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Campanha da Fraternidade 2024

Campanha da Fraternidade 2024

Inspirada na Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti, a Campanha da Fraternidade (CF) de 2024 tem como tema: “Fraternidade e Amizade Social” e o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt. 23, 8). Este tema e lema foram escolhidos pelo Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em novembro de 2022.

De acordo com o bispo auxiliar da arquidiocese de Brasília e secretário-geral da CNBB, Dom Ricardo Hoepers, o tema e o lema da Campanha da Fraternidade 2024 refletem a preocupação do episcopado brasileiro em aprofundar a fraternidade como contraponto ao processo de divisão, ódio, guerras e indiferença que têm marcado a sociedade brasileira e o mundo.

A Campanha da Fraternidade, dentro do caminho penitencial da Igreja, propõe também durante a Quaresma um convite de conversão à amizade social e ao reconhecimento da vontade de Deus de que todos sejam irmãos e irmãs.

Segundo o texto-base, a Campanha da Fraternidade é, desde as suas origens, há 60 anos, uma ação evangelizadora da Igreja do Brasil, uma expressão eloquente da necessária e desejada Pastoral de Conjunto. Não é uma ação desta ou daquela pastoral, desta ou daquela comunidade, paróquia ou Diocese, mas de toda a Igreja Católica Apostólica Romana presente no território brasileiro e reunida na comunhão de seus Bispos, legítimos sucessores dos Apóstolos, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. “A amizade, esse sentimento fiel de estima entre as pessoas, é um dom de Deus, um fenômeno humano universal, que nasce da livre oferta de si mesmo para abrir-se ao mistério do outro. É um caminho de humanização e de renovação das relações fraternas, que nos permite existir e viver com a responsabilidade e o compromisso de transformar a própria vida e a vida do outro. Como é bom ter amigos!”

E a CNBB lembra:

“É importante encontrar e criar oportunidades para propor a reflexão da CF 2024 nas celebrações comunitárias, nas catequeses, nos conselhos diocesanos, paroquiais e comunitários, nos encontros e reuniões de grupos pastorais e movimentos eclesiais, nas escolas e nas câmaras legislativas. 0 que importa é insistir no que é a CF em si mesma — um instrumento de comunhão eclesial, de formação das consciências e do comportamento cristão e de edificação de uma verdadeira fraternidade cristã e amizade social entre os brasileiros”.

 

 

Mensagem do Papa Francisco

Queridos irmãos e irmãs do Brasil,

Ao iniciarmos, com jejum, penitência e oração, a caminhada quaresmal, uno-me aos meus irmãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil num hino de ação de graças ao Altíssimo pelos 60 anos da Campanha da Fraternidade, um itinerário de conversão que une fé e vida, espiritualidade e compromisso fraterno, amor a Deus e amor ao próximo, especialmente àquele mais fragilizado e necessitado de atenção. Este percurso é proposto cada ano à Igreja no Brasil e a todas as pessoas de boa vontade desta querida nação.

Neste ano, com o tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23, 8), os bispos do Brasil convidam todo o povo brasileiro a trilhar, durante a Quaresma, um caminho de conversão baseado na Carta Encíclica Fratelli tutti, que assinei em Assis, no dia 3 de outubro de 2020, véspera da memória litúrgica de São Francisco.

Como irmãos e irmãs, somos convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos como seus filhos e filhas.

Infelizmente, ainda vemos no mundo muitas sombras, sinais do fechamento em si mesmo. Por isso, lembro da necessidade de alargar os nossos círculos para chegarmos aqueles que, espontaneamente, não sentimos como parte do nosso mundo de interesses (cf. FT 97), de estender o nosso amor a “todo ser vivo” (FT 59), vencendo fronteiras e superando “as barreiras da geografia e do espaço” (FT 1).

Desejo que a Igreja no Brasil obtenha bons frutos nesse caminho quaresmal e faço votos que a Campanha da Fraternidade, uma vez mais, auxilie às pessoas e comunidades dessa querida nação no seu processo de conversão ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, superando toda divisão, indiferença, ódio e violência.

Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida, e como penhor de abundantes graças celestes, concedo de bom grado a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham pela fraternidade universal, a Bênção Apostólica, pedindo que continuem a rezar por mim.

Roma, São João de Latrão, 25 de janeiro de 2024, festa litúrgica da conversão de São Paulo Apóstolo.

Franciscus

Apresentação da CNBB

Tema: Fraternidade e Amizade Social
Lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8)

O Tempo da Quaresma é um momento oportuno para vivermos a conversão exigida por Jesus: “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). “A penitência do Tempo Quaresmal não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social. A prática da penitência, de acordo com as possibilidades de nosso tempo, as realidades de cada região e as condições dos fiéis” (SC, n. 110).

A Campanha da Fraternidade é, a cada ano, uma iniciativa concreta para realizarmos ações que testemunhem um profundo arrependimento e uma verdadeira conversão, em âmbito pessoal, comunitário, eclesial e social. Pois, “a Quaresma é o tempo de sacrifício e penitência, mas é também um tempo de comunhão e solidariedade (…) cada um dos homens, na verdade, é chamado a compartilhar realmente os sofrimentos e as desventuras do todos os demais. Assim, a esmola e o dom de si mesmo não devem ser atos isolados e ocasionais, mas sim a expressão de união fraterna entre todos”.

O Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti, anunciou ao mundo uma proposta firme de responsabilidade coletiva que pudesse levar a fraternidade e amizade social, perante os males que ameaçam a paz no mundo. Se a Quaresma é um tempo propício para nos defrontarmos, com mais intensidade, contra todas as formas de pecado, precisamos, em primeiro lugar, reconhecer que não estamos sozinhos nesta empreitada, quer dizer, temos a consciência dos males que pesam sobre toda a nossa família humana.

A Campanha da Fraternidade deste ano traz consigo “o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço” (FT, n. 1), nos interpela à comunhão e solidariedade, mostrando que a conversão passa pela experiência da humildade, da aceitação do outro e da alegria do encontro que vem da ressurreição, como Jesus que pergunta a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” e Pedro responde: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo” (Jo 21,15). Com o tema, Fraternidade e Amizade Social, e o lema, “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8), queremos fazer um caminho quaresmal em três perspectivas: primeiro, VER as situações de inimizade que geram divisões, violência e destroem a dignidade dos filhos e filhas de Deus. Segundo, deixar-nos ILUMINAR pelo Evangelho que nos une como família e resgata o sentido das relações humanas baseados no respeito e na reciprocidade do bem comum. Terceiro, AGIR conforme a proposta quaresmal, em que nos esforçamos para uma mudança, não só pessoal, mas “alargando a tenda” (cf. Is 54,2), para transformações comunitárias e sociais, em busca de uma sociedade amiga, justa, fraterna e solidária.

“Verdade e amor, são os caminhos do Senhor”, canta-se no Salmo 24. Esse é o sentimento com o qual iniciamos mais uma Campanha da Fraternidade como proposta quaresmal de conversão. Anunciar a Verdade do Evangelho com toda a sua radical proposta de conversão e, ao mesmo tempo, fazer a experiência do amor de Cristo, da sua misericórdia, da sua bondade infinita, do seu perdão e compaixão que são eternas. Uma experiência que não é solitária e egoística, mas que nos une na mesma fé, de que Deus “criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, e os chamou a conviver entre si como irmãos”.

Que Nossa Senhora Aparecida, em cujo ventre o Salvador foi gerado, possa nos acompanhar com sua presença materna, unindo os filhos dispersos e fortalecendo os vínculos de fraternidade e amizade social em toda humanidade.


Dom Jaime Spengler, OFM – Arcebispo de Porto Alegre (RS) e Presidente da CNBB
Dom João Justino de Medeiros Silva – Arcebispo de Goiânia (GO) e 1º Vice-Presidente da CNBB
Dom Paulo Jáckson Nóbrega de Sousa – Arcebispo de Olinda e Recife (PE) e 2º Vice-Presidente da CNBB
Dom Ricardo Hoepers – Bispo Auxiliar de Brasília (DF) e Secretário-Geral da CNBB

Introdução Geral (parte 1)

Dom Antonio de Assis Ribeiro

O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é “Fraternidade e Amizade social” e tem como lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). O seu objetivo geral é contribuir para nos despertar sobre o valor e a beleza da Fraternidade humana, promovendo e fortalecendo a experiência da Amizade Social. Esse objetivo nos desafia a superar a cultura da indiferença para com os outros, que nos torna como que portadores do mal da cegueira, da insensibilidade nos proporcionando uma atitude de descaso diante das necessidades alheias.  

O tema da Amizade social nos convida a refletir sobre as causas dos conflitos, a hostilidade na relações humanas e a agressividade interpessoal. Onde não há a experiência da amizade, pode haver não somente a indiferença, mas também a violência. São dois graves males.  

O tema da CF 2024 nos convida a promover abertos vínculos de amizade, capazes de estimular a comunhão, a reconciliação entre as pessoas e o espírito fraterno favorecendo a promoção do bem comum. Dessa forma a amizade autêntica não é um bem privado e fechado entre duas pessoas ou mais, mais tem uma responsabilidade social. A experiência da amizade aberta estimula a construção de pontes entre pessoas e grupos. É dessa forma que fomentamos o desafio do diálogo que promove a cultura do encontro.  

 Palavras chaves da CF 2024 

O texto base da CF deste ano nos apresenta uma lista de palavras chaves que nos ajuda didaticamente a melhor compreender os horizontes, o conteúdo e a sensibilidade do tema Amizade Social. Falamos muito de amizade genericamente, mas associada ao adjetivo “social” não é comum. Portanto, o tema da CF deste ano nos estimula a pensar a necessidade da abertura da experiência da amizade, que se opõe à experiência daquela fechada, intimista, defensiva, com barreira, indiferente à sua dimensão social.  

O tema da CF 2024 nos fala de acolhida, compaixão, comunidade, diálogo, convivência, empatia… A autêntica experiência de Amizade tem a sua fonte no Amor e este, por sua natureza, é sempre aberto, sensível, compassivo, empático, benfazejo. A fonte da amizade  não é egoísta, mesquinha, fechada, seletiva. 

O tema da CF 2024 nos convida a pensar e nos treinar na importância da proximidade, da acolhida incondicional, do intercâmbio de dons, pois todos somos portadores de riquezas. Isso só é possível se a experiência da amizade for aberta. Quando dois amigos ou um grupo se fecha na amizade, se empobrece e, dessa forma, não contribui para o bem comum porque esqueceu da sua dimensão social. A família é o primeiro grupo natural de experiência de amizade chamada a abrir-se às necessidades dos outros. Por isso, em geral, aprendemos a ser solidário no seio familiar, pois a sociedade é uma rede de famílias. 

O tema da CF 2024 nos desafia a estimular o desenvolvimento integral que é consequência da consciência ativa da corresponsabilidade para com a promoção da paz e da justiça. O desenvolvimento integral implica também o esforço em vista da dilatação do coração, ou seja, da dimensão socioafetiva. Quem não desenvolveu sua dimensão socioafetiva, lamentavelmente, terá sempre dificuldade de relacionamento com os outros e de abertura sem fronteira, sendo capaz de pensar na “família humana”, na “fraternidade universal”, na “civilização do amor e da paz”. 

 Fenômenos a serem rejeitados  

A partir da contemplação do vasto horizonte positivo do tema da CF 2024, podemos imaginar, por outro lado também, um universo de males a serem rejeitados e combatidos porque promovem o adoecimento da sociedade. Um dos primeiros males é a cegueira; esse mal nos proporciona a indiferença às realidades que estão a nossa frente e ao nosso lado. Segundo o sociólogo Zigmunt Baumam, em sua obra a Cegueira moral, “a negligência moral está crescendo em alcance e intensidade, a demanda por analgésicos aumenta cada vez mais, e o consumo de tranquilizantes morais se transforma em vício. Por conseguinte, uma insensibilidade moral induzida e manipulada se torna uma compulsão ou uma “segunda natureza”: uma condição permanente e quase universal – e as dores são despidas de seu papel salutar de prevenir, alertar e mobilizar. Com as dores morais aliviadas antes de se tornarem verdadeiramente perturbadoras e preocupantes, a teia de vínculos humanos tecida com os fios da moral torna-se cada vez mais débil e frágil, vindo a descosturar-se.” (BAUMAN, Zigmunt… Cegueira moral, 2014, p. 181). Uma sociedade que padece do mal do “anestesiamento socioafetivo” jaz na insensibilidade; isso significa a ausência da semente da necessidade dos outros.  

No mundo da “cegueira moral” a experiência das amizades é fechada, intimista, isolada, segura (defensiva), internamente prazerosa, mas insensível à dor dos outros. Essa experiência de amizade é intolerante a qualquer forma de incômodo. A abertura à experiência do incômodo é uma natural consequência da sociabilidade.  

Um grupo que vive a experiência da amizade sem a dimensão social e senso de bem comum, facilmente cai em atitudes extremistas rejeitando todos aqueles que não tem afinidade com seus interesses. Dessa forma estimulam a rejeição, o preconceito, a segregação, a injúria étnica, cultural e ou religiosa, promovendo a inimizade e os conflitos.  Assim nascem as guerras entre povos, alicerçadas na intolerância religiosa, no nacionalismo que alimenta a xenofobia.   

 A origem do tema “amizade social” 

O tema da Campanha da Fraternidade de 2024 é inspirado na Carta Encíclica Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e a amizade social – do Papa Francisco – publicada no ano 2020. Num mundo marcado por múltiplas formas de violências, grupos fechados e tendências extremistas (ideológicas, políticas, religiosas), somos chamados a promover a experiência da Amizade aberta que ultrapassa barreiras e promove o diálogo, a solidariedade, a comunhão, a compaixão, a justiça, a paz e a harmonia entre as pessoas.  

Nessa encíclica (Fratelli Tutti= todos irmãos) o Papa lança para a humanidade um sonho: “entrego esta encíclica social como humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras” (FT,6). François Lyotard (1924-1998), sociólogo francês, nos anos 70 em sua obra “O pós-moderno” já alertava o mundo sobre surgimento de uma nova sensibilidade marcada pelo fenômeno do desaparecimento dos grandes sonhos batizando essa nova era de pós-modernidade (cf. LYOTARD, 1998. p. 26). Ele se referia às grandes correntes filosóficas (iluminismo, positivismo, comunismo etc). No campo das relações humanas a sensibilidade pós-moderna faz pouco caso com o conteúdo e a dinâmicas das relações interpessoais.  O que mais se deseja não é a promoção de senhos mais é o «haurir satisfação» (cf. BAUMAN, Ética pós-moderna…,115-127). O intimismo interpessoal leva as pessoas a se fecharem no mundo do prazer e a não pensar em outras dimensões. É a “amizade” que gera escravidão.  

O Papa Francisco, persiste em seu sonho dizendo: “Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade… Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente; precisamos duma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente. Como é importante sonhar juntos! Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é juntos que se constroem os sonhos. Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos” (FT,8). 

PARA REFLEXÃO PESSOAL: 

O que o tema “amizade social” me provoca? 

Por que a experiência da “amizade social” exige desenvolvimento humano? 

Qual é o grande sonho do Papa Francisco presente no número 8 da Fratelli Tutti e porque é tão importante? 


Dom Antonio de Assis Ribeiro é Bispo Auxiliar de Belém (PA) 

 

A Campanha da Fraternidade

No artigo publicado pela https://www.ihu.unisinos.br Pe. Matias Soares lembra que “a fraternidade e a amizade social, neste momento crítico da história, em que há um pipocar de conflitos mundiais, como frequentemente denuncia o Papa Francisco, passa a ser um ‘projeto civilizatório’”.

Eis o artigo

A Igreja Católica no Brasil já começa os seus preparativos para a vivência da Campanha da Fraternidade de 2024. O tema deste ano será: “A Fraternidade e a Amizade Social”. Terá por lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs (cf. Mt 23,8)”. Considerando as situações existenciais, sociais, políticas, econômicas e estruturais do Brasil, com suas regiões e multifaces eclesiais tão diversas, com marcas de polarizações religiosas, políticas, geográficas e culturais, a Igreja, como Mãe e Mestra, vem trazer uma proposta, à luz da Alegria do Evangelho e da sua Tradição Viva, magisterial e pastoral, de conversão ao Outro, como imagem amada e querida pelo Criador, a fim de que a “Fraternidade Universal” seja sonhada, desejada, buscada e testemunhada por todos os homens e mulheres de boa vontade.

O objetivo geral da Campanha é “despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos”. A partir desta perspectiva geral, são propostas várias finalidades específicas, com o olhar voltado aos desafios reais que nos interpelam enquanto ‘seres sociais’, chamados à amizade social. Há uma proposta de civilização, que gere a cultura da paz entre os povos, nas relações humanas e no mundo; já que, existem ‘guerras em pedaços’ em tantos lugares e periferias geográficas e existenciais. Através do seu magistério petrino, com a Fratelli Tutti, especialmente, o Papa Francisco tem sido uma voz profética e sinal de esperança para todos os que sonham com a paz e lutam para que ela exista entre os povos.

A Campanha deste ano traz consigo “o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço (cf. FT, n. 1), nos interpela à comunhão e solidariedade, mostrando que a conversão passa pela experiência da humildade, da aceitação do outro e da alegria do encontro que vem da ressurreição, como Jesus que pergunta a Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?’ e Pedro responde: ‘Sim, Senhor, tu sabes que te amo” (cf. Jo 21, 15). A proposta da fraternidade para o cristianismo tem no amor Ágape na sua base, cuja fonte é o amor de Deus (cf. 1Jo 4,8). A temática abordada é uma proposta de humanismo solidário e de realização da existência humana. Não é o ódio que leva o ser humano à felicidade; mas é no amor que a sua vida ganha sentido e plenitude. Num mundo marcado por tantos sinais de violências, simbólicas, físicas e digitais, a chamada de atenção que a Igreja promove é uma ação necessária, que está em consonância com a sua missão de ‘perita em humanidade’ (Paulo VI), que atende aos ensinamentos do nosso Mestre e Senhor (cf. Mt 5, 9).

A fraternidade e a amizade social, neste momento crítico da história, em que há um pipocar de conflitos mundiais, como frequentemente denuncia o Papa Francisco, passa a ser um ‘projeto civilizatório’. A humanidade padece de paz. Em muitos recantos do globo há nações que vivem em estado de beligerância. O lucro com a venda de armas é uma questão ética, que nos diz muito sobre a preponderância do poder econômico sobre a dignidade da pessoa humana. Essa, por sinal, desde os ultrajes da segunda guerra mundial, tem sido cada vez mais violentada, tendo como objetos os seres humanos em situação de vulnerabilidade. Cabe destacar o fomento da cultura do descarte, que coloca os idosos e embriões concebidos em situação de cancelamento e abandono. O patrocínio dos países sempre mais ricos à custa da promoção da colonização ideológica e política de outras nações é algo que clama aos céus. O Papa João XXIII já denunciara essa emergência na Pacem in Terris (1963). Essa carta profética, mais uma vez, ganha eco nos espaços de reflexão e debates públicos, onde seja levado a sério a luta pela busca da paz entre os povos. De lá para cá, o movimento histórico nos coloca mais uma vez diante do mesmo desafio. A Doutrina Social da Igreja, com seus princípios basilares, dentre eles o da subsidiariedade, conclama para que haja, ao invés do usufruto parasitário, o apoio das potências econômicas e militares, com logística e educação, aos países mais pobres.

Além dessa trajetória feita com seus documentos mais relevantes da sua Ética Social, A Igreja, através dos seus pontífices, já emitiu cinquenta e sete mensagens para o Dia Mundial da Paz. Sempre atenta aos sinais dos tempos, com os desafios culturais e estruturais para a consecução da paz, ela atualiza a sua proposta de promoção da amizade social. Com esse intento, ela torna audível que é fundamental que a política contemporânea retome essa base de sustentação das relações humanas e entre os povos. Essa é a “melhor política” (cf. FT, cap. V). Assim como a igualdade e a solidariedade, que nas construções das narrativas liberais foram mais desenvolvidas, a temática da fraternidade também precisa ser levada a bom termo e consecução. No cristianismo, o tema da fraternidade entre todos os que são criados à imagem e semelhança de Deus é uma norma fundante (cf. 1Jo 4,20). Quem é de Deus, ama o semelhante. Os ensinamentos de como ‘ser cristão’ são sintetizados evangelicamente por Jesus Cristo no seu Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-12). Matar em nome da religião, ou pior, promover a guerra e a destruição do Outro em nome de Deus é contraditório com a proposta da fé cristã. No Brasil, a manipulação política e ideológica do imperativo religioso tem sido constantemente assumida por lideranças que usam a boa fé de milhões de cidadãos para o acirramento do ódio e o incitamento do caos psicológico e social. A Campanha da Fraternidade é uma bússola para que muitas luzes sejam postas nos caminhos de todas as camadas sociais do nosso país. Com sua capilaridade, a Igreja se propõe a ser missionária da justiça e da paz neste contexto de polarizações e desmandos relacionais.

Normalmente, a Campanha da Fraternidade acontece com mais ênfase durante o tempo litúrgico da Quaresma, que é, por sua vez, tempo de ‘penitência e conversão’. Contudo, há a orientação que essa seja veiculada durante todo o ano, com ações que estejam em total harmonia com o pensamento social da Igreja. Os que atacam, por motivos ideológicos, esse ‘projeto de evangelização’, há uma perspectiva pré-moderna e inconsistente que é contrária ao que o Concílio Vaticano II assumiu para toda a catolicidade. Basta a leitura das Alegrias e Esperanças (cf. Gaudium et Spes), com uma perspectiva da ‘justa hermenêutica’ (cf. Bento XVI), que teremos os elementos eclesiológicos e epistemológicos para a fundamentação das preocupações assumidas pela Igreja Católica no Brasil acerca das questões sociais, ainda mais quando desde o início a Campanha foi pensada tendo presente que a conversão é a Deus, mas também ao meu irmão e irmã, com sua história e com suas chagas, sejam elas sociais, materiais e espirituais. Mas sempre o ser humano na sua integralidade existencial e social. Os problemas que assolam a dignidade de cada pessoa e da sociedade na sua totalidade serão sempre os dramas que a Igreja vocacionalmente deve assumir para remir, nos seus projetos de evangelização e missão.

Na Igreja Particular de Natal, esse projeto de evangelização, deve ser concretizado com mais empenho e zelo por todos os seus agentes eclesiais, pois foi nas nossas paragens que começou a Campanha da Fraternidade, como uma das filhas prediletas do Movimento de Natal. Não assumi-la com plena força e entusiasmo é uma traição à nossa história e belíssimo testemunho eclesiais. As ações concretizadas naqueles idos podem ser pensadas como um presságio de tantas inovações portadas pelo Concílio Vaticano II. Tudo o que em nossos dias vemos e ouvimos ser incentivado pelo Papa Francisco acerca da sinodalidade, como processo de comunhão, participação e missão, já fora sensível nas ações pastorais desenvolvidas pela Arquidiocese de Natal, lá pelos anos sessenta. Sempre que lemos sobre aquela dinâmica de efervescência evangélica e eclesial, somos provocados a nos questionar e deixarmos algumas perguntas: Nós continuamos, avançamos ou regredimos pastoralmente? Existe um vácuo pastoral em nossos processos? Existe uma prática pastoral continuada e consistente, ou estamos deveras perdidos na “Era da pós-narrativa”? (cf. B. Chul Han. “A crise da narração”). A Campanha da Fraternidade deve ser uma referência de ação eclesial e de “princípio de humanidade” (cf. J. Claude Guillebaud) a ser fomentada e valorizada por todos os homens e mulheres de boa vontade; já que a responsabilidade pelo ordenamento da vida em sociedade exige a participação de todos. Urge a formação de mentalidades que assumam a fraternidade e a amizade social como um direito fundamental, que integre todos os seres humanos.

Deste modo, os nossos caminhos exigem e esperam de todos nós a coragem ao discernimento e o encantamento pelas causas do evangelho. É uma exigência do ser cristão a nossa compaixão pelos sofrimentos do Outro (cf. FT, cap. II). A Campanha da Fraternidade é isso: evangelização em palavras e ação. Precisamos avançar! Temos ainda mais, a nosso favor, o testemunho e o magistério social do Papa Francisco, que nos provoca à confiança na força transformadora do evangelho. Essa amizade social, que constrói fraternidade, é uma necessidade irrenunciável para os nossos dias. Tenhamos coragem para seguir e nos lancemos com ousadia para proclamar a Alegria do Evangelho ao mundo e no mundo. A Campanha da Fraternidade de dois mil e vinte quatro é mais uma proposta que nos faz bem aventurados e confirma que somos todos irmãos e irmãs (cf. Mt 5, 9; 23,8). Assim o seja!


Pe. Matias Soares, mestre em Teologia Moral (Gregoriana), pós-graduado em Teologia Pastoral (PUC-Minas), membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral (SBTM), coordenador Arquidiocesano da Pastoral Universitária e pároco da paróquia de Santo Afonso M. de Ligório, Natal-RN.

Objetivo geral

DESPERTAR

para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos.

Objetivos específicos:

 

01 – ANALISAR

as diversas formas da mentalidade de indiferença, divisão e confronto em nossos dias e suas consequências para toda a humanidade, inclusive na dimensão religiosa.

02 – COMPREENDER

as principais causas da atual mentalidade de oposição e conflito, geradora da incapacidade de ver nas outras pessoas um irmão e irmã.

03 – IDENTIFICAR

iniciativas de comunhão, reconciliação e fraternidade, capazes de estimular a cultura do encontro.

04 – REDESCOBRIR,

a partir da Palavra de Deus, a fraternidade, a amizade social e a comunhão como elementos constitutivos de todo ser humano.

05 – ACOLHER

o magistério da Igreja sobre a fraternidade universal, como ajuda ao discernimento nas inúmeras situações de conflito e divisão.

06 – APROFUNDAR

a compreensão da comunhão e da fraternidade como caminho para a realização pessoal e para a paz em todas as situações da vida.

07 – CONSCIENTIZAR

sobre a necessidade de construir a unidade em meio à pluralidade, superando divisões e polarizações.

08 – ESTIMULAR

a espiritualidade, os processos, os hábitos e as estruturas de comunhão na Igreja e na sociedade.

09 – INCENTIVAR E PROMOVER

iniciativas de reconciliação entre pessoas, famílias, comunidades, grupos e povos.

 

Oração

Deus Pai, vós criastes todos os seres humanos com a mesma dignidade. Vós os resgatastes pela vida, morte e ressurreição do vosso filho Jesus Cristo e os tornastes filhos e filhas santificados no Espírito!

Ajudai-nos, nesta Quaresma, a compreender o valor da amizade social e a viver a beleza da fraternidade humana aberta a todos, para além dos nossos gostos, afetos e preferências num caminho de verdadeira penitência e conversão.

Inspirai-nos um renovado compromisso batismal com a construção de um mundo novo, de diálogo, justiça, igualdade e paz! Conforme a Boa-Nova do Evangelho!

Ensinai-nos a construir uma sociedade solidária sem exclusão, indiferença, violência e guerras! E que Maria, vossa serva e nossa mãe, eduque-nos para fazermos vossa santa vontade!

Amém. 

Hino da CF 2024

Autores da música e letra

De autoria do José David Melo, da arquidiocese de Aracaju (SE), a música seguiu todos os critérios estipulados no edital divulgado em julho no site da CNBB, dentre eles o de melodia e ritmo fluentes, acessíveis a qualquer tipo de assembleia. A melodia também obedeceu o critério de realçar o sentido da letra.

“É muito importante poder contribuir com a Campanha da Fraternidade que, sobretudo no tempo quaresmal, nos ajuda a viver essa dimensão social da fé, mas sem deixar de lado a dimensão da oração, a dimensão das práticas penitenciais”, disse o autor.

A inspiração para a música, segundo o autor, surgiu a partir de melodias anteriores, sobretudo das suas preferidas que são as de 2017 e a de 2020. Ele deixou claro também que os hinos da CF não são um canto litúrgico, mas que são específicos para serem utilizados nos encontros da Campanha da Fraternidade, início ou final das vias-sacras ou das missas. “É muito gratificante contribuir com essa campanha que é muito importante para a Igreja no Brasil”, disse.

Letra do hino
A letra do hino já havia sido divulgada no site da Conferência em julho de 2023. O autor é o Douglas Diego Palmeira Rocha, cristão leigo da arquidiocese de Campinas (SP).

A inspiração para a letra, segundo Douglas, foi fruto da oração feita com os textos bíblicos que são próprios para o tempo quaresmal, mas também de todas as contribuições e iluminações do Papa Francisco para a Igreja através de sua Encíclica Fratelli Tutti.

Ele comenta que a Campanha da Fraternidade abre a oportunidade de refletir sobre a comunhão, o diálogo, a amizade social. “Me apoiando em todo o magistério da Igreja tive a graça de compor esse texto”, disse.

Elementos do cartaz

O cartaz, criado pelos jovens de Brasília (DF) Samuel Sales e Wanderley Santana, apresenta o cenário da comunidade como uma casa, espaço onde acolhe-se os irmãos e irmãs para a partilha do alimento e da vida.

A mesa, ao redor da qual todos se encontram – indígenas, negros, brancos, homens, mulheres, gestante, crianças, jovens, cadeirante, adultos e idosos – remete ao sacramento da amizade de Deus com a humanidade.

O símbolo maior da comunidade é a celebração da fé ao redor de uma mesa, com pão, vinho e fraternidade. Os alimentos na mesa, típicos da dieta mediterrânica, recordam as refeições de Jesus. As janelas apontam uma casa aberta aos desafios do mundo e da realidade.

No meio da cena está o Papa Francisco, com sua bengala. Esta imagem expressa aquele que assume suas limitações e propõe ao mundo a amizade social por meio de sua Encíclica Fratelli Tutti. Ele mostra que é um caminho necessário para garantir a boa convivência e a subsistência de todos os seres humanos.

O Santo Padre usa a cruz de dom Helder Câmara, que participou da fundação da CNBB em 1952, no Rio de Janeiro, sendo o primeiro secretário-geral da Conferência. Esta imagem recorda as semelhanças entre estes dois grandes homens de fé, que tanto colaboraram e colaboram com a história da CNBB e da Igreja no Brasil e no Mundo.

O cartaz convida também ao gesto concreto da Campanha da Fraternidade: a doação à Coleta Nacional da Solidariedade que acontecerá no dia 24 de março de 2024, Domingo de Ramos e da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. A coleta fortalece os Fundos Diocesanos e Nacional de Solidariedade, que colaboram com centenas de projetos sociais por todo o Brasil, sempre ligados ao tema da CF de cada ano.

60 anos das Campanhas da Fraternidade

A cruz de Dom Helder é também uma recordação para marcar os 60 anos da Campanha da Fraternidade, celebrada nacionalmente pela primeira vez em 1964. A Campanha da Fraternidade foi criada por Dom Eugênio Sales, na época Arcebispo da arquidiocese de Natal (RN). E teve com Dom Helder, então secretário-geral da CNBB, o grande esforço pastoral em torná-la nacional, sendo assumida por toda Igreja no Brasil.

O coordenador do Setor de Campanhas da CNBB, Padre Jean Poul, enfatiza que desde 1964, portanto há 60 anos, a CF vem mobilizando todo o Brasil num verdadeiro mutirão de evangelização e de conversão.

“Todos nós temos alguma memória agradecida desses 60 anos: um cartaz, a letra ou a música de um hino, uma oração, um parágrafo de um texto-base, uma experiência vivida numa campanha que mexeu conosco e nos ajudou a crescer na fé e no seguimento de Jesus”, relembra.

Para conhecer a história, é necessário olhar o contexto histórico onde nasceu a experiência de solidariedade enquanto Campanha da Fraternidade, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. O que aconteceu de extraordinário ali? É preciso retroceder até o tempo da II Guerra Mundial, quando os Estados Unidos decidiram entrar no conflito. Então montaram em Natal (cidade estratégica) uma base militar enviando um contingente de soldados que elevou a população local em 20%. Da noite para o dia a cidade se transformou.

De maneira abrupta os espaços urbanos foram reorganizados e bares superlotados com comércio em dólar, espaços de lazer, mudança na linguagem, incremento da gastronomia, enfim, a cidade de Natal explodia com esses novos rumos. Mas o pior estava para acontecer. Terminada a guerra, toda essa população não brasileira também da noite para o dia desapareceu das ruas de Natal. O que deixou? Uma cidade em ruína e miséria, muitas mulheres com filhos ou grávidas. A fome rondando cada rua, cada casebre.

A crise social da região descambou para o caos social. Uma iniciativa eclesial de emergência surge. Dois padres, Nivaldo Monte e Eugênio Salles que pouco depois tornou-se bispo auxiliar de Natal, iniciaram um movimento bem amplo no campo social, urbano e rural. Iniciava-se ali o Movimento de Natal que impulsionou o planejamento pastoral, a formação de escolas radiofônicas que fizeram germinar, principalmente, a Campanha da Fraternidade realizada durante a quaresma.

Ampliação nacional
Em 1962 foi realizada na cidade de Natal. No ano seguinte a experiência ampliou-se para 16 Dioceses do Nordeste. Em 1964, os Bispos Brasileiros encamparam a Campanha da Fraternidade com texto aprovado em assembleia para o Brasil inteiro.

No contexto do Movimento de Natal, ainda cabe ressaltar a experiência na Paróquia de Nísia Floresta/RN. Em função da carência de sacerdotes na Arquidiocese de Natal, essa paróquia foi entregue por Dom Eugênio Sales para ser administrada pelas Missionárias de Jesus Crucificado, dando-lhes todos os direitos e deveres de vigárias paroquiais, exceto a administração dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia indo de 1963 a 1989. Era uma forma de a Igreja favorecer aos trabalhadores rurais condições para se tornarem protagonistas de seu destino.

Foi a partir do Movimento de Natal que a Igreja viabilizava daí em diante propostas de solução coerente com o pensamento da doutrina social, utilizando de seu prestígio para pressionar e sensibilizar as autoridades do país estimulando ações governamentais mais responsáveis. Nesse sentido, a Campanha da Fraternidade colocava em prática o texto bíblico descrito em Isaías 58 a respeito do verdadeiro jejum a ser concretizado durante a Quaresma. Não há dissociação entre fé e vida.

Assumida pelas Igrejas Particulares da Igreja no Brasil, a Campanha da Fraternidade tornou-se expressão de comunhão, conversão e partilha. Comunhão na busca de construir uma verdadeira fraternidade; conversão na tentativa de deixar-se transformar pela vida fecundada pelo Evangelho; partilha como visibilização do Reino de Deus que recorda a ação da fé, o esforço do amor, a constância na esperança em Cristo Jesus (Cf. 1Ts 1,3).

A CF e o Concílio Vaticano II
No contexto do Concílio Vaticano II, a CNBB estruturou o projeto da Campanha da Fraternidade para levá-lo a todas as dioceses do país. Sob o espírito renovador conciliar, os bispos definiram o que seria a Campanha da Fraternidade para toda a Igreja no Brasil. A partir de 1965, a Cáritas Brasileira e a Campanha da Fraternidade passaram a estar vinculadas diretamente ao Secretariado Geral da CNBB.

Desde 1967, a CNBB passou a redigir um subsídio mais completo para a Campanha da Fraternidade e ocorrem também os encontros nacionais e regionais da CF. Desde 1970, as campanhas recebem apoio pontifício com uma mensagem do Papa por ocasião da iniciativa da Igreja no Brasil.

Temas e Lemas de todas as CFs

Fases da Campanha da Fraternidade 

Três fases marcam a realização da Campanha da Fraternidade pela Igreja no Brasil:  

Primeira fase 

De 1964 a 1972, ela foi marcada pela renovação interna da Igreja à luz da Constituição Dogmática Lumen Gentium, sobre a Igreja.   

Segunda fase 

No período compreendido entre 1973 e 1984, a Campanha da Fraternidade assume as decisões das Conferencias Episcopais de Medellín e Puebla, voltando-se para a realidade social do povo, a denúncia do pecado social e a promoção da justiça. Neste mesmo período, a Campanha se organiza, adotando o método Ver-Julgar-Agir e o texto-base. Nesse período, acontece a construção da sua estrutura e da metodologia da Campanha. 

Terceira fase 

A reflexão sobre a realidade existencial de povo brasileiro marca a terceira fase da Campanha da Fraternidade. Assim, ela tem contribuído para chamar a atenção para situações que causam sofrimento e morte, nem sempre percebida por todos. Os temas abordados testemunham a sintonia da Igreja com a vida de povo, como a percepção dos grandes problemas que atingem, sobretudo, os pobres, os quais nem sempre têm a quem recorrer em seus sofrimentos devido às situações injustas. 

A Igreja, nessa etapa da Campanha, prestou e continua a prestar esse serviço à sociedade brasileira, no intuito de suscitar iniciativas e esforços dos diversos seguimentos da sociedade, a transformar situações que geram injustiça e sofrimento em amor e vida para todos. 

A Campanha da Fraternidade tem hoje os seguintes objetivos permanentes:

1 – Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum;
2 – Educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho;
3 – Renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja)”.

A coleta da Campanha realizada como um dos gestos concretos de conversão quaresmal tem realizado um bem imenso no cuidado para com os pobres.

Ao percorrermos o itinerário da Campanha que nossos irmãos nos prepararam, possamos continuar seguindo Cristo, caminho, verdade e vida (Cf. Jo 14,6).