Questão: qual o contexto de relevância de estudar Mestre Eckhart? Por que estudar?
Nós falamos de realidade. Hoje existem muitas teologias buscando a realidade, como também existem filosofias de vida buscando a realidade. É visão do mundo, mundividências.
O saber teológico medieval é ciência de vital importância para o nosso tempo, é real. É saber universal que o cristianismo soube cunhar. É necessário saber descobrir essa Teologia fundamental do Cristianismo, legado importante que a idade média nos deixou. Saber de vital importância para a nossa ação moderna.
Esses místicos falam do Deus inacessível.
Questão: Em que sentido falam da vontade de Deus?
As ciências modernas insuflam hoje e desenvolvem o eu (egoísmo), o eu quero, eu não quero.
Esses místicos falam do Deus inacessível, falam do sair do eu quero, e tem outra experiência mais acessível. É revelado um Deus que se retrai ao nosso uso prepotente egocêntrico.
As virtudes são importantes e a obediência antecede as outras virtudes. A obediência é obra de escuta da vontade de Deus. Em que sentido eles viam isso? E como é que eles tinham tamanha certeza? Existe uma força anterior a força do eu? E esta tem mais saúde de espírito!
Deus quer, essa é a força maior, então nosso eu tem mais fluência, força. São Paulo diz: já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim; e ‘Eu quero’, sustenta a civilização moderna, mas não é força valiosa e de grande clarividência. É rebeldia e prepotência humana, é preciso demonstrar.
Em vez de cultivar o pequeno eu, fomentar o grande eu, que é o ideal, o Senhor. É a força de Cristo que atua em mim, e isso me dá a identidade boa, vital.
Dá para intuir aos poucos que no texto tem uma experiência maior? A experiência da grande fecundidade?
A força maior do Ocidente cristão está no medieval, na patrística, nesses grandes místicos, é de lá que vem essa força que atua até nós hoje.
Qual a diferença da obediência que aparece nesses textos e em São Francisco, quando ficam do lado do superior, mesmo que vejam coisas maiores e melhores? É espírito de servilismo? Francisco, Eckhart são servilistas?
O esquema moderno, a consciência moderna, cultivam o eu. O eu prepotente do ditador e do servilista, são dois quereres do mesmo nível, que cultivam o eu.
Quando o nosso eu, cultivado hoje pela consciência moderna, se vê no embate com outros eus, temos dificuldades insuperáveis. Cada um está no conflito em relação ao outro. Consequência da concepção jurídica moderna da vida. A prepotência moderna subjetiva introjeta um eu duro e prepotente, é o dogmatismo do eu.
Fazer a vontade de Deus exige abnegação, para não servir ao próprio eu, mas a uma história de obediência, a uma disposição, disponibilidade, abertura, cordialidade e criatividade para ser sim a Deus, à vida.
Deus me conhece mais do que eu mesmo me conheço. Deus sabe mais o que eu quero, do que eu próprio sei o que quero; que é quase sempre medida egoísta e curta.
Ao lutar contra a própria natureza do eu, aparece o grande Eu que chamamos Deus.
Quer ser agarrada com todo o ser a vontade de Deus. À medida que me abandono a Deus, Ele é minha força. Não deixe entrar a virulência do próprio eu.
Comece a ter um grande eu como o de Deus, então surgirá em você um vigor criativo, Deus é um bem que transborda tudo, transformando tudo! Per-si, em favor da própria plenitude, em favor da própria coisa, da encarnação do próprio Deus. Plenitude radiante de tudo. Servir a coisa ela mesma na sua grandeza.
Deus cria tudo de si, irradia grandeza, amor dadivoso que tudo plenifica, Deus é o bem difusivo de si.
É preciso fazer a mudança conceitual, refazer o conceito.
Vontade de Deus – O que é e quer a vontade plena? A nossa realidade é vontade confusa, atrapalhada. Deus é ser substancial, é plena realidade.
O que está sendo sugerido? Se você encontrou o sentido da vida, busque o sentido da vontade de Deus; busque com empenho criativo, Deus está nos ensinando em cada coisa. Ser reverente, humilde e cuidadoso.
Como o príncipe deve governar?
- Renunciar a vontade própria e uma série de dogmatismos e compreensões.
- Ajudar a situação a chegar a ela própria, ter grande disponibilidade, e não saber o que vai acontecer, mas liberar a escuta servidora e atenta da situação.
- Quem manda deve fazer como aquele que obedece, estar atento à vontade maior, que é a condutora de como há de ser feito. E o perigo do eu quero concentrado na virulência da subjetividade humana.
Aprenda a se guiar pela vontade de Deus, não seja indolente ou disparado. Na medida cuidadosa, ir escutando e ser sensível a vontade de Deus.
Estruturar a comunidade religiosa, centrada na vontade de Deus e não na vontade própria. Entrar em consonância com a vontade de Deus.
O que nos cega é o eu quero ou eu não quero, eu posso ou eu não posso. Não quero é o mesmo que dizer: não estou disposto para buscar a vontade de Deus, captá-lo. Digo isso e não entro em questão.
O que significa: não estou apegado a tal situação, mas ver chance de crescimento para ir abrindo-se à vontade de Deus. Ser obediente e descobrir o que o Espírito Santo de Deus deseja fazer comigo. Procurar intuir o olhar de Deus, que necessita de minha participação criativa.
Oração: Ação, coragem de, prudente, cuidadoso, valoroso. Disposição corajosa, sentimento profundo, acolhedor, existência centrada no essencial.
Profunda abertura e reverência é ser incondicionado a Deus, Senhor da minha vida! Esse é o registro central decisivo para qualquer obra, ação, para tudo. Isso nós temos que ter e abrir-nos.
Oração, rezar com sentimento profundo e reverência de pertença a Deus, isso os outros vendo ou não, sozinho ou em conjunto. Hoje aparece no meio do povo os que querem rezar. Rezam a noite e não fazem alarde. A oração tem força incrível quando feito nesse sentimento reverente a Deus. Sou pertença a Deus, de boa vontade faço a oração. São Francisco quer estar mergulhado na vontade de Deus, essa busca cada pessoa tem que fazer, ninguém o pode fazer para o outro.
Ação de obra de arte, elucidação de si próprio, é humanidade. Um gesto comum tem que ser obra densamente significativa.
Obra, a ação tem que se tornar obra. A oração tem que se tornar obra.
Acertar bem o registro central, fundamental da Vida Religiosa depois vem o resto, ser pertença de Deus. Sem o registro fundamental da vida, temos mil e um projetos e rebeldias.
Ser bem assentado na pertença a Deus, isso é o religioso. Não fazer show da oração, mas fazer obra, não entra medida subjetiva, demonstração, na nossa oração que apareça essa nitidez.
É muito bom fazer duas horas de meditação por dia, faz bem para todo resto, o demais que fazemos no dia. Exige trabalho, serenização, perseverança e não desanimar, isso conduz bem o resto do dia. Começo então a ter boas intuições de como fazer e porque fazer.
Mestre Eckhart dá o sentido de como fazer a meditação bem feita. Oração não pode ser feita só com a cabeça, mas com todas as forças humanas, sentimentos, tudo. Ser presença incondicional aqui e agora a Deus. Entrar cada vez mais livremente na vontade de Deus, com gosto e estima.
Autonomia: Buscar um sentido valioso de liberdade para a humanidade. Sentimento de livre pertença ao Senhor, livre diálogo com a humanidade.