Alberto da Silva Moreira *
Scintilla – Revista de filosofia e mística medieval, vol. 8, n.1, jan.-jun.2011
Partilho com vocês, a seguir, uma reflexão que escrevi depois da visita ao túmulo do Hermógenes e que enviei a alguns amigos dele.
Na segunda-feira à tarde, dia 29 de junho, fazia um tempo lindo nas colinas verdes de Rondinha; o vento balançava as árvores e fazia rolar as muitas folhas secas pelo chão. Tantas questiúnculas, brigas de frades, projetos urgentes e outras coisas estavam na minha cabeça. Tudo muito humano, demasiadamente humano. Fui largando tudo e soltando o espírito ao tomar o caminho que conduz ao pequeno cemitério dos frades. Foi uma graça estar sozinho e ter bastante tempo. Sentei-me na grama e fiquei olhando o monte de terra fresca que ainda recobre o Harada. Por cima do monte de terra alguém colocou umas duas plantas, verdes e cheias de flores brancas e vermelhas, parecendo um ramalhete que brotou e criou raízes. Belas e rudes como a vida. I fioretti da frate Hermógenes. Continuei a antiga conversa com o Harada. Desta vez, mais perguntas do que respostas, e muitos silêncios… Um profundo sentimento de gratidão e de paz me invadiu, sem tristezas ou arrependimentos; uma grande comunhão de espírito e uma grande vontade de aprender mais deste grande espírito, desta grande alma com quem tivemos a pura graça de conviver por tantos anos. A decisão de aprender mais e direito, e seguir em frente, acreditando firmemente na “comunhão dos santos”, ou como o Harada dizia, naquela “comunidade anônima e silenciosa dos guerreiros”, verdadeira família dos que lutam, às vezes sem não ter com quem contar. Pensei que os verdadeiros discípulos e amigos, assim como as plantas, estão unidos, no silêncio, por debaixo da terra que tudo sustenta. Com esses sentimentos no coração e tais pensamentos na mente me levantei, inclinei-me em reverência ao humilde mestre; saudei ainda fraternalmente Hildefonso, Basílio, Barnabé e os mais antigos que não conheci, e tomei o caminho que conduz ao dia de hoje.
* Professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-GO.