Toda relação pressupõe os correlatos que se ligam através dela. Aqui os correlatos são  Fenomenlogia  e Religião cristã (Fé e Teologia). Para que os correlatos possam estar ligados entre si, cada correlato deve, de alguma forma, ser adequado ao modo de ser da relação. Com outras palavras, para que possa haver relação entre os correlatos, é necessário haver algo de comum entre eles. Por isso cada vez que interrogamos duas ou mais coisas em referência ao seu relacionamento entre si, perguntamos sob que aspecto, sob que perspectiva elas estão ligadas entre si. Isto significa que toda e qualquer diferença entre duas coisas, sempre, já pressupõe que a diferença se dê a partir de uma identidade comum.

O que há de identidade comum entre a Fenomenologia ou Filosofia  e Religião cristã ou Fé e Teologia?

Diz Heidegger: “A concepção usual do relacionamento de Teologia e Filosofia se orienta a gosto segundo as formas de contraposição de Fé e Saber, de Revelação e Razão. – Filosofia é Interpretação do Mundo e da Vida, distante da Revelação, livre da Fé; Teologia pelo contrário é a expressão da concepção, no nosso caso, cristã do Mundo e da Vida, segundo a Fé; Filosofia e Teologia, assim tomadas, expressam então a tensão e a Luta de duas posições de mundividência. Este relacionamento não é decidido por argumentação científica, mas pela espécie, pelo tamanho e pela força da convicção e do anúncio da mundividência.

Nós colocamos o problema do relacionamento, de antemão, de outro modo, e quiçá como a pergunta pelo relacionamento de duas ciências”.

Assim: na noção usual, o relacionamento entre Teologia e Filosofia tem por base comum que estas sejam consideradas como 2 mundividências. Ao passo que na colocação de Heidegger, o relacionamento entre Teologia e Filosofia tem por base comum que estas sejam consideradas como 2 ciências.

Por que essa diferença de colocação?

Mas antes, à primeira vista, o modo como Heidegger coloca a concepção usual do relacionamento entre Filosofia e Teologia, como sendo relacionamento entre duas mundividências parece simplificado. Pois usualmente se classifica a religião entre as crenças, portanto mundividências. Mas, quando se trata de Religião cristã que implica Fé e Teologia, dizemos em geral que Fé é crença, portanto mundividência, mas a Teologia é uma ciência. Aqui, porém, há quem defenda que a Fé cristã não pode ser considerada como crença, portanto como mundividência, pois trata-se de uma Revelação sobrenatural toda própria, i. é, transcendente a toda e qualquer forma de experiência humana natural.  Por outro lado, dizemos também usualmente que a filosofia não é propriamente mundividência, mas sim um estádio ainda imperfeito, não inteiramente desenvolvido da ciência.

No entanto, se observarmos todas essas distinções que fizemos, percebemos que aqui, o que seja realmente mundividência e o que seja ciência está vago, indeterminado, não está claro. Não está também claro o que seja esse sobrenatural que reivindica para si um tratamento todo especial, por ser ele uma realidade que transcende todo o natural.

Em Heidegger, porém, a descrição da concepção usual do relacionamento Teologia-Filosofia é lacônica e sucinta:

Teologia: Fé, RevelaçãoÞExpressão daÞconcepção cristã, segundo a Fé: do Mundo e Vida.

Filosofia: Saber, RazãoÞInterpretação, longe da Revelação, livre da Fé: do Mundo e Vida.

E o decisivo na caracterização aqui do relacionamento entre Teologia e Filosofia é que essas duas posições se medem não pela argumentação científica, mas sim pela maneira, pelo tamanho e pela força da convicção e do anúncio a modo de Mundividência.

            Isto significa que, tanto a Teologia como a Filosofia tem aqui, segundo a concepção usual, um modo de se entender a si mesma como mundividência.