Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Relatório Pira-bíblia 2007

23/03/2021

 

Estimado frei Dom João Mamede! Ogenki dessuka?

Dom frei Mamede, de modo muito imperfeito, tentei ajeitar a meu modo o relatório. Como nos casos dos relatórios dos encontros com Frei Marcos Aurélio (psicologia, formação e espiritualidade), este nosso encontro de leitura da Bíblia não é relatório objetivo, reprodução do que foi falado ipsis verbis no nosso encontro.  Mas até certo ponto, os pensamentos debatidos estão de alguma forma ali presentes.  Se o Sr. pudesse mandar esse relatório a Pe. César e a Frei Aloísio, ou até a todas as pessoas que estiveram presentes no encontro, para cada qual corrigir ou acrescentar pensamentos ao relatório e o completar seria muito bom.  E se a gente trouxesse esse relatório lido e corrigido por cada um, e no início do nosso encontro de 2008 colocássemos questões referidas ao que debatemos no ano de 2007, mas agora formuladas com mais precisão e completude, seria um modo viável de repetir o que já fizemos e continuar a leitura. E então frei Aloísio e Pe. César continuariam a nos guiar na leitura das sermões da montanha.  Quanto à colocação que disse, talvez fazer a partir da filosofia, não consegui fazer, mas também acho que não é muito interessante. Se restar tempo, talvez leve como questão alguns pensamentos que debatemos nos últimos dias do encontro de 2007, que estão anotados no seu relatório.  Desejando-lhe Paz e Bem e um feliz 2008, seu escudeiro,

Idionésio Minorato

PRIMEIRO ENCONTRO DE REFLEXÃO BÍBLICA

PIRACICABA-SP, 22 A 26 DE JANEIRO DE 2007

ASSUNTO: MT 5-6 – SERMÃO DA MONTANHA

Participantes: Pe. César Teixeira, 52, Doutor em Sagrada Escritura e professor da Faculdade de Teologia N.S. da Assunção de São Paulo, SP; Pe. Messias de Moraes Ferreira, 32, vigário paroquial e pós-graduando em Eclesiologia; Diego e Sofia, doutores e professores de Direito; Pe. Sebastião; Frei Antônio Corniatti; Frei Célio; Frei Hermógenes; Frei Aloísio de Oliveira, biblista (Gregoriana), Dom João Mamede e Dom Fernando Mason.

Horário: 7:30h café – 8:30h trabalho – 10h cafezinho – 10:30h trabalho – 12h almoço – 15h trabalho – 16:30h cafezinho – 17h trabalho – 18:30h Eucaristia – 19h Janta.


22/01/07 – Segunda-feira – 8:30 hs

Mamede: Sejam todos bem-vindos! Aqui estamos reunidos, vindos de vários lugares, de vários trabalhos e encargos, com diferentes formações. É um grupo heterogêneo de estudo. Queremos estudar como estudar a Palavra de Deus, orientados por frei Aloísio (biblista) e Pe. César (biblista), não tanto no sentido de fazer com eles um curso bíblico, mas, pressupondo que todos, lemos e conhecemos a seu modo a Bíblia, começar a formar um grupo de pessoas que de modo mais informal, ou melhor, não tanto especializado, mas rigorosamente existencial, sem medo de mostrar suas ignorâncias, colocam suas questões e problemas e objeções e críticas aos nossos acima mencionados biblistas, que nos orientam então a respeito do que na exegese científica moderna existe como sugestões de direcionamento da questão. O pro-pósito, a pré-tensão desse nosso encontro é uma in-tensão, uma tendência e tensão para aprender a ler, cada qual e juntos, a Bíblia. A gente poderia até dizer que o nosso interesse é de buscar e-vidência das palavras da Bíblia, sem saber como tudo isso pode acontecer.

Corniatti: Também, com outras palavras, poder-se-ia dizer que cada qual de nós e todos juntos queremos nos ex-por, nos dis-por para sermos tocados pela ”coisa ela mesma” da Bíblia.

Mamede: Pe. César disse, uma vez, com a Bíblia na mão: “Este livro é um instrumento. Instrumento é meio para um fim. É algo como armadilha para pegar coelho. Se você pegou o coelho, deixa a armadilha de lado e vai para cima do coelho”.

César: Bem, estava é, pensando no frei Carlos Mesters, biblista famoso. Ele fala de livro e vida. Se através do livro se chegou à vida, então deixa que a vida siga o seu caminho e nos conduza. Para que o livro seja instrumento nesse sentido de nos conduzir à cercania da vida e de tal modo que a vida comece a nos conduzir, o “instrumento” não pode ser algo mecânico como hoje entendemos usualmente o uso instrumental e pragmático de uma coisa como “meio para um fim”. Tudo que se refere à vida, se é meio para se chegar à vida, deve estar já impregnado de, afeiçoado à vida, deve ser expressão, o vir à fala da vida, estar no médium da vida.

Hermógenes: A palavra vida aqui certamente nem em primeiro lugar nem exclusivamente indica a vida na sua acepção biológica. Seria possível dizer que se refere ao surgir, crescer e consumar-se do destinar-se do povo, portanto, da história do povo onde apareceu o livro? Estar no médium da vida significaria então que o livro como instrumento está carregado da história? No nosso noviciado vivia um irmão leigo franciscano, marceneiro de profissão. Um machado de mão, de longo uso, era-lhe tão familiar que não era apenas um instrumento, no sentido de meio para fim, mas era como que um prolongamento do seu corpo. Tinha o mesmo jeito dele. Estava impregnado da sua personalidade. Tinha a mesma história dele.

Sebastião: Carregado de uma história significa que, para usá-lo, preciso conhecer um pouco a história.

César: Se digo “estou na fossa” o historiador vai entender o quê?

Hermógenes: A “historicidade” do “estar na fossa” parece ser “caracteristicamente” diferente da historicidade historiográfica do historiador. A história no sentido da historiografia científica parece não mais ser capaz de admitir essas diferenciações que pede o “espírito da finura” (Pascal), presente bem vivamente na Sagrada Escritura?!

César: Por isso, eu penso que há ali um dado maior que é a Vida. A Bíblia é o livro que surgiu da Vida. Se eu não vejo a ligação “Livro e Vida”, incido em várias equivocações de hoje. A minha vida, a tua vida, a nossa vida são interpretações, interpretações da Vida. Eu vivo interpretando Vida. Quando uma interpretação desta ou daquela vida recebe sentido da e na Vida, então esta lhe está dando sentido, e então esta ou aquela interpretação está sendo fiel à Vida, está devolvendo o dom Dela. Se se desligar deste algo maior que é a Vida, estou traindo-a.

Corniatti: O científico tem como preocupação limpar a área para que surja a vida no seu originário. E isso que vem, que me toca, vem dentro de uma interpretação. Queria entender melhor vida originária e interpretação.

Hermógenes: A maneira como frei Corniatti compreende o científico não é generosa demais? Se puder, juntamente com o que frei Corniatti gostaria de entender melhor, a saber, o relacionamento entre a vida originária e interpretação, gostaria também, mais tarde, que os biblistas nos dissessem o que eles entendem por científico na exegese e como consideram esse científico com o que se chama de Vida. Mas isso tudo mais tarde.

César: Jesus Cristo, segundo os Santos Padres, é o intérprete por excelência. Os judeus usavam a Bíblia, mas a interpretavam de uma maneira que <só> mostravam aquilo que gerou o livro. O científico vai ajudar a ser fiel ao que deu origem à Palavra, isto é, à Vida.

Aloísio: Não há na Bíblia um caso (Mt 12,1-8), onde Jesus é censurado pelos judeus por ele, – que era mestre −, não reclamar dos seus discípulos que colhiam espigas no sábado? E que então Jesus respondeu apelando para o tempo de Abiatar, de como Davi comeu o pão da proposição etc. Trata-se de entrechoque de interpretação.

César: Nesses entrechoques de interpretação, se o ‘científico’ é saber que livro o ‘autor’ usou para a interpretação e verificar apenas que um usou o Levítico, e o outro o Deuteronômio, então não se está usando o Livro, a Bíblia, para fazer fluir o dinamismo da Vida. Com isso, tal ‘científico’ é inócuo. Não disse Jesus “revelastes aos pequeninos”? O essencial está no impulso da Vida.

Corniatti: Vida não é coisa. O machado citado antes é uma expressão viva do marceneiro. Quem vê Jesus, vê a vida. Mas não é ali, coisa…

Mamede: O machado é vida e a morte do marceneiro. Para manejá-lo daquele modo o marceneiro gastou a vida aprendendo da Vida o modo de ser humano do marceneiro. Mas também, gastando a vida com e no machado ele teve todas as realizações que dão e deram sentido ao seu viver.

Célio: Vida aqui não é o sentido existencial de ser?  Sentido maior?

Corniatti: “Vida e vida em abundância” diz o Evangelho. O que é abundância? É ir eliminando o negativo até eliminar… a morte? Para um idoso que sente cada vez mais a proximidade da morte, para quem está com Aids, ou para alguém que está numa forte tentação… o que é vida em abundância?

César: Bíblia é instrumento. Despertou a vida…, e isto basta. Estamos tentando entender “instrumento” e “vida”.

Hermógenes: Vida como oposto a morte – isto não é interpretação. Isto mata a interpretação. O pianista interpreta Bethoveen, mas não fecha a possibilidade de outra interpretação. Aliás, abre e anima mais interpretações.

César: Na interpretação boa se está sempre atento: como isso pode me pegar e dar-me prazer e embalo? Por que a interpretação de Jesus pega e a dos fariseus não?

Mamede: Só quando desencadeia interpretações é que é interpretação. Quando é um arrazoado, só constata fatos e os classifica; que não desencadeia o impulso da vida, é encaixe, cataloga-se no repertório, cadastra-se no fichário.

Sebastião: E quando o protestante diz que cada um dá sua interpretação, como fica?

Hermógenes: Se eu entendo a colocação do protestante como se ele estivesse dizendo com o que ele diz que tudo é subjetivo, que tudo depende do ponto de vista subjetivo do sujeito-eu interpretador, acharia que essa minha compreensão do que é protestante é injusta. E parece que não difere muito do que eu no fundo pernso também. Talvez o protestante quer dizer que toda e qualquer interpretação é uma responsabilização pessoal-existencial de cada existência cristã e deve atingi-la. O contrário, a saber, a objetividade neutra e geral não é o modo de ser da Vida.  Nos encontros do seminário da Filosofia de Arte, ministrado nesse ano no IFTEG (Goiânia) por frei Marcos Aurélio, depois de tentarmos interpretar obras de Van Gogh –, mesmo que cada qual interpretasse, p. ex., um autoretrato de van Gogh, ao voltar cada qual para sua casa, na rua, víamos tudo, i. é, cada coisa, em tudo, o modo de ser da presença presente nos quadros de van Gogh. Não era tanto que a gente projetasse o que viu como quadro de van Gogh sobre a paisagem. Um quadro de van Gogh parecia como que uma abertura, um buraco de fechadura através da qual surgia uma nova paisagem, antes nunca vista no seu todo. Talvez seja nesse sentido que Paul Klee na sua Confissão criativa diz: A arte não reproduz o visível. Ela faz visível. Talvez a boa interpretação não reproduza o que está ali, mas faz visível toda uma nova paisagem: a Vida.

Sebastião: Por que JC é o intérprete por excelência? Ele está onde? No essencial??

César: A interpretação de JC tinha algo de especial. O Apóstolo João matou a charada, denominando esse ‘algo’ de amor. Mas tudo isso é técnico.

Sebastião: Quando eu vivo a palavra ela vai se revelando a mim.

César: Por que o “nervo” que ela traz ajuda a compreender a Vida. Ela, a palavra nasceu dos fatos.

Mamede: Do fato ou da interpretação?

Sebastião: Deus é interpretação ou é fato?

Mason: Palavras, p. ex., que constituem o livro Bíblia carregam dentro de si o ‘nervo’ que ajuda a compreender a Vida. Tal palavra nasceu dos fatos.  Mas um fato é fato porque um algo anterior lhe deu peso. Sem esse anterior que não é outro fato do mesmo teor, o fato não diz nada.

César: Consideremos, p. ex., o fato do bezerro de ouro. Esse fato era o feito. Fato diz por isso feito.

Mason: O bezerro aparece num certo momento da história daquele povo como o perfazer-se do destinar-se daquele povo. E dá outro, novo início. Por isso, esse fato localizável num determinado ponto da extensão linear do tempo cronológico, o fato historiográfico, esconde sob a sua superfície um feito nevrálgico, outro tempo, o tempo kairótico, que dá o peso tempestivo ao fato.

Célio: Tirou os óculos e viu a essência?

Mason: O que são os óculos aqui? A interpretação, o fato? O essencial é algo como fato ou interpretação? O algo anterior que dá o peso ao fato, acima considerado, não é outro fato do mesmo tipo de fato, mas algo como imensidão, profundidade e abismo de presença que tudo impregna, dinamiza e sustenta. É o que sempre de novo estamos chamando de Vida.  Posso considerar a morte de JC como um fato causado por outro fato que por sua vez é causado por outro fato etc. Por exemplo, Jesus morre porque os soldados romanos o torturaram de tal maneira que o seu corpo não resistiu às pancadas; e os soldados bateram nele tanto porque foram ameaçados pelos seus centuriões que, se eles não matassem a Jesus com pancadas, seriam eles acusados de traição; e os centuriões por sua vez foram motivados por seus instrutores a odiarem os judeus, porque estes seriam os exploradores do mundo romano etc. Aqui um fato está ligado a outro fato por uma série de sucessão de causa e efeitos, de tal sorte que de um fato surge somente outro fato do mesmo feitio. Ao passo que quando Pe. César nos adverte que a palavra da Sagrada Escritura vem do fato e o fato é feito, i. é, obra sob o toque da Vida, a compreensão do que seja fato possui um outro quilate do ser. A compreensão do fato como a sucessão causal de coisa sobre coisa não tem olhos para ver a dinâmica qualitativamente diferente de ser acontecendo na Morte da Vida “severina” de Jesus. Aliás não gosto muito da palavra “interpretação”, pois eu represento o fato como uma coisa diante de mim ali opaca e a minha captação “objetivo-coisal” dessa coisa como opinião subjetiva.

Mamede: Mas se a gente entende a interpretação e o fato como foi sugerido por Pe. César e Dom Mason, eu até gosto da palavra interpretação e fato. Uma vez vi um bailarino russo dançar um solo num conjunto de ballet de um modo tão bem feito que me deu vontade de dançar também. E até melhor…

Hermógenes: Dom Mamede, como é esse negócio de “me deu vontade de dançar também e até melhor?” Para dançar como o bailarino russo dançou não é necessário primeiro treinar muito, obedecendo regras objetivas de todo um sistema de saber técnico? Se eu, p. ex., der aqueles saltos que um bailarino dá, quando ponho o pé no chão, já o quebrei em quatro lugares… Assim, o que o Sr. disse “dá sua vontade de dançar e até melhor”, não é apenas algo subjetivo? Quando, hoje, vejo artigos ou conferências dos biblistas, que estão enfronhados em tantos saberes competentes objetivos, fico deprimido com o pouco saber, onde o que compreendo da Bíblia parece tudo subjetivo…

César: Aprendi com o Dalai Lama a valorizar o subjetivo. É aí que se dá a experiência.

Hermógenes: Para mestre Eckhart tudo o que é real é mais pessoa. O máximo de pessoa é Deus. Que, aliás, é três pessoas.

César: Quando Mateus fala de interior…

Sebastião: Mas na valorização de tal interior, a gente não pode cair no subjetivismo?

Mason: Vamos voltar ao subjetivo como coisa positiva.

Hermógenes: Parece que Pe. César está insinuando uma compreensão mais profunda do que seja subjetivo, compreensão do “subjetivo como coisa positiva”, na linguagem de Dom Mason.

Corniatti: Essa questão entra também na liturgia… Ao reagir contra um modo de conceber a liturgia sem vida, formal e digamos “liturgista”, a gente incentiva criar, inventar. É verdade que essa convocação por sua vez pode cair no formalismo mecânico da busca de mudança apenas por mudar e, se isso acontecer, nada aqui resulta em experiência. Mas pode haver 50 interpretações de Beethoven, boas e criativas…

Hermógenes: Quando a gente volta a Bíblia como instrumento da Vida, a questão do subjetivo e objetivo, começamos a sentir uma abordagem da questão talvez mais rigorosa e diferenciada.

Célio: Um dia, tive que falar sobre oração. No fim, um velhinho resumiu tudo que eu disse assim: entendi tudo – é nóis com nóis, nóis com Deus e Deus com nóis!!! O medo do subjetivo será que não vem do medo da Vida? O vigor da Vida não é certeza, no sentido da objetividade da ciência. Esta talvez não seja afim com a Fé. Como o subjetivo sempre depende de cada um, a tendência da certeza tem medo do subjetivo.

Sebastião: Não é medo de perder a minha verdade?

Hermógenes: Aí já se entende verdade como o subjetivo.


22/01/07 – Segunta Feira – 17h

Célio: Leitura de Mt 5.

Mason: Mt diz: “Abrindo sua boca falou dizendo”… parece que se está a indicar que se trata de preciosidade.

Sebastião: Felizes os pobres de espírito – Quem não tem recursos acadêmicos não pode interpretar pelo Espírito?

Hermógenes: Quando estou numa paisagem da montanha e planície, eu me sinto à vontade, serenado num assentamento livre, imenso.

Mason: Vendo as multidões – o que é?

César: Falar num morro é um dado da cultura. Na planície o público já é outro. Não é um fato, uma coisa.

Hermógenes: Quando o exegeta diz “isto é fato”, está falando do fato da factualidade de averiguação científico-historiográfica objetiva ou, antes, da densidade da implicação da tradição historial? Ou nem de uma, nem de outra? Está falando de quê?

Corniatti: Qual a função dos dois primeiros versículos em referência ao que vem a seguir?

César: Todo o Evangelho de Mateus é para responder estas duas perguntas: Quem é este mestre de justiça? E que “bicho” é este, a justiça.

Hermógenes: Cristo não é mestre num sentido todo próprio? Ele não tem a autoridade de Deus? Bonhoefer comenta: “JC chamou e Mateus seguiu de imediato. Só um Deus pode chamar deste jeito”. Não é fundamentalismo isso?

César: É porque não captou a intencionalidade do autor.

Hermógenes: Quem é aqui autor? Mateus? Porque a Bíblia se chama Sagrada Escritura? Não será porque a intenção do ‘autor’ Mateus é mostrar que é fala divina?

César: No texto é mostrar que JC é mestre.

Hermógenes: Qual a diferença entre um historiador moderno budista ou mesmo ateu, que com grande simpatia e admiração por Cristo, quer mostrar que Jesus Cristo é mestre, e Mateus, autor do Evangelho de Mateus, e a explicação de um exegeta moderno, cristão ou budista ou ateu etc.

César: Cristo da história e Cristo da fé.

Mason: Não resolve nada. Lucas fala de um pipocar de escritos. A comunidade coloca por escrito o que vem como eco até ela. Mateus não cria. É mestre em acolher o que a comunidade foi tendo de evidência de Jesus.

César: Não se chega a uma certeza absoluta, mas se evita cair em posições a que se chegou no século passado de fideísmo etc. Não posso abandonar Joaquim Jeremias “ipsissima verba Christi”, sociologia etc…

Hermógenes: Fernando disse que há um fato atrás do Jesus da fé.

Mason: JC chegou até nós envolto na fé. A batalha de Mindanao (Filipinas) entre japoneses e americanos na última guerra mundial tem várias interpretações. O fato ocorrido era um conjunto de tantos elementos, tantos soldados, canhões, bombas etc…

Hermógenes: Resumindo o que entendi, se é que entendi, do que viemos falando até agora do livro (Bíblia), interpretação, fato e Vida, Mateus como autor, Cristo da história e Cristo da fé, o subjetivo e o objetivo… exagerando, todas essas considerações são considerações dentro e a partir do ocular da ciência histórica, e isso da ciência histórica de diferentes tipos, alguma tradicional, outra moderna etc.

César: Trata-se, pois, de desdogmatizar estas questões de experiências da comunidade. Abrir.

Mason: No Evangelho de São Tomé se relata que Jesus faz pássaros de barro, e quando Jesus bate palmas, os pássaros de barro se tornam vivos e voam. A comunidade foi deixando tais estórias de lado porque não era a experiência que ela teve de JC.

César: Esse tipo de discriminação entre a experiência que a comunidade teve de JC e outras criou o cânone. Este fixou a história. Parou. Tornou-se elemento articulador da história da salvação. O primeiro elemento são os três: Pai, Filho e E. Santo. Espírito. O Espírito das Escrituras. A Bíblia nasceu por uma necessidade humana. Hermenêutica. Carências. Cada carência, um texto.


23/01/07 – Terça Feira – 8:30h

Aloísio: Vamos recomeçar com a primeira bem-aventurança: O que é pobre?

Messias: Pobre é aquele a quem falta algo. Ex. Pobre socialmente: não tem casa, comida etc. Pobre de espírito: sem Deus.

Aloísio: Que não está cheio de si, anawim. Nos textos de Qunran, anawé ruáh. Encurvado. Não pleno.

Célio: Eckhart – pobre é o que não experimenta nenhuma satisfação nas coisas já criadas por Deus.

Hermógenes: diretamente não seria o pobre social?

Mason: Em Lucas, fala só pobre, sem adjetivo.

Aloísio: Anawin é mendigo. Indigente. Ninguém por ele. No AT as bem-aventuranças vêm de encontro a necessidades imediatas.

Sebastião: O fato de começar com os pobres não tem por trás uma teologia da prosperidade? Riqueza abençoada?

Mason: Quando se fala do pobre, penso nos meus pais e nos do Mamede, Aloísio, que conheço.

Sebastião: Não seria o viver com o necessário? Hoje se criam necessidades.

César: Pitoco em grego – pequeno. É pequeno social mesmo porque a intencionalidade vem dos profetas, onde a questão é social.

Hermógenes: E se a intenção do profeta for através do social, referir-se ao anterior? Indigência como tal mostra outra coisa da qual a ponta é o social?

César: Genitivo. Quer dizer: qualidade. Não é posse como filho “de” Deus.

Aloísio: Nas escolas de Roma se discute genitivo subjetivo e objetivo.

Mason: No social aparece mais um anterior.

Hermógenes: O que é pobre social?

Corniatti: Não participa dos bens que a sociedade já conquistou.

Hermógenes: S. Francisco pede esmola. Diz-se por aí que se no mundo houver só dois pães, um estará com os frades. Carência de sobrevivência corpo a corpo trás à tona algo que em geral não aparece.

Corniatti: Catei literalmente lata quando era criança… parece que o pobre tem que pegar a si mesmo e sair.

Hermógenes: Isso não é um pouco romântico? Candidato que era pobre lutava, e quando entra no seminário fica o contrário…

César: Uma força presente que leva a um ápice.

Hermógenes: Porque é força, é completo.

César: A realidade humana incompleta tem um grito que Deus ouve.

Hermógenes: Ouve o que no incompleto? Ouve algo precioso? Porque ele, Deus, é incompleto? Deus completo não é o Deus da metafísica? Sofrer é imperfeição? Planta não sofre!?

César: Está resgatando aqui uma consciência que ficou para trás, esquecida e abandonada. Entra na luta para que esta consciência possa ser resgatada. Fico chateado quando ouço falar de pobre, mas tem tudo. Há também a questão de uma consciência. Mesmo sem ser pobre, ter a consciência.

Hermógenes: O que é esta consciência?

César: O rei era comparado ao espinheiro. A custa da miséria fez o reino ser notável entre as nações. A fina flor do Egito foi para Israel. Palácios etc. À custa dos miseráveis.

Hermógenes: A Bíblia fica nisso. Riqueza que devia ser de todos. Ou vai além?

César: Bíblia fala da família, mesa farta.

Hermógenes: Faltou comida porque terra não produz? Como fica neste caso?

César: Bíblia é materialista no início. A posse de dez cabritos é a benção de Deus, porque por ela minha vida pode continuar.

Hermógenes: Quem diz isto é a consciência histórica. Que significa aí dentro “Bíblia Sagrada”?

César: Diz que aí dentro algo entra pelo… o perdão de Deus por exemplo.

Hermógenes: Mais não consegue dizer?

César: No material vão descobrindo o transcendente, o divino. Como um Davizinho com a funda pode matar um gigante? É sagrada porque dentro dos fatos históricos há algo que transcende.

Hermógenes: Digamos que Davi fosse morto e Israel fosse esmagado. E só o pouquinho que sobrou começa tudo de novo. E não diz “por Deus” mas como se estivesse sozinho… autonomia. O cristão, a Bíblia não pode dizer que essa autonomia é sagrada?

Célio: Israel passou por isso. O Deus universal foi depois da Babilônia.

Hermógenes: Ou restou um pouquinho do anterior?

César: Há elementos que resgatam aquela força na história. Como o lixão da cidade. Parece que não tem nada. Mas, de repente, queima aqui e ali. Ninguém conseguiu superar isso. Sempre renasceu.

Hermógenes: Por que chama isso de Deus? Transcendente? Metafísico? Por que não chamar de humano, consciência, autonomia humana?

César: Por necessidade de fazer com que esta força não desaparecesse, um grupo a estruturou.

Mason: De qualquer maneira, foi o homem que criou cultura organizada, estruturada… então sagrado seria castelo de areia, no fundo, humano – projeção – consciência. O que faz ser sagrado é o encontro de algo que não é projeção.

Hermógenes: Será que não dá para tirar a conclusão do Pe. César, de que esta força acaba com tudo o que é projeção? É a Vida?

Mason: Pelo discurso, parece-me que ficava no âmbito da possibilidade humana.

César: Lixo foi o exemplo. Quem deu força ao lixo para queimar? A identidade da força que estava no templo ruiu.

Hermógenes: Por que o medo de dizer que é algo humano? Possibilidade humano/divina.

César: Científica.

Hermógenes: Não será ingenuidade dos filósofos e dos cientistas objetivos?

César: A ciência nos mostra que há um objeto formal material sobre o qual é preciso se debruçar e tentar compreender. Não está totalmente no escuro.

Hermógenes: Esse no escuro… a ciência nunca fez uma análise de sua consciência científica. E nós somos ingênuos aí dentro.

César: A ciência nunca é autosuficiente.

Hermógenes: É diferente a atitude do cientista e da estrutura da própria ciência?

Mamede: Creme dental comprovado cientificamente… Significa que vale só até hoje. Amanhã tem que testar de novo.

Hermógenes: Pascal disse: “A ciência físico-matemática nunca vai falar sobre a totalidade. Nos votos, por ex., sempre falam de totalidade.

César: O que é total? Homem é total. Limpa tudo.

Hermógenes: Idéia é somativa. Profundidade humana não é soma. Decisão é total. Salto não é passo a passo. Decisão de salto é total.

César: O que estou entendendo é que há outra ferramenta para a qual a razão não basta. Precisa algo mais.

Hermógenes: Chineses falam em camadas de razão. Filosofia falou do animal racional… entendeu de um jeito.

César: Hoje temos estudos de alguém que a partir da Bíblia se pergunta: eu, no século XXI, devo pegar o mesmo que Paulo pegou, ipsis litteris?

Hermógenes: A gente está vendo muito curto isso.

César: Mas, e o pobre?

Hermógenes: Será que entrar aí, não saber, não é o pobre?

Messias: Espírito não é nosso. Entra num outro todo que não é nosso.

César: Rocinha de milho, cabrito… Deus. Não escravidão… Deus é comida. É preciso um salto. Uma passagem.

Célio: Será que a segunda frase não explica… “por causa do Reino”?

Corniatti: Não é para tirar pobreza.

Hermógenes: Pobre aqui para depois ganhar o céu… ópio do povo? Minha mãe viveu assim.

Corniatti: Rezava terço apenas, mas tinha força! Para certa mentalidade, pobreza é para ser eliminada. Nos textos de São Francisco é outra coisa.

Sebastião: Pobre não é o aberto ao novo de Jesus?

Hermógenes: Quando falamos de aberto e fechado, o que queremos dizer exatamente com isso? Quando se é no limite da possibilidade, é fechado? Quando se possui todas as possibilidades é aberto? O ser do humano não é sempre, i. é, cada vez concreto, finito, per-fazido historicamente, um fato, um feito? As categorias aberto e fechado, mormente se as entendemos “extensionalmente”, parecem “defasar” a compreensão do pobre.


23/01/07 – Terça Feira – 10:30h

Aloísio: Vamos nos concentrar na palavra Espírito. Grandes autores vão buscar sua origem em Qunran “anaué ruah”. Há os que trabalham com o dativo e o genitivo: pobre “de” espírito – genitivo; ou pobre “a” espírito – dativo. Sara é esposa “a” Abraão.

Hermógenes: Podia nos explicar o que significa mesmo genitivo e dativo. Por que, em português, se traduziu em espírito? Em é dentro ou para dentro?

Corniatti: Pobre em poderia ter a conotação de: tinindo no vigor de pobre. É positivo. Assim, pobreza seria uma riqueza humana toda própria do humano que pode aparecer em diversas modalidades do que chamamos de pobreza, mas que usualmente não aparece como tal se não for temporalizada, historiada na responsabilidade do homem de ter que se dar um sentido do ser, a tudo que é e não é.

Mason: Parece-me que o regente é Espírito. E este é pobre.

Corniatti: Se humilha como criança.

Mason: Aí complica. O que é então criança?

Célio: Tabula rasa. Pronto para receber tudo.

Corniatti: Na dinâmica da recepção.

César: “Ruah” é a totalidade da pessoa – “soma” e “psiché” (alma).

Corniatti: O que é a justiça do Reino, de Mateus?

César: As comunidades gregas querem o super do todo. A dificuldade foi falar para elas do condenado, da cruz. Como acreditar num homem que não é poderoso, não é superdotado, que felicita os pequenos? Isso é revolucionário.

Hermógenes: Isso é fantástico.

César: É aí a dificuldade. Falar de Deus de barriga cheia para barriga cheia é fácil.

Mason: Trata-se apenas de falar? E ao dizer que é fácil falar de barriga cheia para barriga cheia, não amoleci a questão revolucionária numa espécie de apelo que já abdicou da seriedade radical do anúncio da bem-aventurança evangélica? Por 800 anos foi difícil falar da cruz. Adorar um crucificado!? Não é assim que hoje, começamos a perceber que não se trata da dificuldade, mas da impossibilidade de aceitar uma tamanha explicação do humano e do divino tão tolo, louco, tão fraco e impotente?

Corniatti: Acho difícil ligar cruz com glória.

César: O que falávamos antes. Por mais que tenham tentado eliminar Deus, ninguém conseguiu. A ossada é sempre ressuscitada. Isso que é a glória. Não conseguiram sufocar, apagar isso. Cruz é uma releitura de Israel do exílio, Jó. É aí que aparece o Deus nu e cru.

Hermógenes: Mas, aqui entre nós, esquecendo que frei Fernando e frei João Mamede são bispos, daria para dizer nua e cruamente o que se entende por Deus nu e cru?

Corniatti: Elias, ao acordar encontrou pão assado na cinza. Recuperou forças para uma longa viagem, no fim da qual, não encontrou Deus nem na tempestade, nem no terremoto, mas numa brisa suave.

César: Encontrou força humana para reagir. A fraqueza do forte está na consciência de poder destruir. Isso aconteceu na Igreja com Nero. A força estava trabalhando… semente de cristãos. Ou o homem mergulha no potencial escondido na história para poder se levantar ou …

Mason: Esse ou… o que e como seria nua e cruamente? Por que a ligação com Reino dos Céus. Como é esse “porque” deles é o Reino dos Céus.

Aloísio: É o Reinado de Deus… se entra na ambiência de Deus.

Hermógenes: Na ambiência, na tonância, no humor de Deus nu e cru?!

Célio: Há diferença entre pobres de espírito e espírito de pobre.

Corniatti: a modo de pobre – se for modo de ser – tudo o que é anemia de espírito – falta de vigor, não é bem-aventurança. Eu sempre tenho um corpo, saúde… estar no ter a modo de quem não tem. Seja qual for o padrão de ter em que você está, viva a modo de pobre.

Célio: Pobre… infância de ser.

Corniatti: Só que você já está mesmo, mas tem que conquistar isso. Amar quem te bate no queixo. Aconteça o que acontecer, fazer uma história de liberdade.

Mason: Felizes, bem-aventurados, beatos… qual o conceito-chave?

Aloísio: Makarios, felizes, bem-aventurados.

Mason: Sortudo?

Corniatti: Aventurando-se bem. Você tenta ir de cabo a rabo.

Aloísio: MakariosMakro… grande… concrescido.

Corniatti: Jesus diante da viúva, do centurião… “Grande”. O desafio nosso é espírito. Ruah. O Ruah pairava sobre as águas. Vital. Deu vida ao barro. Animado pela vitalidade de Deus.

Hermógenes: Desculpem a minha cabeça dura. Não sei explicar bem, mas toda essa nossa fala transcende demais, vai para além do que me sugere a expressão Deus nu e cru. Deus ali já está sendo vestido demais para não me desanimar, não tirar a “esperança”, ou melhor, a expectativa. Gostaria de perguntar aos biblistas se é válido aqui associar esse Deus nu e cru com 1Cor 1,23?

César: Na sociedade, essa categoria “pobre” é marginalizada. Na sociedade e até em Deus. Era amaldiçoado por Deus. Não podia pagar tributos. Não oferecia holocaustos. Felicitar esta categoria era algo complicado.

Hermógenes: Porque pegava a raiz. Acertava na veia. Por isso teve reação: crucifique-o, crucifique-o; blasfemou!

César: Não ligava ao templo. Ao poder. Tirar o acesso ao Ruah é muito desprezível. Ele está no princípio da via, da existência.

Corniatti: Essa fala de JC é uma autodefinição dele. Ele se entende como pobre. Ele se aciona a partir disso.

César: No tempo de Mateus a perda de uma estrutura que lhe garantia a eternidade do Sagrado era grave. Por que esse homem elaborou tudo isso para animar um grupo de pessoas que está começando a acreditar nesse condenado? Acho que ele está tentando arrumar a cabeça desse pessoal. Aí ele pega a genealogia… esse condenado nos liga aos nossos pais, Abraão, Isaac. Não vamos ser um grupo oba-oba. Tem regras duras.

Os judeus estão P. da vida porque não conseguem destruir esta comunidade. Quanto mais eles prendem e matam, mais eles se unem em torno da eucaristia.

Hermógenes: O que Mateus fez foi nos ligar com a Vida, com a força originária que ainda estava na fé da comunidade, i.é, que quem é pobre, i.é, destituído de tudo que uma sociedade humana deveria lhe dar, portanto quem é condenado como Cristo crucificado, ele sim, está ligado a Deus nu e cru, e como tal tem a possibilidade de receber, e haurir da própria fonte, diretamente, a força de Vida que é anterior, que é originária, sem enfeites, defasagens, sem inter-esses escusos, fonte que é o verdadeiro e é o puro poder porvir de Deus nu e cru. Tal comunidade é Igreja, por ser ligação límpida e imediata com o verdadeiro Deus. Seria isso o poder de ligar e desligar conferida à Igreja? Se for assim, é bem diferente do que usualmente estamos imaginando por poder da Igreja.

César: Mas tudo isso depois se estruturou.

Mason: Quando Mateus diz bem-aventurados os pobres, ele está ligando porque era uma coisa que estava fora, os pobres.

Hermógenes: E continuamente a Igreja faz isto na história.

César: é o princípio da nova Ecclesia, que temos que ler na expressão hebraica Qahal.

Hermógenes: Como é entendido isso dentro da exegese? O mais trabalhado significa mais estruturado ou mais compreendido originariamente?

Corniatti: Mais trabalhado como intensificação da compreensão.

César: Pobre de espírito é algo que abrange todos os limites, tanto do imanente como do transcendente. Pobre de espírito, pobre de Deus.

Aloísio: É essa a coluna vertebral para entrar na bem-aventurança.

César: E não é o principal. Tudo isso tem o “olho do furacão”, que é a misericórdia. Quiasmo: uma idéia central que ele vai engrandecendo pelas laterais.

Hermógenes: Acho muito concreto esse modo de Pe. César explicar, p. ex., falando do “olho de furacão”, de engrandecer pelas laterais. Mas como é isso? Quando se ensina e se aprende, a exegese é bem concreta ou é também formal como o ensino e a aprendizagem da filosofia? Nesta se usam conceitos e palavras, e tanto quem os usa como quem os escuta, se pergunta um tanto perplexo: Estou falando de que, mesmo? De que se trata?

César: Na exegese se está e se entra no campo verificável.

Hermógenes: Mas verificável a partir de quê, de que medida? E donde tira o critério da verificação?

César: A exegese vai aos últimos fins. Ela tem ferramentas. Por ex., o texto grego.

Hermógenes: Mas quem determina os fins? Quem e como escolhe as ferramentas? Na exegese, como saber científico, há inquietação em referência à verdade da sua cientificidade?

César: Quando acaba a inquietação há algum problema. A vida não para.

Aloísio: A pergunta de Hermógenes parece perguntar se a exegese não está muito submissa à ciência?

Mason: No fundo a exegese não toca as questões do humano-cristão?… não sei se entendi!

Hermógenes: Na filosofia, é quase uma neurose a inquietação pela única pergunta, a saber, o que ela é.

Aloísio: Exegese hoje faz arqueologia, lingüística sobre o texto, mas para o sentido mesmo não liga. Alguns grandes da exegese dizem que para isso tem que ler os medievais.

César: Estou com a questão de ontem: Simples que lêem a Bíblia. Podemos compreender, dar respostas, mas a dinâmica deste livro é anterior. A hermenêutica dá o sentido das palavras, mas depois você tem que atualizar para hoje. Por isso JC é o maior exegeta.

Aloísio: Jesus pegou o sentido. O sentido vital, a Vida.

Corniatti: Não objetivo. Finalização.

César: Mais gente lendo este livro vai mudando a compreensão.

Aloísio: O sentido não é de ninguém. Ninguém é dono.

Hermógenes: A própria compreensão do sentido não está fechada.

César: Nossa tentação é sempre pegar a vida, levar para o laboratório e transformar em pedra. (Estorinha de Rubens Alves). Isto está lá na Bíblia. Javé é do monte. Da pedra. Depois vem para a tenda. E para o coração.


23/01/07 – Terça Feira – 15h

Aloísio: Boas vindas a Diego e Sofia. Resumindo, ontem à tarde falamos da Bíblia não como meio para um fim. Ela é uma interpretação que busca esquentar o ânimo. JC é o intérprete por excelência. Entramos também na questão do subjetivo e objetivo. E dissemos que ter medo do subjetivo é ter medo da vida. Depois começamos com os dois primeiros versículos… Jesus é o novo Moisés. Mateus, que interpreta para os judeus-cristãos a pessoa de JC. E hoje pensamos o que é ser pobre de espírito.

Mamede: Interpretar como se interpreta Bach no órgão anima e abre outras possibilidades de interpretação… Questão das várias versões da Bíblia que trazem primeiro mansos ou aflitos.

Diego: É a bem-aventurança mais contraditória: Feliz × Chorar?!

Aloísio: Anawin pode ser traduzido por manso e por pobre.

Hermógenes: Chorar, aqui, não pode ser entendido como o luto? Luto é um fenômeno humano que nos atinge no todo do nosso ser. Ele não pode ser identificado como isso ou aquilo de tal sorte que eu o possa evitar, eliminar; a gente não sabe o que fazer com ele, pois não o temos, mas ele nos tem, somos luto. Sou atingido no âmago de mim mesmo. Não tenho luto pela morte de um bandido.

Sofia: Pressupõe, pois, um bem-querer.

Hermógenes: Por mais que eu fale à pessoa em luto, não a consigo consolar. É sentimento que vem e me inunda lá do fundo da vida como uma escuridão de peso silencioso. Perda de quem se ama. Quando as mães de Belém perderam seus filhos… diz a Escritura: Raquel não se deixa consolar.

Mason: Os que estão pressionados por um fato da vida conhecem bem esse peso silencioso que vem do fundo da vida…

César: Estamos numa linguagem, tentando falar de uma experiência. A força de ser consolado… humanamente temos a resposta de tentar suprir isso com outro sentimento: ódio, revolta, depressão. Acredito numa potência tão grande e acabo assim.

Hermógenes: Quem entra na bem-aventurança, o que será que sente? Um consolo infinito, transcendente? Não experimentaria em si mesmo a mais absoluta finitude humana, sem desespero, como que na serenidade do luto agraciado? Um vigor desconhecido, novo e real?

César: Pensar soluções de infinitude. Se você chora, não pode achar sozinho uma infinitude. JC tentou dar uma resposta que não levasse à loucura. Vi um pouco isso, estudando a dor de Israel, que leva à vingança, reação, loucura. Jesus deu outra saída para a questão da dor. Não aponta para um objeto só, mas para toda uma vivência do povo de Deus. É algo que exige uma compreensão de todos os fatores.

Hermógenes: Este luto de fundo seria como que presença obscura do fundo do todo do nosso ser como passagem, onde a vontade para o poder é liberta do espírito da vingança, do ressentimento, e renasce como novidade da cordialidade misericordiosa? Retorno da inocência da vida. A humanidade então foi salva. Há de novo um Deus que sabe dançar.

Mason: A busca da felicidade, a eudaimonia, é o desejo de realização de toda a humanidade. O ser humano tem o direito de ser feliz. Quando Mateus diz: “Bem-aventurados, felizes os pobres de espírito”, parece fazer coro a essa vontade universal da humanidade pela sua realização. Só que a fala que Mateus coloca na boca de Jesus parece um tanto virada, equivocada? Felizes os pobres, felizes os perseguidos? Não parece um princípio esperança, mas sim princípio resignação; uma negação masoquista da Vontade de poder?!

Hermógenes: Mas tanto a vontade do poder como a vontade do sofrer é uma interpretação nazista do pensamento principal de Nietzsche que recebeu o nome de Vontade para poder. Talvez a questão que mobilizou todo o pensamento de alguém como Nietzsche, que no fim da sua vida se tornou louco, foi a mesma questão que nos incomoda a nós cristãos e que está pulsando debaixo das palavras que estamos tentando ler.   Não foi entendido no sentido nazista. Alguém que está sofrendo e pode ir à loucura, vingança ou bem-aventurança, essa existência de risco não tem muito a ver com o que nós os “justos” pensamos dessas coisas, como se fossem “ateísmo”, “orgulho” ou “areligiosidade”. Por que será que Nietzsche assinava os seus aforismos surgidos depois da loucura com nome, o Crucificado?

Célio: Barquinho. Cada qual é piloto. Só os fortes chegam lá. Fortes são os que não caem na loucura ou vingança.

Diego: O vazio de ausência de alguém caro: eis o luto. Cristo é o consolo.

César: Mas ele não está. Na comunidade de Mateus ele não está. O consolo é você experimentar a presença dele, observando toda a história.

Hermógenes: Será que não estamos em uma época, em referência a Deus, de tal modo a tomar a sério e perceber que a sua ausência é o modo como ele, de modo todo radical e sério, está presente a nós?

Sofia: O luto, como dar-se conta que não sobrou nada.

Hermógens: Por isso, a nossa alegria epocal não é esfuziante, mas melancólica.

Corniatti: Presença, limpa de todo espírito de vingança. No amor, até que você espera que o outro faça alguma coisa, ainda tem espírito de vingança. Quando tem que pôr alguma coisa em cima para motivar, ainda tem espírito de vingança. Não é autenticidade. Como Jesus morreu? Apenas diz meu Pai…

Hermógenes: Como entender esses três pontos “Pai…? Pois a Bíblia diz: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

César: Aqui está se fazendo uma experiência onde o preenchimento precisa ser muito analisado. Tem gente que se preenche com grupos de luta armada, ideologia. Você pode, vendo o vazio e o nada, preencher com grupos de paz ou guerra.

Sofia: Sempre está instrumentalizando para o bem ou para o mal. Será que aqui não se trata de uma bem outra coisa, que no fundo não tem muito a ver com preenchimento do vazio ou do nada, mas sim de uma inteiramente nova presença até então não percebida, a misericórdia?

Hermógenes: Muita gente interpreta Gandhi assim: a não-violência teria sido inspirada a ele, pelo Sermão da Montanha. De tal sorte que não se trata de uma “não-violência”, usada como instrumento para se alcançar um fim, “politicamente”; mas simplesmente e imediatamente a exposição límpida e corpo a corpo da bondade? Sabe-se que a perseguição japonesa contra os cristãos no tempo de Shogunato era mil vezes mais cruel e eficiente do que o método nazista de eliminação dos judeus. Atava-se um por um, sem poupar a ninguém, crianças, idosos, recém-nascidos, jovens e adultos, mulheres e homens, como se fossem piolhos ou ervas daninhas. Relata-se que no dia anterior à execução de toda uma família, a mãe preparou uma menininha para a morte, vestiu-a de kimono do dia de festa e lhe pediu que se oferecesse a Jesus como quem lhe doa de todo o coração tudo, a sua vida. No momento da execução, a menininha ajoelhada, ofereceu o seu pescoço frágil e pequenino à espada do algoz, lhe dizendo: “Por favor”. O samurai executor da pena desmaiou.

Célio: Código de honra, o oferecer o pescoço.

Hermógenes: Não, Célio! Aqui não se trata de honra, nem de código militar ou samurai. É contato face a face de almas. De pessoas, de cernes do ser humano. Experimente ver um filme antigo budista, japonês que ganhou prêmio no festival de Veneza, intitulado O Portal do Inferno que narra a fidelidade conjugal de uma mulher, esposa de um samurai. A força do feminino na Ásia possui uma força toda própria da exposição da fragilidade, como a limpidez da inocência de ser na doação.

Corniatti: Outro poder. O da cruz. Filme O Labirinto do Fauno: A inocência tem um poder que o mal nem chega a imaginar.

Hermógenes: E não leva a um pacifismo.

Corniatti: É um poder de outro quilate. Dar a vida.

Aloísio: Ser consolado em outros níveis: paliativos, espiritualidades eufóricas.

Corniatti: No fundo é vingança contra o choro. Amar, apesar da maldade ainda tem vingança. Não dá licença de o outro ser ruim. Ainda está amando a si mesmo.

Célio: O consolado poderia tomar outros rumos…

Corniatti: P. ex. vingança.

Hermógenes: Está muito racional. Muito fácil!

Diego: Alguém já sentiu o luto, sem acreditar em Deus?

Hermógenes: Isso não é luto. É outra experiência. Quando a pessoa não ama muito, não tem luto. Tem indignação. Mãe é assim. Não consegue ficar no nível da indignação. Está sempre perdoando. Este perdoar tem outro algo. Anterior. Um a priori ab-soluto que não é o a priori formal lógico.

Diego: Presença de Deus é agora.

Célio: Qual Deus? O de Israel dá talião. De JC dá Abbá.

Hermógenes: Mas, e quando JC diz: por que me abandonaste?

Mamede: Pode ser pergunta mesmo: Por que me abandonaste? Com tudo o que vivi até hoje não dá para entender. Vem aí coisa nova.

Hermógenes: Ver o inocente sendo massacrado e dizer Deus é bom, é Pai e todo poderoso?! Nietzsche, Dostoievski (Irmãos Karamasov) estão falando desta problemática. O sentido da dor, da maldade. Confira a estória de I Fioretti, cap. 25; ou Atos do Bem-aventurado Francisco e dos seus companheiros, cap. 28. Aqui São Francisco fala do único amor que não é amado…

Mason: Recordo da minha mãe – na morte da minha irmã. Havia ali  um silêncio estranho. Toque de imensa serenidade.

Corniatti: Não acusar Deus.

Mason: Quem não tem fé, na morte paira no ar.

Hermógenes: Mas aí a fé já não está no historiar-se. Mas como saber?


23/01/07 – Terça Feira – 17h

Aloísio: Herdarão a terra. Mansos é uma das possíveis traduções de anawim.

Mason: Logos tem várias nuances, mas sempre Logos. Agora, anawin pode dar pobre e manso?! Tão diferente!

Aloísio: Fonte “Q”, que Lucas também tem e Mateus amplia.

Mamede: O que os “72” diziam, aonde iam?

César: Algo com o que eles se empolgaram. Mas não absolutamente novo. A expectativa messiânica era cultural. Para o Zelota, a vida do Messias acontece à medida que se mata soldados romanos. Para o Essênio – Qunram – sair da cidade; viver lá o ideal – aí se perderam no legalismo. Para o Fariseu, a era messiânica era o povo tomar o templo, como fonte do poder. Assim Nazireu, Saduceu etc.

Corniatti: JC tem uma concepção diferente do Messias?

Mason: Por isso, tem o segredo Messiânico.

César: Precisa uma pedagogia para entrar naquela grandeza. O segredo messiânico é uma pedagogia para introduzir o povo na compreensão de um Messias que é pobre, fora do Reinado.

Mason: Esta pedagogia é de JC ou de Mateus?

César: É Marcos que usa a pedagogia para apresentar o Cristo como caminho para a glória. Para Mateus a principal problemática é mostrar que JC é um mestre de justiça, apesar de pobre e marginalizado.

Mason: Então a questão é político-social.

César: Não. Político-social era a dificuldade de crer. A questão é a fé. Só a fé permite perceber a misericórdia.

Hermógenes: Gostaria de abordar essa questão com mais vagar, talvez assim. Será que é válido colocar a questão assim? 1. Temos primeiro Jesus Cristo. Temos a fé da comunidade. Temos o relato de Mateus. De Marcos. Temos a explicação exegética dos nossos biblistas, Pe. César e Frei Aloísio. E temos a nós que os ouvimos. 2. Os sujeitos e agentes dos respectivos saberes são Jesus Cristo, acerca de si mesmo e de sua missão; a comunidade; Mateus; Marcos; os biblistas; e nós que os ouvimos. 3. Os atos dos saberes desses sujeitos e agentes diferentes são respectivamente, no caso de Jesus Cristo, de si mesmo autoevidência na autoexperiência; no caso da comunidade, fé (entendida como um saber baseado na confiança da veracidade do testemunho ocular); no caso de Mateus e Marcos, embora diferenciados saber histórico; no caso dos nossos biblistas, saber científico historiográfico-exegético; no nosso caso de ouvintes, saber informativo do saber científico historiográfico-exegético dos nossos biblistas; 4. O objeto desses saberes acima mencionados: no caso de Jesus Cristo, ele mesmo; no caso da comunidade, Jesus Cristo; no caso de Mateus e Marcos, a comunidade como o lugar, onde se dá a fé em Jesus Cristo; no caso dos biblistas, Mateus e Marcos como os primeiros historiadores da comunidade cristã; no nosso caso de ouvintes dos biblistas, os dados que eles nos oferecem como informações. Gostaria, antes de tudo, perguntar dentro dessa colocação que não sei se é válida: O que significa JC é objeto e fonte da fé. Aqui JC como objeto e fonte da fé é JC histórico? Não é antes JC da fé? Se é da fé, pode ele ser objeto do saber histórico? Pois aqui o objeto do saber histórico é a comunidade, comunidade da qual se constata que tinha fé em Jesus Cristo. E essa fé que historicamente é constatável como algo que a comunidade tinha em Jesus Cristo é fé no sentido do saber pela confiança na veracidade de testemunho ocular de quem conviveu com Jesus Cristo? Se o for, essa fé não passaria de uma modalidade do conhecimento histórico, pois as ciências históricas (das quais a mais moderna e cientificamente estruturada se chama historiografia) tem por instrumento do saber esse tipo de saber que juntamente com a experiência imediato-empírica é fonte científica do seu saber. Quando se fala na exegese de fé da comunidade, Cristo da fé, está se falando desse tipo da modalidade do saber? Ou trata-se de outra coisa?  Da fé no sentido teológico? Costuma se chamar de experiência, mas o que se entende aqui por experiência?  Contato com JC! Contato de primeiro grau, imediato? Mediato? Toda a especulação que se fez e se faz ainda na Teologia dogmática, acerca da essência da fé, revelação etc., como é considerada, avaliada, usada na exegese bíblica? Por que como questão metódica de um saber científico, não se coloca essa questão metódica como o elemento inicial do saber exegético? Ou se o faz de modo temático?

César: Se parar no social, este livro (Bíblia) não serve. Vai dar com os burros n’água.

Célio: Como fazer ressoar o Evangelho numa comunidade pobre, todos desempregados.

Mason: Educar uma criança – Quando os pais sabem o que fazer com uma criança de 4 anos ela já tem 5. E se tiver outro filho, não vale para ele. Dito com outras palavras, a pergunta de Célio não pode ser respondida a não ser cada vez na tentativa de fazer ressoar o Evangelho.


24/01/07 – Quarta Feira – 8:30hs

Aloísio: “Felizes o que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. Dicaiosine – Dic – Modo – Deic  – Mostrar – Discernimento.

Mamede: discernir o que de fato está acontecendo? Mas discernir já não é um julgamento do que está acontecendo e ver com precisão o que se mostra a partir dele mesmo nele mesmo?

Sebastião: Ajustar-se à Vontade de Deus. É uma prática.

César: Deus escreve certo por linhas tortas. Como o homem detecta Deus. O povo, ali onde havia uma situação geradora de vida, identificava a presença de Deus. A caverna dava proteção… ali estava El Shadai. Na prática da libertação, a consciência humana detectou a presença de Deus. Na prática profética, sua luta pela justiça, a consciência humana identifica a presença de Deus.

Mason: Retomo o Pe. Sebastião – Jesus se deixa batizar por João dizendo: “por hora deixa assim, porque devemos cumprir toda a justiça”. O que é isso? Dos meus estudos passados restou que justiça se aproxima de misericórdia como palavra bíblica.

Hermógenes: Não sei bem o grego como o sabem os teólogos e os biblistas. Mas, muitas vezes, quando ouço a explicação dos étimos, fico me perguntando se explicações não vêm mais dos dicionários que traduzem o grego para o vernáculo correspondente à língua que usam, em cujo uso já padronizado se movimentam, sem sondar esse uso na sua tonância e colorido. P. ex. ajustar-se à vontade é a mesma coisa do que sondar ou auscultar a vontade? O deic, o mostrar da palavra dikaiosyne inclina-se mais ao ajustar do que ao auscultar? Ou quando digo Deus escreve certo por linhas tortas, já de ante mão coloco os desígnios de Deus no sistema da teoria de linguagem, onde a verdade mora na averiguação da adequação (juízo) do certo e errado e não cada vez novas possibilidades de se mostrar?

Corniatti: O comum é entender como “dar a cada um o que lhe compete”. Do Evangelho é maior que isso.

Célio: Refere-se a Elias descido do céu para libertar o povo.

César: Não adianta adocicar, não. Está lá em…

Diego: Dar a cada um o que é seu. O que é o “seu” de cada um? O que é o de Deus que devo dar a Deus. São José é justo: conformidade com a Vontade de Deus. Ajustado à Vontade de Deus.

Sofia: Ajustar Deus a mim, ou eu me ajustar a Deus?

César: A batalha de Mateus é com os líderes da Sinagoga, que retornam à lei para dizer que o templo foi destruído porque desprezamos a lei. Mateus não quer parar no parâmetro da lei. É justo praticar a lei, mas é preciso ir além.

Hermógenes: Diego e Sofia, vocês que são do Direito, as proposições que expressam a verdade jurídica não tem a mesma estrutura da teoria do conhecimento, sobre o qual estão construídas as ciências, onde é na estrutura do juízo que mora e aparece a verdade? Portanto lei, direito, juízo, daí, ajustar-se, justiça, certo e errado etc. já pressupõe que se deva entender a verdade como certeza, a modo da lei etc. É por isso que Pe. César acabou de dizer que “Mateus não quer para no parâmetro da lei. É justo praticar a lei, mas é preciso ir além”? Mas se entendo além no sentido usual, na estrutura do ser não mudou nada, de sorte que o além se torna meta-lei, super-lei e a justiça jamais é entendida ou  vista como misericórdia, e esta será sempre de algum modo ainda vista a partir da lei e não a lei a partir da misericórdia, de tal sorte que a misericórdia, se não cuidar, se torna uma lei mole, subjetiva etc.?

Aloísio: O perigo dos legalistas é fossilizar a lei. A dos anomistas é escancarar.

César: Cumprir a lei. Vai à Missa. Basta.

Diego: Justo. José se conformou com a Vontade de Deus. Receba em casa. Recebeu. Vai para o Egito. Vai.

César: Vontade de Deus não é conformismo.

Diego: Ele procurou se ajustar. Teve dúvida. Não é conformismo.

Corniatti: Conformar-se é entrar na forma que não é fôrma. É essência. Brilho.

Mason: Na fala, não gosto de recorrer muito à Vontade de Deus. Na busca, o essencial é não saber.

Corniatti: A Vontade de Deus é gana.

Hermógenes: Como a gente faz para permanecer, entrar de novo no originário? Falou, Deus já está definido. Vontade de Deus é gana. O que está atuando realmente aí na afirmação? Para São José, o justo, não é vago. E não diz não é isso, não é aquilo. Diz o que é – é isso. Mas ao dizer, não fixa, como um juízo, mas como dikaiosyne: ouve com precisão o que se mostra ali e agora a partir de si e em si.

Célio: Todos os versículos em que se funda, falam de luta de classes. Estamos com medo de dizer isso?

Hermógenes: Eu entendo gente desprezada, e a pergunta como ser justo aí.

Mason: Célio está equivocado, quando vê ali luta de classes.

Hermógenes: Não é melhor dizer que luta de classes é uma das possibilidades da luta? O problema não é ter medo de dizer que se trata de luta de classes. O medo, ou melhor, o cuidado é pela precisão acerca do que estou vendo quando digo luta de classe, indicando (apontando com o dedo e julgando) a dor, revolta e o desejo de lutar para sobreviver de um bem concreto indivíduo, grupo ou massa de seres humanos. Se alguém evita de dizer ou fazer alguma coisa por medo de lutar, então esse medo é um problema próprio, mas se alguém quer lutar e lutar não tanto para não mostrar que tem medo, mas pensando realmente na coisa i.é, na causa da luta, então buscar precisão maior de compreensão, tem tudo a ver com a praxe da luta.

Diego: As bem-aventuranças são nuances de uma pessoa só. Mas aqui nuances não são particulares, mas pessoais, i. é, pertencentes à essência do que é próprio da humanidade, i.é, de todos os homens. São, pois, universais (leia-se uni-versais).

Hermógenes: Vida é uma das cintilações de misericórdia. O que é justiça não está definido. Dizer que não está definido nada diz. Tenho tanto trauma das imposições e determinações indevidas, sofridas no passado que quando ouço ou vejo escrito o termo definição, definido, tento logo defender a minha autonomia e liberdade re-agindo contra definição e determinação. Se digo: “o que é justiça não está definido, mas também não é vago”, devo estar livre de tais traumas, senão nada digo, por não ter pensado o que disse. Quando falamos das coisas da Vida, ao dizermos que elas não estão definidas, queremos dizer que elas possuem a sua determinação decisiva e essencial a partir delas mesmas. E que não as podemos encaixar, as ajustando às nossas medidas prefixadas a partir de nós mesmos. Isto significa que aqui nós nos devemos abrir à lógica e ao vigor da Vida.

César: E é essa incapacidade que impede de escutar o outro. Por ex., ir ao grito dos excluídos. Se a maioria vai, vou também.

Hermógenes: Maioria é verdade? Noventa e nove nazistas e um JC?

César: José é justo e se conforma porque escutou a minoria na Maria que era desprezada por não ter filho. E aqui a palavra conformar não significa propriamente encaixar-se, resignar-se na fôrma do outro, mas tentar ter a mesma forma (sentido medieval de matéria e forma = forma aqui é essência), a mesma performance, o vigor essencial, o pique de essência de Maria.

Mason: Pe. César disse que São José é justo porque ouviu a minoria. Isso, afinal, é possível a qualquer pessoa razoável. Em José tem algo mais.

Hermógenes: Acho que Pe. César não disse o que Dom Mason disse que ele disse. Acho que Pe. César disse que José é justo, porque viu numa situação bem concreta e singular e viva (a minoria) a “forma da Vida” i. é, algo todo próprio, virado ao toque do um aceno da vida, algo uni-versal, algo que pertence à essência do ser humano.

Diego: José já havia decidido.

Hermógenes: É um caso. O que é justo aí dentro? Outra pessoa ama tanto a mulher que diz: assumo tudo. O que é ser justo ali? Ou seja, tem que ver cada vez. Só que não pode tirar a conclusão de que não tem medida. Toda e qualquer medida está impregnada de Deus que é sem medida, significa plenitude da generosidade da misericórdia.. A mãe nunca mata filho que é bandido porque lá também está Deus.

César: O Reino é já e ainda não.

Hermógenes: Esse já e ainda não é uma situação em que estou dentro com tudo que tenho e posso.

Célio: A bem-aventurança está sendo dita para qualquer grupo ou?!

Hermógenes: Para este, aquele, grupo, cada vez de novo e cada vez nova, para cada ou todo um grupo no sentido universal, mas jamais no sentido geral, vago, indeterminado, qualquer indiferente e neutro.

Corniatti: O que está sendo dito de essencial do humano que vale hoje, valeu ontem e valerá amanhã?

Sebastião: O que é sede para o judeu?

César: O hebreu é prático. Tem sede e busca saciar-se. Não pára. Não se fixa.

Hermógenes: Tem gente que no destruir tem ímpeto, mas no construir não tem. Sempre novo, e de novo estou aberto. A palavra conformar-se é engraçada. É que forma é entendida como fôrma. O medieval entende por forma o pique do ser, atleta em forma. Só que hoje o pique começou a ser entendido como o 1º do ranking. Na olimpíada da Antiga Grécia o primeiro e último, e todos os que estão entre o primeiro e o último, chegavam juntos porque davam o máximo de si, eram cada qual o primeiro de si. Por isso, todos se sentiam coroados. Eis o espírito olímpico.

Aloísio: Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia. Elemosie, Eleison.

Hermógenes: Em Israel havia esmola como partilha? Ou fazer favor?

Corniatti: Como é isso: o próprio da misericórdia como vigor do Deus de JC e, portanto, como o próprio da vida cristã?

Diego: Compaixão já tem em si a verticalidade.

Corniatti: Ela é anterior à bondade e à maldade do filho. Na verdade, todas as bem-aventuranças são coisas de Deus. O Filho se gera a partir disto. A misericórdia até parece coisa de pessoa fraca. Ter nobreza de alma com os outros mais fracos e os perdoar é até fácil, mas quando somos injustiçados nos elementos os mais próprios do nosso direito de ser e viver, e temos que lutar e enfrentar e ter misericórdia com os que nos causam injustiça isto nos parece até impossível.

Célio: Pe. César, por que a misericórdia é o olho do furacão?

Corniatti: Porque é outra dimensão.

César: É o ponto de vista que dialoga com as partes e se enriquece e enriquece as partes.

Mason: É a sensibilidade epocal que diz que a misericórdia é o olho do furacão. Este seria a primeira bem-aventurança, a do pobre. Se não, não seria a primeira bem-aventurança.

Aloísio: Na Bíblia Deus não cessa, não descansa da misericórdia.

Mason: Por que ser misericordioso alcança misericórdia? Poderia ser, por ex., perdoado, fortalecido etc.

Corniatti: No pedir tem um dar, e no dar, um pedir.

Mamede: Se esforça por jogar futebol e engata no “espírito” do jogador de futebol.

Mason: Jesus, ao ser misericordioso, alcançou misericórdia.

César: Ninguém tira aquilo que é próprio do ser. Pensaram que tirariam a vida de Jesus, mas lhe foi devolvida.

Mamede: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício – que significa?

Aloísio: Oséias – cumprir a lei, tudo OK, mas a misericórdia tem que ir além do cumprimento da lei.

Sebastião: Sacrifício é para Deus. Misericórdia é para os irmãos. Ama como é. Limitado. Como no matrimonial.

Hermógenes: Esponsal ama outro com os defeitos e não de cima para baixo.

César: Traição de Judas. Jesus não se fechou na sua autosuficiência de pensar que não seria traído. No PCC se não cumpriu as leis deles, não tem jeito. Volta do talião. A Misericórdia vem cristianizar os nossos instintos.

Hermógenes: Chesterton diz que sem misericórdia a justiça vira talião.

César: Não ideologizado como em nosso tempo. O talião foi um avanço da humanidade. Antes, cortava-se um dedo e lhe cortavam toda a mão. Dedo por dedo foi um avanço. Pergunto aos advogados Diego e Sofia: qual a base da lei?

Diego: Absoluto fruto formal de um processo político. No passado foi a busca da justiça.

César: A justiça é cega?

Diego: O símbolo é a mulher vendada, segurando uma balança e com uma espada na mão. A espada significa: decidiu, cumpriu. Ela está vendada para não ver as particularidades, mas o mérito da questão. Seja qual for a pessoa. Ex. Matou meu filho – qual é o justo agora? Um acha que é isto, outro que é aquilo. O direito é um sistema formal, uma técnica para se por corte no debate e se chegar a uma decisão. Não é o justo que decide, que manda, mas a maioria. O que a maioria pensa. Por isso é política. Quem tirou a força da justiça foi a filosofia. Subjetivo. Relativo.

Hermógenes: Na física e matemática tem conceito de leis. Quem tem mais habilidade para manipular aquilo coerentemente fica verdade. O direito ficou igual. O ensino da filosofia está virando lógica. Tudo. Só que a vida tem outra lógica.

Diego: Academia de direito. Julgamento e sentença compradas?!?!

Hermógenes: Diego, você é grande advogado e quer fazer justiça, e quer formar escola de advogados que busquem justiça, como faria? O que faria?

Diego: O difícil é convencer o cara a algo em que ele vai perder sempre. Tem que ter outro embasamento.

Hermógenes: Mestre de arte marcial diz que esta arte nasceu para fraco se defender com o que tinha. Hoje virou competição. Era a arte de usar a força do outro. Não dá para fazer algo assim na advocacia?

Diego: Opus Dei, Shoenstat.. tentam isso.

Hermógenes: Mas acaba espiritualista ou clerical. Hoje, o que se chama de leigo é o clerical piorado.

Mason: A questão, para mim, é que o leigo leve para estes meios um “corpo estranho”, grupo de oração de advogados etc.


24/01/07 – Quarta Feira – 15h

Corniatti: O que é misericórdia. A filhinha da Sofia, quando diz “papai”, qual evidência tem? Alguém que cuida de mim.

Diego: Misericórdia = alguém me ama apesar da minha miséria.

Corniatti: Você está na experiência de pecado. Quando diz na Missa Kyrie Eleison?

Hermógenes: Misericórdia dá para entender como sendo o coração do mísero? Não gosto de ser tratado como miserável. Parece que as pessoas me fazem de cima para baixo um favor. No amor de pai e mãe, por pior que eu seja, não sinto essa “superioridade”.

Mason: O mísero vê o outro como irmão.

Diego: Você é miserável. Ele te ama, mas não por causa disso.

Hermógenes: Dá para dizer isso positivamente? Ama o miserável não por ser miserável, mas … por quê? Não é assim que, porque ama, não há mais o miserável e somente o amável? Atribui-se a Kierkegaard a seguinte historinha edificante. Havia num reino, um jovem rei, ainda solteiro. Foi um dia caçar e se perdeu na floresta. Cansado e sedento, de repente numa pequena clareira encontrou uma choupana miserável. Bateu as palmas para pedir informação e um copo de água. Apareceu uma moça, pobremente vestida, o saudou e lhe ofereceu um copo de água com tanta singeleza, graça e ternura, que o príncipe à primeira vista se apaixonou loucamente por ela. E decidiu desposá-la e tê-la como rainha. Mas ali começou a surgir um problema. Se o príncipe a tirar do médium em que vive, e a levar para o palácio, fazendo-a rainha, ela poderia ‘amá-lo’ por gratidão. Pensou então em abandonar o seu status de rei, tornar-se pobre, e ir morar com ela na floresta e ganhar o sustento da vida como pobre. Mas o príncipe abandonou também esse plano. Pois ela um dia poderia descobrir o sacrifício feito por ele, e poderia amá-lo só por ‘gratidão’. Depois de muito pensar, conseguiu encontrar um mago que o fizesse pobre e miserável e tirasse dele e de todos que o conheciam toda a memória, de tal sorte que ninguém mais havia no mundo que soubesse que ele um dia tinha sido príncipe. Tornando-se assim totalmente igual a ela, buscou de todo o coração merecer o amor dela. Diz Kierkegaard: é o caso do mistério da Encarnação!

César: Veja, pois, o próprio batismo de Jesus. Ele entra na fileira dos condenados. Dos que vão dizer publicamente os pecados.

Hermógenes: Aí ele se tornou plenamente filho de Deus. Aí se cumpriu toda a justiça.

César: Na verdade, isso você não pega. Não pode ser transformado em norma. Por isso, em Israel não se representa Deus. Nunca ele é transformado em coisa.

Hermógenes: Dá para tirar a seguinte conclusão: compreender Deus só através de JC?

César: O humano.

Hermógenes: Mas não o humano do humanismo. Esse já é geral, generalizado.

Messias: Desceu e elevou. Kenosis e elevação.

Hermógenes: Se tem o elevar, o descer é passagem. Assim, o descer não é sério.

César: A compreensão das bem-aventuranças hoje passa pelo pensar dialético. Não há nada sem tudo. Não há tudo sem nada. To cansado de penar. To cansado de viver. O que sobra para mim? Amolecer o coração? Porque é carne que vai viver isto. Sem nunca fechar… mais… mais.

Hermógenes: Vamos supor alguém cansado, mas que não tem mais este ressentimento do cansaço – que vive não como não cansado, mas que não está atrelado à tensão cansado-descansado – que propriamente não enfrenta, mas vive cada vez tudo, concreto, instante, de modo inteiramente finito, que não tem nada a ver com o infinito, que não conhece, ou melhor, esqueceu.

César: Não é mais norma.

Hermógenes: E a norma é o espírito de vingança.

Corniatti: Apenas ficar no mundo na boa vontade, amando o finito cada vez – parece pouco.

César: Reciclázaro (obra para carentes em São Paulo), a utopia que nascia. Hoje acaba. A igreja está noutra. Mas o pobre continua precisando.

Hermógenes: Escatológico não é a própria dinâmica do retornar? Onde há vida, há ânimo.

Aloísio: Vamos ler uma outra bem-aventurança: felizes os puros de coração porque verão a Deus.

César: Tem qualquer coisa de ousadia aqui. A tradição bíblica diz que quem vê Deus, morre.

Corniatti: São Francisco diz que para ver Deus tem que morrer para todas as coisas terrenas. Mas talvez, morrendo para todas as coisas, não é propriamente só ver a Deus porque todo o resto não existe, porque morri para todas as coisas terrenas.

Hermógenes: A expressão todas as coisas terrenas pode ser dita hoje por mundo. Em latim mundus é o contrário do imundus. Mundus significa limpo, tornado habitável, ou melhor, humano. O próprio do humano é ele fazer ver em tudo ordenação de possibilidade, como sentido do ser. Deus é como onipresença do sentido do ser em tudo. Olho limpo é aquele que em tudo vê Deus, a saber, a doação da possibilidade de ser em todas as coisas.

Corniatti: Mundo organizado.

César: Ver aí é “horao”, tomar consciência. É ver agachadinho para não espantar o passarinho e poder contemplar toda a beleza. O puro de coração não vê a aparência dos corpos.

Hermógenes: Uma posição assim: eu sou puro e os outros impuros… não é puro. Está muito alto. Empinado. Não está agachadinho, atento. Mestre Eckhart diz que puro é o que está inteiro e solto na sua liberdade. É ele mesmo.

Corniatti: Que relação tem isso com ver a Deus?

Hermógenes: A referência não está nisso que só assim agachadinho Deus se torna visível?

César: A linguagem reinante era a do sistema do puro e do impuro, que limitava o acesso a Deus.

Diego: O que é impureza de coração?

Hermógenes: Não está solto. Alguém me convida para ir ao restaurante e eu logo penso que depois eu tenho que convidar ele também. Não está inteiro.

Corniatti: É inteiriço. Íntegro.

Célio: Quem não morre não vê Deus. A morte de São Francisco?!?! Mas talvez morrer não é esticar canelas…


24/01/07 – Quarta Feira – 17h

Mamede: A ciência ajuda a ler a Bíblia?

César: A palavra de Deus anima a fé da comunidade. Mas ela é também criação humana. Passa por sistemas de palavras, de conhecimento. Arqueologia, sociologia, antropologia, línguas, Sitz im Leben – ambiente vital. A ciência é fundamental para compreender a Palavra. Mas ela não fecha a questão nem encerra a fonte de onde a Palavra veio. Temos que pegar estas frases e libertá-las da bagagem ideológica. Ex. As frases de Paulo sobre homossexualismo eram para libertar a vida. Temos que devolvê-las para o seu nascedouro. Mas uma compreensão defasada e dogmatizada da essência da ciência, ela nos prende a uma lógica que não é a lógica da vida.

Hermógenes: Em todas as ciências, na Filosofia, na Teologia, enquanto busca da verdade, há sempre duas faces. Uma virada para fora e outra virada para dentro. A virada para fora se chama aspecto exotérico do saber. A virada para dentro, aspecto esotérico do saber. O lado virado para fora, exotérica é o que está fixo institucionalmente. O lado virado para dentro é o que sempre de novo tenta se renovar, e abrir-se criticamente, examinando as suposições não analisadas a partir da sondagem do fundamento.

Corniatti: Não tem um modo imediato de ir à Palavra da Vida?

César: Tem. A vida.

Corniatti: Mas o que é a vida que nos leva à Palavra?

Diego: A tradição.

Hermógenes: Diego é jurista. Como fez para ser isso? Aprendeu B-a-Bá e foi indo. E chega a descobrir que tudo está flutuando em algo que está flutuando em baixo. E a partir daquilo vê que muita coisa está fixada. É que muita gente interpreta e um vai mais fundo, outro, menos fundo.

Diego: Interpretar é escrever outro capítulo da novela. Se eu não li os capítulos anteriores, crio outra novela.

Hermógenes: Se pensarmos que cada qual re-escreve, mas toda a história, cada vez no seu todo? Um todo que não é decorrência nem soma das partes. Níveis de interpretação já é uma interpretação dogmatizada de alguém que vê de fora. É uma das possíveis interpretações.

César: O nível científico é necessário porque a Bíblia sem ele acaba sendo vista como romance novelesco.

Mason: Uma pessoa entra, abre o olho e vê o fundo pulsante. OK. Mas o corpo eclesial historial trabalhou e isto não ajuda em nada? Eis a questão da tradição falada pelo Diego.

Diego: Nasceu nossa filhinha. A vó ajuda mais que tudo.

Hermógenes: Mas para isso tem que se adentrar. Não opõe fé ao saber nem coloca fé como continuação do saber. Artista entra numa fonte de inspiração através de uma concreção da fonte.

Corniatti: O mesmo são as ordens religiosas. Estão estabelecidas a partir de um toque que o fundador teve.

Mamede: A exegese científica entende ou não entende como de um mesmo texto evangélico nasce um São Francisco, um Santo Inácio…


26/01/2007

Observação final do relator do encontro Dom frei Mamede:

Dom Mamede, Pe. César e Célio tiveram que retornar a São Paulo, devido a seus compromissos. Os que permaneceram até o fim, Sebastião, Dom Fernando Mason, Frei Aloísio, Sofia e Diego, Frei Corniatti e frei Hermógenes continuaram se reunindo, para repetir, retomar alguns assuntos já debatidos; ou também propondo outras questões que surgiram das nossas reflexões.

Próximo encontro de estudos bíblicos: Piracicaba (SP), 21 a 25 de janeiro de 2008. Texto: Continuação das bem-aventuranças, Mt 5-6.

Leitura de textos franciscanos: Itapecerica (SP) 23 a 27 de julho de 2007- Retoma o último texto de 2006 que foi o Lobo de Gúbio, Cap. 23 de Atos.

Fé e Ciência (Encontro de grupo de formadores, psicólogos e conhecedores na área da espiritualidade coordenado por frei Dr. Marcos Aurélio Fernandes, professor de Filosofia do IFTEG, Goiânia): Jaraguá, São Paulo (SP) 15 a 19 de outubro de 2007. Assunto: Retomada dos 4 temas tratados nos últimos 4 anos. Encontro de 2008, no mês de maio, em Jaraguá, São Paulo.

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