Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

IX – Dos Pregadores

18/02/2021

 

DOS PREGADORES
DE PRAEDICATORIBUS

Fratres non praedicent in episcopatu alicuis episcopi, cum ab eo illis fuerit contradictum. Et nullus fratrum populo penitus audeat praedicare, nisso a ministro generali huius fraternitatis fuerit examinatus et approbatus, abe o officium sibi praedicatiornis concessum.

Não preguem os irmãos na diocese de algum bispo que lho tenha. E nenhum dos irmãos se atreva, de modo algum, a pregar ao povo sem ter sido examinado e aprovado pelo ministro geral desta fraternidade e por ele admitido ao ofício da pregação.

RNB; Nenhum dos irmãos pregue contra a doutrina da santa Igreja nem sem a permissão de seu ministro. O ministro, porém, tome cuidado de não a conceder indiscriminadamente. No entanto, todos os irmãos podem pregar pelas obras. “E nenhum ministro ou pregador se arrogue o cargo de ministro dos irmãos ou o ofício da pregação como sua propriedade, mas à hora que lhe for ordenado, deponha o seu cargo, sem nenhuma objeção.

Não preguem. A passagem do capítulo 8° para o 9° parece estranha; contudo a dificuldade some se olhamos a situação concreta com os olhos de Francisco: terminando o Capítulo havia o reagrupamento dos irmãos e aos novos grupos se designava o campo de ação apostólica; em seguida os frades partiam para a “itinerança”. Pela época da redação da RB. a pregação já ocupava um lugar de destaque na atividade dos frades, para além da simples pregação penitencial; surge para Francisco a ocasião de dirigir sua palavra orientadora.

Havia no sec. XII em vários círculos da população, a ânsia de uma vida cristã centrada na imitação dos Apóstolos. O ideal de vida apostólica abrangia a pobreza evangélica e a pregação. Assim, já no início do século, andavam pela Europa numerosos pregadores itinerantes. Várias causas motivaram a opinião de que não precisava a “missio canónica” para exercer a pregação. O que importava e seria necessário e suficiente era levar uma vida de piedade e retidão, fato que legitimava a pregação de todo leigo piedoso e de vida exemplar. Por serem “leigos”, faltava a esses pregadores suficiente formação, razão pela qual nem sempre estavam de acordo com a doutrina da Igreja; no seu séquito andavam grupos de homens e mulheres, e eles mesmos procuravam conquistar as simpatias do povo atacando as irregularidades dos clérigos. Assim a Igreja de 1200 considerava a pregação leiga não autorizada como fundamentalmente anti-eclesial, e em muitos casos o era.

O papa Inocêncio III deu a Francisco e seus companheiros a licença de pregar a penitência, mas sob duas condições: receber a tonsura, o que foi feito pelo cardeal João de São Paulo, fazendo com isto passar Francisco e seus primeiros irmãos de leigos a clérigos: e prometer obediência ao papa, em nome de toda a fraternidade, e os demais irmãos prometer obediência a ele, Francisco, e a seus sucessores.

A pregação dos Frades Menores, que na época devia parecer um privilégio inaudito, ocasionou atritos com os bispos, encarregados por ofício da pregação na Igreja. Para evitar tais situações penosas, Francisco prescreveu que os irmãos não fizessem uso da licença pontifícia de pregar numa diocese cujo bispo lhes proibisse. Aqui também aparece sem intenção, mas com maior força, a “minoritas” e o espirito eclesial e pacífico do nosso Pai São Francisco. Posteriormente ele foi até mais longe, quando declarou no Testamento que não queria pregar à revelia do pároco nem, sequer nas aldeias onde o pároco não levasse vida exemplar.

A Regra exige que o pregador tenha sido examinado e aprovado pelo ministro geral e dele tenha recebido a missão canónica de pregar. Desta forma se estabelecem dois requisitos: o ministro deve conhecer a aptidão do irmão para o ministério da pregação; e o irmão não pode usurpar para si o ofício da pregação. Foi realmente forte nos fiéis de então o desejo de atividade missionária por meio da pregação apostólica, tanto o que Francisco a acolheu e salvaguardou de qualquer perseguição: “Todos os irmãos podem pregar pelas obras”! Essa frase só pode ser compreendida em vista da pregação leita, e nela se fundamentar.

Moneo quoque et exhortor eosdem fratres ut in praedicatione, quam faciunt, sint examinata et casta eorum eloquia (cf. Os 11,7; 17,31), ad utilitatem et aedificationem Populi, annuntiando eis vitia et virtutes, poenam et gloriam cum brevitate sermonis; quia verbum abbreviatum fecit Dominus super terram (cf. Rm 9,28).

Também admoesto e exorto os mesmos irmãos a que, nos sermões que fazem, seja a sua linguagem ponderada e piedosa (cf. Sl 11,7 e 17,31), para utilidade e edificação do povo, ao qual anunciem os vícios e as virtudes, o castigo e a glória, a com brevidade, porque o Senhor, na terra, usou de palavra breve (cf. Rm 9,28).

RNB: Todos os meus irmãos podem anunciar palavras de exortação e louvor, com a bênção de Deus, sempre que quiserem, a todos os homens: Temei e honrai, louvai e bendizei, agradecei e adorai ao Senhor Deus onipotente, em sua Trindade e Unidade, o Pai, o Filho e o Espirito Santo, Criador do universo.. “convertei-vos, fazei dignos frutos de conversão!” (Mt 3,2.8), pois sabei que em breve morrereis. “Dai e dar-se-vos-á. Perdoai, e sereis perdoados (Lc 6,38.37). “Porque se vós não perdoardes, também o Senhor não vos perdoará os vossos pecados” (Mc 11,26). “Confessai todos os vossos pecados (cf. Tg 5,16). “Bem-aventurados os que morrerem na penitência, porque estarão no reino dos céus. “Ai daqueles que não morrerem na penitência, porque serão filhos do diabo, cujas obras fazem (cf. Jo 8,41), e irão para o fogo eterno. Vigiai e preservai-vos de todo mal e perseverai no bem até o fim!

Também admoesto e exorto. Na sequência, São Francisco dá conselhos acerca da maneira de pregar. Estas advertências são tão breves, que facilmente escapam à atenção. Não o bastante, devemos procurar entender melhor seu sentido.

Seja a sua linguagem ponderada e piedosa. O testo latim diz que as palavras do pregador devem ser “analisadas e castas”. Analisadas: significa que as palavras devem nascer da oração e de uma verdadeira “meditatio”: o pregador escuta a palavra de Deus e nela se inflama para transmiti-las. Contemplata aliis tradere. Cartas: esta palavra nos causa estranheza; ela, porem, verbaliza uma questão muito importante: a pregação não é “casta”, isto é, límpida, transparente, se o pregador busca promover-se, engrandecer-se por belas palavras e obras que Deus por vezes diz, faz e opera nele ou por meio dele. O “ministro da palavra de Deus” deve acautelar-se de “todo orgulho e vangloria’.

São Francisco especifica também por quais sinais se conhece essa impureza: é quando o pregador mais se empenha em “fazer palavras do que produzir obras”, quando não cultiva a piedade e santidade ou procura uma piedade aparatosa aos olhos dos homens. Com essas atitudes o pregador profana a palavra de Deus e a torna não “casta”.

Para o bem e edificação do povo. Hoje o termo “edificação” tem conotação piegas e sentimental. Francisco porem toma-o ainda como designação da vida interior da Igreja: considera ainda como tarefa da pregação construir a Igreja, “gerar filhos para a Igreja”, pois a pregação deve engendrar e transmitir a vida, e cuidar para que esta vida cresça. Por isso São

Francisco nutria grande respeito pela pregação e seus ministros, que eram para ele a “vida do Corpo” da Igreja.

Anunciem os vícios e as virtudes, o castigo e a glória. É o conteúdo da pregação “penitencial”, comum a muitos pregadores no tempo de São F. É pregação de tipo “moral”, mas não moralizante. Por esta pregação se “edifica o povo” de Deus. É parte importante de um programa franciscano de pastoral.

Falem com brevidade. o motivo de falar com brevidade é o exemplo de JC, que “usou de palavra breve”. São Francisco queria que seus irmãos fossem pregadores e não oradores de fama. Quem se põe em comunhão com Jesus Cristo e se consagra inteiramente à palavra de Deus, anunciará aos homens o amor do Deus como ‘o Senhor falava aqui na terra’, de forma simples e substanciosa , sem procurar rechear por pompas e redundâncias de estilo, aquilo que ele mesmo ainda não possui como experiência.

RNB: Todos os meus irmãos podem anunciar essas palavras de exortação. É um exemplo de pregação franciscana de ‘penitência’.

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