Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Uni-verso de Eckhart: O ser cristão

03/03/2021

b

 

E importante ver que toda a estruturação do universo no enfoque da Criação que no fundo nos conduz à Filiação divina em Jesus Cristo pode ser traduzida na dinâmica dos binômios materia e forma, que vale para as substâncias compostas: coisas da natureza ocorrente; entes vivos do tipo vegetal; animais do tipo sensíveis; e entes todo próprios que recebem o nome de Homem; essa dinâmica se intensifica sob a possibilidade ou potencia do binômio potentia e actus de tal modo que bem no alto dessa escalação se toca no que se chama ato puro e bem embaixo dessa escalação se toca no que se chama matéria pura ou potentia obendientilais. Aqui observar bem que na compreensão manualística desse esquema, em geral não se leva em conta o fundo retraído sobre o qual se desenvolve esse esquema (schéma = sistema ou síntese) medieval. Assim usualmente actus purus é identificado com Deus (criador = o ente supremo); matéria pura é identificado com matéria. Só que a matéria pura é chamada também de potentia obedientialis. Isto significa que o todo do sistema que na parte das substancias compostas se estrutura no esquema matéria e forma e na parte das substancias simples se estrutura no esquema pontentia e actus, é estruturado na dinâmica do esquema potentia e actus. É por isso que o ente supremo é visto como ato puro; e o ente ínfimo como potentia obdientiialis. Ato puro a se, i.é, a partir de si, em si mesmo é pura doação.  Potentia pura é obediente, i. é, pura recepção. Assim ato e potencia no seu aparecer nos extremos do sistema coincidem. Isto significa que Deus como ente supremo e matéria como ente ínfimo no sistema ascendente e descendente da intensidade do ser oculta um fundo a partir e dentro do qual se destaca o todo da criação. A esse fundo oculto no abismo da possibilidade (leia-se potencia) de ser que Mestre Eckhart chama de deidade. Deidade, portanto, não é propriamente Deus, pois este é um dos  modos  como deidade se torna presente no todo da criação como momento da criação. A deidade pode se doar de tal modo a acolher como sua vigência a pura recepção, mostrando-se potentia obedientialis; matéria pura como a esfera ínfima da criação como materialidade é um dos modos como deidade se torna presente no todo da criação como momento da criação. Ter bem limpo esse esclarecimento. A forma excelente é única como a deidade, por isso é retraída na sua humildade e modéstia se torna presente, visível como o esplendor do Pai, o Filho, o Deus Encarnado, Jesus Cristo, São Francisco diz o Crucificado. O homem é imagem e semelhança desse Deus Jesus Cristo. Para Eckhart o Intelecto é aquela Pessoa, Filho de Deus que se chama a segunda pessoa da Santíssima Trindade, o Filho que tudo recebe do Pai, que tudo doa gratuitamente, no amor, ou melhor, como amor (Minne).

Aqui surge a grande questão dos que são estudados e dos que não estudaram.

Falemos, pois, do saber e não saber na espiritualidade.

Algo sobre o saber científico e o saber usual: Muitas de nossas questões, de perguntas e respostas podem ser ambíguas. Ambígua, é diferente de equívoca. Este é quando a pergunta não atinge a questão, dela está inteiramente por fora, está de todo enganada. Resposta à questão equívoca não é complicada, pois basta mostrar que a pergunta está por fora da questão. Pergunta ambígua é quando nela estão implícitas, digamos, empacotadas várias perguntas, de diferentes pressuposições, com diferentes níveis de compreensão. E em geral, esse empacotamento não é percebido, tanto por quem pergunta como por quem quer responder. Há ambigüidade no sentido lato e estrito. No sentido lato é quando a simultaneidade significativa vem do empacotamento de significações diversas, num único termo, p. ex. o termo entre pode significar: pode entrar e também o permeio existente entre duas coisas. O nosso professor de inglês nos contou que havia uma pessoa que queria mostrar que sabia inglês. Assim, quando alguém bateu à porta, gritou: between! Ambigüidade no sentido estrito temos quando o sentido de um termo ou de uma frase nos evoca uma realidade, cujo modo de ser contem em si profundidade e densidade de ser que não se deixa explicitar num ou mais termos.

Há usualmente confusão de compreensão mútua, quando se discute, mormente, entre pessoas estudadas e especializadas. Isto porque cada qual fala e escuta a partir de pressuposições das suas disciplinas, nas quais são especialistas.

Nessa questão a maioria de nós pensa mais ou menos o seguinte:

  1. a) Certamente existem colocações e perspectivas que vem da especialização. Especialização que tem a sua terminologia, a sua linguagem própria. Assim, a fala especializada das disciplinas de especialização tem a sua língua própria. Por isso, a economia tem o seu economês. A filosofia tem o seu filosofês. E assim adiante: matematês, sociologês, psicologês, pedagogês, teologês etc.
  2. b) Mas para além ou por cima de todos esses “especializês” há a fala geral, comum, compreensível a todos que falam a mesma língua. P. ex., termos como número, globo terrestre, pensamento, idéias, Deus, homem, cachorro, cachorro quente, quente de mais, átomo, molécula, célula, celular, trânsito, lei de trânsito, multa, guarda de trânsito caolho, Papa, Igreja Católica, a Espiritualidade franciscana, o Colégio Bom Jesus etc. etc., tudo mundo entende. Para compreender todos esses termos a gente não precisa ser especialista, nem fazer um curso especializado. Basta o uso cotidiano. Mas é ai que nos enganamos redondamente.

Nas nossas reflexões, distinguimos duas grandes áreas da compreensão da realidade que denominamos compreensão científica da realidade e compreensão pré-predicativa ou pré-científica da realidade. Aqui, podemos relacionar o que acima falamos há pouco no 25 ●b) à compreensão pré-científica da realidade. Essa compreensão é o que está na linguagem comum, usual do cotidiano, e é entendida por todos, pensamos nós. E há pouco dissemos: Para entender todos esses termos a gente não precisa ser especialista, nem fazer um curso especializado. Basta o uso cotidiano.

Aqui é que reside uma grande ambigüidade que se não esclarecida nos leva à equivocação. É o seguinte: O que de imediato experimentamos como realidade pré-científica e sua compreensão e identificamos com a vida usual, comum, cotidiana de toda a gente, de todo mundo é na realidade um abismo insondável e inesgotável da possibilidade de ser que na perplexidade diante de sua imensidão, profundidade e “abissalidade” denominamos de Vida, Ser. Nós nos movemos, vivemos e somos a partir da Vida e nela, a partir do Ser e nele. Vida e/ou Ser nos antecede, nos abrange, nos impregna, nos compreende; mas a partir de nós não o compreendemos, pois é nele, com ele, a partir dele que tudo compreendemos, tudo somos, a tudo pertencemos. O que sabemos, o que compreendemos, o que fazemos, desejamos e podemos, em resumo, o que somos, é in-stante da entoação desse abismo da possibilidade de ser. A nossa percepção desse nosso situar-se a partir e na vida, capta a vida e/ou ser como nada (abismo), escuridão, simples fato de ocorrer, Algo que sempre de novo nos escapa e se nos retrai. O que o ser humano é no fundo dele mesmo é ser percepção desse abismo da possibilidade de ser, chamado Vida e/ou Ser, é ser percutido pelo toque desse abismo e repercutir como eclosão cada vez nova de um mundo. Essa disposição de ser passagem da possibilidade para a realização, cada vez como surgir, crescer e consumar-se de um mundo, os gregos a denominavam de psyché; e a possibilidade ou a dinâmica de receber o toque do abismo insondável da possibilidade insondável de ser e se adentrar esse abismo, i.é, nele se abismar, de nõus: e a concreatividade de conascer e se constituir como mundo e ser-no-mundo, de lógos. Mais tarde psyché foi posicionada como alma; nõus como espírito e lógos como razão.

Tudo quanto vem à fala e vem a si e se constitui como entonação do abismo, uma vez surgido do abismo, se constitui como mundo, se estabelece como uma realização da realidade e se firma como posição ou pré-suposição.

Pré-suposição assim se firma e se coisi-fica como fundamento, como base de todo um sistema de explicitação do que ali jaz contido como fundo do fundamento. As ciências positivas erguem o seu edifício a partir e sobre tais pré-suposições ou fundamentos coisificados. O nosso saber pré-científico, parte de tais posições das ciências, as aprofunda, as “de-constroi” afundando-as para dentro do abismo insondável e inesgotável da possibilidade de ser.

Há várias modalidades de adentrar-se na pais-agem dessa dimensão-matriz pré-científico que alguém como Antoine de Saint-Exupéry chama de Terra dos Homens. Só que a partir do saber científico essa dimensão matriz pré-científico Somente aparece à raiz de suas pressuposições fundamentais como Terra inculta, ainda não suficientemente evoluída, dimensão irracional, popular, mítico, metafísico, como “nuvens do não-saber”.

Somente quando a existência humana adentrar o toque desse não-saber, começamos  habitar a Terra dos homens. A coragem de ser à luz das nuvens do não-saber, da assim denominada “douta ignorância”, i. é, de ser psyché, nõus e logos era chamada pelos gregos de virtude dia-noética.

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