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As reflexões dos temas buscaram ser e se inter-agir como tentativa de fazer ressoar a espiritualidade franciscana. A utilidade delas foi convidar a espiritualidade presente em cada um dos temas a vir cada vez mais cordial e gratuitamente à fala a partir da plenitude abissal e insondável do mistério da anterioridade, superioridade e profundidade do encontro de e com Quem se nos doou primeiro, o Deus de Jesus Cristo.
O grande risco da Espiritualidade é, em querendo dizer em demasia, nada dizer e em querendo ser sóbria e enxuta, tornar-se grã-fina pusilânime e apoucada, e virar fundamentalista, sofisticada, ora dogmática, ora liberal, ora ativista na mundividência, na ideologia, em filosofemas e cientificismos, ora espiritualista ensimesmada em eflúvios vivenciais e ‘místicas’ ‘passivistas’. No entanto, em todas essas e mil e mil outras ‘fôrmas’ de ‘Espiritualidade’, se elas de alguma forma nos dão força e vida, é porque a nossa alma, a assim chamada a ‘alma do povo de Deus’, no seu fundo, no seu íntimo o mais íntimo da existência, possui o faro certeiro de vislumbrar, mesmo lá onde na superfície reina decadência, banalidade, sim interesses particulares egoístas, camuflados de religiosidade, atrás ou no mais pro-fundo de todas as nossas mixórdias, uma radical-outra presença silenciosa, oculta na sombra do retraimento na humildade da Deidade-encarnada na Terra dos Homens. Na Espiritualidade cristã, lá onde em toda a parte perseguimos os vestígios da Boa-Nova de Seguimento de Jesus Cristo, mistério da Deidade encarnada, é necessário sempre de novo retornar à sombra dessa Gratuidade. Essa sombra não é a sombra da morte, nem a frescura intimista e ‘burguesa’ da sombra e água fresca, mas sim o centro, o meio oculto bem na raiz da nossa existência, lá onde segundo Mestre Eckhart somos nascidos continuamente pelo toque incansável e diligente do Pai de Jesus Cristo, fazendo-nos seus filhos no seu Filho unigênito.
Mas é bom examinar, se hoje, a boa sombra não emigrou dos conventos, centros de Espiritualidade, meditações e contemplação, para o fundo do quintal do Mundo Secular, para se retrair na solidão cinzenta de metrôs, de ruas desertas das noites abandonadas, mas também do corre-corre dos trânsitos na hora do rush, nos intermináveis congestionamentos do trânsito, enfim, lá no fundo oculto e desprezado da cidade de pedra, lá onde a existência humana pobre, mas valente, busca corpo a corpo a sua sobre-vivência, procurando tenaz e sofridamente o sentido da sua identidade, na angústia do tédio, no deserto da monotonia cotidiana, nos afazeres frenéticos, nos prazeres e nas alegrias fugazes, mas gratuitamente usufruídos de quem não tem mais nada a perder.