Jerusalém. Jesus lhes ensinou que o maior deve tornar-se o menor, colocar-se a serviço dos pobres e necessitados. Deve acolher a todos, especialmente os pequenos e pobres, como Jesus fazia, ao abraçar uma criança.
Parece que os discípulos ainda não haviam entendido a mensagem de Jesus. Porque no evangelho de hoje, João avisa a Jesus que alguém, não pertencente ao grupo, estava expulsando demônios em seu nome. “Nós o proibimos”, informava João com certo orgulho. – Quem era João e por que protesta? João e seu irmão Tiago queriam os primeiros lugares ao lado de Jesus, no futuro reino em Jerusalém. Pedro, Tiago e João eram os mais achegados a Jesus. Estão com ele na Transfiguração, no jardim de Getsêmani e quando ressuscita a filha do chefe da sinagoga (Mc 5,35-43). João queria manter o controle de fazer o bem (milagres) como privilégio do grupo dos apóstolos. – Jesus responde: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor”. Fazer milagres em nome de Jesus é fazer o bem aos necessitados, sem buscar vantagens pessoais. Jesus significa “Deus salva”, aquele que salva a vida das pessoas. Todas as pessoas que fazem o bem ao próximo, mesmo não cristão, agem como Jesus, mostrando a face bondosa de Deus Pai. Nos ditos seguintes, Jesus esclarece que até um copo d’água que um pagão dá ao um cristão terá sua recompensa. Por outro lado, quem escandaliza (leva a pecar) um cristão (“os pequeninos que creem”) – seja ele pagão ou cristão – não merece participar da Vida. Para entrar na Vida pelo caminho de Cristo é preciso cortar/podar tudo que nos leva a pecar e nos desvia do seguimento de Jesus (2ª leitura).
FREI LUDOVICO GARMUS, OFM, é professor de Exegese Bíblica do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ). Fez mestrado em Sagrada Escritura, em Roma, e doutorado em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém, do Pontifício Ateneu Antoniano. É diretor industrial da Editora Vozes e editor da Revista “Estudos Bíblicos”, editada pela Vozes. Entre seus trabalhos está a coordenação geral e tradução da Bíblia Sagrada da Vozes.
Respeitar os que estão a caminho
Frei Clarêncio Neotti
Outra qualidade do discípulo: não agir à espera de recompensa. Nem recompensa dos homens nem recompensa de Deus. Uma lição difícil para o mundo de hoje, que raramente conhece a gratuidade do fazer. Todos devemos ter um coração agradecido. Se o temos, sabemos retribuir os benefícios que recebemos. Mas quem presta auxílio não deve fazê-lo, esperando recompensa ou pela vaidade de acumular méritos ou de ter crédito. O Antigo Testamento desenvolveu toda uma teologia da recompensa. Jesus não a segue, mas nos diz que somos servos de todos. Servos que Deus, por amor, elevou a filhos seus. E a Deus cabe recompensar (v. 41), não na medida de nosso crédito, mas na medida de sua misericórdia. Um copo d’água pode valer tanto quanto ou mais que uma fortuna.
Outra qualidade: o respeito pelos que estão ainda a caminho da fé. Os judeus eram extremados nesse ponto: evitavam qualquer contato com pagãos e pecadores. Não só evitavam, mas manifestavam desprezo. Aos que ainda não têm fé Jesus chama carinhosamente de “pequeninos” (v. 42). O bom discípulo não deve ‘escandalizá-los’. (Há traduções que falam em ‘corromper’, ‘levar ao pecado’) A palavra ‘escândalo’, na Bíblia, não tem o sentido sensacionalista que tem hoje. Está ligada a ‘tombo’, ‘queda provocada por um tropeço’. O discípulo de Jesus respeita os fracos na fé, serve-lhes de apoio, faz-se ‘luz’, isto é, salvação para eles.
FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFM, entrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.
Um estilo de vida alternativo
Frei Almir Guimarães
Mais uma reunião nossa dia do Senhor, no domingo, o dia do sol. O Ressuscitado marca encontro conosco uma vez por semana. Manifesta seu carinho e as palavras do Evangelho proferidas na liturgia parece que estão saindo de seus lábios e nos atingem lá onde começa no eu mais profundo.
Marcos fala da maneira como podemos entrar na vida, ou seja, na plenitude de nossos dias e também num estado definitivo de comunhão com aquele que nos tirou do nada e nos fez e faz viver. Entrar na vida… melhor entrar sem uma mão, um pé ou um olho. Ingenuidade tomar estas palavras ao pé da letra. É evidente que Jesus está querendo dizer que aqueles que querem ser colaboradores do Reino Novo, reino de fraternidade, atenções mútuas serão os que usam mãos, pés e olhos de uma forma transparentemente bela. O que está em jogo é o verdadeiro sucesso de cada um na aventura de viver. Resumindo, trata-se de usar nossos membros de maneira generosa e correta, construindo um mundo novo.
José Antonio Pagola assim explica esta perícope:
♦ Mão: símbolo da atividade e do trabalho. Jesus usa suas mãos para abençoar, curar e tocar os excluídos. Melhor corta as mãos quando são usadas para ferir, submeter, humilhar. Melhor cortar a mão em tais situações. Claro, uma metáfora.
Pés: correspondem a nossos deslocamento rumo aos outros. Podem causar danos se nos levam a espaços onde não podemos servir ou continuarmos com nossa banalidade de existir. Jesus caminha ao encontro das pessoas. Os pés causam dano se nos levam a espaços de destruição.
♦ Olhos: representam desejos e aspirações das pessoas. Olhar as pessoas com atenção, carinho, atenção, acolhedoramente. Não olhar apenas para satisfazer seus pequenos interesses.
Trata-se em resumo de fazer claras opções por Jesus. Se assim não for seremos seres medíocres até o fim e haveremos de perder a chance de viver e de viver de verdade.
O Evangelho coloca sempre diante de nós caminhos alternativos. Marcus Borg, um dos mais conhecidos investigadores da figura de Jesus, designa-o de “mestre de uma sabedoria subversiva”. Alberto de Migno lembra que essas palavras fortes de Jesus não perderam sua força. Os valores que propõe estão na contramão do chamam valores o mercado e o mundo do consumismo. E, no entanto, os valores propostos por Jesus são capazes de levar o ser humano ao máximo desenvolvimento, embora, à primeira vista pareçam desconcertantes: o perdão diante da violência, partilhar em vez de acumular; olhar com carinho e não desprezar; cooperar em vez de competir; ser austeros e não consumistas; amar sem esperar retorno; dar a vida em vez de querer desfrutar até a última gota.
Pedro José Gómez Serrano falando do estilo alternativo que Jesus propõe ao seus para o sucesso mais profundo de sua existência: “Não falamos da felicidade de passar bem na vida, nem da alegria que nos proporcionam êxitos pessoais ou falta de conflito; mas a que nasce de sentir-se profundamente amados e ter uma existência que espalha vida e alegria à sua volta”.
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.
Pensamento inclusivo
Pe. Johan Konings
A cristandade tradicional caracterizava-se por atitudes exclusivistas. Só a Igreja católica estava certa… Dizia-se que quem morre fora da Igreja católica vai ao inferno. (Deveria ser mandado ao inferno quem fala assim…)
O evangelho conta um episódio que nos ensina o contrário. Os discípulos ficam nervosos porque alguém anda expulsando demônios no nome de Jesus, sem fazer parte do grupo deles. Naquele tempo, todo tipo de tratamento sugestivo estava na moda, como hoje. Visto que Jesus era o sucesso do momento, alguns que não eram de seu grupo usavam seu nome para expulsar uns demoniozinhos. Que mal havia nisso? Nenhum, mas os discípulos queriam direitos autorais!
A liturgia ilustra o problema com outro episódio. O povo de Israel andando pelo deserto, o Espírito desce sobre a assembleia dos anciãos. Mas dois não foram à assembleia e receberam o Espírito assim mesmo. Os outros reclamam. Então, Moisés responde: “Oxalá todo o povo de Deus profetizasse e Deus infundisse a todos o seu espírito” (1ª leitura).
Nem todos os cristãos são tão mesquinhos assim que pretendem reservar para a própria agremiação os dons de Deus. Desde o Humanismo, bem antes do Concílio Vaticano II, os educadores cristãos ensinavam que os pagãos Platão e Virgílio eram profetas, pois anunciaram coisas que, depois, se verificaram em Jesus. Houve até quem chamasse Karl Marx de profeta (com menos mérito, pois viveu bem depois de Jesus e repetiu muita coisa que Jesus e a Bíblia disseram antes dele…). As coisas boas que esses pagãos falaram não deixaram de ser um testemunho a favor de Jesus.
“Quem não é contra nós está em nosso favor” (Mc 9,40). Esta é a lição (Jesus disse também: “Quem não está comigo é contra mim”, Mt 12,30, mas isso, em caso de conflito e perseguição).
O nome de Jesus representa o Reino do Pai. O nome de Jesus se liga a uma realidade nova, a vontade de Deus. “Ninguém que faz milagres em meu nome poderá logo depois sair falando mal de mim” (Mc 9,39). Por tudo aquilo que ele disse e fez, pelo dom da própria vida, Jesus ligou a seu nome a nova realidade que se chama o “Reino de Deus”. Quem consegue usar o nome de Jesus como força positiva certamente colabora de alguma maneira com o Reino.
Não é preciso ser católico batizado para colaborar com os valores do evangelho. Os primeiros missionários no Brasil ficaram cheios de admiração porque os índios pagãos pareciam ter mais valores evangélicos que os colonos portugueses escravocratas. O testemunho do evangelho pode existir fora da comunidade cristã, e nós devemos alegrar-nos por causa disso.
Então, em vez de dizer que fora da Igreja não há salvação, vamos dizer: tudo o que salva expande o que esamos fazendo na Igreja. Pensamento inclusivo.
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.
Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella