Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Japão e à Tailândia

PAPA FRANCISCO NO JAPÃO E NA TAILÂNDIA

Uma coisa feia é a hipocrisia ‘armamentista’

 

“O uso das armas nucleares é imoral, por isso deve ser introduzido no Catecismo da Igreja Católica (CIC), e não somente o uso, mas também a posse, porque um acidente, ou a loucura de algum governante, a loucura de um pode destruir a humanidade”. No diálogo durante o voo que de Tóquio o trazia de volta para Roma, o Papa Francisco respondeu às muitas perguntas dos jornalistas a bordo, reiterando a forte condenação pronunciada em Hiroshima no sentido de fazer compreender o seu valor magisterial. 

“Agradeço a vocês pelo trabalho – disse o Papa no início do encontro –, por uma viagem intensa com uma mudança de categoria: uma coisa era a Tailândia e outra o Japão. Não se pode avaliar as coisas com as mesmas categorias, as realidades devem ser avaliadas com aquilo que provém da categoria em questão. Japão e Tailândia são duas realidades completamente diferentes. Por isso é necessário o trabalho dobrado, e obrigado a vocês por isso, também pelos dias muito intensos, eu me senti próximo de vocês neste trabalho.”

Padre Makoto Yamamoto, Catholic Shimbum

Nós agradecemos ao senhor de coração por ter vindo de muito distante ao Japão. Sou sacerdote diocesano próximo de Nagasaki. O senhor visitou Nagasaki e Hiroshima, como se sentiu? A sociedade e a Igreja ocidental têm algo a aprender da sociedade e da Igreja oriental?

Papa Francisco: “Começo pela última. Um dito me iluminou muito: lux ex Oriente, ex Occidente luxus. A luz vem do Oriente, o luxo, o consumismo vem do Ocidente. Há essa sabedoria oriental, que não é sabedoria somente de conhecimento, mas de tempos, de contemplação. Ajuda muito à nossa sociedade ocidental – sempre demasiadamente às pressas – aprender a contemplação, a deter-se e olhar as coisas também poeticamente. Essa é uma opinião pessoal, mas creio que falte ao Ocidente um pouco de poesia a mais. Há coisas poéticas belíssimas, mas o Oriente vai além. O Oriente é capaz de ver as coisas com olhos que vão além, não gostaria de usar a palavra ‘transcendental’ porque alguns religiosos orientais não acenam à transcendência, mas a uma visão além do limite da imanência, sem porém dizer transcendência. Por isso uso expressões como poesia, gratuidade, a busca da própria perfeição no jejum, nas penitências, na leitura da sabedoria dos sábios orientais. Creio que fará bem a nós, ocidentais, parar um pouco e dar tempo à sabedoria.

Nagasaki e Hiroshima ambas sofreram a bomba atômica, e isso as faz assemelhar-se. Mas há uma diferença. Nagasaki não teve somente a bomba, mas também os cristãos. Nagasaki tem raízes cristãs, o cristianismo é antigo, havia perseguição aos cristãos em todo o Japão, mas em Nagasaki foi muito forte. O secretário da Nunciatura me presenteou um fac-símile em madeira onde está escrito o “wanted” daquele tempo: procuram-se cristãos! Se você encontrar um, o denuncie e será bem compensado, se encontrar um sacerdote, o denuncie e será bem compensado. Isso impressiona, foram séculos de perseguições, esse é um fenômeno cristão que de certo modo ‘relativiza’, no sentido bom da palavra, a bomba atômica. Ao invés, ir a Hiroshima é somente para (recordar, ndr) a bomba atômica, porque não é uma cidade cristã como Nagasaki. Por isso, eu quis ir a ambas, e em ambas houve o desastre atômico. Hiroshima foi uma verdadeira catequese humana sobre a crueldade. Não pude ver o museu de Hiroshima por motivos de tempo, porque foi um dia difícil (devido ao ritmo intenso, ndr), mas dizem que é terrível: cartas dos Chefes de estado, dos generais que explicavam como se podia fazer um desastre maior. Para mim foi uma experiência muito mais comovente. E ali reiterei que o uso das armas nucleares é imoral, por isso deve ser introduzido no Catecismo da Igreja Católica, e não somente o uso, mas também a posse, porque um acidente, ou a loucura de algum governante, a loucura de um pode destruir a humanidade. Pensemos naquele dito de Einstein: ‘A quarta guerra mundial será combatida com paus e pedras’.”

Shinichi Kawarada, The Asahi Shimbum

Como o senhor justamente indicou, não se faz uma paz duradoura sem um desarmamento. O Japão é um país que goza da proteção nuclear dos EUA, e é também produtor de energia nuclear, o que comporta um grande risco como aconteceu em Fukushima. Como o Japão pode contribuir para a paz mundial? As centrais nucleares deveriam ser desativadas?

“Volto a falar sobre a posse de indústrias nucleares. Sempre pode acontecer um acidente, o tríplice desastre (o terremoto, o tsunami e o desastre nuclear da central de Fukushima em 2011, ndr), vocês o experimentaram. O nuclear é o limite, devemos abandonar as armas porque elas são destruição. O uso do nuclear está muito no limite porque ainda não alcançamos uma segurança total. Você poderia me dizer que também com a energia elétrica se pode provocar um desastre por uma insegurança, mas seria um pequeno desastre. O desastre de uma central nuclear será um grande desastre. E a segurança ainda não foi elaborada. É uma opinião pessoal, eu não usaria a energia nuclear enquanto não houver uma segurança total sobre sua utilização. Alguns dizem que é um risco para a custódia da criação e que a energia nuclear deve ser suspensa. Eu me detenho sobre a segurança. Não há asseguração para garantir a impossibilidade de um acidente. Sim, um a cada dez anos no mundo. Além disso há a criação, o desastre da potência nuclear sobre a criação, sobre a pessoa. Houve o acidente na Ucrânia, (em Chernobyl, 1986, ndr). Devemos pesquisar sobre a segurança, quer para evitar acidentes, quer para as consequências sobre o ambiente. Sobre o ambiente creio que fomos além do limite, na agricultura com os pesticidas, na criação de frangos com os médicos que orientam as mães a não dar às crianças para comer aqueles frangos de criação porque são criados com os hormônios e fazem mal à saúde. Muitas doenças raras que hoje existem devido ao mau uso do ambiente. A custódia do ambiente é uma coisa que ou se faz hoje ou nunca mais. Mas voltando à energia nuclear: construção, segurança e custódia da criação.”

Elisabeth Zunica , Kyoto News

Akamada Iwao é um japonês condenado à morte, à espera da revisão do processo. Estava presente na missa na Tóquio Dome, mas não teve como falar com o senhor. Estava programado um breve encontro com o senhor? O tema da pena de morte é muito discutido no Japão. Pouco antes da reforma do Catecismo sobre este tema foram executadas treze condenações à morte. Em seus discursos não há uma referência a essa questão. O senhor falou sobre isso com o premier Shinto Abe?

Papa: “Sobre aquele caso de pena de morte, eu fiquei sabendo depois, não sabia daquela pessoa. Falei com o primeiro-ministro sobre muitos problemas, sobre processos, condenações eternas que jamais acabam, quer com a morte, quer sem ela. Mas falei de problemas gerais, que existem também em outros países: os cárceres superlotados, as pessoas que aguardam com uma prisão preventiva sem presunção de inocência. Quinze dias atrás fiz um pronunciamento para o Simpósio Internacional de Direito Penal e falei sobre esse tema. Não se pode utilizar a pena de morte, não é moral. Isso deve ser unido a uma consciência que se desenvolve. Por exemplo, alguns países não podem aboli-la por problemas políticos, mas fazem uma suspensão que é um modo de dar a prisão perpétua sem declará-la. Mas a condenação deve ser sempre para a reinserção, uma condenação sem janelas de horizonte não é humana. Também para a prisão perpétua se deve pensar sobre como o condenado possa se reinserir, dentro ou fora. O senhor me dirá: mas há condenados por um problema de loucura, doença, incorrigibilidade genética… Então é preciso buscar o modo a fim de que desempenhem atividades que lhes façam sentir-se pessoas. Em muitas partes do mundo os cárceres estão superlotados, são depósitos de carne humana, que ao invés de crescer de modo salutar muitas vezes se corrompe. Devemos lutar contra a pena de morte lenta. Existem casos que me dão alegria porque há países que dizem: nós paramos por aqui. Um governador de um Estado no ano passado, antes de deixar o encargo, fez a suspensão quase definitiva: são passos de uma consciência humana. Mas alguns países ainda não conseguiram incorporar-se nessa linha de humanidade.”

Jean-Marie Guénois, Le Figaro

O senhor disse que a paz verdadeira pode ser somente desarmada, mas o que acontece com a legítima defesa, quando um país é atacado por outro? Existe ainda a possibilidade de uma guerra justa? Ainda está em projeto uma encíclica sobre a não-violência?

Papa: “Um projeto, o próximo Papa o fará… Há projetos que estão na gaveta. Um sobre a paz está lá, está amadurecendo. Sinto que quando for o momento o farei. Por exemplo, o problema do bullyng é um problema de violência, falei sobre isso aos jovens japoneses. É um problema que estamos buscando resolver com muitos programas educacionais. É um problema de violência. Uma encíclica sobre a não-violência ainda não a vejo amadurecida, devo rezar muito e devo buscar o caminho. Há aquele dito romano: Si vis pacem para bellum. Aí não fomos maduros, as organizações internacionais não conseguem, as Nações Unidas não conseguem, fazem muitas mediações meritórias, país como a Noruega sempre está disposto a mediar, me apraz, mas é pouco, é preciso fazer ainda mais. Pense no Conselho de Segurança da ONU, se há um problema com as armas e todos estão de acordo para resolver aquele problema para evitar um incidente bélico, todos votam sim, um com direito de veto vota não e tudo se bloqueia. Não sei julgar se é bom ou não, é uma opinião que ouvi, mas talvez as Nações Unidas deveriam dar um passo avante renunciado no Conselho de Segurança ao direito de veto que algumas nações têm. Ouvi isso como uma possibilidade. No equilíbrio mundial há temas que neste momento não sou capaz de julgar. Porém, tudo aquilo que se pode fazer para deter a produção das armas, para favorecer a negociação, com a ajuda dos facilitadores, isso se deve fazer sempre, e dá resultados. Por exemplo, no caso da Ucrânia-Rússia, não se fala de armas, houve a negociação para a troca de prisioneiros, isso é positivo. No Donbass se pensa numa planificação de um regime governamental diferente, estão discutindo sobre isso. Esse é um passo positivo. Uma coisa feia é a hipocrisia ‘armamentista’. Países cristãos, países europeus que falam de paz e vivem das armas, isso é hipocrisia, uma palavra evangélica, Jesus fala sobre isso no capítulo 23 de Mateus: é preciso acabar com essa hipocrisia. É preciso a coragem de dizer: ‘Não posso falar de paz, porque a minha economia lucra muito com as armas’. São todas coisas sobre as quais se falar como irmãos, em prol da fraternidade humana, sem insultar e sem macular esse ou aquele país: paremos rapaziada, porque a coisa não é boa. Num porto chegou de um país uma embarcação que deveria passar as armas a outra embarcação para ir para o Iêmen, e os trabalhadores do porto disseram ‘não’. Fizeram bem e a embarcação voltou para seu lugar de partida. É um caso, mas nos ensina como se deve seguir nessa direção. Hoje a paz é muito frágil, mas não se deve desencorajar-se. A hipótese da legítima defesa permanece sempre, mesmo na teologia moral é contemplada, mas como último recurso. Último recurso às armas. A legítima defesa deve ser feita com a diplomacia, com as mediações. Ultimo recurso: legítima defesa com as armas. Mas ressalto: último recurso! Nós seguimos avante num progresso ético que me agrada, ao colocar em questão toda essas coisas. Isso é bonito porque diz que a humanidade segue adiante com o bem, não somente com o mal.”

Cristiana Caricato, TV 2000
As pessoas leem nos jornais que a Santa Sé comprou imóveis que custaram milhões no centro de Londres e fica um pouco espantada com esse uso das finanças do Vaticano, em particular quando está envolvido o Óbolo de São Pedro. O senhor sabia dessas transações financeiras e, sobretudo, na sua opinião, o uso do Óbolo está correto? O senhor disse várias vezes que não se deve ganhar dinheiro com dinheiro, denunciou o uso sem escrúpulo das finanças, mas depois vemos que essas operações também envolvem a Santa Sé, e isso escandaliza. Como o senhor vê toda essa história?

Papa: «Obrigado. Primeiramente, a boa administração normal: chega a soma do Óbolo de São Pedro. O que eu faço, coloco na gaveta? Não, isso é má administração! Procuro fazer um investimento e quando preciso doar, quando há necessidade, em um ano, pega-se (o dinheiro, ndr) e esse capital não se desvaloriza, se mantém ou cresce um pouco. Esta é uma boa administração. A administração da gaveta é má. Mas é preciso buscar uma boa administração, um bom investimento. Está claro? Um investimento como dizemos, “das viúvas”, como fazem as viúvas: dois ovos aqui, três ali, cinco acolá. Se um cai, há outro, não se arruína. Sempre seguro e moral. Se você faz um investimento do Óbolo de São Pedro na fábrica de armamentos, o Óbolo não será Óbolo ali. Se você faz um investimento e durante anos não mexe no capital, não é bom. O Óbolo de São Pedro deve ser gasto em um ano, um ano e meio, até que chegue a outra coleta que se faz mundialmente. Isso é boa administração: com segurança. Pode-se comprar também uma propriedade, alugá-la e depois vendê-la, mas com segurança, com todas as seguranças para o bem das pessoas do Óbolo. Depois, aconteceu o que aconteceu, um escândalo: fizeram coisas que não pareciam limpas, mas a denúncia não veio de fora. A reforma da metodologia econômica que começou com Bento XVI foi adiante e foi o Revisor das contas internas quem disse: aqui há algo ruim, aqui tem coisa que não funciona. Veio até mim e eu lhe disse: O senhor está seguro? Sim. Respondeu-me. Mostrou-me e me perguntou: O que devo fazer? Eu disse: Existe a justiça vaticana. Vai e faça a denúncia ao Promotor de Justiça. E fiquei contente por isso porque se vê que a administração vaticana agora tem recursos para esclarecer as coisas ruins que aconteceram dentro, como neste caso, que se não é o caso do imóvel de Londres, porque isso ainda não está claro, ali havia casos de corrupção. O Promotor de Justiça estudou a questão, fez consultorias e viu que havia um desequilíbrio no orçamento. Depois, pediu-me permissão para fazer as investigações: há um pressuposto de corrupção e me disse que que ele tinha que fazer investigação nesta, naquela e naquela outra repartição. Eu assinei a autorização. A investigação foi realizada em cinco escritórios e hoje, embora exista a suposição de inocência, existem capitais que não são bem administrados, também com a corrupção. Acredito que em menos de um mês terão início os interrogatórios das cinco pessoas que foram bloqueadas porque houve indícios de corrupção. Você poderá me dizer: esses cinco são corruptos? Não, a suposição de inocência é uma garantia, um direito humano. Mas há corrupção, se vê. Com as investigações veremos se são culpados ou não. É uma coisa feita. Não é bonito que isso aconteça no Vaticano. Mas foi esclarecido pelos mecanismos internos que começam a funcionar e que o Papa Bento tinha começado a fazer. Por isso, eu agradeço a Deus. Não agradeço a Deus porque há corrupção, mas agradeço a Ele porque o sistema de controle vaticano funciona bem».

Philip Pullella, Reuters

Há preocupação nas últimas semanas com aquilo que está acontecendo nas finanças do Vaticano e, na opinião de alguns, há uma guerra interna sobre quem deve controlar o dinheiro. A maior parte dos membros do Conselho de administração da AIF (Autoridade de Informação Financeira, ndr) se demitiu. Egmont, que é o grupo dessas autoridades financeiras, suspendeu o Vaticano das comunicações seguras depois do ataque de 1º de outubro. O diretor da AIF foi suspenso, como o senhor disse, e ainda não há um revisor-geral. O que o senhor pode fazer ou dizer para garantir à comunidade financeira internacional e aos fiéis chamados a contribuir ao Óbolo que o Vaticano não voltará a ser considerado um paria a ser excluído, do qual não confiar, e que as reformas continuarão e que não se voltará aos hábitos do passado?

Papa: «O Vaticano fez progressos na sua administração: por exemplo, o IOR hoje é aceito por todos os bancos e pode agir como os bancos italianos, algo que um ano atrás não existia, houve progressos. Depois, sobre o grupo Egmont: é algo não oficial internacional, é um grupo de membros da AIF, e o controle internacional não depende do grupo Egmont, que é um grupo privado, mesmo que tenha o seu peso. Monyeval fará a inspeção programada para os primeiros meses do ano próximo, será feita. O diretor da AIF foi suspenso porque havia suspeitas de uma gestão não eficiente. O presidente da AIF se esforçou com o grupo Egmont para recuperar a documentação (sequestrada, ndr) e isso a justiça não pode fazê-lo. Diante disto, consultei um magistrado italiano, importante: que devo fazer? A justiça diante de uma acusação de corrupção é soberana num país, ninguém pode interferir lá dentro, ninguém pode dar os papéis ao grupo Egmont. Devem ser estudados os documentos que fazem emergir aquilo que parece uma má administração, no sentido de um controle mal feito: parece que a AIF que não controlou os delitos dos outros. O seu dever era controlar. Eu espero que se prove que não é assim, agora há a presunção de inocência. Mas, no momento, o magistrado é soberano e deve estudar como as coisas aconteceram; do contrário, um país teria uma administração superior que prejudicaria a sua soberania. O presidente da AIF terminaria no dia 19 (novembro, ndr), eu o chamei alguns dias antes e ele não se deu conta, disse-me depois. E anunciei que no dia 19 ele deixava. Já encontrei o sucessor, um magistrado de altíssimo nível jurídico e econômico nacional e internacional, e na minha volta assumirá o cargo da presidência da AIF. Seria um contrassenso que a autoridade de controle fosse soberana acima do Estado. É algo não fácil de entender. O que um pouco prejudicou foi o grupo Egmont, que é um grupo privado: ajuda muito, mas não é a autoridade de controle de Moneyval. Moneyval estudará os números, estudará os procedimentos, estudará como agiu o promotor de justiça e como o juiz e os juízes determinaram a coisa. Eu sei que nesses dias começará o interrogatório de algumas das cinco pessoas que foram suspensas. Não é fácil, mas não devemos ser ingênuos, não devemos ser escravos. Alguém me disse, mas eu não acredito: com o fato de que tocamos o grupo Egmont, as pessoas se assustam e está sendo feito um pouco de terrorismo (psicológico, ndr). Vamos deixar isso de lado. Nós vamos avante com a lei, com Moneyval, com o novo presidente da AIF. E o diretor foi suspenso: espero que seja inocente, eu gostaria, porque é algo belo que uma pessoa seja inocente e não culpada, eu espero. Mas foi feito um pouco de barulho com este grupo que não queria que fossem tocados os documentos que pertenciam ao grupo.
É a primeira vez no Vaticano que a panela é destampada a partir de dentro, não de fora. De fora tantas vezes (isso aconteceu, ndr). Isso nos foi dito tantas vezes e nós com tanta vergonha… Mas o Papa Bento foi sábio, começou um processo que amadureceu, amadureceu e agora existem as instituições. Que o revisor tenha tido a coragem de fazer uma denúncia escrita contra cinco pessoas está funcionando… Realmente, não quero ofender o grupo Egmont, porque promove tanto bem, ajuda, mas neste caso a soberania do Estado é a justiça, que é mais soberana que o poder executivo. Não é fácil de entender, mas lhes peço que entendam».

Roland Juchem, CIC

Santo Padre, no voo de Bangcoc a Tóquio, o senhor enviou um telegrama a Carrie Lam de Hong Kong. O que o senhor acha da situação ali, com as manifestações e as eleições municipais? E quando podemos acompanhá-lo a Pequim?

Papa: “Os telegramas são enviados a todos os Chefes de Estado, é uma coisa automática de saudação e é também uma forma educada de pedir permissão para sobrevoar o seu território. Isto não significa condenação ou apoio. É uma coisa mecânica que todos os aviões fazem quando tecnicamente entram, avisam que estão entrando, e nós o fazemos com cortesia. Isto não tem nenhum valor no sentido da sua pergunta, tem apenas valor de cortesia. Sobre a outra coisa que o senhor me disse: se pensamos nisso, não é só Hong Kong. Pense no Chile, pense na França, na democrática França: um ano de coletes amarelos. Pense na Nicarágua, pense em outros países latino-americanos que têm problemas do gênero e também em alguns países europeus. É uma coisa geral. O que faz a Santa Sé com isto? Apela ao diálogo, à paz, mas não é só Hong Kong, há várias situações com problemas que não sou capaz de avaliar neste momento. Eu respeito a paz e peço paz para todos estes países que têm problemas, incluindo a Espanha. Convém relativizar as coisas e apelar ao diálogo, à paz, para que se resolvam os problemas. E finalmente: Eu gostaria de ir a Pequim, eu amo a China”.

Valentina Alazraki, Televisa

Papa Francisco, a América Latina está em chamas. Vimos depois da Venezuela e do Chile imagens que não pensávamos ver depois de Pinochet. Vimos a situação na Bolívia, na Nicarágua ou em outros países: revoltas, violência nas ruas, mortes, feridos, igrejas até queimadas, violadas. Qual é a sua análise do que está ocorrendo nestes países? A Igreja e os senhor, pessoalmente, como Papa latino-americano, estão fazendo alguma coisa?

Papa: “Alguém me disse isto: é preciso fazer uma análise. A situação hoje na América Latina se parece com a de 1974-1980, no Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai com Strössner, e creio também Bolívia… eles tinham a Operação Condor naquele momento… Uma situação em chamas, mas eu não sei se é um problema que se parece ou é outro. Realmente neste momento eu não sou capaz de fazer a análise disso. É verdade que não existem precisamente declarações de paz. O que está ocorrendo no Chile assusta-me, porque o Chile está saindo de um problema de abusos que causou tanto sofrimento e agora um problema deste tipo que não compreendemos bem. Mas está em chamas, como a senhora disse, e temos de procurar o diálogo e também a análise. Ainda não encontrei uma análise bem feita da situação na América Latina e também há governos fracos, muito fracos, que não conseguiram colocar ordem e paz, e é por isso que chegamos a essa situação”.

Valentina Alazraki, Televisa

Evo Morales pediu a sua mediação, por exemplo. Coisas concretas…

“Sim, coisas concretas. A Venezuela pediu mediação e a Santa Sé sempre se mostrou disponível. Há uma boa relação, realmente uma boa relação, estamos lá presentes para ajudar quando é necessário. A Bolívia fez algo assim e fez um pedido às Nações Unidas que enviaram delegados, e até também alguém das nações europeias. Não sei se o Chile fez algum pedido de mediação internacional, o Brasil certamente não, mas ali também há problemas. É um pouco estranho, mas não quero dizer uma palavra a mais porque sou incompetente e não estudei bem e sinceramente não entendo bem.

Papa: Aproveito a sua pergunta para acrescentar que vocês falaram pouco sobre a Tailândia, que é algo diferente do Japão, uma cultura de transcendência, uma cultura também de beleza diferente da beleza do Japão: uma cultura, tanta pobreza e tantas riquezas espirituais. Mas há também um problema que faz mal ao nossos corações que nos faz pensar na “Grécia e nos outros”, a senhora é mestra neste problema da exploração, estudou-o bem, e o seu livro fez tanto bem. E na Tailândia, alguns lugares na Tailândia são difíceis por isso. Mas há a Tailândia do sul, e há também a bela Tailândia do norte, onde eu não pude ir, que é tribal e tem toda uma outra cultura. Recebi cerca de vinte pessoas daquela região, primeiros cristãos, primeiros batizados, que vieram a Roma, com outra cultura, diferente, as culturas tribais. E Bangcoc, como vimos, é uma cidade forte, muito moderna, mas tem problemas diferentes dos do Japão e tem riquezas diferentes das do Japão. Sobre o problema da exploração, eu quis sublinhá-lo para agradecê-la pelo seu livro, assim como gostaria também de agradecer o livro “verde” de Franca Giansoldati: duas mulheres que estão no avião e que fizeram um livro; cada uma aborda os problemas de hoje; o problema ecológico e o problema da destruição da mãe terra, do meio ambiente, e o problema da exploração humana que a senhora tocou. Podemos ver que as mulheres trabalham mais do que os homens e são capazes. Obrigado a vocês duas, por esta contribuição. E não me esqueço da camisa de Rocio (a referência é à camisa de uma mexicana assassinada, que Valentina Alzraki doou ao Papa durante uma entrevista em vídeo nos meses passados, ndr). E obrigado pelas perguntas diretas, isso faz bem. Rezem por mim. Tenham um bom almoço”.


Transcrição não oficial, texto realizado por Alessandro Guarasci e Andrea Tornielli, da Vatican News

Fonte: Vatican News (Texto e foto https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-11/papa-francisco-hiroshima-memorial-paz.html)

Para o cristão, a compaixão do Pai por seus filhos é a única medida possível para julgar

Cidade do Vaticano – No início da tarde desta segunda-feira (hora local), o Papa Francisco deixou a Nunciatura apostólica e dirigiu-se ao Estádio Tóquio Dome onde celebrou a Santa Missa. Presentes mais de 50 mil pessoas. A Santa Missa, em latim, foi celebrada pelo Dom da Vida Humana. A primeira leitura foi feita em português. Na sua homilia, o Santo Padre, citando o Evangelho do dia recordou que o mesmo faz parte do primeiro grande discurso de Jesus; conhecido como o «Sermão da Montanha» e descreve-nos a beleza do caminho que somos convidados a percorrer.

Segundo a Bíblia, a montanha é o lugar onde Deus Se manifesta e dá a conhecer: «sobe ao encontro do Senhor» (Ex 24, 1), disse Deus a Moisés. Em Jesus – disse o Papa –, “encontramos o cimo do que significa ser humano e indica-nos o caminho que nos leva à plenitude capaz de ultrapassar todos os cálculos conhecidos; n’Ele encontramos uma vida nova, onde se experimenta a liberdade de nos sentirmos filhos amados”.

Francisco advertiu que “estamos cientes de que, ao longo do caminho, esta liberdade filial pode ver-se sufocada e enfraquecida, quando ficamos prisioneiros do círculo vicioso da ansiedade e da competição, ou quando concentramos toda a nossa atenção e as nossas melhores energias na busca obstinada e frenética de produtividade e consumismo como único critério para medir e avaliar as nossas opções ou definir quem somos e quanto valemos”.

“Como oprime e enreda a alma – frisou o Santo Padre – a ânsia gerada por pensar que tudo pode ser produzido, conquistado e controlado! ”

Em seguida, o Papa disse “que os jovens fizeram-me notar esta manhã (no encontro que tive com eles) que, numa sociedade como o Japão com uma economia altamente desenvolvida, não são poucas as pessoas socialmente isoladas que permanecem à margem, incapazes de entender o significado da vida e da sua própria existência. “A casa, a escola e a comunidade, destinadas a ser lugares onde cada um apoia e ajuda os outros, estão se deteriorando cada vez mais pela excessiva competição na busca do lucro e da eficiência. Muitas pessoas sentem-se confusas e inquietas, ficam sobrecarregadas pelas demasiadas exigências e preocupações que lhes tiram a paz e o equilíbrio. ”

Ressoam, como bálsamo reparador, as palavras do Senhor que convidam a não nos inquietarmos, mas a termos confiança.

Não se trata – disse Francisco -, de nos desinteressarmos do que sucede ao nosso redor nem de nos desleixarmos relativamente às nossas ocupações e responsabilidades diárias; antes pelo contrário, é um desafio a abrirmos as nossas prioridades para um horizonte de sentido mais amplo e, assim, criar espaço para olhar na mesma direção: «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo» (Mt 6, 33).

O Senhor não nos diz que as necessidades básicas, como alimento e roupa, não sejam importantes; mas convida-nos a repensar as nossas opções diárias para não acabarmos entalados ou fechados na busca do êxito a todo o custo, incluindo a custo da própria vida. As atitudes mundanas que buscam e perseguem apenas o próprio lucro ou benefício neste mundo, e o egoísmo que pretende a felicidade individual, sutil mas realmente conseguem apenas tornar-nos infelizes e escravos, para além de dificultar o desenvolvimento duma sociedade verdadeiramente harmoniosa e humana. “O oposto de um «eu» isolado, fechado e até sufocado só pode ser um «nós» partilhado, celebrado e comunicado.”

Este convite do Senhor lembra-nos que «precisamos de reconhecer alegremente que a nossa realidade é fruto de um dom, e aceitar também a nossa liberdade como graça. Isto é difícil hoje, num mundo que julga possuir algo por si mesmo, fruto da sua própria originalidade e liberdade».

Como comunidade cristã – frisou o Papa – somos convidados a proteger toda a vida e testemunhar, com sabedoria e coragem, um estilo marcado pela gratuidade e compaixão, pela generosidade e a escuta simples, um estilo capaz de abraçar e receber a vida como se apresenta «com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas contradições e insignificâncias».

Somos convidados a ser comunidade que desenvolva uma pedagogia capaz de acolher «tudo o que não é perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas lá por isso não menos digno de amor. Por acaso uma pessoa portadora de deficiência, uma pessoa frágil não é digna de amor? (…) Uma pessoa, mesmo que seja estrangeira, tenha errado, se encontre doente ou numa prisão, não é digna de amor?

“O anúncio do Evangelho da Vida impele-nos e exige de nós, como comunidade, que nos tornemos um hospital de campanha preparado para curar as feridas e sempre oferecer um caminho de reconciliação e perdão. Com efeito, para o cristão, a única medida possível com que julgar cada pessoa e situação é a da compaixão do Pai por todos os seus filhos”.

Unidos ao Senhor, cooperando e dialogando sempre com todos os homens e mulheres de boa vontade, e também com as pessoas de convicções religiosas diferentes, podemos tornar-nos fermento profético duma sociedade que protege e cuida cada vez mais de toda a vida.


Papa aos jovens: “As coisas são importantes, mas as pessoas são indispensáveis”

No seu terceiro compromisso na cidade de Tóquio nesta segunda-feira (25), o Papa Francisco foi à Catedral de Santa Maria para encontrar os jovens japoneses. Em seu discurso o Papa respondeu às questões apresentadas por três jovens que deram seu testemunho. Primeiramente saudou a todos recordando que vendo-os percebe uma grande diversidade cultural e religiosa, sendo eles, jovens que vivem no Japão e algo da beleza que a sua geração oferece ao futuro. E continua: “A amizade entre vocês e a sua presença aqui lembram-nos a todos que o futuro não é ‘monocromático’”, convidando a “contemplá-lo na variedade e diversidade das contribuições que cada um pode dar”. E considera: “Como a nossa família humana precisa aprender a viver em harmonia e paz, sem necessidade de sermos todos iguais!”

Em seguida falou sobre o tema de uma das perguntas dos jovens presentes: o bullyng escolar. O Papa afirmou que “o ponto mais cruel do bullyng é que fere o nosso espírito e autoestima no momento em que mais precisávamos de força para nos aceitar a nós mesmos e enfrentar novos desafios na vida”. E que algumas vezes as vítimas chegam a culpar-se por serem ‘alvos fáceis’. E afirma: “Paradoxalmente, os molestadores é que são frágeis de verdade, pois pensam que podem afirmar a sua identidade fazendo mal aos outros”. “No fundo – continua – os molestadores têm medo; são medrosos que se escondem por trás da sua força aparente”. E encoraja todos a tomar uma atitude: “Devemos nos unir contra esta cultura do bullying e aprender a dizer: Basta!”

E como fazer isso? O Papa recomenda: “Vocês devem se unir, entre amigos e companheiros, para dizer: Isto não! Isto é mal! Não existe arma maior para se defender de tais ações do que vocês poderem se levantar, entre companheiros e amigos, e dizer: Aquilo que vocês está fazendo é uma coisa grave”.

Medo, inimigo do amor
“O medo, continua Francisco é sempre inimigo do bem, porque é inimigo do amor e da paz. As grandes religiões ensinam tolerância, harmonia e misericórdia; não ensinam medo, divisão e conflito”. E esclarece: “Jesus não Se cansava de dizer aos seus seguidores para não terem medo. Por quê? Porque, se amamos a Deus e aos nossos irmãos e irmãs, este amor expulsa o temor”.

E agradece ao jovem dizendo “O mundo precisa de ti: nunca te esqueças disto! O Senhor tem necessidade de ti, para poderes dar coragem a tantos que hoje pedem uma mão para os ajudar a levantar-se”. Isso supõe aprender a desenvolver uma qualidade muito importante, mas desvalorizada: a capacidade de disponibilizar tempo para os outros”, à família, a Deus, rezando e meditando.

E para os que têm dificuldade recomenda: “A oração consiste principalmente em estar lá. Ficar quieto, dar espaço a Deus, deixa-se olhar por Ele e Ele te encherá da sua paz”.

Pobreza espiritual
Como encontrar Deus em uma sociedade frenética, competitiva na qual as pessoas são materialmente ricas, mas são escravas da solidão? É o quesito que o Papa responde a outro jovem. Primeiramente o Papa recordou as palavras de Madre Teresa que trabalhava entre os mais pobres dos pobres: “A solidão e a sensação de não ser amado é a pobreza mais terrível”. E o Papa adverte: “Combater esta pobreza espiritual é um dever a que todos somos chamados, e vocês têm um papel especial nisso, porque requer uma grande alteração nas nossas prioridades e opções”.

E Francisco recorda: “Importante não é tanto concentrar-me e questionar-me por que vivo, como sobretudo para quem vivo”.

“As coisas são importantes, mas as pessoas são indispensáveis; sem elas, desumanizamo-nos, perdemos o rosto, o nome e tornamo-nos mais um objeto”.

Respirar espiritualmente e mediante atos de amor
Francisco explica aos jovens que “para nos manter vivos fisicamente, temos que respirar” e “para nos manter vivos no sentido mais amplo e pleno da palavra, devemos também aprender a respirar espiritualmente, através da oração e da meditação”. Porém, adverte o Papa “necessitamos também de um movimento exterior, pelo qual nos aproximamos dos outros mediante atos de amor e serviço”.

Mantendo “este duplo movimento podemos crescer e descobrir não só que Deus nos amou, mas também que confiou a cada um de nós uma missão, uma vocação única, que descobrimos na medida em que nos damos aos outros, às pessoas concretas”.

Aqui, o Papa abordou o tema de como crescer para descobrir a nossa identidade, bondade e beleza interior. E explica: “Para ser felizes, devemos pedir ajuda aos outros (…) sair de nós mesmos e ir ter com os outros, especialmente os mais necessitados”.

O Papa pede aos jovens que ajudem os que buscam refúgio no país, que eles devem considerá-los irmãos e irmãs. Por fim, o Papa convida “Não deturpem nem interrompam seus sonhos, lhes deem espaço e ousem contemplar grandes horizontes, ver o que espera vocês se tiverem a coragem de construí-lo juntos. O Japão precisa de vocês, o mundo precisa de vocês, despertos e generosos, alegres e entusiastas, capazes de construir uma casa para todos”.


Papa pede mais compaixão pela dor dos sobreviventes do terremoto, tsunami e acidente nuclear de 2011

O Papa Francisco começou a semana e a sua segunda-feira (25) no Japão encontrando as vítimas de um dos anos inesquecíveis para a história de vida de milhares de japoneses: era março de 2011 quando um terremoto de magnitude 9 ainda provocou um tsunami e causou um acidente nuclear em Fukushima – esse último, comprovado por especialistas como um desastre provocado pelo homem, e não apenas uma consequência da força da natureza no nordeste do país. Ao testemunhar esses três desastres ao Pontífice, Toshiko, Tokuun e Matsuki, no Centro de Convênios Bellesalle Hanzomon, um dos mais importantes de Tóquio, que recebeu cerca de 800 pessoas.

O Pontífice iniciou o discurso falando da importância de encontrar e de ouvir os sobreviventes dos desastres, que tanto sofreram, mas que, com a sua presença, demonstram “esperança aberta para um futuro melhor”. E daí, a convite de uma das vítimas, Matsuki, o Papa motivou para um momento de silêncio e oração “pelas mais de 18 mil pessoas que perderam a vida, pelas suas famílias e pelos que ainda estão desaparecidos”.

Em seguida veio o agradecimento às forças locais que trabalharam na reconstrução das áreas afetadas e auxiliaram as mais de 50 mil pessoas evacuadas por causa das catástrofes e que, ainda hoje, moram “em alojamentos provisórios, sem poder ainda regressar às suas casas”. O Pontífice também estendeu gratidão ao mundo todo que se mobilizou, com “a oração e a assistência material e financeira”, para socorrer as populações atingidas.

O apelo pelo suporte aos sobreviventes
O apelo pelo suporte continua mesmo depois de 8 anos dos três desastres, afirmou o Papa, ao lembrar que muitos afetados agora estão esquecidos, precisando enfrentar “terras e florestas contaminadas e os efeitos a longo prazo das radiações”. Pela solidariedade e apoio de toda a comunidade, Francisco exortou: “Ninguém se ‘reconstrói’ sozinho, ninguém pode começar de novo sozinho. É essencial encontrar uma mão amiga, uma mão irmã, capaz de ajudar a erguer não só a cidade, mas também o olhar e a esperança.”

O combate à cultura da indiferença
Ao responder um questionamento do sobrevivente Tokuun, sobre o problema das guerras, dos refugiados, da alimentação, das desigualdades econômicas e dos desafios ambientais, Francisco disse que é preciso tomar decisões corajosas sobre o uso dos recursos naturais, em particular, sobre as fontes de energia, mas sobretudo trabalhar para combater um dos males que mais nos afeta: a indiferença.

“Urge mobilizar-se para ajudar a tomar consciência que, se um membro da nossa família sofre, todos sofremos com ele; porque não se alcança uma interconexão se não se cultiva a sabedoria da mútua pertença – pertencemo-nos uns aos outros –, a única capaz de assumir os problemas e as soluções de maneira global.”

Aqui o Papa Francisco fez referência ao acidente nuclear em Fukushima que continua trazendo consequências, em especial, no tecido da sociedade para restabelecer os laços das comunidades locais: “Daqui brota a preocupação com o prolongamento do uso da energia nuclear, como justamente apontaram os meus irmãos bispos do Japão, que pediram a abolição das centrais nucleares. O nosso tempo sente-se tentado a fazer do progresso tecnológico a medida do progresso humano.”

Esse “paradigma tecnocrático” de progresso e desenvolvimento, acrescentou o Papa, afeta a vida das pessoas e o funcionamento da sociedade. O momento é de reflexão crítica e de grande responsabilidade com as futuras gerações sobre quem queremos ser, exortou Francisco: “Que espécie de mundo, que tipo de legado queremos deixar a quem vier depois de nós?” Nesse caminho, “todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades”.

“Queridos irmãos, no trabalho contínuo de recuperação e reconstrução depois dos três desastres, muitas mãos se devem juntar e muitos corações se devem unir como se fossem um só. Dessa forma, as pessoas que sofreram receberão apoio e saberão que não foram esquecidas. Saberão que muitas pessoas compartilham, ativa e eficazmente, o seu sofrimento, e continuarão a estender uma mão fraterna para ajudar. Mais uma vez, louvemos e demos graças por todos aqueles que procuraram, com simplicidade, aliviar o peso das vítimas. Que essa compaixão seja o caminho que permita a todos encontrar esperança, estabilidade e segurança para o futuro.”


Francisco com o Imperador do Japão Naruhito

O Papa foi recebido pelo imperador Naruhito na entrada do Palácio Imperial e juntos seguiram até a Audience Hall, onde foi tirada a foto oficial do encontro, realizado de forma privada. A conversa entre Francisco e Naruhito durou meia hora, das 11h às 11h31, horário local. O Pontífice presenteou o imperador com um quadro em mosaico “Vista do Arco de Tiro”, tirada de uma aquarela do pintor romano Filippo Anivitti (1876-1955).

O Palácio Imperial de Tóquio está localizado nas proximidades da Estação Central, na mesma área onde antigamente ficava o Castelo de Edo, ou seja, a sede do Shogun da família Tokugawa, que governou o Japão de 1603 a 1867. Daquele castelo é possível ver hosje o que restou da Torre de Fushimi. Em 1869, o imperador Meiji transferiu sua sede de Kyoto para Tóquio e, desde então, o Palácio se tornou a residência oficial imperial. Destruído durante a Segunda Guerra Mundial e reconstruído pouco depois no mesmo estilo sóbrio, o prédio é enriquecido pelos grandes parques que o cercam e nos quais foram plantadas mais de 300 cerejeiras, conhecidas em todo o mundo por sua floração em tons rosa durante a primavera.

Em particular, a leste estão situados os Jardins Higashi Gyoen, que em seu interior abrigam a Tokagakudo, a grande sala de concertos octogonal recoberta de cerâmica, construída em 1966 para o 60º aniversário da imperatriz Kojom, falecida em 2000. Também imponente nas cercanias o Parque Gaien, onde foi erguida a grande estátua de bronze do samurai Kusunoki Masashige, que viveu no século XIV.

Imperador Naruhito

O Imperador do Japão, sua Majestade Imperial Naruhito, filho mais velho do ex-imperador Akihito e da ex-imperatriz Michiko, nasceu no Palácio Togu, em Tóquio, em 1960. Ele se formou no Departamento de História da Universidade Gakushuin em 1982 e um ano mais tarde, ingressou no Metron College na Universidade Oxfod, onde estudou por mais três anos. Após a morte de seu avô, o imperador Hirohito, em janeiro de 1989, tornou-se herdeiro do trono, sendooficialmente coroado príncipe durante uma cerimônia realizada em fevereiro de 1991.

Em 1° de maio de 2019 Naruhito sobe ao trono do Crisântemo, após a abdicação de seu pai, o ex-imperador Akihito, após mais de 30 anos de reinado. Desta forma, o Japão acabou de viver uma passagem definida como histórica por todos os observadores internacionais. A abdicação de Akihito é de fato a primeira nos últimos 200 anos da história da casa real japonesa, a mais antiga monarquia hereditária do mundo. Segundo a Constituição japonesa, o imperador é o “símbolo do Estado e da unidade de seu povo”.

Akihito, de 85 anos, deixou o trono para seu filho mais velho para abrir uma nova era de “Magnífica Harmonia”, em japonês a era “Reiwa” e assim colocar fim à era “Heisei” do “Alcançar a paz”.
Durante a última aparição pública, em 30 de abril de 2019, Akihito disse que rezaria pela manutenção da paz e pela felicidade no decorrer da nova era.

Em Nagasaki e Hiroshima: Papa faz pedidos insistentes pela paz

Cidade do Vaticano – “Oxalá a oração, a busca de promover acordos, a insistência no diálogo sejam as ‘armas’ para construir um mundo de justiça e solidariedade”. Palavras do Papa Francisco sobre as armas nucleares neste domingo (24) em Nagasaki. No final do encontro convidou todos a rezar a oração de São Francisco de Assis pela paz

Ao visitar a cidade de Nagasaki, o Papa Francisco foi ao Monumento situado no Parque Atomic Bomb Hypocenter. Na ocasião foi recebido pelas autoridades locais e depôs uma coroa de flores. Depois de um momento de oração, o Santo Padre proferiu uma mensagem sobre as armas nucleares.

O Santo Padre iniciou recordando que: “Este lugar torna-nos mais conscientes do sofrimento e do horror que nós, seres humanos, somos capazes de nos infligir”.

E continuou: “A cruz bombardeada e a estátua de Nossa Senhora, recentemente descobertas na Catedral de Nagasaki, lembram-nos mais uma vez o horror indescritível que sofreram na própria carne as vítimas e suas famílias”.

Paz e estabilidade
Comentando um dos anseios mais profundos do coração humano que é a paz e a estabilidade adverte: “A posse de armas nucleares e outras armas de destruição de massa não é a melhor resposta a este desejo; antes, parecem pô-lo continuamente à prova”. E que esta paz e estabilidade internacionais são “incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total”. E como é possível? Francisco explica: “São possíveis só a partir duma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã”.

Mundo em paz e livre de armas nucleares
Depois de recordar os sofrimentos e a experiência passada pelo povo de Nagasaki, o Papa explica que um mundo de paz e livre armas nucleares “requer a participação de todos: as pessoas, as religiões, a sociedade civil, os Estados que possuem armas nucleares e os que não as possuem, os setores militares e privados, e as organizações internacionais”. Confirmando que a nossa resposta deve ser coletiva e concertada.

Em seguida adverte os perigos atuais: “É necessário romper a dinâmica de desconfiança que prevalece atualmente e que faz correr o risco de se chegar ao desmantelamento da arquitetura internacional de controle dos armamentos”. Esclarecendo sobre o perigo da “erosão do multilateralismo” agravada pelo “desenvolvimento das novas tecnologias das armas” criando uma situação que requer uma atenção urgente por parte dos líderes.

O ponto neste ponto ligou o tema da corrida aos armamentos nucleares com o meio ambiente esclarecendo aos líderes políticos: “É preciso ter em consideração o impacto catastrófico do seu uso, sob o ponto de vista humanitário e ambiental, renunciando ao aumento de um clima de medo, desconfiança e hostilidade, promovido pelas doutrinas nucleares”. Também é preciso pensar na implementação , complexa e difícil, “da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e, deste modo, alcançar objetivos como o desenvolvimento humano integral”. Francisco recordou também que os bispos japoneses “lançaram um apelo à abolição das armas nucleares e anualmente, em agosto, a Igreja japonesa realiza dez dias de oração pela paz”.

“Ninguém pode ficar indiferente perante o sofrimento de milhões de homens e mulheres que ainda hoje continuam a bater à porta das nossas consciências; ninguém pode ficar surdo ao grito do irmão ferido que chama; ninguém pode ficar cego diante das ruínas duma cultura incapaz de dialogar”.

O Museu e Monumento dos Vinte e Seis Mártires é um museu de arte religiosa, situado na colina Nishizaka, na cidade de Nagasaki. O museu foi projetado pelo arquiteto japonês Kenji Imai, que se inspirou nas obras arquitetônicas de Antoni Gaudí como a Igreja da Sagrada Família. Foi inaugurado a 10 de junho de 1962 para comemorar o centenário da canonização dos vinte e seis mártires do Japão, um grupo de cristãos que foram crucificados neste local a 5 de fevereiro de 1597 durante a perseguição ao cristianismo.

O Papa afirmou:: “Irmãos, neste lugar, unimo-nos também aos cristãos que hoje, em tantas partes do mundo, sofrem e vivem o martírio por causa da fé. Mártires do século XXI, que nos interpelam com o seu testemunho a seguir corajosamente o caminho das Bem-aventuranças. Rezemos por eles e com eles, e ergamos a voz para que a liberdade religiosa seja garantida a todos nos vários cantos do planeta; e ergamos a voz também contra toda a manipulação das religiões «pelas políticas de integralismo e divisão, pelos sistemas de lucro desmesurado e pelas tendências ideológicas odiosas, que manipulam as ações e os destinos dos homens» (Documento sobre a fraternidade humana, Abu Dhabi, 4/II/2019).

Concluiu seu pronunciamento pedindo a todos, mesmo os não católicos, para fazerem a oração pela paz de São Francisco de Assis:

Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz.
Onde há ódio, que eu leve o amor;
Onde há ofensa, que eu leve o perdão;
Onde há dúvida, que eu leve a fé;
Onde há desespero, que eu leve a esperança;
Onde há trevas, que eu leve a luz;
Onde há tristeza, que eu leve a alegria.


O Papa em Hiroshima: “O uso da energia atômica para fins de guerra é imoral”

“Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento!” São as palavras conclusivas do Papa Francisco no Encontro pela Paz, realizado em Hiroshima, no Memorial da Paz, neste domingo (24)

Depois de Nagasaki, o Papa Francisco foi até Hiroshima, a outra cidade japonesa devastada pela bomba atômica em 1945 para o Encontro pela Paz. O Encontro realizou-se no Memorial da Paz, e foi o último compromisso deste domingo 24 de novembro.

Em seu discurso, depois de recordar do trágico instante em que tudo “foi devorado por um buraco negro de destruição e morte”, o Papa disse: “Aqui, faço memória de todas as vítimas e inclino-me perante a força e a dignidade das pessoas que, tendo sobrevivido àqueles primeiros momentos, suportaram nos seus corpos durante muitos anos os sofrimentos mais agudos e, nas suas mentes, os germes da morte que continuaram a consumir a sua energia vital”.

Em seguida explica a sua presença: “Senti o dever de vir a este lugar como peregrino de paz, para me deter em oração, recordando as vítimas inocentes de tanta violência e trazendo no coração também as súplicas e anseios dos homens e mulheres do nosso tempo, especialmente dos jovens, que desejam a paz, trabalham pela paz, sacrificam-se pela paz”.

Francisco declarou que “humildemente, [quereria] ser a voz daqueles cuja voz não é escutada” pois crescem as tensões e as injustiças que ameaçam a convivência e o cuidado da casa comum para garantir um futuro de paz.

Energia atômica para fins de guerra é imoral

“Desejo reiterar – afirma – com convicção, que o uso da energia atômica para fins de guerra é, hoje mais do que nunca, um crime não só contra o homem e a sua dignidade, mas também contra toda a possibilidade de futuro na nossa casa comum”. E afirma também: “O uso da energia atômica para fins de guerra é imoral. Seremos julgados por isso”.
Depois recorda algumas palavras de seus predecessores sobre este tema, como o Papa São João XXIII que exortou “Estou convencido de que a paz não passa de um ‘som de palavras’, se não se fundar na verdade, se não se construir segundo a justiça, se não se animar e consumar no amor, e se não se realizar na liberdade”. Assim como São Paulo VI: “Não se pode amar com armas ofensivas nas mãos”.

O Santo Padre pondera: “Quando nos rendemos à lógica das armas e afastamos da prática do diálogo, esquecemo-nos tragicamente que as armas, antes mesmo de causar vítimas e ruínas, têm a capacidade de provocar pesadelos”.

Caminho de paz
Então Francisco observa aos presentes que: “Recordar, caminhar juntos e proteger: são três imperativos morais que adquirem, precisamente aqui em Hiroshima, um significado ainda mais forte e universal e são capazes de abrir um verdadeiro caminho de paz”.

Mas para isso, “não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno”. Temos que manter a memória viva, que ajude a dizer de geração em geração: nunca mais!”

Por fim o Papa exorta a todos “Por isso mesmo, somos chamados a caminhar unidos, com um olhar de compreensão e perdão” e acrescenta: “Abramo-nos à esperança, tornando-nos instrumentos de reconciliação e de paz. Isto será possível sempre, se formos capazes de nos proteger e reconhecer como irmãos em um destino comum”.

E acrescenta: “Que sejam suplantados os interesses exclusivos de certos grupos, a fim de se atingir a grandeza daqueles que lutam corresponsavelmente para garantir um futuro comum”.

Conclui seu discurso evocando: “Em uma única súplica, aberta a Deus e a todos os homens e mulheres de boa vontade, em nome de todas as vítimas dos bombardeios, das experimentações atômicas e de todos os conflitos, elevemos juntos um grito: “Nunca mais a guerra, nunca mais o fragor das armas, nunca mais tanto sofrimento!”


Não devemos nos resignar diante do mal

“No Calvário, muitas vozes se calaram e tantas outras zombaram do Crucificado; só a voz do Bom ladrão se ergueu em defesa do Inocente sofredor, como verdadeira e corajosa profissão de fé”.

O Santo Padre presidiu, neste domingo (24/11), no Estádio de Beisebol de Nagasaki, à celebração Eucarística na Solenidade de Cristo Rei do Universo.
Em sua homilia, o Papa partiu do versículo evangélico de Lucas: “Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino”. Neste último domingo do Ano Litúrgico, Francisco nos exorta a unir as nossas vozes à do Bom ladrão, que foi crucificado com Jesus, que o reconheceu e o proclamou Rei.

Naquele momento triste, entre zombarias e humilhação, o malfeitor, conhecido como Bom ladrão, teve a força, apesar do seu sofrimento na cruz, de levantar sua voz e fazer a sua profissão de fé em Jesus, que lhe respondeu: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”.

Calvário

O passado tortuoso do malfeitor ganhou um novo significado, por acompanhar de perto o suplício do Senhor, que oferecia a sua vida pela salvação dos homens. E o Papa explicou: “Calvário, lugar de desatino e injustiça, onde impotência e incompreensão são acompanhadas pela murmuração cínica dos zombadores, diante da morte de um inocente. Tudo isso se torna sublime, graças à atitude do Bom ladrão, com palavras de esperança para toda a humanidade”.

As zombarias tocam o coração tornando-se compaixão. Por isso, Francisco convidou os fiéis presentes a renovar a nossa fé em Jesus Cristo, como fez o Bom ladrão. Muitas vezes, disse o Papa, nos esquecemos dos sofrimentos de tantos inocentes, dizendo “salva-te a ti mesmo”. E Francisco refletiu: “Estas terras experimentaram, como poucas, a capacidade destruidora que o ser humano pode chegar. Por isso, como o Bom ladrão, vivamos este instante para elevar a nossas vozes e fazer a nossa profissão de fé em defesa e ao serviço do Senhor, o Inocente sofredor; acompanhemos seu suplício, solidão e abandono, sabendo que o Pai deseja a salvação de todos: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.

Mártires japoneses
Aqui, o Pontífice recordou o exemplo de São Paulo Miki e Companheiros, que, com coragem, deram testemunho da salvação, com a própria vida, bem como a herança espiritual de milhares de mártires do Japão: “Seguindo suas sendas, queremos caminhar nas suas pegadas professando, com coragem, que o amor doado, sacrificado e celebrado por Cristo na Cruz, é capaz de vencer todo o tipo de ódio, egoísmo, ultraje; é capaz de vencer todo o pessimismo indolente ou bem-estar narcotizante, que acaba paralisando todas as boas ações e escolhas”.

Professamos a nossa fé no Deus dos vivos, afirmou o Papa. Cristo está vivo, age no meio de nós e nos guia rumo à plenitude da vida. Eis a nossa esperança! Nossa missão de discípulos missionários é ser testemunhas e arautos do futuro. Por isso, não devemos nos resignar diante do mal, mas sermos fermento do seu Reino: na família, no trabalho, na sociedade. E Francisco acrescentou: “O Reino dos Céus é a nossa meta comum: uma meta que não pode ser atingida só amanhã, mas também, apesar da indiferença que circunda e cala tantos dos nossos enfermos, pessoas com deficiência, idosos e excluídos, refugiados e trabalhadores estrangeiros. Todos são sacramento vivo de Cristo, nosso Rei”.

O Santo Padre concluiu sua homilia recordando que, no Calvário, muitas vozes se calaram e tantas outras zombaram, mas só a voz do Bom ladrão se ergueu em defesa do Inocente sofredor: uma verdadeira e corajosa profissão de fé. Cabe a cada um de nós a decisão de calar, zombar ou profetizar. Por fim, o Papa fez uma exortação:
“Nagasaki traz na sua alma uma ferida difícil de sarar, sinal do sofrimento inexplicável de tantos inocentes, vítimas das guerras do passado, que, ainda hoje, sofrem com esta “Terceira guerra mundial em pedaços”. Elevemos nossas vozes, em uma oração comum, por todos os sofrem na sua carne por este pecado. Façamos como o Bom ladrão que profetizou um reino de verdade e vida, de santidade e graça, de justiça, amor e paz”.

Na história da humanidade, há um antes e um depois Hiroshima e Nagasaki . Assim como há um antes e um depois no modo com o qual a Igreja, depois do devastador ataque atômico sobre as cidades japonesas, vê a trágica experiência da guerra. Principalmente através do Magistério dos Pontífices. A destruidora devastação que as bombas nucleares causam obriga a Igreja a reconsiderar o tema do conflito bélico com uma nova mentalidade. Jamais na história, de fato, os homens tiveram à disposição uma arma capaz de cancelar potencialmente qualquer sinal de vida na terra.

Defender toda vida como dom precioso do Senhor

Cidade do Vaticano – “Não tenhamos medo de realizar sempre, aqui e em todo o mundo, a missão de levantar a voz e defender toda a vida como dom precioso do Senhor. Por isso vos encorajo nos vossos esforços por garantir que a comunidade católica, no Japão, ofereça um testemunho claro do Evangelho no meio de toda a sociedade.”

Foi a exortação do Papa no encontro com os bispos do Japão, em seu primeiro dia e primeiro discurso em terras japonesas, este sábado (23/11), na nunciatura apostólica, na qual agradeceu ao Senhor ao fazer-se peregrino missionário no país do Sol Nascente, seguindo os passos de grandes testemunhas da fé. A visita constitui a segunda etapa desta 32ª viagem apostólica internacional, iniciada com a visita pastoral à Tailândia.

Falando a seus irmãos no episcopado, Francisco externou desde jovem sentir simpatia e estima por estas terras. “Passaram-se muitos anos desde aquele impulso missionário, cuja realização se fez esperar”, acrescentou.

Já no início de seu discurso, o Santo Padre quis estender seu abraço e suas orações a todos os japoneses, neste período marcado pela entronização do novo Imperador e o início da era Reiwa.

São Francisco Xavier, grande evangelizador do Japão
“Completam-se quatrocentos e setenta anos da chegada de São Francisco Xavier ao Japão, que marcou o início da propagação do cristianismo nesta terra. Recordando-o, quero unir-me convosco para dar graças ao Senhor por todos aqueles que, ao longo dos séculos, se dedicaram a semear o Evangelho e a servir o povo japonês com grande unção e amor; tal dedicação conferiu uma fisionomia muito particular à Igreja japonesa”, frisou o Pontífice recordando particularmente a figura eminente do jesuíta grande evangelizador do Japão.

O Papa recordou também os mártires São Paulo Miki e seus companheiros e o Beato Justo Takayama Ukon, que, no meio de muitas provações, deram testemunho até à morte.

“O DNA das vossas comunidades está marcado por este testemunho, antídoto contra todo o desespero, que nos indica a estrada para onde encaminhar-se. Sois uma Igreja que se manteve viva pronunciando o Nome do Senhor e contemplando como Ele vos guiava no meio da perseguição.”

Testemunho dos mártires
Francisco destacou que a sementeira confiante, o testemunho dos mártires e a espera paciente dos frutos, que o Senhor concede no devido tempo, “caracterizaram a modalidade apostólica com que soubestes acompanhar a cultura japonesa. Como resultado – disse –, plasmastes ao longo dos anos um rosto eclesial, geralmente muito apreciado pela sociedade japonesa, graças às vossas variadas contribuições para o bem comum”.

Em seguida, lembrou aos bispos japoneses o lema desta da visita e a missão episcopal.

Proteger toda a vida
“Esta viagem apostólica decorre sob o lema «proteger toda a vida»; lema este, que pode facilmente simbolizar o nosso ministério episcopal. O bispo é uma pessoa que o Senhor chamou do meio do seu povo, para devolvê-lo a este como pastor capaz de proteger toda a vida; isto define, em certa medida, o alvo para onde devemos apontar.”

“Proteger toda a vida significa, em primeiro lugar, ter um olhar contemplativo capaz de amar a vida de todo o povo que vos está confiado, para reconhecerdes nele, antes de mais nada, um dom do Senhor”, disse ainda. Porque só o que se ama pode ser salvo. Só o que se abraça, pode ser transformado, acrescentou.

Proteger toda a vida e anunciar o Evangelho não são duas coisas separadas nem contrapostas, mas uma reclama e exige a outra, observou o Santo Padre. “Ambas significam estar atentos e vigilantes relativamente a tudo aquilo que hoje possa impedir, nestas terras, o desenvolvimento integral das pessoas confiadas à luz do Evangelho de Jesus”.

Testemunho humilde, diário, aberto ao diálogo
“Sabemos que a Igreja, no Japão, é pequena, e os católicos são uma minoria; mas isto não deve desmerecer o vosso compromisso com a evangelização, pois, na vossa situação particular, a palavra mais forte e clara que se pode oferecer é a dum testemunho humilde, diário, aberto ao diálogo com as outras tradições religiosas.”

Francisco ressaltou aos bispos que a hospitalidade e o cuidado prestados aos numerosos trabalhadores estrangeiros, que constituem mais de metade dos católicos do Japão, “servem não só como testemunho do Evangelho no meio da sociedade japonesa, mas atestam também a universalidade da Igreja, demonstrando que a nossa união com Cristo é mais forte do que qualquer outro vínculo ou identidade e é capaz de atingir e envolver todas as realidades”.

Visita a Hiroshima e Nagasaki
Uma Igreja de mártires pode falar com maior liberdade, especialmente quando aborda questões urgentes como a paz e a justiça no nosso mundo, disse o Pontífice, acrescentando:

“Em breve, visitarei Nagasaki e Hiroshima, onde rezarei pelas vítimas do catastrófico bombardeamento destas duas cidades e darei voz aos vossos próprios apelos proféticos em prol do desarmamento nuclear. Desejo encontrar aqueles que sofrem ainda as feridas daquele trágico episódio da história humana, bem como as vítimas do ‘tríplice desastre’.”

Flagelos que ameaçam a vida de algumas pessoas
Estamos cientes da existência de vários flagelos que ameaçam a vida de algumas pessoas das vossas comunidades, por várias razões atingidas pela solidão, o desespero e o isolamento, disse, antes de concluir.

“O aumento do número de suicídios nas vossas cidades, bem como o bullying e várias formas de consumo estão criando novos tipos de alienação e desorientação espiritual. E como tudo isto atinge especialmente os jovens!” – observou, convidando os bispos a prestar atenção especial a eles e às suas necessidades, procurando “criar espaços onde a cultura da eficiência, do rendimento e do sucesso possa abrir-se à cultura dum amor gratuito e altruísta, capaz de oferecer a todos – e não só aos mais prendados – possiblidade duma vida feliz e realizada”.

Evangelho da compaixão e da misericórdia
“Devemos alcançar a alma das cidades, dos lugares de trabalho, das universidades, para acompanhar com o Evangelho da compaixão e da misericórdia os fiéis que nos foram confiados”, concluiu Francisco exortando mais uma vez os bispos do Japão.

O Papa Francisco chegou ao aeroporto de Tóquio às 17h32 locais (5h32 de Brasília) deste sábado (23/11), proveniente da Tailândia, dando início à segunda e última etapa desta sua 32ª viagem apostólica internacional.

O Santo Padre foi acolhido pelo vice-primeiro-ministro japonês, por bispos e clero e por cerca de cem estudantes das escolas católicas com uma mensagem em espanhol de boas-vindas ao ilustre visitante. Logo em seguida manteve um rápido encontro privado na Sala Vip 3 do aeroporto com o vice-primeiro-ministro nipônico.

Do aeroporto o Pontífice transferiu-se para a nunciatura apostólica, situada no bairro Shiyoda da capital japonesa, onde tem lugar um encontro com os bispos da Conferência Episcopal do País do Sol Nascente, que reúne os prelados das três arquidioceses metropolitanas e das 13 dioceses sufragâneas do Japão. O lema da visita é “Proteger toda a vida”.

As origens do cristianismo no Japão remontam ao século XVI. O País do Sol Nascente ocupa uma superfície de 377.829 km², onde estão distribuídos 126 milhões 786 mil habitantes. Os católicos são 536 mil, o que corresponde a 0,42% da população.

Francisco aos jovens: o segredo de um coração feliz é estar ancorado em Jesus

Cidade do Vaticano – O Santo Padre concluiu suas atividades, na tarde desta sexta-feira (22/11), horário local da Tailândia, com a celebração Eucarística para os Jovens, na Catedral da Assunção, em Bangcoc. O Papa iniciou a sua homilia com o convite “Vamos ao encontro do Senhor, que vem!”, partindo do Evangelho do dia, que nos exorta a pôr-nos a caminho com o olhar fixo no futuro e no dom mais belo: a vinda definitiva de Cristo ao nosso mundo.

O Senhor vem ao nosso encontro, a partir da história, que deve ser construída, criada, inventada, disse o Papa. Acolhamo-lo com alegria: “O Senhor sabe que, por meio de vocês, jovens, o futuro entra nestas terras e no mundo. Ele conta com vocês para continuar hoje a sua missão. Como Deus tinha um plano para o Povo escolhido, também tem um plano para cada um de vocês. Ele é o primeiro a convidar todos para o banquete, que devemos preparar juntos, como comunidade: o banquete do seu Reino, do qual ninguém pode ser excluído”.

Apelo aos jovens
Referindo-se ao Evangelho de hoje, Francisco disse que “dez jovens foram convidadas para olhar o futuro e participar do banquete do Senhor”. O problema é que algumas delas não estavam preparadas para participar porque lhes faltou o óleo necessário, o combustível interno para manter aceso o fogo do amor.

Com grande entusiasmo e motivação, queriam participar do convite do Mestre, mas, com o tempo, suas forças e anseios começaram a se dissipar e chegaram tarde ao banquete. E o Papa afirmou: “Esta parábola pode se comparada a nós, cristãos, quando ouvimos, com entusiasmo e decisão, a chamada do Senhor para tomar parte do seu Reino e partilhar da sua alegria. Mas, por causa dos muitos problemas, obstáculos e sofrimentos, perdemos a confiança e, amargurados, esfriamos nosso coração, sonhos e alegrias”.

Por isso, o Santo Padre perguntou aos jovens presentes: “Vocês querem manter vivo o fogo, que os ilumina em plena noite e nas dificuldades? Querem preparar-se para responder à chamada do Senhor? Querem estar prontos para cumprir a sua vontade? Como obter o óleo para mantê-los em movimento à busca do Senhor em todas as situações?” E respondeu: “Vocês são herdeiros de uma magnífica história de evangelização, que lhes foi transmitida como um tesouro sagrado. Esta bela Catedral é testemunho da fé em Jesus Cristo, que seus antepassados receberam. Sua fidelidade, profundamente arraigada, os impeliu a fazer boas obras e a construir outro templo, bem mais esplêndido, composto de pedras vivas, para levar o amor misericordioso de Deus às pessoas da sua época”.

O segredo de um coração feliz
O Papa concluiu sua homilia exortando os fiéis a ficarem arraigados na fé, que receberam de seus pais e mestres, para que o fogo do Espírito não se apague em seus corações, apesar das provações e sofrimentos. O segredo de um coração feliz é estar ancorado em Jesus, na sua vida, nas suas palavras, na sua morte e ressurreição. Por fim, os exortou: “Queridos jovens, vocês são uma nova geração, com novas esperanças, sonhos e interrogativos… Convido-os a manter viva a alegria, arraigados em Cristo. Vamos ao encontro do Senhor, que vem! Não tenham medo do futuro e não desanimem, pois o Senhor os aguarda para preparar e celebrar o banquete no seu Reino”.

Após a celebração Eucarística, na catedral da Assunção, Francisco aproveitou para se despedir do povo tailandês, porque amanhã, sábado, irá ao Japão, segunda e última etapa da Sua Viagem Apostólica à Ásia. Por isso, o Papa agradeceu a todos os que tornaram possível sua visita à Tailândia: o Rei Rama X, o Governo e as Autoridades do país, seus irmãos Bispos, sobretudo o Cardeal Francis Xavier, os sacerdotes, religiosas e religiosos, fiéis e leigos e, de modo especial, todos os jovens!

“Um sincero agradecimento aos voluntários, que colaboraram, com tanta generosidade, e os que me acompanharam com suas orações e sacrifícios, sobretudo os enfermos e encarcerados. O Senhor os recompense com a sua consolação e paz, que só Ele lhes pode dar”.


ÍNTEGRA DA HOMILIA

Vamos ao encontro de Cristo Senhor, que vem! O Evangelho, que acabamos de ouvir, convida a pormo-nos em movimento com o olhar fixo no futuro, para nos encontrarmos com o mais belo dom que nos reserva: a vinda definitiva de Cristo à nossa vida e ao nosso mundo. Demos-Lhe as boas-vindas ao nosso meio, com imensa alegria e amor como só vós, jovens, sabeis fazer! Sabemos que, antes de sairmos à sua procura, já o Senhor nos procurava; vem ao nosso encontro e chama-nos a partir da história que é necessário construir, criar, inventar. Vamos com alegria, porque sabemos que Ele nos espera lá.

O Senhor sabe que através de vós, jovens, entra o futuro nestas terras e no mundo, e conta convosco para continuar hoje a sua missão (cf. Christus vivit, 174). Assim como Deus tinha um plano para o povo escolhido, também tem um plano para cada um de vós. Ele é o primeiro a sonhar em convidar-nos a todos para um banquete que devemos preparar juntos, Ele e nós, como comunidade: o banquete do seu Reino, do qual ninguém deveria ser excluído.

O Evangelho de hoje fala-nos de dez jovens convidadas a olhar para o futuro e participar na festa do Senhor. O problema é que algumas delas não estavam preparadas para O receber; não porque adormeceram, mas porque lhes faltou o azeite necessário, o combustível interno para manter aceso o fogo do amor. Com grande entusiasmo e motivação, queriam tomar parte na chamada e convocação do Mestre, mas, com o tempo, as forças e os anseios foram-se amortecendo, apagando, e chegaram tarde. É uma parábola daquilo que pode acontecer connosco, os cristãos, quando ouvimos, cheios de entusiasmo e decisão, a chamada do Senhor para tomar parte no seu Reino e partilhar a sua alegria com os outros. Mas com frequência, perante os problemas e obstáculos que muitas vezes são tantos (como cada um de vós bem sabe, no seu coração), perante o sofrimento de pessoas queridas ou a impotência sentida face a situações que parecem impossíveis de ser alteradas, então a desconfiança e a amargura podem ganhar espaço e infiltrar-se silenciosamente nos nossos sonhos, fazendo com que se resfrie o coração, percamos a alegria, e cheguemos tarde.

Por isso, gostaria de vos perguntar: Quereis manter vivo o fogo que vos pode iluminar no meio da noite e no meio das dificuldades? Quereis preparar-vos para responder à chamada do Senhor? Quereis estar prontos para cumprir a sua vontade?

Como obter o azeite que possa manter-vos em movimento e encorajar-vos a buscar o Senhor em todas as situações?

Sois herdeiros duma magnífica história de evangelização, que vos foi transmitida como um tesouro sagrado. Esta bela Catedral é testemunha da fé em Jesus Cristo que tiveram os vossos antepassados: a sua fidelidade, profundamente arraigada, impeliu-os a cumprir boas obras, a construir o outro templo ainda mais esplêndido, composto de pedras vivas para poder levar o amor misericordioso de Deus às a todas as pessoas do seu tempo. E conseguiram fazê-lo, porque estavam convencidos daquilo que o profeta Oseias diz na primeira Leitura de hoje: Deus falara-lhes com ternura, abraçara-os com um amor forte, para sempre (cf. Os 2, 16.21-22).

Queridos amigos, para que o fogo do Espírito Santo não se apague e possais manter despertos o olhar e o coração, é necessário estar arraigados na fé dos mais velhos: pais, avós, professores. Não para ficar prisioneiros do passado, mas para aprender a ter a mesma coragem, capaz de nos ajudar a responder às novas situações históricas. A vida deles resistiu a muitas provações e sofrimentos. Mas descobriram, ao longo do caminho, que o segredo dum coração feliz é a segurança que encontramos quando estamos ancorados, enraizados em Jesus: na sua vida, nas suas palavras, na sua morte e ressurreição.

«Já me aconteceu ver árvores jovens, belas, que elevavam seus ramos sempre mais alto para o céu; pareciam uma canção de esperança. Mais tarde, depois duma tempestade, encontrei-as caídas, sem vida. Estenderam os seus ramos sem se enraizar bem na terra e, por ter poucas raízes, sucumbiram aos assaltos da natureza. Por isso, custa-me ver que alguns propõem aos jovens construir um futuro sem raízes, como se o mundo começasse agora. Com efeito, é impossível uma pessoa crescer, se não possui raízes fortes que a ajudem a estar firme de pé e agarrada à terra. [Moços e moças, é muito] fácil extraviar-se, quando não temos onde agarrar-nos, onde firmar-nos» (Christus vivit, 179).

Sem este sentido forte de enraizamento, podemos ficar perplexos com as «vozes» deste mundo que reclamam a nossa atenção. Muitas delas são atraentes, propostas bem confeccionadas, que inicialmente parecem bonitas e intensas, mas, com o passar do tempo, acabam por deixar apenas o vazio, o cansaço, a solidão e a frustração (cf. ibid., 277), e vão apagando aquela centelha de vida que um dia o Senhor acendeu em cada um de nós.

Queridos jovens, sois uma nova geração, com novas esperanças, sonhos e interrogativos; seguramente também com algumas dúvidas, mas, enraizados em Cristo, convido-vos a manter viva a alegria e a não ter medo de olhar para o futuro com confiança. Arraigados em Cristo, olhai com alegria, olhai com e confiança. Esta condição nasce da certeza de se saber procurado, encontrado e amado infinitamente pelo Senhor. A amizade cultivada com Jesus é o azeite necessário para iluminar o caminho; não só o vosso caminho, mas também o de todas as pessoas que vos rodeiam: amigos, vizinhos, colegas de estudo e trabalho, mesmo o caminho de quantos estão em total desacordo convosco.

Vamos ao encontro de Cristo Senhor, que vem! Não tenhais medo do futuro nem vos deixeis aviltar; pelo contrário, sabei que lá no futuro está à vossa espera o Senhor para preparar e celebrar a festa do seu Reino.

Aos líderes religiosos: é tempo de ousar a lógica do encontro e do diálogo

Cidade do Vaticano – O primeiro compromisso do Papa Francisco na tarde desta sexta-feira em Bangcoc (hora local), no âmbito da sua 32ª Viagem Apostólica Internacional foi o encontro com líderes cristãos e de outras religiões. Presentes também no encontro, que se realizou na Universidade Chulalongkorn, representantes da Comunidade Universitária.

No seu discurso o Papa Francisco, depois de ouvir a saudação de dom Sirisut (responsável pelo diálogo ecumênico) e do Dr. Bundit Eua-arporn (Reitor da Universidade) recordou que cento e vinte e dois anos atrás, em 1897, o rei Chulalongkorn, de quem recebe o nome esta primeira Universidade, visitou Roma e teve uma Audiência com o Papa Leão XIII: pela primeira vez, um Chefe de Estado não cristão foi recebido no Vaticano.

A recordação daquele encontro importante – disse Francisco -, bem como o período do seu reinado que conta, entre tantos méritos, a abolição da escravatura, desafiam-nos e encorajam-nos a assumir decidido protagonismo no caminho do diálogo e da compreensão mútua.

E encorajam-nos a fazê-lo – continuou o Papa – “num espírito de fraterna colaboração que ajude a pôr fim a tantas escravidões que persistem nos nossos dias; penso especialmente no flagelo do tráfico e exploração de pessoas”.

O mundo de hoje – sublinhou Francisco -, enfrenta problemáticas complexas, como a globalização econômico-financeira e as suas graves consequências no desenvolvimento das sociedades locais; os rápidos progressos, que aparentemente promovem um mundo melhor, coexistem com a trágica persistência de conflitos – conflitos sobre migrantes e refugiados, conflitos devidos a carestias e conflitos bélicos – e também com a degradação e destruição da nossa casa comum.

Todas estas situações – disse o Santo Padre -, lembram-nos e alertam-nos que nenhuma região ou setor da nossa família humana se pode conceber ou construir alheia ou imune relativamente aos outros.

O Pontífice afirmou que hoje é tempo de ousar imaginar a lógica do encontro e do diálogo mútuo como caminho, a colaboração comum como conduta e o conhecimento recíproco como método e critério. E, assim, oferecer um novo paradigma para a resolução dos conflitos, contribuir para o entendimento entre as pessoas e para a salvaguarda da criação.

Penso que as religiões – disse Francisco – como também as universidades, sem precisar renunciar às próprias caraterísticas peculiares e aos próprios dons particulares, têm muito para contribuir e oferecer neste campo; tudo o que fizermos neste sentido é um passo significativo para garantir às gerações mais jovens o seu direito ao futuro, e será também um serviço à justiça e à paz.

As grandes tradições religiosas do mundo dão testemunho dum patrimônio espiritual, transcendente e amplamente partilhado, que pode oferecer sólidas contribuições nesse sentido, se formos capazes de nos aventurar a não ter medo de nos encontrarmos.

Todos somos chamados – frisou o Papa -, não só a prestar atenção à voz dos pobres que estão ao nosso redor – marginalizados, oprimidos, povos indígenas e minorias religiosas –, mas também a não ter medo de gerar instâncias (como timidamente já se começa a verificar) onde nos possamos unir e trabalhar juntos.

 

O Santo Padre recordou que todos são solicitados a abraçar o imperativo de defender a dignidade humana e respeitar os direitos de consciência e liberdade religiosa e criar espaços onde se ofereça um pouco de ar fresco, na certeza de que «nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto» (Laudato Si’, 205).

Francisco disse que a Tailândia, país de grande beleza natural, tem uma uma nota distinta que considera essencial e, de certo modo, “parte das riquezas que haveis de «exportar» e partilhar com as outras regiões da nossa família humana: vós tendes apreço e cuidado pelos vossos idosos, respeitai-los e reservais-lhes um lugar preferencial, para que vos garantam as raízes necessárias e assim o vosso povo não se corrompa seguindo certos slogans que acabam por esvaziar e hipotecar a alma das novas gerações”.

Francisco fez um agradecimento particular aos educadores e acadêmicos da Tailândia, que trabalham por proporcionar às gerações presentes e futuras as aptidões e sobretudo a sabedoria de raiz ancestral que lhes permitirão participar na promoção do bem comum da sociedade.

Todos somos membros da família humana e cada qual – finalizou o Papa -, no lugar que ocupa, é chamado a ser ator e corresponsável direto na construção duma cultura baseada em valores compartilhados que levem à unidade, ao respeito mútuo e à convivência harmoniosa.


Papa aos consagrados: não devemos ter medo de inculturar o Evangelho

Nesta sexta-feira (22) o primeiro compromisso do Papa Francisco foi o encontro com os sacerdotes, consagrados e consagradas, seminaristas e catequistas na Paróquia de São Pedro. Francisco iniciou seu discurso agradecendo a “todas pessoas consagradas que se tornaram fecundas, com o silencioso martírio da fidelidade e dedicação diária”. O Papa recorda de modo especial os consagrados idosos “que nos geraram no amor e amizade com Jesus Cristo”. E afirma: “Penso que a história vocacional de cada um de nós está marcada por estas presenças que ajudaram a descobrir e discernir o fogo do Espírito. É tão belo e importante saber agradecer”.

E conclui: “A gratidão é sempre uma ‘arma poderosa’ porque só se formos capazes de contemplar e agradecer concretamente todos os gestos de amor, é que deixaremos o Espírito obsequiar-nos com aquele ar puro capaz de renovar (e não empachar) a nossa vida e missão”.

“Nesta linha, podemos perguntar-nos: Como cultivo a fecundidade apostólica?”, pergunta o Papa, e afirma que só despertando para a beleza, a maravilha, a surpresa seremos capazes de abrir novos horizontes e suscitar novos interrogativos. E explica: “O Senhor não nos chamou para nos enviar ao mundo a fim de impor às pessoas obrigações ou cargas mais pesadas do que aquelas já têm (e são muitas), mas para compartilhar uma alegria, um horizonte belo, novo e surpreendente”.

Sem medo de inculturar o Evangelho
Seguindo estes passos, Francisco diz: “Isto impele-nos a não ter medo de procurar novos símbolos e imagens, uma música particular que ajude os tailandeses a despertarem para a maravilha que o Senhor nos quer dar. Não devemos ter medo de inculturar o Evangelho cada vez mais”.

“Para muitos – continua o Papa – “a fé cristã é uma fé estrangeira, é a religião dos estrangeiros. Este fato impele-nos a buscar corajosamente modos de proclamar a fé ‘em dialeto’, tal como uma mãe canta as canções de embalar ao seu bebê”.

E o Papa confirma: “Devemos deixar que o Evangelho se despoje de roupagens boas, mas estrangeiras, para ressoar com a música que vos é própria nesta terra e faz vibrar a alma dos nossos irmãos com a mesma beleza que fascinou o nosso coração”.

Recordando os primórdios da vocação dos consagrados o Papa fala-lhes de suas atividades quando jovens que visitavam os mais necessitados e acrescenta: “Certamente, lá, muitos foram visitados pelo Senhor, fazendo-lhes descobrir o chamado para Lhe dar tudo. Trata-se de sair de si mesmo e, no mesmo movimento de saída, sermos encontrados”. Ser cristãos, afirma o Papa é encontrar o outro! “Só assim vocês serão sinal concreto da misericórdia viva e operante do Senhor; sinal da unção do Santo nestas terras”.

Unção supõe oração
“Tal unção supõe a oração. A fecundidade apostólica requer e é sustentada cultivando a intimidade da oração. Uma intimidade, como a dos avós que rezam assiduamente o terço”. E confirma mais uma vez: “Sem a oração, toda a nossa vida e a nossa missão perdem sentido, força e fervor”.

Por fim o Pontífice cita São Paulo VI que dizia que “um dos piores inimigos da evangelização é a falta de fervor”. E que “o fervor alimenta-se neste duplo encontro: com o rosto do Senhor e com o dos irmãos”.


ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES

Senhor da messe,

ABENÇOA os jovens com o dom da coragem de responder ao teu chamado. Abre seus corações para os grandes ideais, para as grandes coisas.

INSPIRA todos os teus discípulos ao amor e ao dom recíproco – para que as vocações possam florescer na boa terra dos fiéis.

INSTALA naqueles que estão na vida religiosa, nos ministérios paroquiais e nas famílias, a confiança e a graça para que possam convidar outros a abraçar o ousado e nobre caminho de uma vida consagrada a Ti.

UNE-NOS a Jesus através da oração e do sacramento, para que possamos colaborar contigo na edificação do Teu reino de misericórdia e de verdade, de justiça e de paz. Amém.

Papa Francisco
(Adaptado da Mensagem para a 51º Dia Mundial de Oração para as Vocações)


ENCONTRO COM OS BISPOS

Papa a bispos da Ásia: mantenham a porta aberta aos sacerdotes e à missão no continente

O Papa Francisco deu seguimento à agenda oficial em Bangcoc nesta sexta-feira (22) em Tha Kham ao encontrar os bispos da Tailândia e da Federação das Conferências dos Bispos da Ásia (FABC) no Sampran, o santuário do primeiro Beato da Tailândia, o sacerdote e mártir, Nicolau Bunkerd Kitbamrung. A FABC é uma associação que reúne os membros das 19 Conferências Episcopais da Ásia, com sede em Hong Kong, além de associados, para promover o apostolado da Igreja no grande continente.

O legado do Beato Nicolau
Ao iniciar o discurso aos bispos asiáticos, o Pontífice agradeceu as boas vindas e logo fez referência ao local que hospedava o encontro, recordando o Beato Nicolau. O mártir “dedicou a sua vida à evangelização e à catequese, formando discípulos do Senhor”, disse o Papa, ao incentivar que seu exemplo se espalhasse pelas Igrejas da Ásia, feito “bálsamo e perfume”.

Francisco, ao citar a assembleia geral da FABC de 2020 pelos 50 anos de aniversário, disse ser uma boa ocasião para se voltar a visitar os ‘santuários’, onde se guardam “as raízes missionárias”. É importante que essa memória dos pastores que lutaram e intercederam pelo seu povo, acrescentou o Papa, ajude a avaliar a missão atual em meio a tantas tensões:

“Vocês vivem num continente multicultural e multirreligioso, dotado de grande beleza e prosperidade, mas ao mesmo tempo provado por uma pobreza e exploração em vários níveis. Os rápidos progressos tecnológicos podem abrir imensas possibilidades para facilitar a vida, mas podem também suscitar um crescente consumismo e materialismo, sobretudo entre os jovens. Vocês carregam nos ombros as preocupações dos povos ao ver o flagelo das drogas e o tráfico de pessoas, a necessidade de atender a um grande número de migrantes e refugiados, as más condições de trabalho, a exploração laboral sofrida por muitos, bem como a desigualdade econômica e social que existe entre os ricos e os pobres.”

O exemplo da santidade para espírito evangélico autêntico

Buscar na memória missionária o exemplo de Santos, disse o Papa, ajuda a enfrentar os embates dos tempos atuais: “Temos consciência de que ‘há estruturas [e mentalidades] eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador; de igual modo, as boas estruturas servem quando há uma vida que as anima, sustenta e avalia; [porque, em última análise], sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem fidelidade da Igreja à própria vocação, toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo’ e pode tornar difícil ao nosso coração o importante ministério da oração e intercessão.”

O Papa, ao descrever o caminho missionário na Ásia, observou a importância do Espírito Santo seguir sempre na primeira linha: é ele quem “chega antes do missionário, e permanece com ele”. O impulso do Espírito Santo, acrescentou, motivou os próprios Apóstolos e tantos missionários a não descartar nenhuma “terra, povo, cultura ou situação”para receber “a semente de vida”.

“Toda a vida tem valor aos olhos do Mestre. Ousados, corajosos, porque sabiam, antes de mais nada, que o Evangelho é um dom para ser semeado em todos e para todos: doutores da lei, pecadores, publicanos, prostitutas, todos os pecadores de ontem e de hoje. Apraz-me salientar que a missão, mais do que atividades a realizar ou projetos a implementar, requer um olhar e um olfato que se deve educar; requer uma preocupação paterna e materna, porque a ovelha se perde quando o pastor a dá por perdida; nunca antes.”

A transformação a partir do Evangelho
Francisco então falou da força do Evangelho na missão, que consiste não somente em proclamá-lo, mas em “também aprender a crer no Evangelho e deixar-se transformar por ele”. Ao parafrasear Paulo VI ao afirmar que “a Igreja começa por se evangelizar a si mesma”, o Papa falou da importância da dinâmica “conversão-anúncio”, de tornar-se “testemunha por vocação”.

“Uma Igreja em caminho, sem medo de descer pra rua e ter contato com a vida das pessoas que lhe foram confiadas, é capaz de se abrir humildemente ao Senhor e, com o Senhor, viver a maravilha da aventura missionária sem necessidade, consciente ou inconsciente, de querer aparecer ela em primeiro lugar, ocupando ou pretendendo talvez que lhe atribuam lugar de destaque. Quanto devemos aprender com vocês que, apesar de serem minoria em muitos dos países ou regiões, nem por isso se deixam levar ou contaminar pelo complexo de inferioridade ou pela lamentação de não se sentirem reconhecidos.”

O Papa caracterizou, assim, a fecundidade evangélica ao enaltecer o trabalho realizado pela Igreja asiática que, mesmo “pequena em pessoas e recursos”, é ardente e ansiosa por ser um instrumento vivo da promessa do Senhor para todas as pessoas das aldeias e cidades”. Francisco afirmou que “o martírio da dedicação diária e frequentemente silenciosa dará os frutos de que precisam os povos de vocês”.

“Não percamos de vista que muitas das terras de vocês foram evangelizadas por leigos. Eles puderam falar o dialeto do povo, um exercício simples e direto de inculturação, não teórica nem ideológica, mas fruto da paixão por partilhar Cristo.”

Porta aberta aos sacerdotes
Uma missão que também deve ser perpetuada por todos, ao percorrer um caminho de evangelização que inspire paciência e amabilidade, escuta e respeito. Francisco finalizou o discurso, então, fazendo um convite especial aos bispos da Ásia:
“De maneira particular, convido a ter sempre a porta aberta para os sacerdotes. Não esqueçamos que o próximo mais próximo do bispo é o sacerdote. Mantenham-se próximo deles, escutem-nos, procurem sustentá-los em todas as situações que enfrentam, sobretudo quando estarão desanimados ou apáticos, que é a pior das tentações do demônio. E o façam, não como juízes, mas como pais, não como gerentes que se servem deles, mas como verdadeiros irmãos mais velhos. Criem um clima de confiança que favoreça um diálogo sincero e aberto, buscando e pedindo a graça de terem a mesma paciência que o Senhor tem com cada um de nós… e tem tanta!”

“Todos somos discípulos missionários”

Cidade do Vaticano – O Santo Padre concluiu suas atividades em Bangcoc, capital da Tailândia, na tarde desta quinta-feira, com uma celebração Eucarística, no Estádio Nacional da cidade. Em sua homilia, o Papa partiu da frase evangélica de Mateus “Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?”. Com esta pergunta, Jesus desafiou a multidão a prestar atenção a esta pergunta, que parecia tão óbvia, e respondeu: “Todo aquele que fizer a vontade do meu Pai, que está no Céu. Este é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

Pôr-se a caminho, descobrir a verdade

Deste modo, disse Francisco, Jesus critica os determinismos religiosos e legais da época. No entanto, é impressionante ver no Evangelho a variedade de perguntas que perturbam, despertam e convidam os discípulos a pôr-se a caminho e a descobrir a verdade, capaz de gerar a vida. Isto, afirmou o Papa, serve para abrir o coração e renovar a nossa vida e a da comunidade. E acrescentou: “Assim aconteceu com os primeiros missionários, que partiram e chegaram a estas terras: ao ouvir a Palavra do Senhor e responder aos seus pedidos, puderam perceber que pertenciam a uma família bem maior do que a gerada pelos laços de sangue, cultura, região ou pertença a um determinado grupo”.

Por isso, explicou Francisco, impelidos pela força do Espírito e repletos de esperança, que nasce da boa nova do Evangelho, eles se puseram a caminho para conhecer os membros desta sua família que ainda não conheciam. Mas, tiveram que abrir o coração a uma nova realidade, superar todos os obstáculos e divisões, para encontrar as mães e irmãos tailandeses, que não frequentavam a Igreja. E o Papa ponderou: “Sem este encontro, faltaria o rosto do Cristianismo, os cânticos e as danças, que representam o sorriso típico dos tailandeses e seu contexto cultural. O discípulo missionário não é um mercenário da fé nem um caçador de prosélitos, mas um mendigo que reconhece que lhe faltam os irmãos, as irmãs e as mães com quem celebrar e festejar o dom da reconciliação, que Jesus oferece a todos ”

Todos somos discípulos missionários

Eis a fonte da ação evangelizadora, frisou Francisco, que recordou os 350 anos da criação do Vicariato Apostólico de Sião. Na época, eram apenas dois missionários que lançaram a semente do Evangelho, que, desde então, cresceu e desabrochou em uma variedade de iniciativas apostólicas, que contribuíram para a vida da nação. E o Papa afirmou: “Este aniversário não significa nostalgia do passado, mas uma chama de esperança para que, no presente, possamos também responder, com a mesma determinação, força e confiança. Trata-se de uma comemoração festiva, que nos ajuda, com coração feliz, compartilhar uma vida nova, que brota do Evangelho, com todos os membros da nossa família, que ainda não conhecemos”.

O Santo Padre concluiu sua homilia dizendo que “todos somos discípulos missionários, quando fazemos parte viva da família do Senhor, como Ele o fez”. E recordou: “Penso, de modo particular, nos meninos, meninas e mulheres obrigados à prostituição e ao tráfico, desfigurados na sua dignidade; penso nos jovens escravos da droga, que perturba sua perspectiva e dissipa seus sonhos; penso nos migrantes, privados das suas casas e famílias, e em tantos que, como eles, são esquecidos, órfãos, abandonados, sem uma comunidade de fé que os possa acolher; penso nos pescadores explorados, nos mendigos ignorados”.

Todas estas pessoas, disse por fim Francisco, fazem parte da nossa família cristã. O discípulo missionário sabe que a evangelização não é contar com a adesão dos poderosos, mas abre as portas para viver e partilhar do abraço misericordioso e mediador de Deus Pai. Assim, o Papa exortou a comunidade tailandesa a continuar o caminho iniciado há 350 anos pelos primeiros missionários.

Encontro do Papa com o rei da Tailândia

Depois da visita aos doentes no Hopital St. Louis, Papa Francisco encontrou o rei da Tailândia. O encontro foi realizado de forma privada. O Palácio Real Amprhorn, foi o local do encontro privado entre o Papa Francisco e o rei da Tailândia Vajiralongkorn Bodindradebayavarangkun (Rama X). O Papa foi recebido na entrada do palácio pelo chefe de gabinete da corte. Em seguida foi acompanhado até a sala de audiências onde encontrou o rei e a rainha.

Rei Rama X, subiu ao trono em 2016

A construção do Palácio Real Amprhorn iniciou em 1890 a pedido do rei Rama V e foi inaugurado em 1906. Desde 1972 é a residência oficial do monarca. O rei da Tailândia, nascido em 1952, subiu ao trono em 2016 depois da morte de seu pai Rama IX. Depois do encontro de forma privada com o rei, o Papa Francisco celebrou a missa no Estádio Nacional de Bangcoc.

Declaração sobre a Fraternidade chega também ao Extremo Oriente

A primeira jornada do Papa na Tailândia se conclui no Estádio Nacional com o abraço do pequeno rebanho cristão que Francisco veio confirmar na fé. Essas primeiras horas de visitas e encontros em Bangcoc representam uma “sentença” dos temas do pontificado: no discurso às autoridades políticas de um país que acolheu muitos refugiados dos países vizinhos ao pedido à comunidade internacional para que a crise migratória não seja ignorada e a migração seja “segura, ordenada e regulada”. Mas também um apelo contra a violência, a exploração e o abuso de crianças e mulheres, pronunciado em terra, infelizmente, colocada entre as metas do turismo sexual.

Foi cordial e familiar o clima durante o encontro com o Patriarca Supremo dos budistas no Templo Wat Ratchabophit Sathit Maha Simaran. Francisco descalço, foi acolhido pelo idoso Patriarca de 92 anos e por outros monges. No seu discurso o Papa convidou a crescer num estilo de “boa vizinhança”, agradecendo pelo fato que os católicos, mesmo sendo um grupo minoritário, “possam aproveitar da liberdade da prática religiosa”, vivendo por muitos anos em harmonia com seus irmãos e irmãs budistas. Mais interessante e tocante, foi o diálogo improvisado entre os dois líderes: o Patriarca supremo agradeceu a Francisco por que a Igreja Católica veio à Tailândia “para ajudar e não para conquistar”. Um exemplo de como se anuncia o Evangelho com o testemunho e com a vida, sem qualquer objetivo hegemônico, trabalhando para ajudar os pobres e para salvar a “nossa tão maltratada casa comum”. Durante a troca de presentes o Pontífice deu ao Patriarca Budista a Declaração sobre a Fraternidade Humana assinada em Abu Dhabu em fevereiro deste ano. Um texto que lentamente vai se encaminhando além das relações entre cristãos e muçulmanos.
Sobre o espírito de serviço e de acolhida para com todos que caracteriza o estilo de vida dos católicos deste país, o Papa teve diante de seus olhos um exemplo concreto durante a visita ao Hospital São Luís, quando pode visitar de forma privada doentes e pessoas com deficiências depois de ter falado com o pessoal médico. No seu discurso, Francisco convidou todos a terem uma “piedade especial” para com os que sofrem e olhar os pacientes chamando-os pelo nome. O Papa testemunhou mais uma vez que o cristão participa das angustias diante das doenças e que não existe resposta pronta para enfrentá-las: “Todos sabemos que a doença traz sempre consigo grandes interrogativos. A primeira reação pode ser rebelar-nos, chegando mesmo a viver momentos de confusão e desolação. É o grito que brota da dor, e assim deve ser; o próprio Jesus, sofrendo, o deu. Com a oração, queremos unir-nos também nós ao d’Ele”.


ÍNTEGRA DA SAUDAÇÃO DO PAPA NA VISITA AO PATRIARCA SUPREMO BUDISTA

Santidade!

Agradeço as suas amáveis palavras de boas-vindas. Sinto-me feliz por vir, no princípio da minha Visita a esta nação, a este Templo Real, símbolo dos valores e ensinamentos que caraterizam este povo amado. Foi nas fontes do budismo que a maioria dos tailandeses bebeu e modelou a sua maneira de venerar a vida e os seus idosos, realizar um estilo de vida sóbrio baseado na contemplação, desapego, trabalho duro e disciplina (cf. São João Paulo II, Ecclesia in Asia, 6/XI/1999, 6); caraterísticas que alimentam o vosso traço distintivo tão peculiar: o povo do sorriso.

O nosso encontro insere-se no caminho de estima e mútuo reconhecimento iniciado pelos nossos antecessores. Na esteira dos seus passos, quero colocar esta visita para aumentar não só o respeito, mas também a amizade entre as nossas comunidades. Já se passaram quase cinquenta anos desde que o décimo sétimo Patriarca Supremo, Somdej Phra Wanarat (Pun Punnasiri), acompanhado por um grupo de importantes monges budistas, visitou o Papa Paulo VI no Vaticano, o que representou um marco muito importante no desenvolvimento do diálogo entre as nossas tradições religiosas; o cultivo deste diálogo permitiria sucessivamente ao Papa João Paulo II efetuar uma visita neste Templo ao Patriarca Supremo, Sua Santidade Somdej Phra Ariyavongsagatanana (Vasana Vasano). Pessoalmente, tive a honra de receber recentemente uma delegação de monges do templo de Wat Pho, que me obsequiou com a tradução dum antigo manuscrito budista escrito em língua pali, guardado agora na Biblioteca Vaticana. Pequenos passos que ajudam a testemunhar, não só nas nossas comunidades mas também neste nosso mundo tão instigado a gerar e propagar divisões e exclusões, que a cultura do encontro é possível. Sempre que temos oportunidade de nos reconhecer e apreciar, mesmo nas nossas diferenças (cf. Evangelii gaudium, 250), oferecemos ao mundo uma palavra de esperança, capaz de encorajar e sustentar aqueles que acabam por ser sempre os mais prejudicados pela divisão. Tais possibilidades lembram-nos quão importante é que as religiões se manifestem cada vez mais como faróis de esperança, enquanto promotoras e garantes de fraternidade.

Neste sentido, agradeço a este povo que, desde a chegada do cristianismo à Tailândia há cerca de quatro séculos e meio, permitiu aos católicos, mesmo sendo um grupo minoritário, desfrutar de liberdade na prática religiosa, vivendo desde há muitos anos em harmonia com os seus irmãos e irmãs budistas.

Neste caminho de mútua confiança e fraternidade, desejo reiterar o meu empenho pessoal e o de toda a Igreja no fortalecimento de um diálogo aberto e respeitoso ao serviço da paz e do bem-estar deste povo. Graças aos intercâmbios académicos, que permitem uma maior compreensão mútua, e também ao exercício da contemplação, da misericórdia e do discernimento – tão comuns às nossas tradições –, poderemos crescer num estilo de boa «vizinhança». Poderemos promover entre os fiéis das nossas religiões o desenvolvimento de novos projetos de caridade, capazes de gerar e incrementar iniciativas concretas no caminho da fraternidade, especialmente com os mais pobres, e em referência à nossa casa comum tão maltratada. Desta forma, contribuiremos para a formação duma cultura de compaixão, fraternidade e encontro, tanto aqui como noutras partes do mundo (cf. ibid., 250). Estou certo de que este caminho continuará a dar frutos em abundância.

Mais uma vez, agradeço a Vossa Santidade por este encontro. Rezo para que seja cumulado das bênçãos divinas na sua saúde e bem-estar pessoal e também na sua alta responsabilidade de guiar os crentes budistas nos caminhos da paz e da concórdia.

Obrigado!
FRANCISCO


Esta terra tem como nome liberdade, diz Papa no discurso às autoridades

O Papa Francisco ao chegar no Palácio do Governo, foi recebido pelo primeiro ministro, o general Prayuth Chan-ocha. Os dois posaram para a foto oficial e foram para antecâmara, onde o Pontífice assinou o Livro de Honra. Houve a troca de presentes e o primeiro ministro apresentou a sua esposa. Após um encontro privado, o Papa e o primeiro ministro foram para a Sala Inner Santi Maitri, onde encontraram as autoridades, membros do corpo diplomático e demais membros da sociedade.

Após a saudação do primeiro ministro, o Santo Padre agradeceu a oportunidade de visitar uma terra que é “detentora de tantas maravilhas naturais e sobretudo guardiã de antigas tradições espirituais e culturais”. E desejou maiores venturas as autoridades presentes após as recentes eleições que marcaram “o regresso à normalidade do processo democrático”.

O discurso de Papa Francisco abordou três temas importantes, que pode ser dirigido não somente a Tailândia, mas também a toda a comunidade internacional: desenvolvimento, diálogo e imigração.

Desenvolvimento

Papa Francisco recordou que a Tailândia concluirá o seu período de presidência da ASEAN (Association of South East Asian Nations), uma organização criada com a responsabilidade de contribuir o desenvolvimento econômico, social e cultural dos países do Sudeste Asiático. Recordou o grande empenho que a Tailândia teve com os problemas que enfrentam os povos de “toda a regiões do sudeste asiático e de seu interesse constante em promover a cooperação politica, econômica e cultural da região”.

“Com o firme propósito de abordar tudo aquilo que ignore o grito de tantos nossos irmãos e irmãs que anelam por ser libertados do jugo da pobreza, da violência e da injustiça. Esta terra tem como nome «liberdade». Sabemos que esta só é possível se formos capazes de nos sentir corresponsáveis uns pelos outros e superar toda e qualquer forma de desigualdade. Por isso, é necessário trabalhar para que as pessoas e as comunidades possam ter acesso à educação, a um trabalho digno, à assistência sanitária, e assim alcançar os níveis mínimos indispensáveis de sustentabilidade que tornem possível um desenvolvimento humano integral.

Diálogo

Há muito que a Tailândia, como nação multicultural e caraterizada pela diversidade, reconhece a importância de construir a harmonia e a convivência pacífica entre os seus numerosos grupos étnicos, mostrando respeito e apreço pelas diferentes culturas, grupos religiosos, filosofias e ideias. A época atual está marcada pela globalização, considerada com demasiada frequência em termos estritamente económico-financeiros e propensa a cancelar as notas essenciais que configuram e geram a beleza e a alma dos nossos povos; ao contrário, a experiência concreta duma unidade que respeite e salvaguarde as diferenças serve de inspiração e incentivo para quantos têm a peito o mundo tal como o desejamos legar às gerações futuras.

O Papa parabenizou a iniciativa de criar a “Comissão Ético-Social”, que convidou religiões tradicionais do país, “a fim de acolher as suas contribuições e manter viva a memoria espiritual” do povo. E para reafirmar a importância de promover o dialogo inter-religioso e a amizade, encontrará com o Supremo Patriarca Budista Somdej Phra Maha Muneewong, conhecido também como Umporn Umpa-row.

“Desejo assegurar-vos pessoalmente todos os esforços da pequena mas vivaz comunidade católica, para manter e promover as caraterísticas tão peculiares dos tailandeses, evocadas no vosso Hino Nacional: pacíficos e carinhosos, mas não covardes.”

Imigração

Sobre a imigração, o Papa Francisco destacou o quanto a Tailândia também precisou enfrentar este desafio. “Não se pode ignorar a crise migratória. A própria Tailândia, conhecida pela hospitalidade que tem oferecido aos migrantes e refugiados, viu-se perante esta crise devido à fuga trágica de refugiados dos países vizinhos. Almejo – uma vez mais o digo – que a comunidade internacional atue com responsabilidade e clarividência, possa resolver os problemas que levam a este êxodo trágico e promova uma migração segura, ordenada e regulamentada. Oxalá cada nação desenvolva mecanismos eficazes para proteger a dignidade e os direitos dos migrantes e refugiados, que enfrentam perigos, incertezas e exploração na sua busca da liberdade e duma vida digna para as suas famílias. Não se trata apenas de migrantes, trata-se também da fisionomia que queremos dar às nossas sociedades”.

Ainda sobre a questão da imigração, ressaltou sua preocupação principal com as mulheres e as crianças, “particularmente feridas, violentadas e expostas a todas as formas de exploração, escravidão, violência e abuso”. O Papa agradeceu ao Governo Tailandês todos os esforços “para extirpar este flagelo, bem como a todas as pessoas e organizações que trabalham incansavelmente para erradicar este mal e proporcionar um caminho de dignidade”.

Ao recordar o trigésimo aniversário da Convenção sobre os Direitos da Infância e da Adolescência, disse que somos convidados a “refletir e trabalhar, com determinação, perseverança e rapidez, para proteger o bem-estar das nossas crianças, o seu desenvolvimento social e intelectual, o acesso à educação, bem como o seu crescimento físico, psicológico e espiritual”.

Por fim o Santo Padre chamou a todos de “artesãos da hospitalidade”, pois segundo ele, somos todos responsáveis de cuidar do desenvolvimento integral dos povos, onde no seio duma família humana nos empenhemos a viver na “justiça, solidariedade e harmonia fraterna”.


Tailândia: O Papa Francisco visita o Hospital St. Louis

No segundo dia do Papa Francisco em terras tailandesas, o Santo Padre visitou o Hospital St. Louis, fundado pelos católicos em 1898 e agora centro médico de excelência. Durante a visita o Pontífice se encontrou com a equipe médica e com um grupo de pacientes. Francisco foi acolhido pelo diretor geral da estrutura. Estavam presentes no encontro, realizado no auditório do Hospital, cerca de 700 pessoas.

Após a saudação do diretor da estrutura o Papa Francisco tomou a palavra, falando inicialmente da sua alegria pela oportunidade de se encontrar com o pessoal médico, sanitário e auxiliar do Hospital St. Louis e de outros hospitais católicos e centros de caridade. “Para mim, – disse – é uma bênção contemplar pessoalmente este precioso serviço que a Igreja oferece ao povo tailandês, especialmente aos mais necessitados.

Francisco saudou ainda as Irmãs de São Paulo de Chartres, bem como as outras religiosas presentes agradecendo a sua silenciosa e alegre dedicação a este apostolado. “Em vós temos a possibilidade de contemplar o rosto materno do Senhor, que Se inclina para ungir e levantar os seus filhos. Obrigado!”, disse o Papa.

O Santo Padre disse que gostou de ouvir as palavras do Diretor sobre o princípio que anima este Hospital: «Ubi caritas, Deus ibi est – onde houver caridade, aí está Deus». De fato, é precisamente na prática da caridade que nós, cristãos, somos chamados não só a manifestar que somos discípulos missionários, mas também a verificar a fidelidade do nosso seguimento e a das nossas Instituições. Francisco disse que eles realizam uma das maiores obras de misericórdia, porque o compromisso sanitário deles vai muito além de um simples e louvável exercício da medicina.
“Tal compromisso não se pode reduzir apenas à realização de algumas ações ou determinadas programas, mas deveis ir mais além, abertos ao imprevisto, ou seja, acolher e abraçar a vida como chega à urgência do hospital para ser atendida com uma compaixão especial, que brota do amoroso respeito pela dignidade de todos os seres humanos”.

Os processos de cura – disse o Papa – exigem e reclamam também a força duma unção capaz de restituir, em todas as situações que se devem atravessar, um olhar que dignifica e ampara.
“Sei que o vosso serviço pode, às vezes, ser pesado e extenuante; viveis no meio de situações extremas, e isto requer que possais ser acompanhados e assistidos no vosso trabalho. Daí a importância de desenvolver uma pastoral da saúde, na qual não só os pacientes, mas todos os membros desta comunidade possam sentir-se acompanhados e sustentados na sua missão”.

Neste ano, o Hospital St. Louis comemora o 120º aniversário da sua fundação. Muitas pessoas receberam alívio no seu sofrimento, foram consoladas nas suas aflições e acompanhadas na sua solidão! “Ao dar graças a Deus pelo dom da vossa presença ao longo destes anos, – disse Francisco – peço-Lhe que este apostolado e outros semelhantes sejam cada vez mais sinal e emblema duma Igreja em saída que, querendo viver a sua missão, é incentivada a levar o amor sanador de Cristo às pessoas que sofrem.

O Santo Padre disse em seguida que “todos sabemos que a doença traz sempre consigo grandes interrogativos. A primeira reação pode ser rebelar-nos, chegando mesmo a viver momentos de confusão e desolação. É o grito que brota da dor, e assim deve ser; o próprio Jesus, sofrendo, o deu. Com a oração, queremos unir-nos também nós ao d’Ele”.
No final do encontro o Papa Francisco visitou os enfermos e pessoas com deficiência acompanhando-os, pelo menos um pouco, no seu sofrimento.

Papa na primeira universidade do Japão: “Não nos esqueçamos dos pobres”

Cidade do Vaticano – Depois de despedir-se da Nunciatura Apostólica na manhã desta terça-feira, 26, o Papa Francisco deslocou-se até a Sophia University, em Tóquio, onde celebrou com membros da Companhia de Jesus na Capela do Kulturzentrum. Seguiu o café da manhã e o encontro privado com o Colegio Maximo no refeitório, a visita aos sacerdotes idosos e enfermos, e por fim seu discurso no auditório.

A instuição foi fundada pelos jesuítas em 1913, mas sua origem remonta a mais de 450 anos, quando o missionário Francisco Xavier chegou ao Japão, em 1549, com a ideia de difundir o cristianismo e criar uma universidade. O projeto de criar este centro de estudos teve início, em 1908, quando, por vontade do Papa Pio X, três sacerdotes jesuítas desembarcaram no Japão para abrir, cinco anos depois, a primeira universidade católica do país.

“Minha estada neste país foi breve, mas intensa. Agradeço a Deus e a todo o povo japonês pela oportunidade de visitar este país, que marcou fortemente a vida de São Francisco Xavier e no qual tantos mártires deram testemunho da sua fé cristã. Embora os cristãos sejam uma minoria, sente-se a sua presença”.

O Santo Padre sublinhou que foi testemunha da estima geral pela Igreja Católica, e espera que este respeito mútuo possa aumentar no futuro. “Notei também que, apesar da eficiência e da ordem que a caraterizam, a sociedade japonesa deseja e procura algo mais: um anseio profundo de criar uma sociedade cada vez mais humana, compassiva e misericordiosa”, disse ele.

O Papa frisou que “o estudo e a meditação fazem parte de todas as culturas, sendo a cultura japonesa orgulhosa do seu antigo e rico patrimônio a tal respeito. O Japão conseguiu integrar o pensamento e as religiões da Ásia no seu conjunto e criar uma cultura com identidade específica”.

Francisco citou a Escola Ashikaga como exemplo “da capacidade que possui a cultura japonesa de absorver e transmitir o conhecimento. Os centros de estudo, meditação e pesquisa continuam desempenhando um papel importante na cultura atual. Por este motivo, é necessário que mantenham a sua autonomia e liberdade, como penhor de um futuro melhor”.

“Dado que as universidades continuam sendo o lugar principal onde se formam os futuros líderes, é preciso que o conhecimento e a cultura em toda a sua amplitude inspirem todos os aspectos das instituições educacionais, tornando-se cada vez mais inclusivas e capazes de gerar oportunidades e promoção social”.

Segundo o Pontífice, “numa sociedade tão competitiva e tecnologicamente orientada, esta Universidade deveria ser não só um centro de formação intelectual, mas também um local onde modelar uma sociedade melhor e um futuro mais esperançoso. E acrescentaria – no espírito da encíclica Laudato Si’ – que o amor à natureza, tão típico das culturas asiáticas, aqui se devia expressar numa lúcida e previdente preocupação pela proteção da terra, nossa casa comum; preocupação que possa conjugar-se com a promoção duma nova ciência capaz de questionar e fazer expandir qualquer tentativa reducionista por parte do paradigma tecnocrático”.

A Universidade Sophia sempre se distinguiu por uma identidade humanista, cristã e internacional. “Desde a sua fundação, a Universidade foi enriquecida pela presença de professores provenientes de vários países, às vezes até de países em conflito entre si. Mas todos estavam unidos pelo desejo de dar o melhor aos jovens do Japão. O mesmo espírito perdura também nas várias formas com que vocês prestam ajuda àqueles que mais precisam, aqui e no exterior”, disse o Pontífice, acrescentando: “Estou certo de que este aspecto da identidade de sua Universidade se revigorará cada vez mais, de modo que os grandes progressos tecnológicos atuais possam ser colocados a serviço duma educação mais humana, justa e ecologicamente responsável”.

Francisco disse ainda que a tradição inaciana, na qual se baseia a Universidade Sophia, deve estimular professores e alunos a criar uma atmosfera que favoreça a reflexão e o discernimento. “Nenhum estudante desta Universidade deveria conseguir a formatura sem antes ter aprendido como escolher, responsável e livremente, aquilo que em consciência sabe ser o melhor”, frisou o Papa.

O Santo Padre recordou as Preferências Apostólicas Universais que ele propôs à Companhia de Jesus e que “mostram claramente que o acompanhamento dos jovens é uma realidade importante em todo o mundo e que todas as instituições inacianas devem favorecer este acompanhamento”. “Como demonstra o Sínodo sobre os jovens com os seus documentos, também a Igreja universal olha, com esperança e interesse, para os jovens de todo o mundo”, disse ele.

Segundo o Papa, Universidade Sophia “é chamada a concentrar-se nos jovens, que não só devem ser destinatários duma educação qualificada, mas também participar nessa educação, oferecendo suas ideias e partilhando sua visão e esperanças para o futuro”. A seguir, Francisco disse que a tradição cristã e humanista da Universidade Sophia está plenamente em linha com outra das Preferências que ele mencionou: caminhar com os pobres e os marginalizados do nosso mundo.

“A Universidade, centrada na sua missão, deve estar sempre aberta à criação de um arquipélago capaz de interligar aquilo que, social e culturalmente, pode ser concebido como separado. Os marginalizados devem ser envolvidos e introduzidos criativamente no currículo universitário, procurando criar as condições para que isto se traduza na promoção de um estilo educativo capaz de reduzir as fraturas e as distâncias”, disse o Papa acrescentando: “O estudo universitário de qualidade, em vez de se considerar um privilégio de poucos, seja acompanhado pela consciência de se saberem servidores da justiça e do bem comum; serviço a ser implementado na área que cada um é chamado a desenvolver. Trata-se duma causa que tem a ver com todos nós; a recomendação feita a Paulo por Pedro continua sendo válida ainda hoje: não nos esqueçamos dos pobres”.

O Papa espera que essa reflexão e o encontro com os jovens, professores e funcionários da Universidade Sophia possa produzir fruto em suas vidas e na vida dessa comunidade acadêmica. “O Senhor e a sua Igreja contam com vocês como protagonistas na missão de buscar, encontrar e difundir a Sabedoria divina e oferecer alegria e esperança à sociedade atual”, concluiu Francisco.


Casa Comum delicada como a flor da cerejeira

No encontro com as autoridades, em Kantei, o Santo Padre saudou o Primeiro Ministro e as autoridades do Governo e do Corpo Diplomático em seu discurso: “Todos vocês, segundo as suas competências, dedicam-se à construção da paz e do progresso do povo desta nobre nação e dos países que representam. Fico muito agradecido ao imperador Naruhito, que encontrei nesta manhã. Desejo felicidades a todos e invoco as bênçãos de Deus sobre a Família Imperial e, sobretudo, o povo japonês no início desta nova era”.

A seguir, Francisco ressaltou que “as relações amistosas entre a Santa Sé e o Japão são muito antigas, enraizadas no reconhecimento e admiração que os primeiros missionários sentiram por estas terras”. E, recordando o objetivo da sua visita ao Japão, disse: “Vim confirmar os católicos japoneses na fé, em seus esforços de caridade para com os necessitados e em seu serviço ao país, do qual se sentem cidadãos orgulhosos. Como nação, o Japão é particularmente sensível ao sofrimento dos desfavorecidos e das pessoas com deficiência. O lema da minha visita é: “Proteger toda a vida”, reconhecendo a sua dignidade inviolável e a importância da solidariedade e apoio aos nossos irmãos e irmãs mais necessitados”.

Paz duradoura

Na senda dos seus predecessores, o Pontífice pediu a Deus e todas as pessoas de boa vontade para continuar a encorajar e favorecer todos os meios dissuasivos necessários para que jamais, na história da humanidade, aconteça uma destruição como a provocada pelas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. E continuou: “A história ensina-nos que os conflitos entre povos e nações, até os mais graves, podem encontrar soluções válidas através do diálogo, única arma digna do ser humano e capaz de garantir uma paz duradoura. Estou convencido da necessidade de se tratar da questão nuclear em nível multilateral, promovendo um processo político e institucional, capaz de criar um consenso e uma ação internacional mais amplos”.

Uma cultura de encontro e de diálogo, afirmou Francisco, é essencial para construir um mundo mais justo e fraterno. O Japão reconheceu a importância de promover os setores da instrução, cultura, esporte e turismo, sabendo que podem contribuir muito para a harmonia, a justiça, a solidariedade e a reconciliação, que são os pilares da paz. E o Papa ponderou: “Nestes dias, pude admirar o precioso patrimônio cultural, que o Japão conseguiu desenvolver e preservar ao longo de muitos séculos de história, e os profundos valores religiosos e morais que caracterizam esta cultura antiga. Uma boa relação entre as várias religiões é essencial, não só para o futuro da paz, mas também para preparar as novas gerações em vista de uma sociedade mais justa e humana”.

Casa Comum: delicada como a cerejeira
Nenhum visitante do Japão pode deixar de admirar a beleza natural deste país, simbolizada, sobretudo, pela imagem das cerejeiras em flor. No entanto, a delicadeza desta flor lembra a fragilidade da nossa Casa comum, sujeita a desastres naturais, ganância, exploração e devastação pelas mãos do homem. A proteção da nossa Casa comum deve levar em consideração também a “ecologia humana”.

“A dignidade humana deve ocupar o centro de toda a atividade social, econômica e política; é preciso promover a solidariedade entre gerações e nunca se esquecer dos excluídos. Penso, de modo particular, nos jovens, idosos e pessoas abandonadas, que sofrem pelo isolamento. O nível da civilização de uma nação ou de um povo mede-se, não pelo seu poder econômico, mas pela atenção aos necessitados e a promoção da vida”.

O Papa concluiu seu discurso expressando sua gratidão pelo convite de visitar o Japão e pela cordial hospitalidade. Por fim, encorajou os esforços por uma ordem social, capaz de proteger a vida, a dignidade e os direitos da família humana.


Papa Francisco despede-se do Japão

“Agradeço a todo o povo japonês a gentil recepção e as boas-vindas que me foram concedidas durante minha Visita Apostólica. Terei todos vocês em minhas orações”, escreveu o Papa Francisco em um twitter em inglês e japonês, publicado pouco antes de despedir-se do País do Sol Nascente.

“Minha estada neste país foi breve, mas intensa. Agradeço a Deus e a todo o povo japonês pela oportunidade de visitar este país, que marcou fortemente a vida de São Francisco Xavier e no qual tantos mártires deram testemunho da sua fé cristã. Embora os cristãos sejam uma minoria, sente-se a sua presença”, disse em seu discurso na Sophia University, último compromisso em terras japonesas.

Da universidade dos jesuítas, o Papa deslocou-se até o Aeroporto de Tóquio-Haneda, distante 20,3 km, onde saudou os bispos japoneses e as delegações presentes. Não houve discursos nem cerimônias oficiais. O voo 8787-9 da All Nippon Airways decolou às 11h43, horário local, com destino a Roma.