O tradicional Curso de Franciscanismo, oferecido pela Fraternidade Franciscana São Boaventura de Campo Largo (PR), acolhe aproximadamente 100 participantes. Momentos de formações, estudos e partilhas marcam a 6ª edição deste evento. Ainda na segunda-feira (09/10) dirigiram-se para o convento irmãos e irmãs que vieram de vários lugares, várias congregações e estilos de vida diferentes, mas que convergem em um mesmo espírito: aquele espírito que vem de Assis.
A abertura oficial do Curso de Franciscanismo se deu na noite do mesmo dia, onde Frei João Mannes, coordenador do curso, apresentou um pouco a casa, a fraternidade e a programação do encontro. Em seguida deu as boas-vindas a todos e aguçou ainda mais o interesse em participar com afinco, deste momento fraterno de crescimento pessoal e vocacional na espiritualidade franciscana.
Já na terça feira (11/10), o encontro teve início com a celebração eucarística. O presidente da santa missa foi Frei Genildo Provin, da Fraternidade Franciscana São José do Patrocínio de Coronel Freitas (SC).
JESUS CRISTO: O ROSTO DA MISERICÓRDIA DO PAI
O palestrante do período da manhã, Frei João Mannes, discorreu sobre o tema: “Jesus Cristo: o rosto da misericórdia do Pai”. Tendo como base a Bula do Papa Francisco, Misericordiae Vultus, o coordenador do curso, logo no início da palestra, expôs os motivos da proclamação do ano jubilar da Misericórdia. Destacou que com esse jubileu extraordinário pretende-se colocar em evidência a natureza de Deus que é Amor, Misericórdia, Compaixão e Bondade, pois é da natureza divina sair de si, projetar-se para o ser amado, sofrer com quem sofre, consolar o desesperado, salvar os pecadores. O Ano da Misericórdia é para sentirmos intensamente em nós a alegria de ter sido reencontrados por Jesus, que veio, como Bom Pastor, à nossa procura, porque nos tínhamos extraviado. Enfim, o Ano da Misericórdia é para nos sentirmos tocados e transformados pela misericórdia do Senhor e para nos tornarmos, também nós, sinais e instrumentos da misericórdia do Pai.
Frei João também trouxe aos participantes uma explicação a partir da raiz latina da palavra misericórdia, e concluiu que se pode entender literalmente misericórdia como a ação de ir, de coração aberto e compadecido, ao encontro das pessoas em situação de sofrimento corporal e/ou espiritual; sentir no coração aquilo que a outra pessoa sente; acolher no coração (espaço interior) a vida do outro. Não é possível falar de misericórdia sem falar de compaixão, porque é a capacidade efetiva de entrar na pele de quem sofre, portanto, sofrer com ele (compaixão) e que mobiliza as energias todas para a ação de atenção e de socorro.
Em seguida, o palestrante abordou o lema do Ano jubilar: “misericordiosos como o Pai”. Também discorreu sobre “misericórdia e onipotência de Deus”, “misericórdia e justiça”. Ressaltou que “Deus não rejeita a justiça, mas a engloba e a supera em um evento superior em que se experimenta o amor, que está na base de uma verdadeira justiça” (MV, n. 21).
Por fim, o palestrante esclareceu que a missão da Igreja, contemplando o Rosto misericordioso de Jesus Cristo, é ser missionária da misericórdia. É determinante para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. Por isso, onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai (cf. MV n 11).
Além disso, Frei João destacou que nos tornamos misericordiosos contemplando o rosto amoroso e misericordioso de Jesus Cristo, isto é, centrando nossa existência em Jesus, que viveu totalmente descentrado de si. E terminou a sua explanação com a frase, “o nosso rosto é a primeira notícia que o outro tem de nós mesmos”, seguida de calorosos aplausos.
MARIA, ÍCONE DA ESPIRITUALIDADE, PRÁXIS DE MISERICÓRDIA
Na parte da tarde, a professora Andreia Cristina Serrato, Doutora em Teologia, atualmente professora na PUC-PR, tratou do tema: “Maria, ícone da espiritualidade, práxis de misericórdia”.
Discorrendo sobre a pessoa de Maria, fez referência ao Papa Francisco, com a seguinte frase: “se quiser saber quem é, pergunte aos teólogos: se você quiser saber como amá-la é necessário perguntar ao povo”. Frase que dispensa comentários!
Segundo a Professora Andreia “Maria nos convida a viver a Misericórdia. E ainda mais. A presença silenciosa e mobilizadora de Maria nos impulsiona para uma presença inspiradora que nos faz sair de nós mesmos para entrarmos em sintonia com a realidade e suas carências. Maria é o caminho e a ponte que nos levam a nos sensibilizarmos com as feridas da humanidade apontadas por seu Filho. Tal atitude misericordiosa nos mobiliza a sair de nosso meio e buscar um horizonte mais amplo: deixar-nos afetar pelo que está marginalizado e que sofre, acolher em nossa vida histórias, pessoas que estão na “periferia” da sociedade. Maria embarcou na história da humanidade para transformá-la para sempre, gestando em seu seio o amor. Assim, apresenta, representa, significa e encarna a mãe da misericórdia trazendo em seu bojo tantos outros rostos e histórias que se identificam com a mãe do sim, da coragem, do silêncio que perseverou junto com seu Filho. Ela própria não desejou que sua figura constituísse o centro da Igreja, nem exerceu algum tipo de magistério que tirasse a centralidade de Jesus. Ela foi o grão de trigo que morre, mas que depois de morto produz fruto” destacou!
Finalizou sua participação no Curso de Franciscanismo dizendo que somos criados para amar, nada nos é pedido, a consequência dessa criação é amar. Maria entendeu muito bem isso, e quando nós entendemos isso, o serviço se torna amor, doação e entrega.