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Papa aos jovens economistas: é preciso ousadia, não tenham medo

Papa aos jovens economistas: é preciso ousadia, não tenham medo

“Para mim, este encontro virtual em Assis não é um ponto de chegada, mas o impulso inicial de um processo que somos convidados a viver como vocação, como cultura e como pacto.”

Assim, o Papa Francisco define a “Economia de Francisco”, evento virtual que se encerrou este sábado e que, a partir de Assis, reuniu milhares de participantes em todo o mundo.

“Mais humano do que o outro”
O Pontífice agradeceu a participação numerosa e falou palavras de encorajamento aos jovens citando as encíclicas Laudato si e Fratelli tutti, mas também com referências a seus predecessores São Paulo VI, São João Paulo II e Bento XVI.

Francisco deu voz à juventude que, como ele, é concorde em afirmar que “precisamos e queremos uma mudança”, sem se deixar levar pela lógica do “sempre foi assim”.

Hoje, as injustiças, as desigualdades, a exclusão não são mais toleradas. A cultura do descarte deve ter os seus dias contados. Ninguém tem o direito de se sentir “mais humano do que outro”.

Se é urgente encontrar respostas, é indispensável fazer crescer e apoiar grupos dirigentes capazes de elaborar cultura, iniciar processos – “não se esqueçam desta palavra: iniciar processos” – traçar percursos, alargar horizontes e criar pertenças.

Mística do bem comum
Para isso, é imprescindível mudar estilo de vida e os modelos de produção e consumo e retornar “à mística do bem comum”. “A fome não depende tanto da escassez material, mas da escassez de recursos sociais”, disse Francisco citando o Papa emérito.

O Santo Padre recordou uma experiência que fez muitos anos atrás, ainda na Argentina, na década de 1970 – uma experiência que pode ser vivida também no Brasil: a dos condomínios fechados.

“Tive que visitar alguns noviços da Companhia e cheguei a uma cidade e, depois, andando por lá, alguém me disse: Não, ali não se pode ir, é um bairro fechado. Dentro havia muros e dentro havia casas, ruas, mas fechado: ou seja, um bairro que vivia na indiferença. Impressionou-me muito ver aquilo…Mas depois isto cresceu, cresceu, cresceu… e estava em todos os lugares. Mas eu me pergunto: o seu coração é como um condomínio fechado?”

É tempo de ousar
É por isto que é “tempo de ousar o risco de favorecer e estimular modelos de desenvolvimento, de progresso e de sustentabilidade em que as pessoas, e especialmente os excluídos, entre os quais a irmã terra, deixem de ser uma presença meramente funcional, para se tornar protagonistas de sua vida, assim como de todo o tecido social. (…) Não pensemos por eles, mas com eles”.

Em outras palavras, política e economia devem estar a serviço da vida, especialmente da vida humana. A medida do desenvolvimento é a humanidade. Sem esta centralidade e orientação, ficaremos prisioneiros de um círculo alienante que somente perpetuará dinâmicas de degradação, exclusão, violência e polarização.

A propósito, disse ainda o Papa, descreditar, caluniar ou descontextualizar o interlocutor que não pensa como nós é “um modo de se defender covardemente das decisões que eu deveria assumir para resolver muitos problemas”.

Sujar as mãos, sendo fermento
A perspectiva do desenvolvimento humano integral é uma boa notícia a profetizar e aplicar, disse ainda o Papa. E como se faz? Sem atalhos, mas sujando as mãos, sendo fermento. “Passada esta crise sanitária que estamos vivendo, a pior reação seria cair ainda num febril consumismo e em novas formas de autoproteção egoísta. Colhamos a oportunidade e coloquemo-nos todos a serviço do bem comum. Que no final não existam mais ‘os outros’, mas um grande ‘nós’.”

Eis então a exortação final de Francisco:

“Não tenham medo de se envolver e tocar a alma das cidades com o olhar de Jesus. Não tenham medo, porque ninguém se salva sozinho. Ninguém se salva sozinho. A vocês jovens, provenientes de 115 países, dirijo o convite a reconhecer que necessitamos uns dos outros para dar vida a esta cultura econômica, capaz de fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer esperanças, enfaixar feridas e criar relações.”

Acompanhe o evento

https://francescoeconomy.org/live-streaming/nov-19/

Nesta quinta-feira, 19 de novembro, abre-se os três dias da Economy of Francesco (Economia de Francisco), a iniciativa lançada pelo Pontífice aos jovens economistas e empresários para promover um processo de mudança global.

Na carta-convite aos jovens divulgada em 11 de maio de 2019, o Papa explica que Assis é o lugar apropriado para inspirar uma nova economia, pois foi ali que Francisco despojou-se de toda a mundanidade para escolher a Deus como bússola da sua vida, tornando-se pobre com os pobres e irmão de todos. Sua decisão de abraçar a pobreza também deu origem a uma visão econômica que permanece atual.

O evento começará às 14h (horário italiano) com “Listen to the Cry of the Poorest to Transform the Earth”, um vídeo do International Movement ATD Fourth World, a mensagem do prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, cardeal Peter Turkson, e as boas-vindas do comitê organizador. Quem abrirá as conferências será o economista Jeffrey Sachs, com o tema “Perfecting Joy: Three Proposals to Let Life Flourish”.

Como participar

Para participar do evento, basta conectar-se ao site e clicar na página inteiramente dedicada ao streaming ao vivo. As 12 aldeias temáticas, transformadas em sessões de trabalho online que os jovens realizaram nos últimos meses, são:

– trabalho e cuidado;  gestão e dom;  finanças e humanidade;  agricultura e justiça;  energia e pobreza;  lucro e vocação;  políticas para a felicidade;  CO2 da desigualdade;  negócios e paz;  a economia é mulher;  empresas em transição;  vida e estilos de vida.

Estão previstas conferências com palestrantes de renome internacional, incluindo o prêmio Nobel Muhammad Yunus e, entre outros, economistas e especialistas como Kate Raworth, Jeffrey Sachs, Vandana Shiva, Stefano Zamagni, Mauro Magatti, Juan Camilo CardenasJennifer NedelskyIr. Cécile Renouard, além de inúmeros empreendedores com experiência e competências consolidadas.

Todos os palestrantes estarão disponíveis para ouvir os jovens também em conversas pessoais, além de sessões interativas de grupos limitados de participantes.

Alguns encontros

No dia 19 de novembro, das 15h40 às 16h30 (horário italiano), “Perfecting Joy: Three Proposals to Let Life Flourish”, com Jeffrey Sachs, Ilaria Schnyder von Wartensee e Stefano Bartolini“Peace Economics and Industrial Reconversion: a Recovery Plan for the World”, com Raul CarusoJuan Camilo Cárdenas e Susy Snyder.

Das 16h30 às 17h20, “Experiences in Ecological and Social Transition Communities”, com a Ir. Cécile Renouard.

Dia 20 de novembro, das 14h10 às 15h (horário italiano), “Generativity, Relational Goods and Civil Economy”, com Mauro Magatti, Consuelo Corradi e Leonardo Becchetti.

Das 16h40 às 17h30, “An Economy of Abundance: How to Foster Bottom-Up Development?”, com Vandana Shiva e Pauline Effa.

No mesmo horário, “Work & Care: New Pillars of Work”, com Jennifer Nedelsky, Paolo Foglizzo e Francesco Baroni.

Dia 21 de novembro, das 15h às 15h50 (horário italiano), “We are All Developing Countries”, com Kate Raworth e John Perkins.

jovens do mundo inteiro coligados com a cidade de Assis

Começou na tarde desta quinta-feira, na Basílica de São Francisco em Assis, o evento que envolve mais de 2.000 empresários e estudantes de economia com menos de 35 anos de todos os continentes. Os discursos do bispo da cidade da Umbria, do cardeal Turkson e as propostas dos jovens: a revolução de São Francisco, fonte de inspiração para realizar um novo sistema econômico no nosso tempo.
Bem-vindo a Assis! É a saudação que deu início ao evento “Economia de Francisco” desejado pelo Papa e há muito esperado por causa da Covid-19. Foi uma jovem quem fez a saudação aos jovens presentes na capela da Basílica de São Francisco em Assis e aos cerca de 2.000 coligados de mais de 40 países, entre os quais Itália, Argentina, Brasil, Costa do Marfim, Coreia, Portugal, Camarões, Polônia, Colômbia, Nigéria, Espanha, Suíça, Índia, Chile, Bélgica, Irlanda, África do Sul, Botswana, Cuba, México, Filipinas, Uganda e Paquistão. Dois outros jovens foram os apresentadores de uma tarde cheia de ideias, propostas, canções, vídeos com testemunhos e descrições de projetos que se sucederam a um ritmo premente. Desde o início, foi dito que este não seria um encontro tradicional, com jovens sentados a ouvir especialistas e professores de economia, mas que seriam eles os protagonistas absolutos.

Ouvir o grito dos pobres

Percorrendo o percurso de Economia de Francisco, iniciado com a carta do Papa aos jovens em maio de 2019, se observa como o mundo de hoje mais do que nunca espera uma nova economia. 12 aldeias temáticas que trabalharam nos últimos meses para a preparação.

Um vídeo intitulado: “Ouça o grito dos mais pobres para transformar a terra”, realizado pelo movimento ATD Quarto Mundo, envia imediatamente a todos uma mensagem dos jovens que vivem na pobreza, que se contentam com uma alimentação inadequada. Muitos jovens não vão à escola para fazer pequenos trabalhos para ganhar a vida ou trabalhos pesados e perigosos. Muitos de nós somos excluídos, não temos os instrumentos que outros têm, afirmam, sofremos frequentemente discriminações na vida social. Os voluntários de ATD relançam: temos de colocar o homem no centro da economia. Por todo o lado, dizem, a pandemia torna as pessoas mais frágeis, mas os pobres são as suas primeiras vítimas, a Covid salientou as desigualdades, diz um voluntário de ATD e conclui, as pessoas que vivem na miséria nos esperam para fazer parte de um mundo melhor.

O dinheiro, apenas um instrumento

Na Basílica presente o bispo de Assis, dom Domenico Sorrentino. Deu as boas-vindas aos jovens à cidade de São Francisco e disse que 800 anos antes, o então bispo Guido, tinha dado as mesmas boas-vindas ao Santo chamado ‘a juízo’, cujo centro era precisamente o dinheiro. Francisco considerava-o um instrumento para o bem de todos e especialmente dos últimos. Com a sua nudez, disse dom Sorrentino, ele escreveu o manifesto de uma nova economia. Este episódio representa o encontro entre a instituição e o carisma, ambos na escuta do Espírito Santo, que introduzia uma nova história.

Turkson: São Francisco economista ante litteram

“Vocês decidiram dar vida a uma rede global de jovens que iniciará a mudança, sublinha o cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, em coligação a partir de Roma. Decidiram ajudar o Papa, a Igreja e o mundo a realizar uma economia inclusiva e justa, ao serviço de todos, uma economia social que investe nas pessoas, garantindo formação e trabalho digno”. Não é por acaso que estamos aqui, continua Turkson, porque São Francisco é uma inspiração de paz e amor social. E recorda que o objetivo das empresas é criar uma comunidade de pessoas, que trabalha com um único objetivo, é importante então que todos possam fazer uso dos seus talentos, todos devem ser reconhecidos como protagonistas. Não é o mercado que pode curar a economia, salienta o cardeal, é por isso que é importante que a inspiração venha das pessoas, que não são simples trabalhadores. “Vocês podem pôr em campo um novo amor social neste tempo – conclui – promovendo a fé numa nova economia.

O protagonismo dos jovens

Estes dias serão uma viagem de Assis ao mundo e do mundo a Assis anunciam os três jovens apresentadores presentes na Basílica introduzindo as várias coligações com diversas nações do mundo, onde grupos de jovens se encontraram para acompanhar o evento. O abraço de Assis a todos os participantes vem através da prefeita da cidade, Stefania Proietti. O Papa pediu a vocês que coloquem a vida e a criação no centro da economia, e não o lucro, disse Proietti, e qual cidade poderia ser mais adequada. Vocês podem ser o motor do novo desenvolvimento. Frequntemente os jovens são relegados para um canto, assinala, o quanto vocês têm de lutar, por exemplo, para chamar a atenção dos adultos para a questão climática. Vocês podem quebrar o equilíbrio das desigualdades globais, disse novamente e observa como a pandemia mostrou como tudo está interligado, a propagação do vírus e a situação ambiental, por exemplo. Uma reação em cadeia é o que a prefeita espera depois destes dias.

Pensar ao bem de todos

Francesca Di Maolo, presidente do Instituto Seráfico de Assis que se ocupa de jovens com deficiência, leva aos jovens a realidade dos últimos. “Temos de gerir tantas desigualdades e gostaríamos de entrar no seu coração: não pode haver um novo sistema econômico se não cuidarmos dos mais fracos, se não pusermos em prática gestos de cuidado e solidariedade. Em coligação, o economista Stefano Zamagni afirma que o Papa sublinhou a urgência de que os jovens sejam a alma da economia de amanhã, baseada no cuidado e na fraternidade universal. Não é suficiente o lucro, visto hoje como um valor central, precisamos considerar, disse Zamagni, o bem-estar de todos os envolvidos e o impacto ambiental, e precisamos impostar novamente a contabilidade das finanças. Precisamos escrever novas regras na área do comércio internacional e encorajar uma pluralidade de abordagens na pesquisa. Não há respostas fáceis, mas precisamos também de esperança. “Nós – concluiu – temos uma tarefa que parece impossível, mas devemos avançar, devemos tentar”.

“Um sonho que você se faz sozinho é apenas um sonho, um sonho feito em conjunto com outros torna-se realidade (provérbio africano)”.

Face a face com São Francisco: o amanhecer de uma vocação

Economia de Francisco quer visitar com os jovens os cinco lugares mais significativos da vida de São Francisco para refletir e repercorrer os seus passos: Santuario de Rivotorto, Igreja de São Damião, Santuário de Santa Clara, Santuario do Despojamento e Palazzo Monte Frumentario. Partimos do Santuário do Despojamento onde tudo começou. No início de cada vocação autêntica há sempre um despojamento, ou seja, um reset, um reiniciar do zero, diz-se, mas nenhum reset é feito se não houver desejo de uma nova vida. Em Francisco havia paixão, não altruísmo. Havia o desejo de uma noiva,  de Nossa Senhora Pobreza, este é Francisco. No ato de despojamento do Santo, há também o início de uma revolução econômica.

Responder a um chamado: também acontece aos empresários

Um professor de economia de Cidade do México, conta em coligação, a sua experiência de trabalho com famílias indígenas que cultivam café e o projeto que realizam em conjunto, que dá dignidade às pessoas, também com o objetivo de recuperar a relação com a terra. Um exemplo para dizer que ainda hoje existem pessoas, empresários, que sentiram um chamado para dar vida a algo diferente. Assim fazendo, encontramo-nos frequentemente expulsos de casa, falidos, sozinhos, se comenta, mas se acabamos mal porque seguimos uma voz, chega o momento da salvação e é diferente, mas muito mais belo do que esperávamos. Os bens mais preciosos não devem ser procurados, mas esperados, dizia Simone Weil.

Os jovens em confronto com economistas de renome

Chegou o momento dos jovens e do intercâmbio de propostas para um sistema econômico justo e inclusivo. Com eles economistas de fama mundial como Jeffrey Sachs, Ilaria Schnyder von Wartensee e Stefano Bartolini; Raul Caruso, Juan Camilo Cárdenas e Susy Snyder e a Sr. Cécile Renouard. Discute-se de economia, de paz e de reconversão industrial, de Inteligência Artificial, de um novo paradigma global e de um novo modelo de desenvolvimento, modelos empresariais para uma economia humana, de experiências em comunidades de transição ecológica e social, de insegurança alimentar.

Os pobres frequentemente não são informados

Voltamos então a Assis para refletir sobre outro lugar importante ligado a Francisco, passando pela Basílica Superior com o ciclo de afrescos de Giotto: 28 cenas que retratam a sua vida, mas é impressionante a ausência de uma imagem, o beijo de Francisco ao leproso, e no entanto para Francisco esse beijo foi fundamental. O lugar é o Santuário de Rivotorto. Para os pobres, comenta-se, a pobreza é também a narrativa, é o ser esquecido. Francisco vive com os leprosos, cuida dos seus corpos, lava as suas feridas, antes que a sua visão fosse insuportável. Nem todos escolhem a Senhora Pobreza, essa liberdade absoluta, para serem pobres por opção ao lado dos pobres e mais nada, todos irmãos, todos próximos. Do Bangladesh vem a experiência do microcrédito para os pobres concebida pelo economista Muhammad Yunus: vale o princípio da subsidiariedade, sublinha-se. Temos de perguntar aos pobres, são eles que têm as primeiras ideias para sair das armadilhas da pobreza.

A nossa terra tão maltratada

Finalmente, o tema do ambiente: a terra, é salientado, está entre os nossos pobres mais maltratados. A sua marca é a degradação. “A terra é como um mendigo desprezado, em que todos cospem sem medo de serem retribuídos (…) amigo, não passe avante, pare e enfaixe as feridas desta velha mãe terra”. O primeiro dia de Economia de Francisco encerra-se com a interpretação no Reino Unido de uma peça tirada do “Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry, revisitada na época da Covid. Uma era em que, através do nosso celular, acreditamos ter o mundo na ponta dos dedos e não sabemos o que significa preocuparmo-nos com a sobrevivência de uma rosa. Um tempo em que uma guerra se segue à outra e não compreendemos que a paz só pode reinar onde há igualdade e justiça e que a partilha é o único caminho a seguir.


Fonte: Vatican News (Adriana Masotti, Silvonei José )

Jovens economistas com o Papa Francisco

Uma nova maneira de entender a economia de acordo com o espírito de São Francisco de Assis e da encíclica Laudato si’. Criar um movimento de jovens economistas para traduzir na vida cotidiana a encíclica Fratelli tutti. Estes são os objetivos da “Economia de Francisco”, o encontro com os jovens economistas desejado pelo Santo Padre, agendado para os dias 19, 20 e 21 de novembro próximo. No centro deste evento internacional, temas cruciais, como trabalho, finanças, educação, inteligência artificial. Devido à emergência sanitária causada pela Covid-19, será realizado online ao vivo e em streaming. Foi confirmada a participação “virtual” do Papa Francisco. Entre os palestrantes em diálogo com esta comunidade especial estão Muhammad Yunus, economista e Prêmio Nobel da Paz 2006, Vabdana Shiva, membro do Fórum Internacional sobre Globalização, e Stefano Zamagni, presidente da Pontifícia Academia de Ciências Sociais. O próximo encontro, que será presencial, será no final de 2021 em Assis, onde São Francisco se despojou de toda a mundanização e escolheu Deus como a estrela polar de sua existência.

Dar uma alma à economia de amanhã
Jovens, economistas, empresários e ativistas de todo o mundo são convidados a refletir juntos para assinar um pacto intergeracional que visa mudar a economia atual e dar uma alma à economia do amanhã, para que esta seja mais justa, inclusiva e sustentável. Como o Papa Francisco tem repetidamente destacado, “tudo está intimamente ligado e a proteção ambiental não pode ser separada da justiça aos pobres, da solução dos problemas estruturais da economia mundial”. Portanto, é necessário corrigir modelos de crescimento que não respeitem o homem, o meio ambiente, a dignidade da pessoa. Na carta dirigida aos jovens economistas, empresários e empresárias de todo o mundo por ocasião da “Economia de Francisco”, o Pontífice indica o caminho do modelo econômico a ser construído, o de “uma economia diferente, que faça as pessoas viverem e não mate, inclua e não exclua, humanize e não desumanize, cuide da criação e não a deprede”. Um novo modelo econômico, portanto, “fruto de uma cultura de comunhão, baseada na fraternidade e na equidade”. São em particular os jovens, artesãos do futuro, os chamados a tecer a economia de Francisco.

A resposta dos jovens ao apelo do Papa
A secretaria do evento recebeu mais de 3.000 inscrições de jovens de 120 países dos cinco continentes. Ligados à economia, gestão, filosofia, sociologia, teologia, proteção ambiental, recursos naturais, consumo responsável e estilos de vida, produção, inovação, trabalho, finanças, investimento para o desenvolvimento, pobreza, igualdade e dignidade humana, educação e novas gerações, inteligência artificial, novas tecnologias.

Há muitos que responderam com entusiasmo ao apelo do Papa Francisco. É o que aponta Domenico Rossignoli, pesquisador da Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, na Faculdade de Ciências Políticas. “Devemos ter a coragem”, disse ele ao Vatican News, “de redescobrir a essência mais importante da economia”: a de nos dizer como viver juntos, todos nós, da melhor maneira possível”. “E fazer desta economia algo que nos impulsione a construir um mundo onde os recursos possam ser utilizados para o bem de todos e não apenas de alguns”.


Fonte: Vatican News (texto de Amedeo Lomonaco )

Cristo Redentor vai se iluminar nas cores da Economia de Francisco

Um monumento, aquele que abraça o Rio de Janeiro e o mundo do alto do Corcovado, neste sábado (21) vai se vestir das cores verde oliva, marrom claro e amarelo. É o Santuário Cristo Redentor que, do Brasil, também participa da “Economia de Francisco”, encontro internacional on-line realizado a partir de Assis, na Itália, com jovens empreendedores e economistas por um pacto que ajude a mudar o atual modelo econômico. A ação especial de iluminação do Cristo Redentor nas cores oficiais do evento está marcada às 19h no horário de Brasília.

A carta ao Papa Francisco

Em uma carta datada de 3 de novembro, o Pe. Omar Raposo, reitor do santuário, e Henrique Sengès Coutinho Marques, gestor de inovação, compartilham com o Papa Francisco a iniciativa que acontece no último dia do encontro, quando também está confirmada a participação on-line do Pontífice. O Padre Omar afirma que o santuário “segue o paradigma do Papa Francisco, pautando a sua governança em conformidade com a justiça e o desenvolvimento sustentável”.

Cientes da “responsabilidade como agente de mudança frente à realidade da população que sofre diante das injustiças sociais e do meio ambiente”, o Santuário Cristo Redentor do Corcovado busca se alinhar aos objetivos do evento mundial em busca de uma nova economia, fundada nos ensinamentos franciscanos, para “’re-almar nossa sociedade e economia”. A ação especial de iluminação foi preparada junto com o Comitê Organizador da Economia de Francisco.

Santuário participa de 3 vilas temáticas

Ao longo dos meses, de maio a outubro deste ano, a organização do evento permitiu, em versão on-line, que todos os jovens inscritos participassem das 27 conferências preparatórias nas mesmas condições. Mais de 40 países ficaram conectados simultaneamente para o compartilhamento de experiências, trabalhos e propostas.

O evento que começa nesta quinta-feira (18), direto de Assis, será realizado em live streaming no portal francescoeconomy.org com 2 mil participantes de 120 países. Dentro da divisão de 12 vilas temáticas e mais de 60 grupos (hubs) para o debate de ideias inovadoras está o Santuário Cristo Redentor, na pessoa do Henrique Sengès, gestor de inovação, que faz parte das vilas “Vocação & Lucro”, “Trabalho & Cuidado” e “Energia & Pobreza”.

Segundo ele, o encontro mundial “é mais do que uma convocação do Santo Padre, é um chamado à própria inovação e à reinvenção. Todos nós, seres humanos, como filhos e filhas de Deus, somos chamados a cuidar da Criação, como diz o Papa na Encíclica Laudato si’, um documento fundamental dentro da Economia de Francisco”. E Henrique finaliza:

“Não podemos negligenciar tamanha responsabilidade de transformar nosso modo de pensar, agir, produzir e consumir de um modo mais inclusivo e igualitário, deixando exemplos concretos para a atual e as futuras gerações.”

Economia de Francisco: Ide, reconstruí Casas de Francisco e Clara

A Economia de Francisco e Clara chega a seu momento de celebração global. Passados mais de um ano da carta do Papa Francisco a “realmar a economia” no mundo inteiro, jovens, pesquisadores/as e ativistas apresentam suas propostas em resposta a esse chamado. Para o Brasil, duas iniciativas surgem da Articulação Brasileira e Vilas temáticas para as quais as juventudes selecionadas para o encontro com o Papa foram destinadas. São a Aliança Mulher Mãe Terra, e as Casas de Francisco e Clara, projetos que se entrelaçam e se complementam. Enquanto a Aliança apresenta uma agenda global pelo acesso das mulheres à terra como condição sine qua non para a soberania alimentar no mundo, as Casas de Francisco e Clara nascem como lugares de vivência e imersão, através dos quais a prática da Economia de Francisco e Clara acontece na vida das comunidades.

A urgência histórica de superar essa economia que mata é um grande desafio, pois a ideologia neoliberal invadiu todos os setores das vidas das pessoas. É a monetização do pensamento, dos sentimentos e das ações, que envolve todos no tecido de uma economia da indiferença e da violência. A fim de superar este paradigma tecnocrático, indiferente, que segue descartando coisas e pessoas, a proposta da Economia de Francisco e Clara é construir um novo pensamento e novas condutas que apontem para o bem viver entre os povos a partir de uma economia a serviço da vida.

O convite, portanto, é reaprender a viver no mundo na tarefa de convergir, em múltiplos espaços juvenis e formativos, esta raiz metodológica do pontificado do Papa Francisco: a cultura do encontro. A Casa de Francisco e Clara é esse chamado a todas as pessoas, especialmente às juventudes, de experienciar ecologias e economias de maneira integral. As juventudes serão convidadas a perceber nas brechas da economia real, as fissuras do mercado, que segue descartando pessoas e, através do encontro com os empobrecidos resgatar elementos reais para reconstruir novas interações ecológicas e econômicas, a partir de outras lógicas, dialógicas e inclusivas, por outras economias, criativas, populares e solidárias.

A prática da territorialização é o tecido místico, a teia da vida na qual as juventudes são convidadas a encarnar-se. Com ternura e vigor chegar, amar e fazer com as pessoas, através de uma relação visceral com suas esperanças, com a meta de construir condutas e pensamentos que apontem a percepção de que as pessoas tornaram-se servas de sistemas econômicos desterritorializados e desalmados. Enraizar as bandeiras das juventudes nas lutas do povo e com o povo, sujar as mãos no trabalho comunitário, propor pactos, reunir diferentes, realmar as periferias com o que ela tem de mais poderoso: a capacidade coletiva de construir outras formas de sociabilidade, de se organizar e se (re)descobrir.

Neste mutirão de reconstruir Casas de Francisco e Clara, apontamos 10 eixos místicos que fundamentam este movimento surgente do seio das comunidades a espalhar-se por todo o Brasil: • Lugar de encontro com os empobrecidos: espaços teológicos através dos quais os jovens poderão fazer a experiência do Cristo no pobre, como o fez Francisco de Assis, sendo também um espaço ecumênico e de diálogo inter-religioso com as grandes religiões. Construindo, também, espaços para as pessoas que não professam a fé religiosa, mas que acreditam na justiça e em economias que nascem da solidariedade.

• Lugar de trabalho e contemplação: construir com os jovens da casa um itinerário místico de formação, a fim de que este trabalho possa consolidar e comprometer um projeto de vida, com a prática da justiça na casa comum e com a construção do bem viver. Espaços orantes e abertos para as pessoas do território, onde todas as pessoas sejam bem vindas e possam formar comunidades orantes.

• Lugar de cultivo e preservação da biodiversidade: construir um espaço de cuidado com a casa comum, através do cultivo do solo, da prática da agroecologia e optando por economias de escala curta. Promover o retorno à terra e à opção por um estilo de vida simples e frugal; aprender a viver com poucas coisas.

• Lugar de inovação, com energia limpa e renovável: trabalhar, através dos centros tecnológicos, o conhecimento em rede e a integração entre centro e periferia. Capacitar as juventudes do território a conhecer, produzir e aprimorar as múltiplas tecnologias, em função da juventude da periferia, garantindo participação e novos meios de transformação social.

• Lugar de potencializar o desenvolvimento regional territorial: através da pesquisa e da extensão junto aos territórios, produzir ciência, a fim de democratizar o conhecimento com acesso às populações empobrecidas. Garantir parcerias com as Universidades, que têm projetos afins, para que o saber científico esteja a serviço da vida plena.

• Lugar de vivenciar e aprofundar o humanismo solidário do Papa Francisco: promover a vivência dos princípios e valores da proposta humanista do Papa Francisco, para que os jovens sejam multiplicadores de ações solidárias em prol do bem viver e de novas economias possíveis, urgentes e necessárias.

• Lugar de conhecer uma Teologia para Libertação: vivenciar a mística de olhos abertos, para compreender a humanidade através de uma prática libertadora. Defender e lutar pelos 3 T: Terra, Teto e Trabalho, a fim de que a Casa de Francisco e Clara seja um laboratório de políticas públicas de estado.

• Lugar-farol de esperança para as juventudes: optar pela esperança como projeto de vida, rompendo com a globalização da indiferença e apostando na alternativa da civilização do amor. Construir lugares de liberdade, onde se vivencie uma civilização da esperança.

• Lugar de partilhar experiências globais por outro mundo possível: vivenciar e partilhar diversas experiências de vida e práticas de construção solidária e participativa por um outro mundo possível. Conectar os movimentos populares, pastorais, comunidades eclesiais e demais coletivos de luta por paz e justiça.

• Lugar de escutar os gritos da humanidade e de encontrar-se com a Palavra: para descobrir a contemplação do Mistério na casa comum. O Papa Francisco nos diz que o planeta Terra não é um amontoado de problemas para resolver, ele é, antes de tudo um espaço de contemplação, de vivência do sagrado na vida. A vida na Terra é fruto do imenso amor de Deus. A Criação é um livro aberto, ler a Palavra na vida e ler a vida na Palavra é uma prática para despertar a atitude de contemplação da casa comum, nossa Irmã Mãe Terra.

Convidamos todas as juventudes e ativistas a se somarem a este projeto que nasce do chamado do Papa Francisco para fazermos com as Casas de Francisco e Clara uma revolucionária força sociopolítica a partir dos/as pequenos/as.

O primeiro lugar que essa iniciativa surge é no morro Monte Serrat, na periferia de Florianópolis, onde Pe. VIlson Groh vive e realiza junto ao povo há 40 anos trabalhos comunitários. Esta experiência piloto é um convite a todo o povo, para reconstruir em cada chão sagrado desta nação e do mundo um novo pacto ecológico e social: em comunidade, pela fraternidade e na unidade do amor.

Pe. Vilson Groh, vigário em Florianópolis, é sênior para o evento “A Economia de Francisco”

Gabriela Consolaro, de Florianópolis, é jovem selecionada para o evento “A Economia de Francisco”

Andrei Thomaz Oss-Emer, de Pelotas, é jovem selecionado para “A Economia de Francisco”

Eduardo Brasileiro, de São Paulo, é jovem selecionado para o evento “A Economia de Francisco”